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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Flavinha e Paloma - Nadia Foes


Flavinha é o protótipo da mulher realizada. Tem um marido exemplar, tipo metade da laranja.  O único senão foi receber a noticia de que seu marido exemplar vai passar uma longa temporada fora, a negócios. Explica-se, é a primeira vez que o casal não vai viajar junto. Os filhos estão em idade escolar. Ela nunca fumou, não toma calmantes, nem sabe o que é isso. Ela é do tipo ame e cure sua vida. Família certinha. Como estava triste, ligou para sua irmã Paloma para saírem juntas. Convite feito, convite aceito. As duas almoçaram juntas, foram ao shopping fazer umas comprinhas e no final da tarde sua irmã lembrou de dar uma esticada em casa de uma amiga. Flavinha concordou. A casa da amiga era uma casa muito mal conservada e desarrumada. A dona da casa estava com olhos vermelhos e não dizia coisa com coisa. Lá pelas tantas chegou o filho da dona da casa e resolveu mostrar para as visitantes os produtos para emagrecer que ele vendia. Ele puxou uma porta para fazer as vezes de um quadro e com o pincel atômico fazia desenhos do interior do corpo humano e dava explicações científicas. Ele acabara de fazer o curso de vendas na empresa que representava e usou Flavinha e sua irmã como cobaia. E como as duas visitantes não compraram nada, ele ofereceu um cigarro e Paloma, para surpresa de Flavinha, praticamente atirou-se para apanhar o tal cigarrinho de cheiro esquisito. A dona da casa entrou em um quarto e trouxe uma quantidade de cachecol de lã para vender. Como estavam no inicio da primavera elas não compraram os cachecóis. Pois a dona da casa não desistiu e tentou vender uma caixa de doces mineiros, cada caixa com 60 doces caseiros. Flavinha explicou que estava fazendo dieta. O filho da dona da casa resolveu fazer demonstração dos produtos mineiros. Flavinha, já desesperada, comprou um vidro de doce de leite com ameixas. O cheiro do cigarro estava lhe dando dor de cabeça. Flavinha foi para a varanda e o dono da casa ofereceu um cigarrinho novamente e novamente ela explicou que não fumava. Se despediram e saíram. Chegando em sua casa Flavinha colocou o tal doce na prateleira da cozinha e foi cuidar do jantar com a empregada que queria servir o tal doce de sobremesa, mas acabou servido o doce predileto do marido de Flavinha. Tocou o telefone no dia seguinte cedo, era Paloma que desesperada pediu para Flavinha não abri o doce porque aquele lote não era para vender, foi engano e o lote estava estragado. Não deu meia hora e Paloma apareceu levar o doce. Trouxe consigo uma pinça grande e uma espátula. Abriu o vidro, com a espátula afastou o doce e com a ajuda de uma pinça alcançou um invólucro que retirou delicadamente de dentro do vidro de doce, lavou o tal secando com cuidado, depois examinou contra luz. Flavinha vendo toda aquela operação sem entender nada falou para Paloma: você me disse que ficaria para o almoço, pois vou mandar preparar o teu prato predileto. Paloma agradeceu e disse que estava apressada e viu um pote de bicarbonato entre os temperos na prateleira da cozinha e colocou junto com o tal invólucro e saiu sem se despedir. Dias depois Flavinha leu nos jornais que a policia estava a procura de um grupo de senhoras que estavam traficando drogas dentro de vidros de doces caseiros. Flavinha lembrou do tal invólucro dentro do vidro de doce e também de ter visto o vidro com doce na lata de lixo. Paloma levou apenas o que lhe interessava. Flavinha até hoje treme nas bases só de pensar que poderia ter sido envolvida e em como ficaria sua família tão certinha, tudo tão perfeito. Flavinha ligou para Paloma, a empregada disse que dona Paloma estava fora do país por um longo tempo.

Nadia  Foes
Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

domingo, 29 de julho de 2012

A bela atleta australiana Michelle Jenneke com sua dancinha sexy e cheia de graça

A bela atleta australiana Michelle Jenneke, que virou um hit na web por causa da dancinha sexy e cheia de graça que ela pratica para se aquecer antes de iniciar a corrida. Ela mexe e remexe os quadris, como se estivesse embalada por um ritmo de “oi, oi, oi” imaginário, dá uns pulinhos, agita braços e mãos com tanta sensualidade que o dono de um site erótico anunciou que, se a desportista de 19 anos resolver posar nua para um ensaio no portal, ele está disposto a pagar uma quantia “generosa”. O problema é que Michelle, tão boa de remelexo, ficou em terceiro lugar na lista de atletas que vão disputar por seu país a prova dos 100m com obstáculos.

As 5 fotos mais bonitas da Terra segundo a NASA

A Terra como você nunca viu.




Os satélites Landsat têm observado a Terra ininterruptamente por um período recorde de 40 anos. Durante esse tempo eles tiraram milhões de fotos incríveis do nosso mundo, disponíveis para qualquer pessoa do planeta. Estas são as cinco mais bonitas de acordo com a NASA.

Estes trabalhos naturais de arte faz com que a nossa Terra se pareça com um planeta alienígena.

5º lugar: Lake Eyre (Landsat 5, em 5/8/2006)

Lake Eyre
A cara assustadora nesta imagem é, na realidade, manchas de bancos de areia do Lago Eyre (pronuncia-se “air”), no deserto ao norte da Austrália do Sul, na Austrália. Uma característica efêmera desta paisagem plana e árida, o Lago Eyre é o maior lago da Austrália quando está cheio. Entretanto, nos últimos 150 anos, ele só se encheu por completo três vezes.

4º lugar: Argélia abstrata (Landsat 5, em 8/4/1985)

Algerian Abstract
O que parecem ser pálidas linhas de tinta amarela cortando um mosaico de cores escuras são, na realidade, cumes de areia que formam as dunas Iguidi, uma área de dunas de areia em constante movimento da Argélia para a Mauritânia no noroeste da África. As dunas Iguidi são uma das muitas dunas do Saara, ou oceanos de areia, onde dunas individuais podem ultrapassar os 500 metros tanto de altura, quanto de comprimento.

3º lugar: Sinuoso Mississippi (Landsat 7, em 25/5/2003)

Meandering Mississippi
Pequenas formas retangulares de cidades, plantações e pastos cercam os graciosos contornos do Rio Mississippi, o maior sistema fluvial da América do Norte. Incontáveis lagos e afluentes acompanham o sinuoso rio ao sul de Memphis, Tenessee, na fronteira entre o Arkansas e Mississippi.

2º lugar: Delta Yukon (Landsat 7, em 22/9/2002)

Yukon Delta
Inúmeros lagos e lagoas estão dispersos ao longo desta cena do Delta Yukon, no sudoeste do Alaska. Um dos maiores deltas fluviais do mundo e protegido como parte do Yukon Delta National Wildlife Refuge, as águas sinuosas do rio parecem vasos sanguineos se ramificando dentro de um órgão.

1º lugar: Van Gogh do espaço (Landsat 7, em 13/7/2005)

Van Gogh from Space
No estilo da pintura de Van Gogh “A Noite Estrelada,” congregações gigantescas de fitoplânctons esverdeados nadam em espiral nas águas escuras ao redor do Gotland, uma ilha sueca no Mar Báltico. Explosões demográficas, ou flores, de fitoplânctons, como esta mostrada aqui, ocorrem quando correntes profundas trazendo nutrientes para a superfície iluminada pelo Sol, propiciando o crescimento e a reprodução dessas pequeninas plantas.
Imagens por NASA/USGS Landsat. Legendas das fotos por Ellen Gray.

sábado, 28 de julho de 2012

O mensalão em 21 charges de Chico Caruso e uma foto de Stuckert

O mensalão em 21 charges de Chico Caruso e uma foto de Stuckert

Se o Brasil é realmente um país sem memória, o arquivo do jornal não. Para relembrarmos o que foi o mensalão, às vésperas de seu julgamento pelo STF -- sete anos depois de ter vindo à tona, vale a pena ver de novo algumas das melhores charges de Chico Caruso, um dos maiores intérpretes da cena política brasileira. Um dos pioneiros a publicar charges na primeira página, no GLOBO, Chico tem um olhar sagaz sobre a história recente do Brasil. E o mensalão é um capítulo que foi acompanhado praticamente ano a ano.

2005
 
12 de junho: cinco dias depois que veio à tona a delação de Roberto Jefferson 
 
8 de junho: -- É tudo invenção -- diz Delúbio
-- Ah bom! -- replicou Lula
 
28 de junho: COMPASSO DE ESPERA (2) - Difíceis dias estes em que a única coisa que muda no Planalto é o figurino do Márcio Thomas Bastos...
 
12 de agosto: "E no show do Moulin-Rouge" 
 6 de junho - Roberto Jefferson grita: "Madeira!!!"
 

10 de agosto: Jefferson descasca Marcos Valério


 
 24 de outubro
2006


 5 de fevereiro:  Segue o Baile - Vamos relembrar o grande Gonzaguinha: "Começaria tudo outra vez..."

28 de fevereiro


16 de março: o publicitário Duda Mendonça é um túmulo
11 de maio de 2006 - Lula e Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT acusado de ter ganhado uma Land Rover e ter sacado mais de R$ 4 milhões das contas de Marcos Valério

 
 Novembro: Berzoini, Gushiken, Genoíno e José Dirceu

2007


 2 de julho: -- Ouçam meu conselho: o principal não é o fato, é a versão! -- diz Jefferson 

27 de agosto:  -- Não se preocupem, esse julgamento ainda vai dar muito pano para mangas...

2009


 

 24 de março: Marcos Valério e José Dirceu

2011

12 de setembro

22 de dezembro
 
23 de dezembro
 
26 de dezembro

2012


Sexta-feira, dia 27 de julho
É uma boa hora para se reler "Memorial do Escândalo -- Os bastidores da crise e da corrupção no Governo Lula" (Geração Editorial), de Gerson Camarotti e Bernardo de La Peña, o coleguinha emérito da turma da coluna. O livro-reportagem foi publicado no calor da hora, em novembro de 2005
Marcos Valério durante depoimento na CPI do Mensalão, em 11 de agosto de 2005
Foto de Roberto Stuckert Filho
Fonte: Ancelmo Gois, Jornal O Globo

Cadeira de Balanço - Teresa Santos


Todas as vezes que vejo a imagem de uma cadeira de balanço lembro-me da tabuada.
O que tem a ver uma coisa com a outra?
Minha mãe, que tinha psicologia infantil nata, aliou o folguedo à uma matéria que nem sempre teve a minha admiração: a matemática.
Conforme sempre cito aos amigos:
- O meu negócio é lidar com a palavra.
Ela, então, lavava roupa na área de serviço e eu ficava no balanço, feito pelo meu avô paterno à sua neta preferida, e que foi pendurado em uma frondosa goiabeira que até hoje está no fundo de nosso grande quintal.
E lá ficava eu...Pra cima e pra baixo...Pra cima e pra baixo.
E a ladainha era sempre a mesma:
- 7 x8?  perguntava minha mãe.
E eu respondia, dando um impulso bem alto ao balanço:
- 56!
- 9 x 9?
E e eu gritava: 81!
Foi assim que aprendi a tabuada para o resto de minha vida e graças à sabedoria materna.
 
 
Teresa Santos, 61 anos, paulistana. Aposentada, mas na ativa. Formada em Letras pela Universidade São Paulo. Gosta de estudar idiomas, de viajar, de ler  e de observar o mundo. Considera o ser humano a melhor personagem para seus escritos. É grata à vida  e se considera uma pessoa feliz.

Esculturas de animais feitas com galhos secos

Heather Jansch é uma artista apaixonada por cavalos ela passou toda sua infância desenhando e sonhando com estes animais e foram eles que inspiraram as suas incríveis esculturas.
A artista cria suas esculturas utilizando como matéria-prima madeiras e galhos secos que recolhe em florestas e bosques. Heather evita ao máximo esculpir ou modificar os galho que encontra afim de preservar sua textura original e que para cada uma de suas esculturas se torne única e orgânica.
As esculturas são feitas em tamanho real e o carinho da artista é tão grande que cada uma das esculturas tem nome e personalidade próprios. Além dos cavalos ela já criou ursos, alces, veados e outros animais todos igualmente incríveis.








sexta-feira, 27 de julho de 2012

Idoso profissional - NELSON MOTTA

Quando completei 60 anos e passei a desfrutar dos privilégios reservados aos idosos em filas de aeroportos e bancos, me consolei pensando que a velhice poderia ter algumas vantagens. Mas não é bem assim. Uma fila com três idosos num balcão de aeroporto pode levar mais tempo do que uma de 12 não idosos ao lado, porque os velhinhos demoram muito, adoram conversar com as atendentes. No banco, é pior ainda, com senhas esquecidas e extratos extraviados.

Nesse caso, os idosos mais profissionais escolhem a fila comum, e os mais bobos e vaidosos também, para não confessar publicamente a idade. É claro que envelhecer não é agradável, mas já foi muito pior, nem faz tanto tempo assim, quando a expectativa de vida era de 50 anos e não havia antibióticos. O chato é que, quanto maior a experiência, o aprendizado com os erros, as vivências e informações acumuladas, menor o tempo para usá-las.

Uma das melhores - e piores - consequências do progresso científico e da prosperidade econômica foi o aumento espantoso da expectativa de vida no Brasil. Viver mais é uma ótima notícia, mas, se for para viver mal, sem saúde, segurança e conforto, é péssima. Como pagar aposentadorias dignas a milhões de trabalhadores, sem quebrar a Previdência? Como abrigar e cuidar dessas multidões de novos velhos pobres? Os indiferentes de hoje são os idosos de amanhã, se chegarem lá.

No Brasil tem bolsa para todo mundo, até as famílias dos presos recebem a bolsa-bandido, de R$ 860 mensais, certamente mais do que grande parte dos idosos brasileiros, que trabalharam a vida inteira, sobreviveram a planos econômicos desastrosos, roubalheiras incomensuráveis e incompetência dos seus governantes. Muitos presidiários vivem bem melhor do que idosos pobres, presos em casa e em asilos.

Civilizações mais antigas, e por isso mais sábias e experientes, como a China e o Japão, valorizam, respeitam e preservam seus velhos justamente por sua experiência e sabedoria. Eles são valiosos, o Estado investiu muito dinheiro neles, em sua educação, saúde e formação profissional, e o pior dos desperdícios é esquecer que eles existem.


O GLOBO

Distúrbio faz com que pessoas não saibam que dormiram

Ninguém consegue passar meses absolutamente sem dormir. Ainda assim, muita gente jura que está há vários anos sem pregar os olhos. Essas pessoas não estão mentindo. Elas simplesmente não percebem que dormiram.
"Alguns pacientes têm uma quantidade normal de horas dormidas, mas, por uma alteração cognitiva, não se dão conta disso", explica o neurologista Luciano Ribeiro, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Embora pouco conhecido, o distúrbio, chamado de insônia paradoxal, não é um subtipo especial de insônia --problema que afeta cerca de 32% dos paulistanos.

"Estudos já mostraram que pessoas com insônia têm a tendência de subestimar suas horas dormidas. Nesses casos, então, isso vai ao extremo", explica Ribeiro.
"Há pacientes que chegam ao consultório e dizem que não dormem há dois, três anos. Isso, claro, é biologicamente impossível, mas eles não se dão conta desse fato."
LEMBRANÇAS
A maioria das pessoas que sofre com esse distúrbio consegue se lembrar de boa parte do que aconteceu durante a noite, o que reforça a ideia de que passaram praticamente a noite toda acordadas.
Isso acontece porque quase 50% do tempo de sono é do chamado sono leve, quando se pode registrar estímulos visuais e auditivos.
"Grosso modo, é como acontece quando alguém cochila rapidamente vendo televisão. Muitas vezes a pessoa sequer percebe que dormiu, porque consegue lembrar das imagens e das falas", afirma o neurologista.
Normalmente existe uma espécie de bloqueio do organismo que nos "desliga" desses estímulos. Em quem sofre com a insônia paradoxal, por alguma razão, isso não costuma acontecer.
SINTOMAS
Para o bom funcionamento do organismo, não basta dormir. É preciso ter consciência do sono. Por isso, muitos dos que têm esse distúrbio costumam apresentar sintomas típicos da verdadeira privação de sono, como cansaço e irritabilidade.
Assim como na insônia "convencional", os principais afetados são aqueles submetidos a situações de stress ou desgaste emocional.
Esses sintomas típicos da privação de sono, aliados ao desconhecimento do distúrbio, costumam mascará-lo. 
GIULIANA MIRANDA
Fonte:  http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/938490-disturbio-faz-com-que-pessoas-nao-saibam-que-dormiram.shtml


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Avião revolucionário deverá fazer voo tripulado em 2013


FanWing revê os conceitos que norteiam a aviação nos últimos 100 anos (Foto: Reprodução)FanWing revê os conceitos que norteiam a aviação nos últimos 100 anos
Ao longo das décadas, aviões sempre foram construídos com motores que moviam hélices ou com turbinas, que sugam o ar e geram o empuxo que empurra e sustenta a aeronave no ar. O FanWing é uma revisão desse conceito: ao longo das asas, as pás de um grande ventilador giram a partir da tração do motor montado na fuselagem. O giro dessas pás é responsável pela propulsão da aeronave e pela sua capacidade de aumentar de altitude.

Se você não conseguiu criar uma ideia de como a coisa funciona, basta olhar na imagem e imaginar que, dentro das asas, está girando uma versão bem mais leve dos braços de uma colheitadeira. Esta grande turbina transversal move o ar para a parte de cima da asa e ao fazer isso gera propulsão e, se acelerada, pode fazer com que o avião ganhe altitude.
Este detalhe leva a um ponto interessante: como o controle de altura é feito a partir do giro do motor (e não por um conjunto de flaps que alteram a dinâmica do movimento da aeronave conforme o ar passa por eles), o FanWing é um avião que pode decolar virtualmente na vertical, como um helicóptero.

Entre as grandes vantagens desse design, está o baixo custo, facilidade de manobrar, a impossibilidade de estolar (perda de sustentação em voo) e a possibilidade de pouso em lugares mais apertados em casos de emergência.

Via Dvice

25 maneiras de usar uma echarpe

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Tombe-se - Uma lista de bens imateriais do Rio, por Joaquim Ferreira dos Santos

A prefeitura do Rio tem tombado dúzias de eventos (o lambe-lambe, o partido alto, a Banda de Ipanema) como bens imateriais. Na semana passada foi a vez das torcidas e da cachaça, enquanto os moradores do Flamengo pedem que lhe tombem também o tapioqueiro da Rua Paissandu. A crônica, o mais imaterial dos estilos literários, a própria leveza que se desmancha ao vento que sopra das Cagarras, aproveita o ensejo e, certa de que pegou o espírito da coisa, lista suas prioridades imateriais.

 
  • O aviso de deixa solto, doutor, dado pelo flanelinha.
  • O mergulho na hora do almoço. 
  • O primeiro gole da cachaça, na ponta do balcão, dado para o santo.
  • O braço esquerdo do motorista para fora da janela.
  • A camiseta enrolada acima da barriga para minorar o calor.
  • O grito do puxador da escola avisando para a escola que “A hora é essa!”, seguido pelo rufar dos tambores.
  • Os corações rasgados a canivete na aléia do pau-mulato no Jardim Botânico.
  • O filé a cavalo com dois ovos, o ovo cor de rosa e a caracu com ovo batido no liquidificador.
  • A toalha de São Jorge que encapa o banco do motorista.
  • A plaquinha do “Fale com o motorista somente o indispensável”.
  • O torcedor que fica de costas para o campo na hora em que seu time vai bater o pênalti.
  • O bloco “Vai dar merda”, o “Rola preguiçosa” e os estandartes do “Simpatia é quase amor”.
  • O surdo de primeira da Mangueira.
  • O vento nos pilotis do Palácio Capanema.
  • O grito do verdureiro alertando que freguesa bonita não paga, mas também não leva.
  • O pôr do sol visto do Arpoador.
  • A borboleta amarela, a capivara da Lagoa e os micos nos fios do Cosme Velho.
  • O momento em que o avião da Ponte Aérea, vindo de São Paulo, passa com a asa da direita rente ao Pão de Açúcar, faz a curva e embica sobre o mar na direção do Santos Dumont.
  • As maçãs verdes no lobby do Copacabana Palace.
  • O barulho do pé chutando a areia fina de Ipanema.
  • O perfume da flor da noite na ladeira da Rua Maria Angélica.
  • O momento em que, andando de Ipanema para o Jardim Botânico pela orla da Lagoa, se dá de cara com a parede de morros ao lado do Corcovado.
  • O grito que o comandante do iole a oito dá às seis da manhã no meio da Lagoa e chega à borda da Borges de Medeiros.
  • O requebrado da mulata e o “gostosa” que lhe atira o peão da obra, estirado na calçada, fazendo a sesta.
  • A prancheta do Joel Santana.
  • A agenda de telefones da Ivone Kassu.
  • Xistudo, a pizza com ketchup e a rosquinha de polvilho.
  • O gesto do taxista de começar a corrida passando a mão no terço pregado ao espelho.
  • O “bom descanso” que ao fim da viagem o taxista lhe deseja depois de ter vindo feito um louco pelo Aterro.
  • A corrida de submarino no Morro do Pasmado e o vidro embaçado.
  • O pacote de balas que os ambulantes deixam no retrovisor quando o carro está parado no sinal.
  • O gavião do relógio da Mesbla, a perereca da vizinha e a piada do papagaio fanho.
  • O apito da fábrica de tecidos.
  • A torcida do Flu cantando “A bênção, João de Deus”, a do Fla com o “Tu és time de tradição”, e a rima vascaína de “Ela, ela, ela, silêncio na favela”
  • O montinho de areia que as moças fazem para deitar o rosto e deixar o bumbum ainda mais empinado.
  • O bumbum empinado.
  • O texto dos folhetos das mães ciganas prometendo trazer o amor de volta em três dias.
  • O beijo dos dois lados do rosto, o tapinha nas costas e o falso convite do “aparece lá em casa”
  • O almoço dos sábados com feijoada regada com caipirinha de lima com cachaça.
  • A cantada do “eu te conheço de algum lugar”.
  • O jogo de porrinha e a saída em “lona”.
  • O sotaque chiado, a sandália arrastada e o grito abafado de “isso, Jorge”, “para, Jorge”, que vem do primeiro andar.
  • O PM fazendo a fezinha no bicheiro da esquina.
  • O pão na chapa com pouca manteiga e o café pingado no copo.
  • O canto gregoriano na Igreja de São Bento e o ôôô das cabrochas da Unidos de Lucas.
  • O gesto da moça de acertar a calcinha que lhe adentrou as reentrâncias depois do mergulho.
  • A moça que sente com a ponta do pé a temperatura da água e faz como se tremesse o corpo todo diante de tão fria que ela estava.
  • A corrida que o garotão dá para, sem se importar com a temperatura da água, mergulhar com uma cambalhota.
  • O papo de botequim, a cerveja estupidamente gelada e aquela que matou o guarda.
  • A buzinada no sinal já amarelo, sinal para avisar a quem está na transversal que vai ultrapassar assim mesmo.
  • O vôo coreografado dos biguás.
  • O grito de “a porta tá aberta” e o “dá uma olhadinha nas minhas coisas enquanto eu dou um mergulho”.
  • O “a gente se vê”.
  • O miudinho dançado pelo Paulinho da Viola.
  • A crônica. 

*Joaquim Ferreira dos Santos é autor da coluna Gente Boa e às segundas publica sua crônica no Segundo Caderno.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Falando Sozinho - Martha Medeiros

Estava caminhando  pelas ruas do Rio de Janeiro quando percebi um fenômeno que não é nenhuma nova tendência, ao contrário, é hábito antigo, mas que só agora venho prestando verdadeira atenção. Refiro-me às pessoas que falam sozinhas. Não só falam, aliás. Resmungam, xingam, discursam. Passei a me interessar pelo fato quando, de uns anos pra cá, minhas filhas deram para me alertar: mãe, tu estás falando sozinha. Era só o que me faltava, meninas, estou aqui em frente ao computador, lendo um texto aos sussurros, só isso. E quando acontece na cozinha, mãe? E no corredor do apartamento? Ah, vocês andam ouvindo coisas. Mas sucumbi às evidências: falo sozinha. Um pouquinho em casa, e infinitamente mais quando estou caminhando pelas avenidas e parques da cidade, onde crio diálogos inteiros na minha cabeça. Sem que eu perceba, meu pensamento sai pela boca. Não raro, gesticulo também. Tudo com a maior discrição – espero. Quando estou dirigindo meu carro, a mesma coisa. Canto quando há música, e falo quando há silêncio. Tenho certeza de que falo apenas com meus botões, falo quieta, mas já fui flagrada em delito: “Mãe, outra vez?”.O que eu falo, no entanto, ninguém escuta direito. Não chego àquele nível de maluquice que acomete andarilhos que falam sozinhos num volume tão audível que a gente chega a se perguntar se estariam mesmo sozinhos. Estarão? Desvendado o mistério. Estamos falando com ex-maridos, com chefes insuportáveis, com amigos que não entenderam nossas boas intenções, com personagens criados pela nossa imaginação, com pessoas que já não estão nesse mundo, com o William Bonner, com Jesus, com fantasmas, principalmente com estes, os que nos assombram, vivos ou mortos, desconhecidos ou famosos. Há sempre um interlocutor invisível que precisa ouvir umas poucas e boas, ou nos atender num confessionário ambulante, na calçada mesmo em meio às buzinas e veículos que passam tão ligeiros que nem nos percebem. Só os porteiros dos prédios que reparam e se divertem. O ator Caio Blatt disse em entrevista recente que fala muito sozinho, e que considera isso uma espécie de psicodrama, dando à nossa ansiedade um nome mais refinado. Mas está certo, e psicodrama , sim, concordo em defesa de todos os tagarelas solitários. Estamos ensaiando uma discussão uma argumentação, um desabafo, que depois pode nem acontecer, ocaso já ficou resolvido ali mesmo, enquanto se cruzava a faixa de pedestres. Falar sozinho é um ato de generosidade, antes de tudo. Vá saber o estrago que causaríamos se falássemos pra valer, olho no olho, tudo aquilo que mantemos guardado, todo o palavreado da raiva, do rancor e do desassossego que fica confinado dentro. Melhor soltar as frase ao vento.
Zero Hora

segunda-feira, 23 de julho de 2012

As Amigas - Nadia Foes


São cinco amigas. Tem a que tem olhos de gata, tem a que vive freqüentando motel,  tem a perua que gosta de receitas para depois do amor, tem a que é artista e tem a Xuxa morena. Encontram-se duas vezes por semana para fofocar. A que tem olhos de gata é louca por um padre e são íntimos. A que freqüenta motel é casada com um homem muito bonito, aliás, fazem um casal bonito, são mais jovens. A perua é madrasta da que freqüenta o motel e quando se encontram a conversa gira em torno de missa, coral, sexo, receitas, moda, enfim, assuntos gerais. Mas, o assunto mais discutido é o sexo e o desempenho sexual dos maridos. A que freqüenta motel gosta de apontar as vantagens desses encontros e também as novidades, tipo cadeira que gira, poltrona erótica, colchão d’água, piscina, pista de dança com espelhos no teto e no chão, uma loucura. Aqui cabe um porem, ela mora em um apartamento pequeno, tem um filho de 18 anos que gosta de trazer a namorada pra casa. Então a solução é eles irem para o motel. A perua é casada com um senhor que é pai da que freqüenta motel. Ele está na casa dos 60 e ela diz que tem 58 anos. Diga-se de passagem, a três anos a vela do bolo de aniversário dela tem o mesmo número. Mas ela diz que a performance do marido é de deixar muito garoto no chinelo e gosta de fazer petiscos para depois do amor. Eles têm um filho de 20 anos que também trás a namorada em casa, mas a casa é grande e ninguém tira a liberdade de ninguém. A Xuxa morena gosta mais de transar na casa dos outros e brincar de esconde-esconde com os donos das casas. A que tem olhos de gata, no aniversário dela, ganhou de presente de uma das amigas, um vibrador e roupas sexy e como não tem marido, a amiga achou que este era o presente ideal, mas ela disse que ainda não usou porque melhor mesmo é o padre e se fecha em copas... A artista é casada com um homem que ela tem certeza pensar que as mulheres tem inveja do órgão masculino só que o que ele não sabe é que as mulheres fazem sexo com prazer até os oitenta e só querer e ter flexibilidade. Essa não conta nada para as amigas só ouve as vantagens que elas tem para contar. É comum elas dizerem que as vezes tem que estar escapulindo para dar uma trégua tal o apetite sexual deles, são insaciáveis. Mas teve um dia que a artista foi obrigada a contar as peripécias dela e as amigas, conta, conta, conta... Aí ela meio encabulada pensou e soltou essa, nós fazemos sexo só na lua cheia porque é uma lua afrodisíaca, fazemos com direito a champagne, morangos e pensou, o que é mesmo que vi no filme Uma Linda Mulher, na cena em que a Julia Robert está na fase de prostituta deitada no tapete do hotel assistindo televisão e tomando champagne e comendo morangos. Aí ela lembrou, ah.., ela usava botas longas e mini-saia e ela soltou mais essa, uso botas vermelhas de paetês até os joelhos, calça corsário e espartilho negro. Afinal não era nem boba de dizer que usava mini-saia e botas de cano longo. Todas acharam o máximo e já estão até na fila da bota. Só que o que ela não disse é que sexo, só na lua cheia, a cada cinco anos. Mas, enfim, cada um fantasia como pode. Foi aí que a artista lembrou, uma ocasião quando foi viajar com o marido para uma festa de aniversário da sobrinha, ficaram hospedados num hotel, daqueles de rede internacional com nome de uma famosa corrida de carros. Quando eles saíram da festa e chegando no hotel, entraram pela garagem para estacionar. Isso era por volta das 23:30 horas e estava uma mulher loura, de cabelão crespão, de casaco xadrez rosa e branco, bolsas e botas rosa, e estava conversando com o funcionário do estacionamento; dava para notar que ela estava a procura de programa e a artista disse ao marido, enquanto você estaciona eu vou comprar água mineral na portaria  e ele respondeu, deixa que eu compro. E praticamente tirou-a de dentro do carro e jogou-a dentro do elevador e ainda gritou, espera lá em cima. Ela esperou, duas horas e meia, contadinho no relógio, foi quando ele chegou mal humorado, se queixando do transito, que era pra ela não fazer nenhuma pergunta e foi direto para o banho, alegando que teve que atravessar a cidade inteira para comprar uma garrafa de água. A artista, que tem muito medo de doenças venéreas, pegou a garrafinha com repugnância e lavou bem lavada, só depois abriu. A água era para tomar medicamentos, um calmante e um comprimido para dormir. Mas isso ela não contou para as amigas também porque esse tipo de humilhação a gente esconde bem escondidinho dentro de um baú, lá no fundo da memória e se algum dia abrir esse baú, será o mesmo que abrir a caixa de Pandora. Pandora não deveria abria a caixa, em hipótese alguma, mas, como toda a mulher, era curiosa, ela abriu e da caixa saíram todas as misérias do mundo. Na volta da viagem ela fez o marido acompanhá-la ao shoping, coisa que ele sempre detestou, e comprou uma bota rosa, rosa bebê, que custou os olhos da cara.  Foi realmente muito cara, só um sapateiro famoso  poderia ousar uma bota rosa igual e um casaco estilo channel, xadrez rosa. Ele pagou pelos dois. A idéia dela era se fantasiar de prostituta, mas pensou, pensou, e se deu o respeito. A bota ela usou uma vez com uma calça cinza e camisa branca e o casaco ela está querendo vender para não ficar no prejuízo. A bota fica como lembrança porque certas coisas uma mulher jamais deve esquecer. Quanto aos encontros com as amigas, continua sendo duas vezes por semana e a conversa, como sempre, é sexo, homem bonito, homem que tem boa pegada, gostoso, é lógico que nessa entra o padre, o sexo feito na casa dos outros, as comidas para depois do amor, o último motel que foi inaugurado. Só que dias desses, a que só freqüenta motel apareceu com uma pereba no braço e acha que pegou lá no motel que acaba de ser inaugurado. E o médico disse que era provável que não tenham trocado as toalhas de banho ou os lençóis e que de agora em diante é melhor que ela leve os seus lençóis e toalhas de banho. Aí a artista ficou pensando, ai que preguiça... E continuou ouvindo e pensando na próxima fantasia que vai inventar. Até já tentou usar a roupa de dragão da neta que tem quatro anos, pelo menos a parte de cima, só para tirar uma foto e mostrar para as amigas e dizer: essa fantasia é para a lua minguante que deve ser menos afrodisíaca para compensar os excessos da lua cheia, senão não há quem agüente. E a fantasia de dragão ela vai dizer que pediu emprestado ao dragão de São Jorge.
Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

sábado, 21 de julho de 2012

"O tempo passou e me formei em solidão" (José Antônio de Oliveira Resende)




Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.

Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.

E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando- nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.

Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.

Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.

Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.

Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.

Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...

Que saudade do compadre e da comadre!

* Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei-MG.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O pensador - Nadia Foes


Meu nome é Dom Pipo. Sou um cocker dourado, daqueles que, dizem as más línguas, que na tentativa de aprimorar a raça para que ficassem mais belos, criaram a minha cor. Alguns nas primeiras experiências tornaram-se violentos e com o hábito de morder, e foram sacrificados , mas ninguém soube nunca explicar o que aconteceu. Mas eu não mordo e tenho cara de pensador grego, como já dizia o Bardo. E como todo pensador, sou observador. Se minha humana está triste, sento na cadeira e converso com ela. Noto que ela está meio preocupada e digo preocupada porque quando ela entra em transe e fica com aquele ar de quem está fora de órbita, se falam com ela custa a responder. Parece que o cérebro dela fica condensado. Hoje ela amanheceu assim. Às vezes isso dura horas, mas há ocasiões em dura muito tempo. Ela está pressentindo que algo de novo está para acontecer. Algo que vai trazer muitas mudanças no seu mundo, pois justo agora que ela estava conseguindo arrumar a sua desarrumação do seu interior, e lá vai ela partir para novas experiências; praticamente começar de novo. Pois ao que tudo indica, ouvi dizer que a casa será fechada por uma temporada e iremos partir, rumo ao desconhecido, e isso vai dando uma insegurança danada. Ela gosta de mar e pelo jeito só vai ver rio. Ela gosta de acordar com a passarinhada. E as plantas? E os gatos? Eles vão ter que ficar. Está certo que alguém virá tomar conta dos gatos e das plantas, mas e da parte dela que vai ficar, quem vai cuidar? Ela vai mas deixa para trás uma parte da sua história que está aqui encravada, na rocha onde foi construída a casa. E o outro pedaço vai com ela. Que destino! Quando ela pensava que tudo estava resolvido, vem uma mudança de vida. Ela não sabe que sina é esta de andar de um lado para o outro. Passou a vida com sina de passarinho arrumando o ninho. Os pássaros criaram asas e saíram em revoada pelo mundo e os sonhos dela foram ficando para depois. Até porque nunca perguntaram para ela. E os seus anseios particulares? Dia destes o marido vendo umas fotos de um amigo em um museu de Paris disse a ela: imagine só como ele deve ter se emocionado diante da grandiosidade das obras de arte, pois nós que quase não entendemos de arte, perdemos o fôlego quando vimos. Eu vi que ela olhou para ele e fez aquela cara de quem vai entrar em transe. E ficou pensando. Depois de muito pensar disse: Dom Pipo veja só, fiz curso de história da arte com um dos melhores professores do sul, estudei escultura, pintura, ourivesaria, sou restauradora de bens móveis e ele nem sabe disso. Aí foi a minha vez de franzir a testa e ficar pensando, mas que ingratidão, pois até na casa de uma tal de Lucrecia Borgia, ela foi e lá ela lavou o rosto e bebeu a água da fonte. Disseram que as propriedades da tal água são milagrosas para a beleza e que a tal de Lucrecia já fazia isso. Mas ela disse, não acredite, Dom Pipo, em tudo que você ouvir, pois dizem que a Boca da Verdade, em Roma, come a mão de quem mente.É o que dizem. Mas não comeu a mão do marido dela. Era para ele ter voltado maneta de lá se isso fosse verdade. Houve uma época em que ela quis muito ir para aquela terra onde o povo fala com o muro, só para aprender a falar com as paredes, mas agora ela não quer ir mais não, pois agora ela fala com os caninos, felinos e até com os vegetais. E assim ela leva a vida ou é levada por ela. Mas como tudo está escrito nas estrelas, lá vamos nós. A Domitila e o Kadu também vão embarcar nesta aventura. Mas veja se pode, recomeçar tudo outra vez! Olho para ela e ela continua em transe. E eu fico pensando, não seria melhor ela fazer como eu faço: se não tenho o que fazer arrumo um osso para enterrar, se não tenho osso, eu durmo. Ela que durma pois amanhã será outro dia. E se as linhas não forem paralelas, vamos continuas nas sinuosas, de qualquer jeito. Mas tem muitas coisas que ocupam a mente dela, mas nem tudo ela me conta. Mas ela sabe que temos muito em comum, pois ela quase perdeu o pé esquerdo e eu o direito. E é por isso que estamos juntos, mas isso é uma outra história que um dia ela vai contar. Espero que o transe passe logo logo, pois tenho medo de que em um desses transe, ela crie assas, saia voando como passarinho e não ache mais o ninho. Como já disse, meu nome é Dom Pipo, sou um cocker dourado, de dois anos, e tenho cara de intelectual, como dizia o Bardo.

Ninguém abre a sua porta
Para ver o que aconteceu:
Saímos de braços dados
A noite escura mais eu

Ela não sabe o meu rumo
Eu não lhe pergunto o seu
Não posso perder mais nada
Se o que houve já se perdeu

Vou pelo braço da noite
Levando tudo o que é meu
A dor que os homens me deram
E a canção que Deus me deu
(Cecília Meireles)
Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

Sorria, você está sendo filmado

domingo, 15 de julho de 2012

As 20 mentiras mais frequentes que são contadas no Facebook

Publicado por UpdateorDie
Mentiras que a gente conta no Facebook

Um estudo feito com 2.000 usuários de Facebook mostra como as pessoas deturpam algumas informações sobre suas vidas para que seu perfil do Facebook pareça “um pouco mais interessante do que deveria ser” (aprecio esses eufemismos).
Até aí, nenhuma novidade.
80% dos entrevistados confessaram já terem feito alguma coisa para “tunar” o perfil na rede social – desde postar artigos que não leu só para parecer inteligente, até fazer check-in em locais onde nunca esteve.
Segundo John Bartholomew, um dos responsáveis pelo estudo, as redes sociais são o espaço digital que encontramos para definir a nós mesmos.
“Isso leva a uma cultura de vangloriar-se desnecessariamente e a um sentimento equivocado de importância própria que pressiona as outras pessoas a se sentirem inadequadas. O perfil de um indivíduo nas redes sociais é sua versão ideal que foi deliberadamente construído. Mas é importante que nossa necessidade de se sentir em alta não acarrete em mentiras.”
Enquanto metade dos pesquisados admite que tem mais amigos na vida digital do que tem na vida real, um quarto das pessoas sente algum tipo de orgulho do número de amigos e seguidores que possui.
Para completar, o estudo fez um levantamento de quais são essas mentiras mais frequentes que a gente conta no Facebook. Vamos à lista:
The top Fakebook lies
  1. Usar uma foto antiga como “foto de perfil” para parecer mais jovem e atraente
  2. Remover fotos feias
  3. Ler artigos nos aplicativos de jornais para parecer inteligente
  4. “Curtir” alguma coisa para parecer intelectual
  5. Editar uma foto para ficar mais bonito (o famoso photoshop)
  6. Mandar mensagem para alguém que não é seu amigo na vida real
  7. Escrever um status update que é uma mentira
  8. Usar a foto de perfil de uma pessoa que não é você
  9. Escrever um status update exagerando o quão divertida foi determinada festa ou evento
  10. Mentir no campo “Relacionamento” (ex: falar que está em um relacionamento quando na verdade está solteiro)
  11. Adicionar alguém como amigo simplesmente porque a pessoa é bonita
  12. Inventar um status update para chamar a atenção
  13. Dar uma exagerada no nome da sua profissão
  14. Exagerar suas qualificações
  15. Marcar você mesmo ou fazer check-in em um lugar em que você não esteve
  16. Mentir quanto à sua formação escolar
  17. Mentir nos livros/filmes/música para parecer um pouco mais “cool”
  18. Curtir determinadas páginas só para ter mais coisas em comum com determinada pessoa que você gosta
  19. Tirar uma foto do lado de um carro/casa/moto que não é sua
  20. Criar um álbum de fotos falso

Roda transforma qualquer bicicleta em uma bike elétrica

Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) desenvolveram a "roda de Copenhagen", uma roda de bicicleta que transforma qualquer destes veículos a pedais automaticamente em uma bicicleta elétrica. O invento ganhou recentemente o prêmio de design James Dyson, e talvez com este respaldo a roda possa começar a ser produzida em uma linha de produção própria. O compartimento vermelho não só contém o motor, baterias e um sistema interno de engrenagens –auxiliando os ciclistas em terrenos como colinas e longas distâncias– senão que também inclui sensores de localização e ambiente que também fornecem dados para aplicações móveis relacionadas com o ciclismo. Os ciclistas podem usar a informação para planejar melhores rotas, atingir suas metas de exercícios ou criar conexões com outros ciclistas. Ao compartilhar os dados com amigos da cidade, também contribuem a uma base de dados maior da qual toda a comunidade possa ser beneficiada. Sem dúvida é um invento que torna mais acessível a, ainda, cara bicicleta elétrica e ao mesmo tempo transformá-la em um aparelho inteligente, certamente muito mais fácil e barata que a tal da iBici. Leia mais: http://www.ndig.com.br/item/2010/08/roda-transforma-qualquer-bicicleta-em-uma-bike-eltrica#ixzz1ZHOCWH00

sábado, 14 de julho de 2012

O medo do macho diante do toque - Xico Sá

O médico e o monstro: eis o drama do consultório

Nós vamos à guerra, mas fugimos de um consultório médico como o diabo da cruz. O eterno medo do macho diante de um diagnóstico.
Quando o assunto é o exame de toque, Nossa Senhora do Ó, o tabu é quase imbatível.
Só vamos ao médico à força. Na maioria das vezes arrastados pelo braço, como crianças. Graças às nossas zelosas mulheres.
Repare nos números oficiais de uma pesquisa da Secretaria de Saúde de São Paulo: 60% dos marmanjos só procuram o homem de branco quando a doença já atinge um estágio muito crítico.
O levantamento me fez lembrar a minha primeira vez no exame mais aterrorizante para a macheza latina:
-Senhor Francisco?!
-Sim…
Chegou a hora da verdade. As rotas de fuga estão obstruídas. Não há escapatória. Naquele instante, o primeiro homem de gerações e mais gerações do ramo sertanejo dos Sá Menezes seria submetido ao labiríntico mundo da procto-investigação.
Que fazer?, resigno-me, leninista rendido ao mais dialético dos toques da humanidade.
Ao adentrar o recinto, lembrei logo da infame pilhéria. “O médico introduz o dedo no respeitável cidadão e pergunta: ‘Sentes alguma coisa?’. Ao que o paciente sussurra: “Sinto que te amo.”
Recordei também de um amigo, rapaz de Serra Talhada, terra de Lampião, que era tão macho, mas macho de um jeito que usava dois sabonetes no seu banho: um Phebo para a parte dianteira e um Lux de Luxo exclusivo da traseira. “Esse contato é perigosíssimo, não se deve misturar as vocações”, dizia, no banheiro coletivo da Casa do Estudante.
Era chegada a hora. Ao sacrifício, pois. Segura na mão de Deus e vai! O simpático doutor tenta disfarçar suas feições mal-assombradas à Anthony Hopkins. Foco nas mãos do monstro. Dedos médios, mas habilidosos como um manipulador de teatro de bonecos.
“Que macho sou eu, ora bolas!”, penso, para me encorajar. O médico ordena que eu deite. Um amigo da firma me contou que a primeira vez dele havia sido na clássica posição “de ladinho”. A minha foi, napoleonicamente falando, de bruços mesmo, quase de quatro, diria.
No meu retrovisor imaginário, vejo o dublê de Hopkins colocar uma espécie de camisinha de dedo. Depois, a vaselina, o lubrificante, sei lá. E não foi com o mindinho, muito menos com o seu vizinho, coube o serviço ao matreiro fura-bolo, como no folguedo infantil.
Mas tudo dentro do maior respeito, uma escaneada tecnicamente irreparável. Como diria o bardo lusitano, apenas uma rápida bulida no meu “eu profundo e outros eus”.
Próstata em ordem, tamanho clássico de uma noz, segundo a autoridade médica, voltei para casa engajado na brigada preventiva contra esse tipo de câncer, uma das maiores causas de mortes de cavalheiros por estas plagas.
Seja homem, cabra, treine em casa, com a namorada. No mais, é seguir o conselho do filósofo Emerson, que em velho anúncio do uísque Johnnie Walker recomendava: “Faça tudo aquilo que você mais teme”.
Sinceramente, o que custa um dedinho de prosa com o seu urologista. Cuide-se, homem!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Cartas do meu tempo: Sobre o que se escreve, por Aglaé Gil

Eu não quero escrever uma história de amor. Fico olhando para a tela do computador e para o teclado como se conseguisse olhar para dentro de mim, da minha alma, e insisto: eu não quero escrever uma história de amor.
No entanto, sobre o que escreve uma mulher se sua própria existência é, do início ao fim, um tatear à procura de letras e palavras e gestos que descrevam uma linha extensa e intensa com a vibração de força e luz do amor?
Olho para o tempo atrás de mim como quem olha para um caminho percorrido com vagar e vejo mil histórias intercaladas. São como rios e seus afluentes que, invariavelmente, desaguam no grande mar da vida. Então, tudo se explica e se retrata tão nitidamente, que me parece muito fácil escrever sobre qualquer outra coisa que não seja absurdamente banal. Porque, na verdade, o amor se abre diante do que é banal para se mostrar inteiro, completo, superior às mazelas que se criam ao redor e que são mensageiras de bobagens insípidas, como o que se convém, hoje, chamar de “amor”.

Hoje, quando uma criança de poucas semanas segurou minha mão, ou melhor, meu dedo indicador, e sentiu-se segura o suficiente para parar de chorar e adormecer, eu tive, mais uma vez, a noção exata do que é se dar sem reservas e oferecer, com esse gesto, a possibilidade de o outro confiar, parar de temer, reconhecer diante de si alguém que está apenas oferecendo calor e ternura. A mãozinha quente e macia vacilou por alguns minutos ao sentir a pele de minha mão, desconhecida ao toque dela, porém igualmente desejosa de ser útil, de oferecer segurança e bem-estar. Em questão e minutos ela soube: poderia confiar e se deixar cuidar, poderia abandonar-se a mais um sono calmo e quente. Agarrou-se com ternura, porém firmemente, ao meu dedo e senti que seus pequenos músculos relaxavam e ela adormecia com a expressão digna e tranquila dos bebês saudáveis e prontos para uma longa estrada a percorrer.
Reaprendi ali que é muito simples atender ao chamado do sentimento desinteressado e iluminado que liga as pessoas tão-somente porque são semelhantes. O outro não precisa ser um inimigo. É um ser semelhante. E ponto. Não precisa ser um irmão invocado pelos exageros de uma pseudo-fé que a nada que é diferente aceita. Não precisa ser objeto de uma paixão desenfreada e a razão de viver de mais ninguém. É uma pessoa. Este fato deveria nos bastar para respeitarmos e, simplesmente, amarmos.
Seria muito melhor se nossa religião, a de todos nós, estivesse voltada para o nosso semelhante. Porque o sagrado nos acompanha na mesma medida em que o profano nos invade e, com nossos erros tantos, com as nossas imperfeições, forma esse mosaico raro que somos nós.
Um dia, muito tempo atrás, alguém me surpreendeu em minha meninice com palavras de que jamais me esqueci: “não olhe para o céu para procurar por Deus...o que é Dele vem de lá, mas está por aqui, aqui embaixo mesmo, em tudo, principalmente nos iguais a nós. Procure por Deus nos olhos de uma pessoa.Ame Deus amando as pessoas e ensinando-lhes a amar você.”
Desde então comecei a me prender ao que os grandes mestres que passaram por este mundo tentaram ensinar. Tão simples são os ensinamentos...assim como é simples um lírio no campo, vestido de festa todos os seus dias, porque todos os dias, na verdade, são uma festa, se levarmos em conta quem somos, de onde viemos e que todos temos essa mesma origem e esse mesmo destino. Todos os dias têm o mesmo sentido e nos murmuram: “para adiante...sempre à frente”
É. Eu não quero escrever uma história de amor. Mas, dificilmente eu conseguirei escrever algo que não seja uma história de amor. Porque cada um de nós está impregnado e formado por páginas e páginas de histórias que merecem ser escritas e gritam por isso. E, sendo histórias vividas por pessoas, não há como não serem histórias de amor.
Porque não existe neste mundo quem não viva por amor, ainda que a própria vida seja um fiapo, um frágil roçar de asas de uma borboleta, o correr alegre e breve de uma bolha de sabão...uma folha amarelada caindo sobre outras pelos gramados ou calçadas, a nuvem formando desenhos preguiçosos no céu...
Pois é assim. Por mais efêmera que possam considerar a própria vida, as pessoas vivem movidas pelo amor. O que as difere é o rumo que escolhem dar a esse sentimento.


Aglaé Gil,  de Curitiba – com formação em revisão e produção de textos; pesquisadora de História e Literatura; aprendiz de viver; poeta;mãe; cidadã. [não necessariamente nessa ordem]

A menina Rhema Marvanne e sua voz impressionante

Rhema Marvanne nasceu 15 de setembro de 2002. Perdeu a mãe Wendi Marvanne, para um câncer de ovário em 08 de novembro de 2008. Rhema vive em Dallas, Texas, e frequenta a Igreja Filial. Sua voz impressionante, foi revelada em seu batismo, ao cantar o hino "Amazing Grace" Via Teresa Santos

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Senhor à moda antiga - Nadia Foes


“Posso não ser responsável pelo que fizeram de mim mas sou responsável pelo que faço com o aquilo que fizeram de mim.”(Jean Paul Sartre).
Ela chegou na agropecuária cansada como sempre. Quando entrou na loja um senhor de boa aparência, elegante, aquele tipo de pai idoso e bonitão, pai de uma pessoa madura. Ele estava no caixa pagando a conta e ela começou a escolher o que estava faltando para os seus bichinhos; escolheu os ossinhos, os florais, a ração para as calopsitas e o senhor elegante, muito gentilmente, disse ao balconista. Pode atender essa moça primeiro que eu posso esperar. Ao que ela respondeu, não se preocupe, afinal o senhor já está pagando as suas compras. Não, ele respondeu, faço questão de esperar, pois sou um homem a moda antiga, abro a porta do carro para as senhoras, mando flores, gosto de viajar,  gosto de acompanhá-las ao teatro, e perguntou: gosta de teatro? Ela fez que sim com a cabeça. E de cinema? Ela concordou novamente com um gesto. Diga-se de passagem, ela é meio arisca, acho até que tem seus escudos em segredo. Nisso o funcionário pegou o saco de ração e disse vou colocar no seu carro, senhor. O senhor virou-se para ele e disse: já falei, atende primeiro a moça. Mas o rapaz que estava com o saco de ração nas costas levou assim mesmo e o senhor voltou-se para ela e disse, nós estávamos aqui conversando, e ele, disse apontando para o rapaz, faz isso. Ela pensou, esse senhor deve estar enganado, isto é um monólogo, afinal eu não disse uma palavra até agora. Foi só ele que falou. E como não estava interessado em dialogar, pois tinha pressa, quando o rapaz entrou ela pediu mais um saco de ração, pagou a conta e saiu. Na semana seguinte, ela voltou novamente na agropecuária, foi atendida pelo irmão do dono, que é uma moça muito acanhada, muito calada, nem parece comerciante, mal olha para os fregueses. Pois a moça foi atendê-la e perguntou: A senhora esteve aqui na semana passada? Ela respondeu que sim. Aí a moça perguntou: foi na segunda feira não foi? Ela continuou perguntando. comprou um saco de ração de 8 quilos? Comprou também ossinhos e florais? Sim. Aí ela pensou: isso parece um inquérito! Aí a moça disse,  gostaria de saber se a senhora vende gatos ou cachorros e o seu telefone celular. Ela não vendia gatos, pois seus gatinhos já são idosos e de estimação. E os cães também, são de companhia e de estimação. E o telefone, porque que você quer saber? Vou ganhar algum premio, vão fazer algum sorteio com números de telefone? A moça disse que não e ficou calada. No momento ela não pensou em nada, pois tinha pressa. Mas no dia seguinte ela se perguntou, porque que a moça que não gosta de falar fez tantas perguntas? Vá saber. Mas da próxima vez que voltar lá eu vou perguntar a ela o que aconteceu. Foi aí que ela lembrou , será que foi para dar informações para alguém? E o senhor do monólogo? Não acredito. E foi-se olhar no espelho para ver se tinha cara de carente, do tipo estou a perigo.
Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Todo dia é dia de estupro - Eliane Brum


Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista (Foto: ÉPOCA)

Ela deixou o coração das trevas para contar sua história. A travessia de Marie Nzoli – do Congo a um hotel de luxo de São Paulo

“Por que a água é azul?”, pergunta Marie Nzoli, apontando para a piscina. Em um mundo com infernos demais, ela acabara de chegar do pior deles. Pela primeira vez em 48 anos de vida, deixara a República Democrática do Congo e, depois de uma saga de três dias, desembarcara no Gran Hyatt, um luxuoso hotel de São Paulo, com vista para a Ponte Estaiada. Na mala, trazia lençóis.Como nunca havia pegado um avião, ela pensava que seria necessário forrar a poltrona com eles. Ao olhar para a piscina e constatar que “a água é azul”, talvez estivesse tão ou mais encantada que o astronauta Iuri Gagarin ao ver pela primeira vez a Terra do espaço. Marie Nzoli atravessara vários mundos –fora e dentro de si – para contar sua história ao Brasil.
De onde Marie vem, o estupro é um instrumento de guerra. E as mulheres contaminadas pelo HIV são armas biológicas. O Congo é devastado por conflitos armados antes e depois da independência da Bélgica, em 1960. No final do século 19, quando a África já tinha sido canibalizada pelos europeus, a terra de Marie inspirou Joseph Conrad a escrever o perturbador “O coração das trevas” – livro que no século 20 inspiraria Francis Ford Coppola ao filmar“Apocalipse Now”, transportando o horror para o Vietnã. Hoje, o Congo continua habitado pela insanidade. Além das guerras, é arrasado também pela fome, pela falta de água potável e por doenças como Aids, sarampo e malária. Tem o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do planeta.
Para compreender o espanto de Marie é preciso apalpar as dimensões de sua travessia.Marie deixara uma casa de madeira, tijolo e barro, com uma plantação de batata e feijão e uma criação de cabras, porcos e coelhos, na pequena cidade de Butembo, no Kivu do Norte, uma das regiões mais perigosas do Congo.E, quando algo é muito perigoso no Congo, pense no inimaginável. Encravado no leste do país, a província de Kivu do Norte faz fronteira com Uganda e Ruanda. E, para além de todos os tormentos, vive uma disputa étnica entre tutsis e hutus. O genocídio que matou cerca de 1 milhão de tutsis na vizinha Ruanda, em 1994, se estendeu para dentro da fronteira leste do Congo, para onde hutus fugiram em massa depois da recomposição do país. (Se você não conhece essa história, pegue na locadora um filme chamado “Hotel Ruanda”.)
Militares e guerrilheiros igualam-se na capacidade de cometer atrocidades em massa, deixando a população desamparada, sem ter para quem pedir proteção. Quase 2 milhões de pessoas, segundo a ONU, vivem hoje longe de suas aldeias – em fuga, mas sem conseguir escapar.“O povo do meu país está sempre fugindo”, diz Marie. “Foge de tudo, porque sabe que está sendo exterminado.” Foge em círculos.
Mulheres como Marie vivem a demência de ter seus filhos recrutados à força pelas milícias, quando ainda são crianças, e suas filhas, assim como mães e irmãs, estupradas muitas vezes, por muitos homens alternando-se sobre os seus corpos. É prática comum, além de violentar, arrancar os mamilos e o clitóris à faca, e furar os pés para que não possam fugir e sangrem até a morte. É uma guerra sem fim, alimentada pelo mercado internacional de diamantes, e talvez o Congo seja, há mais tempo, o pior lugar do planeta para uma mulher nascer.
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A única saída para Marie é inventar vida no território da morte. Com outras 17 mulheres, ela criou, em 1983, uma organização chamada Coperma para reagir à violência contra seus filhos. Hoje, somam quase oito mil pessoas. Marie trabalha com vítimas de estupro. Mulheres de todas as idades que, além de serem estupradas, muitas vezes ficam com fístulas porque a violência transformou o canal do ânus e da vagina, ou da bexiga e da vagina, em uma coisa só. O rasgo é produzido pela quantidade de homens que se alternam sobre cada mulher, mas também é feito à faca ou com revólver ou fuzil. E, por terem sido estupradas, elas são discriminadas na comunidade.
No Congo, Marie é uma mulher de classe média. Perguntei o que isso significa. Ela explicou: “Eu como todo dia”. Marie nunca ouvira falar do Brasil. Nem mesmo do clássico futebol, favela e carnaval. Ela chegou aqui ao aceitar o convite da jornalista Ana Paula Padrão para participar de um fórum de debates chamado “Mulheres reais que inspiram”, promovido pelo site “Tempo de Mulher”, em 2 de julho. Quando recebeu o convite, foi correndo procurar o Brasil no mapa. Marie estava feliz, porque há muito sonhava em vencer as fronteiras do Congo para pedir socorro ao mundo.
Nos quatro dias em que permaneceu na capital paulista, Marie repetia: “Como o Brasil é rico, como as casas são bonitas, como a população vive bem aqui!”. Sua tradutora, Ilka Camarotti, retrucava: “Não é todo o Brasil que é assim”. Quando perguntei a Marie do que sentiria saudades, quando voltasse ao Congo, ela disse algo impensável para qualquer brasileiro: “Da limpeza do aeroporto”.
Além do aeroporto, o hotel foi todo o Brasil que Marie conheceu. Nele, ela teve várias primeiras vezes: o banho de chuveiro, vinho branco argentino (ela nunca tinha provado nenhuma bebida alcoólica), algumas frutas, como coco, a escada rolante, o cartão para abrir o quarto, a TV (ela nunca tinha visto) e o controle remoto. Um arrepio de prazer ao receber nas axilas o jato de desodorante do patrocinador do evento.
Mas nada impressionou Marie mais do que o elevador. No último dia, ela já apertava os botões sozinha, com um dedo trêmulo, como se estivesse prestes a acessar algum tipo de magia. E nunca sabia qual era a hora de dar o passo para fora, o momento em que o chão, sem sair do seus pés, chegava ao chão de fato.
Várias vezes, ao longo desta entrevista, Marie divagou. Enquanto a tradutora passava as respostas do francês para o português, ela espiava um prédio em construção, onde um elevador subia e descia. Alto, mas para si mesma, Marie espantava-se com o mundo: “La technologie...” E ria sozinha, em abissal perplexidade. Depois, voltava a contar sobre os estupros.
Perguntei a Marie o que gostaria de dizer aos brasileiros. Ela disse: “Agora que eu vim e dividi a minha história, esse combate não pode ser apenas meu. Essa luta tem de ser também do Brasil. Vocês precisam ajudar as mulheres do Congo.”Marie acredita que o que faltava para que os brasileiros se importassem era que alguém conseguisse chegar até aqui para contar o que está acontecendo lá. Para ela, é difícil compreender que alguém saiba – e nada faça.
Esta é a história de Marie Nzoli – cujo último nome significa “sonho”.
O pai expulsou a mãe porque ela só paria meninas
“Meu pai era professor na escola da prefeitura. E minha mãe, agricultora e dona de casa. Minha mãe teve quatro meninas. E porque minha mãe só tinha meninas, meu pai a escorraçou de casa junto com as filhas. Minha mãe fugiu para a casa do sogro. Eu tinha 8 anos.
Meu avô fez a reaproximação: por um lado, tentou convencer meu pai a aceitar minha mãe de volta, por outro, precisou convencer minha mãe a voltar para casa. Ela voltou. E então fez oito meninos, e meu pai ficou feliz. Mas, nós, meninas, continuamos sem existir.
Era meu pai quem dava dinheiro para a minha mãe. Mas o dinheiro era só para a escola dos meninos. Meu pai achava que menina não precisava estudar. Então, minha mãe roubou dinheiro dele. Eu não tenho o direito de dizer ‘roubar’, mas, na realidade, foi isso o que aconteceu. Minha mãe roubava dinheiro do meu pai para pagar o estudo das filhas.”
Marie “só” foi estuprada pelo marido
“Eu fui estuprada pelo meu marido. Muitas vezes. Eu estava fazendo comida e não queria. Mas, ele dizia: ‘Vem cá’. Eu não queria, mas ele dizia: ‘Eu tenho o direito. É o direito do homem’. Ele me pegava mesmo diante dos meus três filhos. E, se eu me recusasse, ele me batia na frente das crianças. Até hoje eu não suporto escutar meus filhos chamando ele de ‘papai’.”(A tradutora diz: “é um monstro”. E Marie repete: “É um monstro”.)
“Em 1997, depois de seis anos de casamento, meu marido deixou um bilhete, dizendo que partiria para libertar o Congo.”(Neste ano,o guerrilheiro Laurent-Désiré Kabila depôs o ditador Mobutu, no poder desde 1965). “Nunca mais vi meu marido. Eu tenho medo de que ele volte. Se ele voltar, vou dizer para ele que, como ficou muito tempo fora, só posso aceitá-lo se ele fizer um exame de HIV. Como nenhum homem quer fazer o exame de HIV, ele vai recusar. Porque os homens dizem: ‘Eu não vou fazer o teste, você tem de me aceitar como eu sou’.
Como ele vai se recusar a fazer o teste, eu posso dizer que então não posso aceitá-lo. Vou dizer a mesma coisa à família dele. Mas, talvez, eles exijam que eu devolva o dote de 10 cabras. Agora, não sou apenas eu que tenho de devolver, mas também os meus filhos. Sinceramente, eu não sei se eles vão querer.”
(Pergunto a Marie se ela já teve prazer sexual alguma vez.)
“Vários homens quiseram fazer sexo comigo depois que meu marido foi embora, mas eu não quis. Eu não quero mais pensar nisso. Eu não quero isso pra mim.”
Imaculada é o nome da irmã violada
“Minha irmã mais nova, de 14 anos, estava saindo da escola. E encontrou uma milícia. Eles viraram a cabeça da minha irmã para trás. Giraram tanto a cabeça que ela passou dois anos sem se mexer. Ficou também com os olhos doentes. Minha irmã ficava de olhos fechados, sem conseguir caminhar ou comer. Ela não se movia. Eu dava banho nela e também lhe dava comida. Naquele dia, minha irmã se debateu, mas dois deles a estupraram. Minha irmã se chama Immaculé.”
Mulheres contaminadas: a nova arma biológica
“Há estupros todo dia. Meninas e também mulheres mais velhas estão plantando. Os militares passam e as estupram na frente de todo mundo. Vi meninas de 10, as mais velhas com 15 anos, serem estupradas. Os mais pobres precisam andar até 30 quilômetros para encontrar água para beber. As meninas vão buscar água e, quando voltam, os militares as violentam. Depois, elas geram bebês.
Pouco importa se é milícia ou exército.Guerrilheiros e militares são todos selvagens. Se as mulheres resistem, eles cortam os seios e o clitóris. Uma vez jogaram vários militares que já estavam doentes de Aids na nossa cidade e contaminaram muitas mulheres. Existe lá um hospital só para cuidar das mulheres infectadas.
Os ruandeses e também os ugandenses, mas mais os ruandeses, querem exterminar a população do Kivu do Norte, onde eu vivo, para ocupar o nosso território. Antes, a guerra era com faca, com fuzil. Mas, hoje, além da faca e do fuzil, existe a doença. Eles estupram as mulheres, transmitem a Aids e assim vão nos matando. É um genocídio. E é um genocídio há muito tempo.”
Marie fez o parto nua, com dinheiro escondido no ânus e na mira de fuzis: se fosse menino, seria poupada; se fosse menina, fuzilada
“Na primeira vez em que fui de Butembo à cidade de Goma (capital da província de Kivu do Norte, na fronteira com Ruanda) para vender batatas, nosso ônibus foi parado por militares de Ruanda.Esses militares têm autorização para trabalhar e para matar. Nesta estrada, a cada dia dez pessoas são estupradas e mortas. Eles pegam a mala dos passageiros, tomam o dinheiro, tiram as roupas, estupram as mulheres e matam todos. Eu precisava vender batatas e levei dinheiro comigo para a viagem.”(Marie não lembra se eram 10, 15 ou 20 dólares.)
“Quando esses militares de Ruanda pararam nosso ônibus, mandaram todo mundo tirar a roupa, inclusive o motorista. Havia pastores evangélicos no nosso ônibus, e eles também tiveram de tirar a roupa. Eu enrolei o dinheiro, bem enroladinho, e enfiei no ânus para que não me roubassem.
Eu sentia medo e raiva. Quando nos mandam tirar a roupa, a gente precisa dizer ‘obrigada’. Eles ordenam: ‘Agora, digam obrigada porque a gente ainda não matou vocês’. Mas, desta vez, não nos mataram. Como eu fazia acompanhamento psicológico na Coperma, um pastor disse aos militares que eu era enfermeira. A mulher de um deles estava grávida, e eles precisavam que alguém ajudasse no parto. Me deram um pano para cobrir o sexo, e eu fui ajudar a mulher. O militar disse que, se nascesse um menino, seríamos poupados. Mas, se fosse uma menina, estaríamos mortos.
Eu tremia muito. Pensei que estava no final da minha vida. Mas, quando nasceu o menino, os militares ficaram numa felicidade enorme. Saíram para comprar cerveja e comemorar. E, quando voltaram, celebraram fuzilando todos os passageiros de um ônibus que estava atrás do nosso. E depois botaram fogo no ônibus e nas pessoas. Dezoito mortos.
Então, nos mandaram sumir. E voltamos para o nosso ônibus nus. Eu tirei o dinheiro do ânus e, com ele, comprei lençóis e cortinas na feira, para todo mundo se cobrir.”
(É comum as mulheres congolesas esconderem dinheiro no ânus e também na vagina, na tentativa de salvar o pouco que têm, caso sobrevivam à violência. Quando são estupradas, o dinheiro é de tal forma introjetado no corpo que é preciso uma cirurgia para retirá-lo.)
Só a mãe faz Marie chorar
(Pergunto a Marie se este foi o pior momento da vida dela. Ela me diz que não. Parece surpresa por eu cogitar que seja.)
“O pior momento da minha vida foi a morte da minha mãe, um ano atrás. Muitas emoções explodiram dentro de mim. Minha mãe morreu nos meus braços. Dizem que foi por causa de uma intoxicação, que destruiu o fígado. Era como se ela dormisse. Minha mãe, que me fez estudar. Que se esqueceu dela mesma.Eu sou velha, mas sinto muita falta do amor da minha mãe. Fiz tudo para curá-la, mas não foi possível. Com a morte, não há cooperação.”
(Então Marie, que narrou todas as violências com os olhos secos, como se contasse o seu cotidiano – e é o seu cotidiano – começa a chorar. E chora por um longo tempo. A mulher violentada de várias maneiras, que já testemunhou todas as formas de violência, chora apenas de saudades da mãe.)

Publicado por Revista Época