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sábado, 16 de novembro de 2013

Bebês gêmeos filmados nas primeiras horas de vida sem perceber que haviam nascidos

Publicado por Techmestre Crianças permaneceram abraçadas e de olhos fechados enquanto tomavam primeiro banho. As imagens mostram o momento em que a enfermeira dá banho nas crianças, que permanecem de olhos fechados e abraçadas.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A alegria de viver de algumas vacas que estavam destinadas ao matadouro

Essas 25 vacas ex-leiteiras estavam destinadas ao matadouro, porque o seu proprietário não tinha condições financeiras de mantê-las. Uma vizinha criou uma fundação, outros vizinhos se tornaram padrinhos das vacas, e elas foram salvas. Neste filme, elas voltam para o pasto depois do confinamento de inverno, e dão claras provas da sua alegria de viver.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ultrapassando o abismo - Heloísa Lima

Publicado originalmente por O Sentido do Ser

“A amizade sincera é um santo remédio,
É um abrigo seguro.
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso.
Por isso se for preciso,
Conte comigo, amigo disponha.
Lembre-se sempre que mesmo modesta,
Minha casa será sempre sua.
Amigo…”
In: Amizade Sincera – de Renato Teixeira
Muita gente pergunta: o que fazer nesse momento tão emblemático mas, ao mesmo tempo, tão confuso e desorganizado?
Ora, num país com tantos desacertos e tamanha miséria não podemos nos dar o luxo do pessimismo. É preciso manter acesa a chama da esperança nos aquecendo a todo instante. Necessitamos ser otimistas. Olhar adiante com alegria e entusiasmo – porque é só para a frente que devem seguir nossos passos. E é imprescindível não ter pressa.
Há um abismo entre nossa história, como país colonizado e submetido aos desmandos das várias metrópoles que se foram alternando no alvissareiro posto, e a possibilidade de nos tornarmos uma civilização definitivamente independente e verdadeiramente humanizada.
Tal dicotomia, aparentemente, resulta dos acontecimentos históricos e dramáticos que nos envolveram desde o princípio da colonização e que fizeram desmoronar quaisquer possibilidades de construirmos uma identidade nacional, um amor fidedigno ao que entendemos ser “pátria” e uma teia consistente de boas relações sociais e, consequentemente, pessoais.
Como sobreviventes de guerra, nos mantemos dentro de uma arena onde os conflitos são cotidianos e impregnam todas as nossas relações interpessoais. E é este ambiente competitivo, hostil, indiferente, feroz e, basicamente, insano, que nos conserva muito distantes dos laços da fraternidade, amizade, solidariedade – mais comuns nas sociedades que não viveram guerras declaradas ou veladas – igualmente desumanizadoras.
Logo, perdemos um mundo possível para vivermos em uma espécie de dimensão transitória, em um limbo onde tudo ainda está por vir, ser e acontecer.
Enquanto nação precisamos resolver as questões de base que conceberam evidentes e profundas desigualdades que não são mais passíveis de serem camufladas.
Nossa sociedade criou condições terrivelmente favoráveis para as injustiças, os preconceitos de todas as ordens, os ódios de diversas matizes, as discriminações e os piores racismos.
Desta forma, as novas e atuais gerações se ressentem muito da falta de saberes e de experiências consistentes acerca de laços de afetos, companheirismos e camaradagens.
Muito bom seria se os intelectuais, os formadores de opinião (seja lá o que isto signifique), os astutos, os peritos, os estudiosos e os cientistas – que permanecem comodamente trancados dentro de suas salas, de suas academias empertigadas, realizando pesquisas encomendadas por interesses privados, esperando honras e prêmios, certos de que estão cheios das sabedorias que, longe do povo, não servem para absolutamente nada – funcionassem, neste rico momento, como uma ponte, uma espécie de contrabandistas dos conhecimentos de uma lado para o outro.
Talvez, desta forma, abandonassem seus longínquos castelos e viessem testar suas (vãs?) teorias no meio da sua gente. E, assim, uma nova ciência se forjaria a partir desta preciosa matéria prima.
Mas, como não podemos esperar tal deferência  – ao menos neste momento – vamos pensar no que é possível fazer com aquilo que foi conquistado.
Sabemos que tudo se transforma de dentro para fora. Não existe nenhuma outra maneira de fazer nascer um ser, uma história, uma pátria.
É preciso começar lá do começo – onde éramos animais gregários, fortemente adaptáveis e, de forma absoluta, intrinsecamente afetivos e solidários.
Tecer nossa rede de relações fundamentada nas necessidades básicas de sobrevivência da espécie, proteção, cuidado mútuo, empatia, observação, criação, benevolência, amor e, acima de tudo, na intuição que urge ser resgatada.
Todos os laços podem ser fortalecidos pela imprescindível semente da confiança – substrato indispensável para a construção da coletividade baseada na igualdade e na fraternidade.
Mas, como disse o poeta americano Walt Whitman: “Sermões e lógicas jamais convencem. O peso da noite cala bem mais fundo em minha alma.”
Descontando o temor e a incerteza – sentimentos que quase nos compõem integralmente, com bons motivos para tanto – fora a ambição que impulsiona o desejo de estar acima dos outros, de ser mais e maior que tudo o que nos cerca e, sem considerar, ainda, a sedução pelo poder e o orgulho exacerbado que nos domina, temos ainda uma maravilhosa capacidade humana de nos amarmos com atenção e ternura.
Vamos entender que “nossa pátria” nasce na nossa família que, por sua vez, nasce a partir dos laços que estabelecemos com nossos semelhantes. Não existe outra sequência possível.
Se observarmos que a razão da paz que nosso país parecia representar se assenta sobre coisas que não conhecemos, entenderemos que é para isso que servem as competições, a falta de parceria e amizade, as drogas, os circos, as novelas e os programas de auditório – para que ninguém descubra os demônios e nem abra a “caixa de pandora”.
Se nos concentrarmos no que realmente importa, ou seja, em construir relações pessoais realmente afetivas e profundas que possam criar vínculos profícuos de confianças, teremos condições de reencontrar um fio da meada.
Por isso, a receita é bem simples: não se impressionar com as flácidas dimensões das coisas. Elas podem se esvaziar rapidamente.
Daí, a importância de reter o que sobressai da bruma oriunda dosgazes vorazes emanados das armas nas mãos das milícias ferozes.
Conversar muito, reunir mais, trocar impressões e ideias. Ler, debater, estudar. Desenvolver laços, sair da frente do computador e experimentar o revolucionário contato pessoal. Abraçar não apenas causas, pautas, reivindicações mas, sobretudo, os parceiros de jornada.
Que desta magnífica experiência se crie uma estrutura mais ampla de relações humanas porque apenas estas serão capazes de sustentar e defender os justos ideais e, assim, transformar nosso país em um lugar onde se possa desejar viver – com orgulho e apreço.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

10 sinais de que você pode estar com mal de Alzheimer

Publicado originalmente por hypescience

Esquecer um aniversário ou ter dificuldade para trabalhar com uma planilha de dados é normal, mas quando situações como essas se tornam frequentes demais, talvez seja hora de procurar um médico.
Para ajudar a identificar possíveis sinais da doença de Alzheimer, a equipe do alz.org listou 10 possíveis sintomas da condição, que não devem ser confundidos com dificuldades “normais”.

1. Perda de memória frequente

Esse é um dos sintomas mais comuns da fase inicial da doença: a pessoa passa a se esquecer constantemente de datas importantes e de novas informações, além de criar uma dependência muito grande de lembretes. O que não é sintoma: esquecer-se ocasionalmente de algo, mas se lembrar depois. Vale notar que perda de memória não é tão comum na velhice como se pensa; problemas de memória em pessoas mais velhas, ao contrário do que se pensou por muito tempo, não são uma parte “normal” do envelhecimento.

2. Dificuldade excessiva em solucionar problemas

Algumas pessoas têm dificuldade natural em fazer planos ou lidar com números, mas quem tem mal de Alzheimer sofre ainda mais com isso. O que não é sintoma: atrapalhar-se de vez em quando na hora de fazer cálculos.

3. Dificuldade em executar tarefas cotidianas

Fazer o mesmo caminho de sempre até o trabalho, lembrar o que deve ser escrito em um relatório semanal ou recordar as regras do seu jogo favorito pode se tornar difícil quando a pessoa começa a desenvolver mal de Alzheimer. O que não é sintoma: precisar, ocasionalmente, de ajuda para mexer com um eletrônico.

4. Confusão de tempo e local

Perder-se constantemente em datas e horários e se esquecer o caminho que percorreu até determinado local são sinais preocupantes. O que não é sintoma: confundir vez ou outra o dia da semana, mas se lembrar rapidamente.

5. Problemas em entender imagens e dimensionar espaço

Uma pessoa com mal de Alzheimer pode ter sérias dificuldades em perceber distâncias e em compreender figuras. Às vezes, podem não reconhecer o próprio reflexo, passar diante de um espelho e achar que viram outra pessoa. O que não é sintoma: desenvolver problemas de visão por causa da idade.

6. Problemas sérios de comunicação

Palavras “fogem” e a pessoa interrompe as próprias falas sem conseguir dar continuidade depois. O que não é sintoma: não encontrar, às vezes, a palavra mais apropriada para expressar uma ideia.

7. Guardar coisas em lugar errado

Confusa, a pessoa pode guardar no banheiro as chaves do carro ou largar o celular no banco do jardim e ter dificuldade para refazer a trajetória até o objeto perdido. O que não é sintoma: perder objetos de vez em quando.

8. Imprudência ou falta de equilíbrio em decisões

Ao lidar com dinheiro, a pessoa pode acabar gastando quantias que normalmente não gastaria, por exemplo. O que não é sintoma: tomar ocasionalmente uma decisão ruim.

9. Evitar interações sociais

Alterações causadas pela doença podem fazer com que a pessoa desista de hobbies, projetos, esportes ou compromissos familiares. O que não é sintoma: não se sentir disposto de vez em quando a sair de casa.

10. Mudança de personalidade

O mal de Alzheimer pode fazer com que uma pessoa normalmente calma se torne impaciente, ou que passe de alegre a triste. Fugir da zona de conforto se torna muito mais difícil do que o normal. O que não é sintoma: criar rotinas e se incomodar ao ter que quebrá-las. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A janta está esfriando - Dj-gugu Manuel Santos


Igual a todos os trabalhadores do mundo, eu também chegava em casa cansado e me jogava no sofá, e ligava a TV para saber das últimas notícias do dia. Naquela noite não estava sendo diferente, ate ser interrompido por meu filho, na época com 5 anos, que ao me ver chegar correu pedindo-me atenção. Sem paciência, e me sentindo exausto, peguei um pedaço de papel e lápis e pedi que ele fizesse algo enquanto eu via mais uma vez o repórter, com as mesmas manchetes, e os mesmos entraves políticos. Volta e meia, ele me interrompia me fazendo perguntas sem nexo, tipo:
-Papai como se escreve “UE”? Papai como se escreve “OMA”
-Filhinho, respondi com pouca paciência, papai ta vendo o repórter e ta cansado depois você pergunta, o que quiser... Lu estava na cozinha preparando algo para jantar, também trabalhava durante o dia, e chegava a casa pouco antes de mim, Silvia no quarto dela arrumando seus brinquedos e eu e o “Chato” do Renato na sala, eu querendo ver o repórter, e ele querendo escrever o que ainda não sabia (escrever).
A gente não percebe o quanto de errado nos comportamos em família. E muito comum colocarmos a culpa nos meios de comunicação, na modernidade, na violência urbana, etc. Mas não reconhecemos, que muito do que podemos mudar... esta bem ali - diante dos nossos olhos, logo abaixo do nosso nariz. Estamos presos aos “nossos” problemas, as nossas responsabilidades, e a tudo que nos cerca “fora” do lar.
Na vida moderna, onde homem e mulher trabalham, para melhorar a parte financeira da casa, esquecemos que pagamos um alto preço pelo que deixamos de administrar em família, e delegamos a outros, aquilo que é de nossa inteira responsabilidade - educar e amar nossos filhos.
Tantas vezes insistiu, e tantas vezes ficou sem resposta... que acabou adormecendo em meu colo sobre o sofá, enquanto eu ainda via a TV.
Lu me avisou que a janta estava pronta, então delicadamente, peguei-o no colo e ia me dirigindo ao seu quarto, quando um papel, o mesmo que eu havia dado para ele se distrair, caiu no chão, curioso, peguei o papel ainda antes de levá-lo para a cama, e li o que me parecia IMPOSSIVEL, pois o Renato ainda não sabia escrever, estava na alfabetização, aprendendo o som das letrinhas. “Papai eu te amo”. Como um soco aquilo me atingiu em cheio. Dentro do seu pequeno mundo, tentando demonstrar seus sentimentos, e era ignorado por mim, na troca de um simples programa de TV, que se repetem todos os dias - enquanto momentos como esse eu nunca mais tive. Carinhosamente eu o apertei em meus braços e velei seu sono por muito tempo.
A janta esta esfriando, falou minha esposa...
OS: Mandei emoldurar esse texto, junto a uma foto sua, e até hoje me emociono ao ver tanta espontaneidade ignorada por mim...

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Gostosa em Braille - Ruy Castro

Maria Sharapova, a tenista russa, está ameaçada de passar à posteridade não como uma supercampeã e atleta de grande beleza, mas como uma mulher que, no apogeu de seus 26 anos, cometeu o pecado de ter... celulite. Experimente googlar "Sharapova" e "celulite" --a tela se encherá de imagens mostrando o que se esconde (ou não se esconde) por baixo dos seus saiotinhos brancos.
Sharapova tem celulite, e daí? Algum dos fotógrafos mais interessados nos relevos supostamente imperfeitos de suas coxas do que na precisão e força de seus saques terá oportunidade de conferir ao vivo se aqueles detalhes são mesmo tão desprimorosos? Ou todos ficarão no ora veja, apenas clicando de longe e desdenhando o que não podem ter?
E desde quando os heróis, mesmo os do passado, tinham de ser perfeitos? Frank Sinatra, Humphrey Bogart, Fred Astaire, Gary Cooper, Bing Crosby, Gene Kelly, Henry Fonda e John Wayne eram carecas. Não ficaram carecas --já o eram no apogeu de seu estrelato. Foram salvos pelas perucas dos anos 40 e 50, muito mais realistas do que as que viriam depois. Sean Connery, também --o irresistível 007 de "O Satânico Dr. No", "Moscou Contra 007" e "007 Contra Goldfinger" já era um James Bond com peruca.
Os correspondentes em Hollywood sabiam que, do nariz para baixo, Raquel Welch era uma plástica só. Elizabeth Taylor tinha queixo duplo e canelas finas. Doris Day, milhões de sardas. Clark Gable usava dentadura. E Marlon Brando não tomava banho. Mas isso não era notícia. Valia o que se via na tela.
Os homens sempre deram a mesma importância à celulite do que a uma marca de vacina no corpo da mulher. Ou seja, nenhuma. Até que uma frase recente do meu amigo Leo Jaime levou a uma revisão do conceito: "Celulite significa gostosa em Braille".


Publicado por Folha de SP

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada


Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto. (Gustave Le Bon)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Rose e o celular, da série: Olhar Urbano - Teresa Santos


Foram quarenta e cinco minutos, divididos em três telefonemas de estratégicos quinze minutos.
No primeiro ela dizia que iria ao cinema acompanhar a senhorinha que estava sob seus cuidados. Não poderia estar com ele e que dormiria no emprego.
E uma discussão, sem mais nem menos, começou.
Aquele sotaque vindo - quase certeza - do Ceará ecoou dentro daquele ônibus e consequentemente nos meus ouvidos, pois eu estava sentada no banco da frente.
Um bla...bla... bla...interminável e que terminou com um seco:
Tchau!.
Eu, que até então tentava escutar músicas, pensei comigo:
Ufa! Acabou!
Ledo engano.
E lá foi a fulana para o seu segundo telefonema.
Desta vez para o pai. Repetiu não sei quantas vezes as mesmas frases e a palavra painho. Tudo indicava que o homem era surdo.
E começou com a despedida.
- Bença, pai. Depois nois conversa.
Estava crente que desligaria,  quando recomeçou uma conversa sobre a saúde da mãe.
Nesta altura eu já havia tirado os fones do ouvido e resolvido engantar um cochilo  embora soubesse ser impossível.
E novamente o tal do “Bença, pai. Depois nois conversa” encerrou definitivamente a ligação.
Pensei  que aquela matraca finalmente iria calar, quando ouço...
- Chica, tu sabe quem tá falando? É a Rose. Tu tá bem tá?
Aquela boca, semelhante a uma metralhadora, desembestou novamente a falar...a falar....
Percebi que o motorista também notou e começou a conversar com o cobrador.
- Fulano, tu pensa que tá em casa é? Tu fala pra *******   hein? Tá ouvindo?
E o cobrador:
- Tô. Sim. Och! Tu fala pelos cotovelos hein colega?
De repente Rose solta esta frase:
-  Chica, vou precisar desligar porque estou com sinusite e morrendo de dor de cabeça. A garganta “tá” seca. Não posso falar muito!
Quando, finalmente, fechou a matraca cheguei ao meu destino.
 
 
Teresa Santos, 62 anos, paulistana. Aposentada, mas na ativa. Gosta de estudar idiomas, de viajar, de ler  e de observar o mundo. Considera o ser humano a melhor personagem para seus escritos. É grata à vida  e se considera uma pessoa feliz.

domingo, 11 de agosto de 2013

Meu pai - Teresa Santos

Trabalhou dos 16 aos 58 anos.
Dos 58 aos 91 aproveitou, com parcimônia, sua aposentadoria.
Não ganhava bem, mas também não ganhava mal. Nunca dependeu dos filhos.
Casou-se com o único amor de sua vida, minha mãe. Viveram juntos 60 anos, que não conseguiram completar pois ela  faleceu 17 dias antes.  Naquele triste 11 de dezembro de 2006.
Não completou o curso primário pois tinha que trabalhar. Ajudava minha avó a cuidar da chapelaria do meu avô, quando este desistiu de viajar pelo Brasil.
Minha avó era uma mulher encantadora. Alta, forte, descendente de alemães era ela quem tocava a casa e o pequeno negócio - chapelaria - nas longas ausências de marido. Ausências estas que ela conhecia muito bem.
Meu pai tudo via e nada podia fazer, pois meu avô tinha um gênio irascível..
Faleceu com uma enorme mágoa e detestava quando eu dizia que devia ao "Velho" , como era chamado, meu gosto pelas artes em geral.
Minha avó aguentava tudo calada, pois era aquilo ou a rua.
E o tempo passou. Aos 18 anos meu pai foi servir o exército e sempre dizia que foram os melhores anos de sua vida porque lá tinha roupa, sapatos e uma boa comida.
Ficou durante 3 anos e só não foi para a  Segunda Guerra porque o destino e Nossa Senhora Aparecida (palavras de minha falecida mãe) não quiseram.
Aos 27 anos casou-se com minha mãe que tinha 23. Antes comprou uma casa, pois dizia que nunca iria pagar aluguel igual ao seu pai.
Quando casou levou parte da família. Meu avô, minha avó, uma irmã e uma tia avó.
Em 1951 eu nasci. Quatro anos depois nasceu meu irmão.  Em 1955 uma tragédia abate sobre a nossa familia.
Ficou somente meu avó residindo conosco. Meu pai, o filho que ele tanto maltratou, foi o único a lhe estender a mãos. Os outros quatro filhos do primeiro casamento (esse sim, legalizado) simplesmente o abandonaram.
Meu pai era um homem que sempre cumpriu com suas obrigações. Considerado um profissional competente, quando foi mandado embora da Vidraria Santa Marina (onde trabalhou por 25 anos) devido a uma greve, e que ele não havia participado, sua profissão de  vidreiro foi deixada para trás.
Desempregado, e com filhos pequenos para sustentar, foi trabalhar como pedreiro e durante algum tempo ganhou a vida assim.
Até que apareceu uma oportunidade para trabalhar na fundição de uma empresa chamada Sofunge.
Foi então que o destino lhe dá uma oportunidade de trabalhar em um laboratório químico ao invés de ir para macharia.
Com uma força de vontade hercúlea lá foi ele. Aprender fórmulas e mais fórmulas e se tornar auxiliar de analista químico.
Até o final de seus dias se lembrava das fórmulas e eu o sabatinava e nos divertíamos, porque muitas vezes eu as esquecia e ele prontamente me dizia.
Na Sofunge  trabalhou durante muito anos também. Depois foi para a MWM, volltou para a Sofunge e lá se aposentou.
Quase para se aposentar era ele quem instruia os estudantes de química que lá estagiavam.
Não se considerava inteligente, mas eu sabia muito bem que ele era. Durante anos manteve a nossa humilde casa sempre em ordem. Era marcineiro, pedreiro, eletricista, pintor e tudo o que se pode imaginar.
Ele olhava uma vez como se fazia e pronto! Lá estava ele fuçando aqui e acolá.
Sempre nos ensinou o valor do trabalho e da honestidade.
Foi o homem mais bondoso e íntegro que conheci.
Vivia da casa para o trabalho. Do trabalho para a casa.
Sua vida era a esposa e os filhos. Nunca nos deixou faltar nada e tinha uma maneira peculiar de nos educar.
Dizia sempre que não deveríamos dar o passo maior do que as pernas e que uma vez "pé de chinelo, sempre pé de chinelo".
E era aí que entrávamos em discussão. Ele via a vida de uma maneira objetiva, quase crua.
Eu, do meu lado, a via de maneira mais suave e  lhe dizia que poderíamos mudar o nosso destino, de certa maneira, e mostrava  que eu era o exemplo mais próximo dele.
Afinal, ele sem estudo, deu instrução para os seus filhos seguirem a vida. Meu irmão, que detestava estudar, foi aprender uma profissão no Senai e durante anos foi torneiro ferramenteiro até que a empresa onde ele estava foi vendida e resolveu trabalhar por conta própria e se tornar motorista de táxi.
Meu pais diziam sempre uma frase e que me acompanha até hoje: " Cabeça oca é oficina do diabo".
Quando meu pai percebeu que meu irmão não queria estudar disse:
- Filho meu, não vagabundeia. Filho meu ou estuda ou trabalha.
Eu preferi estudar. E fizemos um trato: eu não trabalharia e me contentaria com o que ele pudesse me oferecer.
Tanto é que comecei trabalhar tarde. Aos 25 anos.
Meu pai, apesar de nossas divergências, sempre foi um homem com quem eu pude contar.
Diferente de meu avô tinha uma excelente índole. Não era mulherengo e nunca o vi em um bar bebendo.
Tinha pouquíssimos amigos e muitos conhecidos.
Viveu sua vida e sempre escolheu em não se espelhar em seu pai.
E eu dizia que apesar dos pesares meu avô foi um exemplo para ele. Um exemplo a não ser seguido.
Ele muitas vezes discordava. Só deu o braço a torcer quase no final da vida.
Este era meu pai. Um homem que sofreu nas mãos de meu avô e que não quis o mesmo para seus filhos.
Um homem que gostava de ouvir música. Tinha predileção por pistão, saxofone, trombone e banjo.
Que pedia para minha mãe tocar ao piano o tema do filme Em algum lugar do passado e Clair de Lune.
Que foi companheiro de todas as horas tanto para mim quanto para sua amada e seu filho.
Que adorava uma cervejinha (dizia que beber era bom, mas em casa), um bom vinho e sempre elogiava os pratos deliciosos que minha mãe preparava.
Que gostava de arroz doce, pudim de pão, "bolo porta de circo" (como ele dizia brincando), cassata siciliana (presente em todos os seus aniversários), de uma boa dobradinha, de uma gostosa feijoada e tantas outras delícias.
Que não gostava muito de ver TV, mas de um bom filme. Preferia escutar o bom e velho rádio.
Que admirava atrizes de carnes fartas (achava Sophia Loren o máximo) .
Há dois anos se foi. Tinha 91 anos. Lúcido e reclamando da política do Lula.
Lula que - semelhante à filha - detestava.
Dizia sempre:
- Este homem ainda vai acabar com o nosso país!

 Teresa Santos, 62 anos, paulistana. Aposentada, mas na ativa. Gosta de estudar idiomas, de viajar, de ler  e de observar o mundo. Considera o ser humano a melhor personagem para seus escritos. É grata à vida  e se considera uma pessoa feliz.

sábado, 10 de agosto de 2013

Ele disse que apareceram, em sonho, três meninos: um inglês, um alemão e um japonês que lhe ensinaram falar e lêr em inglês, alemão e japonês

À beira do Rio São Francisco um capiau sem os dentes da frente que se chama, Evaldson Bispo dos Santos, (vulgo Galinha Tonta,) que fala e lê em inglês, alemão e japonês. Ele disse que apareceram, em sonho, três meninos, um inglês, um alemão e um japonês que lhe ensinaram os respectivos idiomas! Gert ficou impressionado com o alemão dele e falou bem rápido para ver se entendia, e o Evaldson entendeu tudo! Evaldson já foi apresentado no Fantástico e já se encontrou com o Imperador Hirohito do Japão.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O que era para ter sido e não foi - Nadia Foes

A violência ainda gigantesca. A violência domestica, assalto, furtos, crimes contra criança, contra os animais, contra os idosos, contra os diferentes, até dentro de nossas casas. Dá até medo de ligar a televisão, pensou ela. E, de repente, lembrou, hoje tenho que ir até o centro. Pegou o carro e saiu. Encontrar onde estacionar é que era a grande dificuldade. Depois de algumas voltas, encontrou lugar em um daqueles estacionamentos explorados por flanelinhas. Fechou o carro e foi fazer as compras. Na volta jogou os pacotes no banco traseiro e fechou a porta. Nisso chegou o guardador e ela estendeu duas notas de um real. Ele olhou e disse: isso não dá tia, gringo está pagando em dólar e isso só para pagar um café. Ao que ela retrucou: em primeiro lugar não sua tia e segundo não tenho mais dinheiro. E deu início a uma discussão. Ela alegando que não era gringa e sim da cidade e ele fazendo pressão. Foi quando ela viu que várias pessoas iam passando e fingindo que nada estava acontecendo até que uma senhora estacionou o carro perto do carro dela e sequer olhou para os lados. Ela pensou, graças a Deus, essa senhora na hora e foi avisar a polícia que está na esquina. Esperou e nada. O rapaz cada vez mais agressivo até que ela ligou o motor. Ele pulou para a frente do carro e quase deitado no pára-brisa gritava: me dá a bolsa!!! Ao que ela respondeu: não vou dar nada e sai já daí da frente senão eu vou passar por cima de você. E ele ficou segurando a frente do carro e rindo. Quando ela olhou para aquela boca, faltando alguns dentes, aquela boca horrorosa, dizendo: ô tia, ô tia, ta com medo, ela respondeu: não tenho medo de nada e estou dando o último aviso, saia ou passo por cima. Ele não saiu e ela acelerou e saiu a toda velocidade. Da esquina ainda olhou pelo espelho e viu que ele estava vivo e já atazanando ávida de outra pessoa. Passou pela polícia na esquina, deu o aviso e foi para casa. Lá chegando teve uma crise de choro. Chorava e agradecia a Deus por não ter acontecido uma tragédia. Como ela poderia deitar a cabeça num travesseiro e dormir depois de matar um homem. Afinal era ela ou ele. No dia seguinte, tentou pegar no carro mas não conseguiu. No outro tentou mais uma vez e acabou ficando alguns anos sem dirigir na cidade. Na praia ela dirigia para todos os lados. Ia de uma praia a outra, pegava estrada, na cidade nada. Um belo dia, em uma discussão com o marido, ela disse: você não entende, vou pegar um instrutor de auto-escola para dar umas voltas pela cidade e enfrentar o medo. Depois, estou sem carro, o que eu usava foi roubado e quer saber de uma coisa: você jamais me deu um carro; diga, algum dia você pôs um carro em meu nome? Passado algum tempo, um cliente dele não tendo dinheiro para fazer o acerto financeiro, pagou uma parte em dinheiro e outra com um carro preto, que o marido pôs em nome dela. Era um carro usado, mas para ela era o máximo. Ela agora poderia sonhar, depois de tantos anos ela amou a idéia de ter um novo carro. Mas como a filha estava fazendo faculdade, e saia o dia inteiro, ela foi adiando o contrato da auto-escola, Depois a filha se formou e foi embora para longe e o carro ficou estacionado na garagem e ela arrumou um trabalho. No primeiro dia de trabalho pediu carona para o marido e ele disse vai com o teu. Ela ainda pediu por favor e aproveite e fale com o instrutor que eu também quero voltar a dirigir para não depender de ninguém, nem sair de taxi. Passado algum tempo, um dia ele entrou no trabalho dela e lhe disse: venha comigo. Ela, como fantasiava tudo, pensou: o que será que ele vai fazer? Será que vamos providenciar o passaporte para ver a filha ou vamos visitar a filha que mora no norte?  Será que ele vai me levar em algum lugar especial e saiu feliz da vida ao lado do homem, o único, diga-se de passagem, que ela teve na vida, e teve uma grande surpresa: o convite era para ir ao cartório pois o carro dela acabara de ser vendido. Ela foi, assinou a transferência e voltou para o trabalho pensando: acorda Alice, já está na hora... Ainda bem que ela já está acordada e bem curtida. Cada um tem o destino que merece...

Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

sábado, 27 de julho de 2013

Jabuticabas (ou joias?) de Haruo Ohara – por Elvia Bezerra

Publicado originalmente por BlogDoims
Maria, filha de Haruo (Chácara Arara, Londrina - PR: 1949)
Maria, filha de Haruo (1949)
A arte tem disso: despreza a ignorância e atinge profundamente os que simplesmente se dispõem a ver ou sentir. Tenho uma amiga que, sem qualquer conhecimento de história da arte, visitando o museu do Louvre ficou paralisada diante da escultura da Vitória de Samotrácia. Levou um susto, diria ela, com a intrepidez e a soberania da figura feminina, alada, no topo de uma escadaria do museu parisiense. Na minha fase de paixão por Alberta Hunter, tive uma empregada, analfabeta, que interrompia a limpeza da sala para ouvir, emocionadíssima, a intérprete americana cantando The glory of love. Não sabia uma palavra de inglês.
O rosário de experiências corre o risco de ser longo, mas devo contar que certa vez, também no Louvre, enquanto eu me postava concentrada diante da Mona Lisa, uma menina de seus dez para doze anos, olhando para mim, intrigada, devolvia o olhar para o quadro, sondava o grupo de um modo geral, até que, virando-se para o pai, em busca de motivo para tamanha contenção, profanou o silêncio dos que se espremiam em frente à obra famosa dizendo em voz bem alta: papá, que tiene de especial?
Mas vale o desconto: a menininha ainda nem saíra da infância, enquanto eu me propus aqui a confessar que desconhecia muitos dos nomes mais importantes da fotografia quando vim trabalhar no IMS em final de 2009. Ao longo desses quatro anos tenho me encantado com as mulheres caranguejeiras de Maureen Bisilliat, as máquinas de Flieg e as solidões de Copacabana retratadas por José Medeiros, dentre outros fotógrafos.
Nenhum deles me arrebatou tanto quanto Haruo Ohara. A primeira vez que ouvi falar do fotógrafo japonês foi quando Rachel Rezende, da coordenadoria de fotografia do IMS, pronunciou seu nome referindo-se ao documentário que Rodrigo Grota fizera sobre ele. Rachel falava do artista com uma naturalidade humilhante, e eu, sem ter ideia desse homem que chegara a São Paulo em 1927, beirando os 18 anos de idade, com os pais, e seis anos depois se fixava em Londrina, no Paraná, não pude esperar para perguntar quem era “o” Haruo a quem ela tratava com tanta intimidade. Pouco depois vi o catálogo de 2008, ano em que os 18 mil negativos que constituem sua extraordinária obra chegaram ao IMS. Na lojinha da Casa, eu o indiquei como presente de amigo oculto de 2011. Indiquei para mim mesma, quero dizer, que é como costumamos fazer aqui, para facilitar o amigo que presenteará. Foi assim que o meu querido João Gabriel me garantiu o prazer de ter na minha casa, sentada no meu sofá, sempre que eu quiser, as translúcidas jabuticabas que Haruo Ohara fotografou na sua casa da rua São Jerônimo.
Eu tinha caído de amores pelos frutos desde que os vi presos ao tronco da jabuticabeira, não em abundância como as laranjas ou os caquis que “o” Haruo fotografou – agora já me atrevo a escrever assim. As laranjas foram registradas no chão, às centenas, enquanto os caquis, igualmente fartos, pendem das mãos de três dos nove filhos de Haruo, em pencas. Ao lado, Kô Sanada, a mãe, cúmplice do trabalho do marido na lavoura da Chácara Arara e na vida.
Jaboticabas, casa da rua São Jerônimo (1965) | Kô e os filhos desfrutando uma farta safra de caquis (final da década de 1940)
Jabuticabas, casa da rua São Jerônimo (1965) | Kô e os filhos desfrutando uma farta safra de caquis (final da década de 1940)
As duas fotos são quase ruidosas, como se se pudesse pressentir o barulho causado pelas laranjas despejadas no chão. Como se, para mostrar os caquis, as crianças tivessem por um momento parado de correr, de gritar, a fim de exibir os frutos vermelhos que pesavam em seus braços infantis.
Na foto das jabuticabas, não é a fartura que sobressai. Tampouco ela sugere, como acontece nas das laranjas e dos caquis, um ruído anterior ao clique da Rolleiflex que Haruo usava nas suas fotos de amador que se converteria num dos maiores nomes da fotografia brasileira do século XX. Dessa vez, o silêncio prepara a delicadeza do tronco bordado de frutos. Haruo não escolheu a parte do tronco mais cheia, e sim um pedaço apenas salpicado das esferas pretas e reluzentes. Sobressaem raras, como pares de brincos. Parecem mais joias que frutos. À exceção de uma trinca que se projeta na frente, as outras brotam em duplas, pérolas negras prontas para serem penduradas na orelha de uma deusa africana ou de uma tsarina japonesa.
Quando vi essa foto estampada no banner de divulgação da exposição, cheguei a pensar que o Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, tinha adivinhado meus pensamentos. Mas não, a arte tem disso: se é valorizada pelos que sabem julgar, pelos que conhecem a técnica, não espera conhecimento para tocar os que olham de coração e olhos bem abertos. Assim, toda noite, quando saio, vejo as jabuticabas se oferecendo sob a luz, joias para noite de gala.
Kô, mulher de Haruo, fotografada em seus últimos momentos de vida (c. 1973)
Kô, esposa de Haruo, fotografada em seus últimos momentos de vida (c. 1973)
“Só podemos fotografar o que já existe em nós”, escrevia Paulo Mendes Campos em um de seus cadernos de notas. Com a autoridade de quem nada sabe, vejo muito de gratidão amorosa na foto que Haruo fez da mulher, Kô Sanada, nos seus últimos dias de vida. Doente, mas sem perda de dignidade, Kô se abandona na poltrona. Não segura o leque aberto, colocado em suas mãos. Faltam-lhe forças. Ele está no seu colo para substituir-lhe as mãos, em pacífico e silencioso adeus. Há uma inviolável ternura no olhar de Kô, ressonância do que vem do fotógrafo, assim como queria Paulo Mendes Campos, que, citando Valéry, afirmava que a ternura é a “tendência de se entregar em franqueza à doçura de ser fraco”. E Paulo relaciona assim o convite à ternura:

Ternura por um portal de outro século; por um pátio de clausura azul; por uma ladeira desenhada de retas que parecem tortas; pela integridade metálica de um sino; por uma pretinha, quase despida, de vermelho; por um renque de co­queiros abrindo contra o vento parênteses que não se fecham; por um aroma de ma­resia

Elvia Bezerra é coordenadora de literatura do IMS.

sábado, 20 de julho de 2013

O “Homem-jato sobrevoando o Rio de Janeiro

O piloto suíço Yves Rossy, o “Homem-jato,” mais uma vez ultrapassou as barreiras da aviação, completando um voo fabuloso sobre o Rio de Janeiro. Este pioneiro no ar, veste roupa com asas e voa a 1.200 metros de altura, único homem a voar com uma asa rígida, equipada com quatro motores a jato. Ele saltou de um helicóptero sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas, voando ao redor do Corcovado, depois seguiu voando em direção ao sul da cidade, bordejando a praia de Ipanema, Copacabana e o Pão de Açúcar, antes de puxar o seu pára-quedas e aterrissar com total segurança na praia em frente ao Hotel Copacabana Palace. Veja com a tele cheia. Clique no link abaixo e ligue o som. Via Dinair Laborda

Esquerda ou direita? - Antonio Prata


A esquerda acha que o homem é bom, mas vai mal – e tende a piorar. A direita acredita que o homem é mau, mas vai bem – e tende a melhorar.
A esquerda acusa a direita de fazer as coisas sem refletir. A direita acusa a esquerda de discutir, discutir, marcar para discutir mais amanhã, ou discutir se vai discutir mais amanhã e não fazer nada. (Piada de direita: camelo é um cavalo criado por um comitê).

Temos trânsito na cidade. O que faz a direita? Chama engenheiros e constrói mais pontes. Resolve agora? Sim, diz a direita. Mas só piora o problema, depois, diz a esquerda. A direita não está preocupada com o depois: depois é de esquerda, agora é de direita.
Temos trânsito na cidade. O que faz a esquerda? Chama urbanistas para repensar a relação do transporte com a cidade. Quer dizer então que a Marginal vai continuar parada ano que vem?, cutuca a direita. Sim, diz a esquerda, mas outra cidade é possível mais pra frente. A direita ri. “Outra” é de esquerda. “Isso” é de direita.

Direita e esquerda são uma maneira de encarar a vida e, portanto, a morte. Diante do envelhecimento, os dois lados se dividem exatamente como no urbanismo. Faça plásticas (pontes), diz a direita. Faça análise, (discuta o problema de fundo) diz a esquerda. (“filosofar é aprender a morrer”, Cícero). Você tem que se sentir bem com o corpo que tem, diz a esquerda. Sim, é exatamente por isso que eu faço plásticas, rebate a direita. Neurótica! — grita a esquerda. Ressentida! — grita a direita.

A direita vai à academia, porque é pragmática e quer a bunda dura. A esquerda vai à yoga, porque o processo é tão ou mais importante que o resultado. (Processo é de esquerda, resultado, de direita).

Um estudo de direita talvez prove que as pessoas de direita, preocupadas com a bunda, fazem mais exercícios físicos do que as de esquerda e, por isso, acabam sendo mais saudáveis, o que é quase como uma aplicação esportiva do muito citado mote de Mendeville, de que os vícios privados geram benefícios públicos — se encararmos vício privado como o enrijecimento da bunda (bunda é de direita) e benefício público como a melhora de todo o sistema cardio-vascular. (Sistema cardio-vascular é de esquerda).
Um estudo de esquerda talvez prove que o povo de esquerda, mais preocupado com o processo do que com os resultados, acaba com a bunda mais dura, pois o processo holístico da yoga (processo, holístico e yoga são de extrema esquerda) acaba beneficiando os glúteos mais do que a musculação. (Yoga já é de direita, diz alguém que lê o texto sobre meus ombros, provando que o provérbio correto é “pau que nasce torno, sempre se endireita”).

Dieta da proteína: direita. Dieta por pontos: esquerda. Operação de estômago: fascismo. Macrobiótica: stalinismo. Vegetarianismo: loucura. (Foucault escreveria alguma coisa bem interessante sobre os Vigilantes do Peso).

Evidente que, dependendo da época, as coisas mudam de lugar. Maio de 68: professores universitários eram de direita e mídia de esquerda. (“O mundo só será um lugar justo quando o último sociólogo for enforcado com as tripas do último padre”, escreveram num muro de Paris). Hoje a universidade é de esquerda e a mídia, de direita.

As coisas também mudam, dependendo da perspectiva: ao lado de um suco de laranja, Guaraná é de direita. Ao lado de uma Coca-Cola, Guaraná é de esquerda. Da mesma forma, ao lado de um suco de graviola, pitanga ou umbu (extrema-esquerda), o de laranja vira um generalzinho. (Anauê juice fruit: 100% integralista).

Leão, urso, lobo: direita. Pinguim, grilo, avestruz: esquerda. Formiga: fascismo. Abelha: stalinismo. Cachorro: social democrata. Gato: anarquista. Rosa: direita. Maria sem-vergonha: esquerda. Grama: nacional socialismo. Piscina: direita. Cachoeira: esquerda. (Quanto ao mar, tenho minhas dúvidas, embora seja claro que o Atlântico e o Pacífico estejam, politicamente, dos lados opostos aos que se encontram no mapa). Lápis: esquerda. Caneta: direita. Axilas, cotovelo, calcanhar: esquerda. Bíceps, abdomem, panturrilha: direita. Nariz: esquerda. Olhos: direita. (Olfato é sensação, animal, memória. Visão é objetividade, praticidade, razão).

Liquidificador é de direita. (Maquiavel: dividir para dominar). Batedeira é de esquerda. (Gilberto Freyre: o apogeu da mistura, do contato, quase que a massagem dos ingredientes). Mixer é um caudilho de direita. Espremedor de alho é um caudilho de esquerda. Colher de pau, esquerda. Teflon, direita. Mostarda é de esquerda, catchupe é de direita — e pela maionese nenhum dos lados quer se responsabilizar. Mal passado é de esquerda, bem passado é de direita. Contra-filé é de esquerda, filé mignon é de direita. Peito é de direita, coxa é de esquerda. Arroz é de direita, feijão é de esquerda. Tupperware, extrema direita. Cumbuca, extrema esquerda. Congelar é de direita, salgar é de esquerda. No churrasco, sal grosso é de esquerda, sal moura é de direita e jogar cerveja na picanha é crime inafiançável.

Graal é de direita, Fazendinha é de esquerda. Cheetos é de direita, Baconzeetos é de esquerda e Doritos é tucano. Ploc e Ping-Pong são de esquerda, Bubaloo é de direita.
No sexo: broxada é de esquerda. Ejaculação precoce é de direita. Cunilingus: esquerda. Fellatio: direita. A mulher de quatro: direita. Mulher por cima: esquerda. Homem é de direita, mulher é de esquerda. (mas talvez essa seja a visão de uma mulher — de esquerda).

Vogais são de esquerda, consoantes, de direita. Se A, E e O estiverem tomando uma cerveja e X, K e Y chegarem no bar, pode até sair briga. Apóstrofe ésse anda sempre com Friedman, Fukuyama e Freakonomics embaixo do braço. (A trema e a crase acham todo esse debate uma pobreza e são a favor do restabelecimento da monarquia).
“Eu gostava mais no começo” é de esquerda. “Não vejo a hora de sair o próximo” é de direita.

Dia é de direita, noite é de esquerda. Sol é de direita, lua é de esquerda. Planície é de direita, montanha é de esquerda. Terra é de direita, água é de esquerda. Círculo é de esquerda, quadrado é de direita. “É genético” é de direita. “É comportamental” é de esquerda. Aproveita é de esquerda. Joga fora e compra outro, de direita. Onda é de direita, partícula é de esquerda. Molécula é de esquerda, átomo é de direita. Elétron é de esquerda, próton é de direita e a assessoria do neutron informou que ele prefere ausentar-se da discussão.

To be continued (para os de direita)
Under construction (para os de esquerda)

Antonio Prata em seu Facebook

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Americano grava um segundo por dia durante seis meses

Durante seis meses, todos os dias, Matt Skuta, de Oklahoma (EUA), gravou um segundo da sua vida. Matt planeja seguir registrando um segundo diário até o fim do ano. Via Page Not Found de O Globo

sábado, 29 de junho de 2013

Gays e heterossexuais incuráveis - Drauzio Varella

Está coberta de razão a sabedoria popular ao dizer que a homossexualidade é mais velha do que andar a pé

Apesar dos anos vividos, ainda me surpreendo com a estupidez humana.

Os crentes dizem que Deus houve por bem limitar-nos a inteligência, para impedir que bisbilhotássemos seus domínios. Se assim agiu, pena não lhe ter ocorrido impor limites para a burrice dos seres que criou à sua imagem e semelhança.

Um grupo de deputados reunidos na Comissão de Direitos Humanos, presidida por um evangélico sem nenhuma aparência de homem fervoroso, aprovou o projeto conhecido como "cura gay", que assegura aos psicólogos o direito de aplicar métodos de tratamento destinados a transformar homo em heterossexuais, e de apregoar aos incautos a cura da homossexualidade, práticas condenadas pelo Conselho Federal de Psicologia e por todas as pessoas com um mínimo de discernimento.

Em todos os povos conhecidos, uma parcela de indivíduos em alguma fase da vida experimentou orgasmo por meio da estimulação dos genitais realizada por uma pessoa do mesmo sexo.

A incidência da homossexualidade varia de acordo com o grupo social. Um estudo clássico dos anos 1950 mostrou que em cerca de 60% das populações pesquisadas o comportamento homossexual é aceito sem restrições. Na África, entre os povos Siwan, e no sudoeste do Pacífico, entre os melanésios, virtualmente todos os homens praticaram sexo com outros homens em algum estágio da vida.

As 40% restantes vivem em países nos quais a homossexualidade é objeto de tabu social. As nações industrializadas se enquadram nesse grupo minoritário.

Embora os dados nem sempre confirmem com exatidão, a homossexualidade masculina parece ser duas a três vezes mais prevalente do que a feminina, em todas as sociedades até hoje avaliadas.

A maioria esmagadora dos indivíduos que experimentam orgasmos com pessoas do mesmo sexo são bissexuais. No Ocidente, homossexualidade pura, caracterizada pela ausência de práticas sexuais com o sexo oposto durante a vida inteira, ocorre em apenas 1% da população.

Comportamento homossexual tem sido descrito em répteis, pássaros e mamíferos, animais que na evolução divergiram há mais de 100 milhões de anos.Uma parte dos machos e fêmeas de todas as espécies de aves estudadas têm relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo. Em muitas ocasiões, essas práticas terminam em orgasmo de apenas um ou dois dos parceiros.

Nos mamíferos, a maioria das relações homossexuais entre as fêmeas acontece quando uma parceira monta sobre a outra, comportamento já documentado em pelo menos 70 espécies: ratos, hamsters, coelhos, martas, gado, carneiros, cavalos, antílopes, porcos, macacos, chimpanzés, bonobos, leões etc.

Há mais de um século e meio, Charles Darwin nos ensinou que uma caraterística presente em diversas espécies distintas indica que foi herdada de um ancestral comum, portador do mesmo traço. Podemos garantir que o ancestral que deu origem aos vertebrados tinha dois globos oculares, caraterística herdada por todos os animais com esqueleto.

O paralelismo é óbvio, prezadíssimo leitor: se o comportamento homossexual está documentado em animais tão distintos quanto répteis, aves e mamíferos, é porque a homossexualidade é mais antiga do que a humanidade.

Certamente, já existiam hominídeos homo e bissexuais 5 a 7 milhões de anos atrás, quando nossos ancestrais resolveram descer das árvores nas savanas da África. Está coberta de razão a sabedoria popular ao dizer que a homossexualidade é mais velha do que andar a pé.

Sempre houve e haverá mulheres e homens que desejam pessoas do mesmo sexo, porque essa é uma característica inerente à condição humana. Com persistência e determinação, eles podem controlar o comportamento sexual, mas o desejo não. O desejo é uma força da natureza mais íntima de cada um de nós; é água que corre montanha abaixo.

Os fatores genéticos e as interações sociais envolvidas no comportamento sexual são de tal complexidade que só a ignorância crassa é capaz de propor simplificações.

Eu, que sempre coloquei em dúvida a masculinidade daqueles excessivamente preocupados ou ofendidos com a homossexualidade alheia, gostaria de saber em que porta de botequim os nobres deputados ouviram falar que o homossexual é um doente à espera de tratamento psicológico.