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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Operário aprende a tocar piano sozinho no Espírito Santo

 

Jornal Hoje e G1

Mãos que fazem cimento e quebram paredes em uma obra no centro de Vitória se transformam diante das teclas.

Mário Bonella Vitória, ES

A hora do almoço em um canteiro de obras em Vitória é momento de música. Um operário troca a enxada pelo piano, e as mãos que fazem cimento e quebram paredes em uma obra no centro da capital capixaba se transformam diante das teclas. O barulho do trabalho pesado não impedia que uma harmonia diferente invadisse o canteiro de obra. "O som parecia de piano, não sabia se era rádio ou alguém tocando. Era um som muito agradável", afirma o ajudante de pedreiro Rony Chagas. O som vinha do segundo andar, onde havia aulas de piano. Para Rony, que trabalhava no andar de baixo, na garagem, a melodia despertou um desejo. “Estava doido para tocar, mas tinha vergonha de pedir. Sabia um pouquinho”, afirma o operário. Logo a dona da casa ficou sabendo. Acompanhe o Jornal Hoje também pelo twitter e pelo facebook. "Um trabalhador me abordou dizendo que o Rony tocava, então falei para irmos lá em cima", afirma Alba Aguiar. Quando Rony entrou na sala e viu o instrumento, ficou muito nervoso e sua mão tremia. Aos 19 anos, era a primeira a vez na vida que chegava perto de um piano. A cada música tocada, era maior o encantamento e a surpresa. Rony nunca fez aula, nunca teve um professor de piano. Não sabe nem os nomes da maioria dos compositores e das músicas que toca. Conta que aprendeu sozinho, praticando em casa em um teclado velho que pertencia ao irmão, e, principalmente observando outros pianistas. Agora, todo dia, na hora do almoço, Rony larga a enxada e vai para o piano. Descalço, de capacete. É como se o pianista fosse mais um da platéia, que é, no caso, a turma da obra, que se ajeita ali no sofá para ver e ouvir. Como não lê partituras, tirava as músicas de ouvido. Isso até o mês passado, quando a prática do pedreiro pianista ganhou ajuda profissional. Uma apresentação na obra foi gravada e entregue na faculdade de música. A professora gostou, convidou e Rony começou a fazer aulas de piano. "Com poucas explicações, já está lendo as frases dos ritmos com muita rapidez. Significa um potencial imenso e realmente raro", diz a professora Raquel Morais. Rony vai para as aulas depois do trabalho. Na obra e no piano, vai tocando a vida.

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