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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

No Espelho - Maria Angela Freitas



Observo  detalhes  da  minha  existência....
Olhar  distante... rostos,  aromas,  objetos...
Há um enorme espelho, muito bem cuidado....
Olho mais atentamente, vejo minha infância...
Amigos rosados, felizes, com tão pouco...
As imagens ficam um pouco mais nítidas, vejo jovens, belas e queimadas de sol, cabelos ao vento, sorriso estampado, olhares sonhadores, sonhos... muitos sonhos.
Vejo uma estrada cheia de bifurcações, muitos caminhos, muitas vidas.
Escolho meu caminho, agora só eu sei dele, uma estrada muito longa, com alguns desvios, escolhi o meu e o percorri .
O atalho por onde segui era aparentemente calmo, mas não foi longo. De repente, uma tormenta me tirou do chão, desorientei, vaguei, vaguei...
Consegui voltar para a estrada principal, sem saber se era isso que queria, passos arrastados, com dificuldade de carregar meus 25 anos.
Um dia, um farol, que podia, de repente apagar, começou a me seguir, ditando meu rumo, e em estrada de asfalto liso percorremos uma vida equivalente a 30 anos. Quando então uma parede se ergueu e interrompeu a longa e feliz viagem.
Fiquei reclusa, é claro, mas embora o amor tenha sido grande, eu pude entender como se cumpre o ciclo de uma vida.
Um dia, procurei o espelho e ele ainda estava lá, imagens desgastadas, foscas, passei um bom tempo contemplando cada rosto da minha história.
Resolvi retornar, reencontrei quase todos os amigos, cada um contou os caminhos por onde andou, as histórias que vivenciaram, choramos juntos, rimos muito. Hoje fazemos piadas, revelamos nossos segredos sem pudor...
Já ouço histórias de novos amores, sinal de recomeço.
Acho até que colocarei mais um espelho ao lado do outro.

Aeronautas e Aeronaves - A história da aviação



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Stephen Wiltshire, o homem da supermemória

Publicado por Fantático
Se você sobrevoasse uma das maiores cidades do mundo, de que detalhes, mais tarde, seria capaz de se lembrar? De que prédios, pontes, catedrais? Quantas imagens ficariam realmente gravadas na sua memória?
Stephen Wiltshire é um homem que tem uma incrível habilidade, um talento ainda não explicado pela ciência. Ele acaba de fazer um rápido sobrevôo pelo centro de Londres. É a primeira vez que ele tem essa vista aérea.
Stephen dispõe apenas de um lápis, uma caneta e uma folha de papel. Três horas depois, o resultado: ele se lembrou de detalhes espalhados por quase 12 quilômetros quadrados. O desenho contém os pontos mais conhecidos da capital inglesa e outros 200 edifícios, todos em perspectiva e escala.

Stephen é fascinado por arquitetura e tem uma habilidade raríssima: é capaz de olhar para um prédio como a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio, e memorizar detalhes que uma pessoa comum capaz jamais iria guardar. É como se tirasse foto com os olhos. Depois, a imagem do prédio é arquivada numa supermemória e passada para o papel.
"Eu não tenho idéia de como Stephen faz isso", afirma Margaret Hewson, uma agente literária que descobriu o talento do rapaz há quase 20 anos. "Ele pode olhar para um prédio com 145 janelas e reproduzir as 145 janelas".
Até os 11 anos de idade, Stephen nunca tinha tido aulas de desenho. E o menino conseguiu captar detalhes do Museu de História Natural de Londres. Na época, a habilidade de Stephen impressionou o então presidente da Real Academia de Arte da Inglaterra. "Eu nunca vi um talento igual", disse ele.
Mas Stephen já convivia com severas limitações. Aos 11 anos, ele tinha um ritmo de aprendizado de uma criança de apenas 6.
"As limitações eram enormes", lembra Margaret. "Ele não era capaz de fazer nada sozinho. Para atravessar a rua, precisava de ajuda. Não conseguia se relacionar com os outros de maneira nenhuma". Stephen parecia viver em outro mundo. Sinal clássico de uma pessoa autista.
Que dia da semana foi 31 de agosto de 1985?
"Sábado", responde David Kidd, conhecido como o "Calculador de Calendário." Ele é capaz de dizer o dia da semana de qualquer data dos últimos cem anos.
Que dia da semana foi 17 de dezembro de 1974?
"Terça-feira", afirma.
Consultando tabelas, um matemático levou 16 segundos para confirmar que David estava certo.
"Henriqueta Brieba morreu no dia 18 de setembro de 1995; Costinha, no dia 15; e Paulo Gracindo, no dia 4. Tudo num mês só. Zacarias morreu no dia 18 de março de 1990. Mussum, no dia 29 do julho de 1994", lembra o vaqueiro Onildo.
E como explicar a memória de Onildo, mostrado no Fantástico em 1998? Morador do sertão da Paraíba, ele sabe de cor a data da morte de pessoas famosas e de gente conhecida da vizinhança. A memória do vaqueiro ainda tem espaço para muita informação. Onildo decorou os nomes científicos das plantas da caatinga.

"Eu não sei o que ele tem na memória. Ele grava uma coisa e fica", diz José Alves, irmão de Onildo.
O ator Dustin Hoffman estudou vários casos de pessoas com habilidades especiais antes de iniciar as filmagens de "Rain Main". As habilidades de Raymond são típicas de quem tem a Síndrome de Savant, um tipo de distúrbio mental. Este é o diagnóstico de Stephen Wiltshire.
"Os cientistas estão fascinados porque, de um lado, você tem um significativo prejuízo mental e, por outro, um mistério surpreendente que inspira talento", diz Margaret.
Mas qual é a causa dessas habilidades extraordinárias? O que explica a supermemória de um ser humano? A ciência ainda parece longe de chegar às respostas.

Na semana que vem você vai ver o que a ciência já sabe sobre essas pessoas e suas incríveis habilidades. E vai conhecer também a história de Derek Paravicini: autista e cego, mas dotado de um talento especial para a música.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Sta. Maria - A maior tragédia de nossas vidas - por Fabrício Carpinejar. "Poeta, cronista e louco pela verdade a ponto de mentir"


Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.
Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?
O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.
As palavras perderam o sentido.
Publicado por Blog do Noblat

A beleza dos pássaros de Bornell

Fotos: Tim Laman

sábado, 26 de janeiro de 2013

Em busca do amor - Nadia Foes


Corria o ano de 1960! Na época eu contava 13 anos, vivia em colégio de freiras e costumava passar as férias em casa de minha mãe. Não era minha casa! A casa de minha mão sempre foi dela, lá eu estava apenas de passagem. Pois foi naquela época que eu conheci dona Risoleta Schlosser. Dona Risoleta era viúva de um aviador, como se dizia na época. Era uma senhora idosa, hoje ela seria uma senhora “de meia idade”. De porte ereto e pernas finas, barriga saliente e busto grande, quadril estreito e por isso pariu uma única filha, que, na ocasião que a conheci, já poderia ser considerada senhora de meia idade. Ela era alta como Dona Risoleta porém com o corpo mais definido. Tinha um corpo bonito. As duas viviam juntas, pareciam dois troncos da mesma árvore e como a filha não era bonita ou agradável, porque saiu a mãe, de temperamento arrogante. Foi difícil arranjar namorado. Todas as moças da época já estavam comprometidas e a filha de dona Risoleta nada de alinhavar um bom partido, porque ela foi educada para casar bem. Dona Risoleta costumava dizer, em alto e bom som, minha princesa não se passa para qualquer um. No fundo dona Risoleta não desejava um casamento para sua filha, até porque ela, segundo as más línguas, só teve aquela filha para ter alguém garantido para cuidar dela na velhice. Sua filha chamava-se Rachel. Rachel aos trinta e seis anos e com medo de morrer sem ser “inaugurada” conheceu um oficial da aeronáutica que veio ao Brasil em missão especial. Que missão era essa nunca se soube. Poucas pessoas conheceram o ilustre oficial. O fato é que Rachel se perdeu de amores e no fogo da paixão foi inaugurada e o amor virou cinzas. Ela ficou, como se dizia na época, em estado interessante e aquilo foi uma bomba na sociedade conservadora da época. O noivo voltou para sua terra, era americano, e quem ficou a ver navios foi Rachel. Dona Risoleta, mulher decidida, não se amofinou, arrumou as malas, pegou Rachel e foi para a terra do Tio Sam onde permaneceu até o bebê nascer. Jack foi o nome escolhido para homenagear Jaqueline Kennedy. Pois Jack nasceu forte e linda. Só pode ter herdado a genética do pai. Nos Estados Unidos elas permaneceram até Jack completar dois anos e o dinheiro acabar. De volta para o Brasil trazendo a notícia da trágica viuvez de Rachel, ficaram as três: duas viúvas e uma órfã. Resumindo, elas mataram o Sr. Thompson, que era o pai da Jack, e voltaram para casa. Venderam a casa grande onde Rachel foi criada para se casar com o príncipe não se sabe de que casa real. Com a venda da casa, foram viver em uma rua de comércio popular onde possuíam uma casa assobradada que na parte de baixo funcionava uma loja de aviamentos e na parte de cima era um apartamento. O referido imóvel foi herança de dona Risoleta. Elas se alojaram na parte de cima da loja. As duas viúvas e a órfã viviam no apartamento escuro, sem ventilação, porém, no verão, e nas férias de julho, elas mudavam para o litoral, para a casa de praia onde uma varanda foi fechada para servir de quarto para pequena órfã. Na realidade a casa era uma edícula inacabada e, de puxadinho em puxadinho, se transformou em uma casa. Elas eram muito caprichosas. O local era muito simples, mas de efeito; tinha um jardim bonito na frente onde foi instalado um balanço para a pequena brincar. Era uma cortininha de crochê aqui, uma colcha estampada lá, bancos cheios de almofadas coloridas, espelho ladeado de anjinhos na parede, uma foto do pai de Rachel com modura oval, alguns vazinhos de porcelana de pendurar na parede que elas enchiam de plantinhas quando chegavam, uma poltrona velha coberta com tecido rústico, mesa e bancos toscos, mas muitas plantas e alguns trastes de gosto duvidoso, porem bonitinhos. Como a casa não tinha sala de jantar as refeições eram feitas na varanda da frente com direito a cortina para manter a privacidade. Na única sala mencionada acima também funcionava a cozinha e elas eram especialistas em “dar um jeitinho”. Dona Risoleta também se esmerou na arte de continuar arranjando um casamento para Rachel. Foi nessa época que ela teve a idéia luminosa que o marido ideal para sua filha seria o dono do cartório. Senhor de família tradicional e solteiro, como convinha. Porém o senhor em questão estava comprometido e casou com outra mulher. Jack foi crescendo com muito carinho da mãe e da avó e também foi preparada para casar bem. Era bonita e educada, possui pernas longas, tronco curto e um lindo rosto e uma cabeleira castanho clara muito bem tratada. Seu luxo era uma viagem anual para Miami, pois para bancar as despesas sua mãe e sua vó costumavam comprar coisas em Miami e vender para as amigas em casa. Era jogo de lençol de tergal, que era novidade, camisolas de nylon para as noivas, chinelinhos, cremes, perfumes, tudo sob encomenda. Elas contavam com um parente que era piloto da aviação civil e se encarregava de trazer todas as compras. Nada faltava para Jack. Estudou em bons colégios, mas não tinha vida social como suas amiguinhas. Aliás, nem tinha amiguinhas, porque a situação de sua mãe não era vista com bons olhos. Nunca se soube se sua se casou realmente com o Sr. Thompson, nem sequer se o Sr. Thompson existia, tudo era mera especulação. Aos 14 anos, bem desenvolvida e linda, Jack passou a usar um adesivo em forma de bicho na altura da coxa. Ela aparecia no primeiro dia de verão com o dito adesivo e só o tirava depois de bem bronzeada com Rayto de Sol. Era a moda entre a moçada usar Rayto de Sol para ficar bem morena. Depois de bronzeada ela retirava o adesivo que marcara a sua pele muito branca, parecia uma tatuagem cor de pele. Foi nesta época que dona Risoleta começou a dar explicações para todos os veranistas conhecidos e não conhecidos, o que significava aquilo. Era o amuleto da sorte dos guerreiros de uma tribo de índios americanos. Dizia que o Sr. Thompson era o herdeiro das pajelanças da tribo. Eram uns índios riquíssimos que tinham poderes tanto para curar como para destruir e que Rachel fora escolhida pelo pajé para ser mãe da reencarnação do pajé. E com a morte do pajé os poderes passaram para Jack que eram múltiplos. Esse fato correu de boca em boca. A sociedade ficou surpresa e curiosa pois correu de boca a boca, porem as portas continuaram fechadas para a moça de tão ilustre dinastia. E no final das férias ninguém mais comentava nada, para o desgosto de dona Risoleta. Aos dezoito anos Jack se enamorou e ficou noiva de um rapaz muito leviano em matéria de amor. Ela costumava andar sempre muito bonita e seu vestuário era muito diferente das meninas da época. Sua mãe costurava lindos vestidos bem rodados, coloridos e por medida de economia, na época, era comum encontrar sapateiros que fabricavam calçados para festas. A mãe de Jack encomendava duas solas, uma de salto brotinho e outra rasa, como se dizia na época. Nas laterais das solas haviam quatro alças onde Jack passava as tiras de tecido de retalhos de seus vestidos. Mas o vestido que ela mais usava era um vestido violeta com as tiras de mesmo tecido amarradas no tornozelo e nos cabelos longos ela transava uma tira do mesmo tecido e usava flores naturais coloridas do jardim de sua casa ou roubadas de algum vizinho. No dia de seu noivado, ela e o noivo, percorreram toda a cidade, de casa em casa, para participar o evento. Ela estava linda de violeta. O noivado durou um verão e o noivo achando que Jack merecia algo melhor, terminou o noivado. Jack foi se refugiar em casa de amigos de sua avó nos Estados Unidos, com passagens compradas a duras penas e amargou três verões sem namorado ou candidato a namorado, pois moça que foi noiva, naquela época, era considerada moça perdida. Na volta de seu auto exílio elas foram se refugiar na praia. No mesmo balneário onde Jack veraneava tinha um senhor que morava em uma casa de veraneio. A construção era de madeira, pintada de marrom com portas e janelas brancas, na frente um lindo jardim. Ele morava, durante os verões, nesta casa com sua mãe viúva e uma irmã solteirona. Jack apaixonou-se pelo jardim e acabou tornando-se amiga da irmã do senhor. E seis meses depois entrou na igreja de véu e grinalda e na vida social em grande estilo. O senhor, muito mais velho, muito alto, era riquíssimo, mas não ostentava. Ele aprendeu com Jack a viver a vida. Construíram a maior e mais bela casa de veraneio que se noticia até os dias de hoje e despertaram toda a sociedade da capital de seu sono profundo; todos queriam conhecer a casa de Jack e desfrutarem suas festas regadas do mais delicioso champagne francês e da companhia de astros do cinema, teatro nacional e internacional. Jack virou moda, ela tornou-se referencia. Tua o que ela usava virou moda. Até o carro que Jack dirigia passou a ser o sonho das mulheres e os seus maridos para se penitenciarem das escapadelas tratavam de comprar o mimo para suas esposas. Dona Risoleta passou a ter bons motivos para se orgulhar da neta e da filha. Até esqueceu da ilustre dinastia da neta ou do ventre abençoado de sua filha. Não precisou mais inventar histórias, porque a vida de Jack ultrapassou todos os limites do imaginário. Jack era a história.

Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

Minha querida Sampa, por Teresa Santos


                                                                 Páteo do Colégio: Onde tudo começou...

Fico chateada quando leio textos de pessoas, pelas quais tenho profunda admiração, que falam mal de você.
E o que me deixa ainda mais entristecida é de verificar que algumas nem aqui residem. Nem a conhecem. Agridem simplesmente pelo prazer de agredir.
Quem a critica, e muitas vezes a espezinha, se esquece de inúmeros fatos que a acompanham nestes 459 anos de vida.
E olhe que você tem história para contar não minha querida Sampa?
Por exemplo...
Estas pessoas se esquecem que você já foi a colonia mais pobre deste meu Brasil
Se esquecem que já foi pequena, sem grandes problemas sociais e que já pudemos viver em suas terras sem medo
Se esquecem que você abriu o porto e as portas para os imigrantes que fugiam de uma Europa combalida por duas grandes guerras. Dentre eles meus bisavós alemães (os Schwarz) e portugueses (os Santos)
Se esquecem  que você abriu o porto e as portas para os Russos e os Chineses que fugiram da Revolução Russa e do domínio de Mao e de tantos outros imigrantes fugidos de alguma desgraça em sua terra de origem
Se esquecem que você abriu as portas para os irmãos nordestinos nos anos 30 que fugiam da seca para fazerem de você o que é hoje
Se esquecem que você é a 14ª cidade mais globalizada do planeta
Se esquecem que possui o 10º PIB do mundo e representa 12,6% de todo PIB brasileiro
Se esquecem que abriga 63% das empresa multinacionais estabelecidas no Brasil
Se esquecem que é responsável por 28% de toda a produção científica nacional
Se esquecem que é a 6ª mais populosa do planeta
Se esquecem que é a cidade mais multicultural do Brasil
Se esquecem que desde 1870, aproximadamente, 2,3 milhões de imigrantes chegaram ao Estado
Se esquecem que é a cidade com a maior população étnica, fora de seu país de origem, a saber:  a italiana, portuguesa, japonesa, espanhola, libanesa e árabe e com o maior contingente nordestino fora do Nordeste
Se esquecem que (ou ignoram) todas as grandes cidades têm seus problemas. Alguns bastante graves. Bastam sair do país e verificar como estão as outras no mundo
Se esquecem que se cresceu assim de forma aleatória é porque oferecia chances de nova vida para quem aqui quisesse trabalhar
Se esquecem que muitos filhos pródigos saíram e voltaram porque acharam que aqui era o seu lugar
Se esquecem que continua a carregar seu filho mais velho chamado Brasil, nas costas
Se esquecem que aqui nascem, vivem, crescem, evoluem com as oportunidades que ela oferece
Se esquecem de tudo isso e cospem no prato em que comem.
Se esquecem que é a única cidade no mundo em que árabes e judeus convivem pacificamente
Se esquecem que o termo Sampa foi criado por um baiano, em homenagem à terra que o acolheu
E conforme sempre digo aos que não estão contentes com o que vêem ou vivenciam em minha querida cidade:
- Os incomodados que se mudem.
Vão viver em outro estado e/ou em outra cidade e deixem a  minha querida Sampa seguir sempre em frente, com suas belezas, alegrias, feiúras e tristezas.

Teresa Santos, 61 anos, paulistana. Aposentada, mas na ativa. Formada em Letras pela Universidade São Paulo. Gosta de estudar idiomas, de viajar, de ler  e de observar o mundo. Considera o ser humano a melhor personagem para seus escritos. É grata à vida  e se considera uma pessoa feliz.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Há 25 anos - Ruy Castro

Foi num dia 25 de janeiro, como hoje. Enquanto Alice tirava o carro, abri a geladeira e, tremendo muito, servi-me de quatro copos de vodca -pura, gelada, do freezer. Copos, não doses. Cheios, cada qual tomado de um gole, e que, como sempre, desceram como água. O tremor nas mãos não traía nervosismo. Tremia porque acabara de acordar e estava sem beber havia horas.Ainda não descobrira como beber dormindo.
Acordado, bebia um mínimo de dois litros de vodca por dia, só em casa -o consumo na rua era difícil de calcular. Uma vez por semana, a empregada botava os cadáveres para fora, à espera do garrafeiro. Os vizinhos deviam achar que os moradores daquela casa bebiam muito. Se soubessem que um único morador engolia aquilo tudo, não acreditariam.
Dali a pouco, estávamos na rodovia Raposo Tavares, rumo a Cotia, a 31 km de São Paulo, onde eu então morava. Sabia que, no lugar para onde Alice me levava -uma clínica para dependentes químicos-, não haveria bebida. Os quatro copos teriam de bastar até o fim do dia. Mas, e o dia seguinte? E os 30 dias seguintes? Não tinha ideia, nem me preocupava. Afinal, não vivia dizendo que "bebia porque gostava" e "seria capaz de parar quando quisesse"?
Os primeiros cinco dias foram de horror -o organismo reagindo ao corte súbito do suprimento com tremores pelo corpo inteiro, agitação, insônia, diarreia, taquicardia, suores, possibilidade de delírio. Nas palestras, as vozes dos terapeutas soavam muito longe e o que eles diziam, um mistério. Os colegas de internação, fantasmas sem rosto. Mas, aos poucos, o horror passou e, em menos de duas semanas, foi sendo substituído por uma sensação quase insuportável de lucidez, vigor físico e vontade de viver -como nunca antes. Até hoje.
Enfim, foi hoje, há 25 anos. Mas hoje é apenas mais um dia.

O misterioso Aeroporto Internacional de Denver


Geralmente as misteriosas histórias sobre locais estranhos que existem são de lugares antigos, mas essa é diferente. O Aeroporto Internacional de Denver foi construído em 1995 e traz consigo muitos enigmas.
Por todos os cantos do aeroporto há coisas que chamam a atenção, como símbolos, gárgulas, monumentos e um lugar onde há algo muito estranho e que segundo o que diz nesse algo, ele só será aberto em 2094.

Somente um aeroporto?

É óbvio que o lugar foi construído exageradamente, como se fosse a ponta do iceberg, uma capa que oculta algo muito maior. Seu orçamento inicial era de 1,7 bilhões de dólares, mas o total da obra acabou custando 4,8 bilhões, quase 3 vezes mais que o previsto. Esses valores absurdos, combinados com várias coisas, nos levam a perguntar se não existe algo muito secreto do governo norte-americano no aeroporto.
O misterioso Aeroporto Internacional de Denver
Uma das pinturas do local
Dizem que várias empresas foram contratadas e trabalhavam por partes no projeto. Cada empresa realizada somente uma parte do projeto, de modo que nenhuma delas conhecia o projeto inteiro. Vários grandes túneis foram construídos, aparentemente dispensáveis para o funcionamento do aeroporto.

O cavalo apocalíptico 

O misterioso Aeroporto Internacional de Denver
Logo quando chegamos ao aeroporto, nos deparamos com algo que reforça nossa dúvida se vale a pena entrar no aeroporto. Há uma escultura arrepiante. Não deve ser nada legal dar de cara com esse gigante cavalo azul de olhos vermelho brilhantes.
Diz a lenda que esse cavalo foi esculpido por Luis Jimenez, morto pelo cavalo enquanto o terminava. É que uma peça se soltou e desabou sobre Luis, que acabou morrendo.

A pedra Illuminati 

No saguão principal do aeroporto ha uma pedra Illuminati muito estranha, referente a nova ordem mundial. Abaixo dessa pedra há uma cápsula do tempo que só será aberta em 2094, 100 anos após ter sido colocada ali, mas seu conteúdo é desconhecido.
O misterioso Aeroporto Internacional de Denver

Nazismo 

Existem muitas alusões ao nazismo no aeroporto, e a mais evidente delas é o formato das pistas vistas do alto. É muito difícil que seus projetistas não tenham notado. O projeto deveria ser refeito, pois muitos prédios norte-americanos que tinham esse formado foram totalmente reformados, evitando não lembraram o símbolo nazista. Mas a situação no Aeroporto Internacional de Denver é diferente.
O misterioso Aeroporto Internacional de Denver

Gárgulas 

Gárgula no Aeroporto de Denver
Essas sinistras esculturas são usadas como desaguadouros de calhas em prédios religiosos e castelos, mas ali elas estão localizadas do lado interno do aeroporto, dando a impressão de serem guardiões demoníacos, espiando as pessoas que por ali passam. Aparentemente não possuem nenhuma função, além de completar a sinistra decoração do lugar.

Quadros 

Aeroporto de Denver
Essa pintura te lembra extraterrestres? Há rostos observando o planeta do céu, e seus traços não são nada normais.
Aeroporto de Denver
Um soldado nazista atacando uma pomba branca com uma espada, além de pessoas sofrendo ao lado de uma cidade destruída
Aeroporto de Denver
O quadro chama-se Paz e Harmonia com a Natureza, mas quando olhamos com um pouco mais de atenção, mostra o caos da natureza. A crianças lamentando a morte de animais, há outros animais presos em jaulas de vidro e ao fundo a floresta pega fogo. No canto inferior da imagem, é possível observar três crianças mortas, cada uma representando uma etnia. O que será que isso significa?
Aeroporto de Denver
À primeira vista parece uma linda pintura colorida, que representa crianças felizes num mundo alegre. Entretanto, a imagem é perturbadora. Algumas crianças carregam consigo, além da bandeira de seu país, armas. E parece que elas estão oferecendo para uma criança alemã.
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O que todas essas mensagens subliminares num dos aeroportos mais movimentados do mundo quer dizer é um mistério. Lembramos que há os EUA parece que gostam de brincar com essas coisas, basta lembra do apocalíptico monumento da Georgia e os caixões do FEMA . O que será que esse lugar esconde?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

DANÇA DE 1000 MÃOS (Guanyin de Mil Mãos)

Considerando a coordenação, a realização é incrível, pois são todos surdos. Sim, leu corretamente. Os 21 dos dançarinos são surdos-mudos. Contando apenas com os sinais dos formadores, nos quatro cantos do palco, estes dançarinos extraordinários oferecem um espetáculo visual que é ao mesmo tempo complicado e movimentado. Sua grande estreia internacional foi em Atenas na cerimônia de encerramento da Paraolimpíada de 2004. Mas tem sido há muito tempo o repertório dos chineses deficientes Trupe Arte Popular Execução e têm viajado para mais de 40 países. O bailarino principal de 29 anos de idade, Tai Lihua, tem um BA da Fina Hubei Instituto de Artes. O vídeo foi gravado em Pequim durante o Festival da Primavera deste ano. Via Sergio Simões

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Coitado do meu tio, Tonico!!!

Meu tio Tonico estava bem de saúde,até que sua esposa, minha tia Marocas, a pedido de sua filha, minha prima Totinha, disse:
-Tonico, você vai fazer 70 anos, está na hora de fazer um check-up com o médico.
- Para quê, estou me sentindo muito bem!
-Porque a prevenção deve ser feito agora, quando você ainda se sente jovem, disse minha tia.
Então meu tio Tonico foi ver um médico. O médico, sabiamente, mandou-o fazer testes e análises de tudo o que poderia ser feito e que o plano de saúde cobrisse.
Duas semanas mais tarde, o médico disse que os resultados estavam muito bons, mas tinha algumas coisas que podiam melhorar. Então receitou:
Comprimidos Atorvastatina para o colesterol
Losartan para o coração e hipertensão,
Metformina para evitar diabetes,
Polivitaminas para aumentar as defesas.
Norvastatina para a pressão,
Desloratadina em alergia.
Como eram muitos medicamentos, tinha que proteger o estômago, então ele indicou Omeprazol e um diurético para os inchaços.
Meu tio Tonico foi à farmácia e gastou boa parte da sua aposentadoria em várias caixas requintadas de cores sortidas.
Nessas alturas, como ele não conseguia se lembrar se os comprimidos verdes para a alergia deviam ser tomadas antes ou depois das cápsulas para o estômago e se devia tomar as amarelas para o coração antes ou depois das refeições, voltou ao médico. Este lhe deu uma caixinha com várias divisões, mas achou que titio estava tenso e algo contrariado.
Receitou-lhe, então, Alprazolam e Sucedal para dormir.
Naquela tarde, quando ele entrou na farmácia com as receitas, o farmacêutico e seus funcionários fizeram uma fila dupla para ele passar através do meio, enquanto eles aplaudiam.
Meu tio, em vez de melhorar, foi piorando.
Ele tinha todos os remédios num armário da cozinha e quase já não saia mais de casa, porque passava praticamente todo o dia a tomar as pílulas.
Dias depois, o laboratório fabricante de vários dos remédios que ele usava, deu-lhe um cartão de “Cliente Preferencial”, um termômetro, um frasco estéril para análise de urina e lápis com o logotipo da farmácia.
Meu tio deu azar e pegou um resfriado. Minha tia Marocas, como de costume, fez ele ir para a cama, mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o médico.
Ele disse que não era nada, mas prescreveu Tapsin para tomar durante o dia e Sanigrip com Efedrina para tomar à noite. Como estava com uma pequena taquicardia, receitou Atenolol e um antibiótico, 1 g de Amoxicilina. A cada 12 horas, durante 10 días. Apareceram fungos e herpes, e ele receitou Fluconol com Zovirax.
Para piorar a situação, Tio Tonico começou a ler as bulas de todos os medicamentos que tomava, e ele ficou sabendo todas as contra-indicações, advertências, precauções, reações adversas, efeitos colaterais e interacções médicas.
Leu coisas terríveis. Não só poderia morrer mas poderia ter também arritmias ventriculares, sangramento anormal, náuseas, hipertensão, insuficiência renal, paralisia, cólicas abdominais, alterações do estado mental e um monte de coisas terríveis.
Com medo de morrer, chamou o médico, que disse para não se preocupar com essas coisas, porque os laboratórios só colocavam para se isentar de culpa.
- Calma, seu Tonico, não fique aflito, disse médico, enquanto prescrevia uma nova receita com um antidepressivo Sertralina com Rivotril 100 mg. E como titio estava com dor nas articulações deu Diclofenac.
Nessa altura, sempre que o meu tio recebia a aposentadoria, ia direto para a farmácia, onde já tinha sido eleito cliente VIP.
Chegou um momento em que o dia do pobre do meu tio Tonico não tinha horas suficientes para tomar todas as pílulas, portanto, já não dormia, apesar das cápsulas para a insônia que haviam sido prescritas.
Ficou tão ruim que um dia, conforme já advertido nas bulas dos remédios, morreu.
No funeral tinha muita gente mas quem mais chorava era o farmaceutico.
Agora tia Marocas diz que felizmente mandou titio para o médico bem na hora, porque se não, com certeza, ele teria morrido antes.
Este e-mail é dedicado a todos os meus amigos, sejam eles médicos ou pacientes ..!
Qualquer semelhança com fatos reais será “pura coincidência”


Desconheço o autor

domingo, 20 de janeiro de 2013

30 anos sem Garrincha - Ruy Castro

O craque ainda não descansou. Os mitos que o cercam continuam vivos e impedindo uma compreensão de sua vida
Trinta anos após sua morte, certos mitos sobre Garrincha continuam mais difíceis de matar do que Rasputin.
O de que ele chamava seus marcadores de "João", por exemplo -significando que não queria nem saber quem eram, porque iria driblá-los do mesmo jeito.Garrincha nunca disse isso.
A história foi inventada por seu amigo, o jornalista Sandro Moreyra, em 1957, para mostrá-lo como um gênio ingênuo e intuitivo. Garrincha a detestava, porque os adversários, que não queriam ser chamados de "João", redobravam a violência contra ele.
Que Garrincha era um gênio intuitivo do futebol, não há dúvida. Mas não tinha nada do ingênuo, quase débil, com que algumas histórias o pintavam. Ao contrário, era até muito esperto a respeito do que o interessava -mulheres e birita, a princípio nesta ordem-, e não havia concentração que o prendesse. Nos seus primeiros dez anos de carreira, 1953-1962, Garrincha conseguiu conciliar tudo isso com o futebol. Dali em diante, a vida lhe apresentou a conta.
Outro mito é o de que, às vésperas do Brasil x URSS na Copa-1958, na Suécia, os três jogadores mais influentes da seleção -Bellini, Didi e Nilton Santos- foram ao técnico Vicente Feola e exigiram sua escalação na ponta direita, com a consequente barração de Joel, do Flamengo, então titular. Em 1995, isso me foi desmentido pelos quatro jogadores (Bellini, Didi, Nilton Santos e Joel), pelo preparador físico daquela seleção, Paulo Amaral, e por outros membros da delegação.
Perguntei a Nilton Santos por que, durante tantos anos, ele confirmara uma história que sabia não ser verdadeira. Ele admitiu: "Era o que as pessoas queriam ouvir". No futuro, em entrevistas, contaria a versão correta: a de que Joel se contundira ante a Inglaterra, e a entrada de Garrincha aconteceria de qualquer maneira. Note-se que, até o jogo com a URSS, Garrincha ainda não era o Garrincha da lenda, e Joel, também grande atleta, era uma escolha normal para a ponta.
Outro mito, este agora bastante atenuado, mas ferocíssimo na época, refere-se à participação de Elza Soares na vida de Garrincha. Para os desinformados, ela ajudou a destruí-lo. A verdade é o contrário: sem Elza, Garrincha teria ido muito mais cedo para o buraco. Quando ela o conheceu (em fins de 1961, e não em meados de 1962, durante a Copa do Chile, como até hoje se escreve), Elza estava em seu apogeu como estrela do samba, do rádio e do disco. E ninguém imaginava que Garrincha, logo depois de vencer aquela Copa praticamente sozinho, logo deixaria de ser Garrincha.
Ninguém, em termos. Os médicos e preparadores do Botafogo sabiam que Garrincha, com o joelho cronicamente em pandarecos (e agravado pela bebida), estava no limite. Mas ele não se permitia ser operado -só confiava nas rezadeiras de sua cidade, Pau Grande. O que Garrincha fez na Copa foi um milagre. Mas, assim que voltou do Chile, os problemas se agravaram. Mesmo jogando pouquíssimas partidas, levou o Botafogo ao título de bicampeão carioca -e, assim que o torneio acabou, com sua exibição arrasadora nos 3x0 ante o Flamengo, ele nunca mais foi o mesmo. Marque o dia: 15 de dezembro de 1962 -ali terminou o verdadeiro Garrincha.
Um outro Garrincha -gordo, inchado, bebendo às claras ou às escondidas, incapaz de repetir seus dribles e arranques pela direita- continuou se arrastando pelos campos, vestindo camisas ilustres (do próprio Botafogo, do Corinthians, do Flamengo, do Olaria e da seleção) por mais inacreditáveis dez anos -até o famoso Jogo da Gratidão, organizado por Elza Soares. Foi sua despedida oficial, a 19 de dezembro de 1973, com um Maracanã inundado de amor.
Naquela noite, um time formado por Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Rivellino e Paulo César; Garrincha, Jairzinho e Pelé -praticamente a seleção de 1970 com Garrincha- entrou em campo para enfrentar uma seleção de estrangeiros que atuavam no Brasil, estrelada por Pedro Rocha, Forlan, Reyes e outros.
Numa das várias preliminares, cantores e artistas, como Chico Buarque, Jorge Ben, Wilson Simonal, Paulinho da Viola, Miele, Sergio Chapelin, Francisco Cuoco e outras celebridades também se enfrentaram. Pelas borboletas do estádio, passaram 131.555 pessoas e, com exceção de uma pessoa -o ditador Garrastazu Medici-, todos pagaram para entrar, inclusive os jornalistas. Era o dinheiro que garantiria o futuro de Garrincha.
Da renda de quase 1 milhão e 400 mil cruzeiros (US$ 230 mil de 1973, uma nota), cerca de 500 mil cruzeiros saíram do cofre do Maracanã direto para cadernetas de poupança em nome de suas oito filhas oficiais e um apartamento ou casinha para cada uma. Este era um dos objetivos do jogo. Com os descontos da Receita e outros, sobraram-lhe mais de 700 mil cruzeiros para fazer o que quisesse -e que ele, naturalmente, torrou logo, sem saber como.
Daí o último e maior mito a ser derrubado sobre Garrincha: o de que ninguém o ajudou -o que, no fim da vida, ele declarou em entrevistas para a televisão, que ainda hoje são reprisadas. Mas a verdade é que Garrincha foi muito ajudado, e em várias etapas de sua vida.
Entre seus maiores benfeitores, estavam o banqueiro José Luiz Magalhães Lins, do então poderosíssimo Banco Nacional; o empresário Alfredo Monteverde, dono do Ponto Frio; o Instituto Brasileiro do Café (IBC) e a Legião Brasileira de Assistência (LBA), que lhe deram empregos generosos, aos quais ele não correspondeu; e seus ex-colegas do futebol, agrupados na Agap (Associação de Garantia ao Atleta Profissional), que não se cansaram de recolhê-lo em coma alcoólico na rua e interná-lo em clínicas de "desintoxicação" -das quais era criminosamente liberado dois ou três dias depois de dar entrada.
O alcoolismo matou Garrincha há 30 anos -e continua a matá-lo até hoje, a cada uma de suas vítimas que o Brasil deixa de assistir.

RUY CASTRO é autor de "Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha" (1995), Companhia das Letras, atualmente na 16ª reimpressão.

Fonte: Folha de SP