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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Nem...( Substantivo, Conjunção ou Proposição? )

Nem, nem só de glória vive o homem, pois de que adianta ter imenso poder, bajuladores
a seus pés, muita gente a soldo, todas as amantes que quiser; sabendo que uma facção inimiga, movida pelos mesmos fins, vive tramando tirá-lo de circulação, eliminando-o no
primeiro vacilo.
E nenhum dinheiro do mundo poderá evitar isso.
Nem, nem só de dinheiro vive o homem, pois de que vale tanto numerário, jóias, celulares e não possuir a liberdade de ir e vir, curtir o time do coração no Maraca, um
frescobol na praia, um tiragosto descontraído num bar qualquer, ao lado de uma bela mulher; antevendo que a vida será curta e deverá findar a qualquer momento, talvez no
próximo carregamento.
Tem que ter muito talento...
Nem, nem só de talento vive o homem, pois é lamentável pintar e não poder expor,
mostrando ao mundo suas habilidades, cantar, compor e não dar autógrafos mil, escrever, não publicar nem dar entrevistas; sabendo que o anonimato será a única forma possível de ser artista.
E sonhar no conforto da sua hidromassagem o quanto isso seria bom...
Nem, nem só de sonho vive o homem, pois não basta sonhar mudar, sendo um líder antenado em sua comunidade e não poder se articular aos demais políticos de uma sociedade discriminatória e interesseira, acostumada ao toma lá, dá cá ; tendo em vista
que sua figura pobre, de vocabulário restrito jamais irá conquistar votos nem benefícios
pra quem realmente mais necessita. 
Deus teria que mudar muitas pessoas... 
Nem, nem só de religião vive o homem, pois de que adianta acreditar em Deus, rezar,
à igreja fazer vultosas doações, buscando um pedacinho no céu; e jamais ter a consciência em paz ao fazer tombar numa guerra particular um irmão, arquivo vivo como você, na mais absoluta flor da idade, assim, sem a mínima chance de perdão.
A crueldade ficou banal, a vida sem valor algum. É o cruel sistema em vigor.
É, parece que não adianta mesmo falar de tudo isso, pois quem vive numa favela, teve
seu berço nela, ali cresceu sem carinho genuíno, sobrevivendo ao acaso, saltando como
gato escaldado por telhados e becos, tendo nas veias uma triste genética ancestral e sendo dela fatal prisioneiro, jamais terá acesso à educação e acha tudo normal, e sem ela, meu irmão, com raríssima exceção, tem jeito não, tem jeito não.
Nem...
 
Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida. 

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