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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Veruska - Nadia Fóes


Naquela época, 1965, o concurso de miss era concorridíssimo e todas leram o Pequeno Príncipe. Foi nesta época que Veruska pontificou conforme se dizia no jargão do jornalismo. Estudante da terceira série ginasial desfilava pela cidade de uniforme colegial, saia pregueada marinho com alças longas e camisa de mangas compridas branca com gravata marinho de três listras que eram referencia ao ano que estava cursando. Usava longas tranças com laço azul marinho, Na cidade ano sim ano não era uma agonia conseguir uma miss, coisa que era muito importante para a sociedade local. Veruska foi descoberta por determinada senhora bem posta nos meios sociais que se esmerou dando aulas de boas maneiras para sua pupila.Veruska passava todas as tardes na residência da distinta dama se preparando para seu grande dia de candidata única. O guarda roupa de Veruska era sofrível, Vivia em companhia de um casal de primas de sua mãe, residia em uma casa antiga de duas alas, uma das alas era alugada. Sua mãe era funcionária ativa de um bordel chamado Casa Verde. Seu pai era um famoso político, mais precisamente um deputado federal. Não reconheceu a filha que usava os nomes de primos. Mas se não lhe deu nome, contribuía com uma mesada generosa para sua educação pois na época não existia exame de DNA, o pai não foi obrigado a reconhecer a filha. Na cidade Veruska era bem recebida em todas as casas e sempre aparecia alguém de boa vontade para conseguir convites para todos os clubes. Era uma moça querida, e como era de se esperar todas contribuíram com donativos para a representante da beleza não fazer feio. As senhoras organizaram vários eventos como bailes, jantares, lanches. Coube a senhora que descobriu a miss organizar a noite de coroação da miss. O local escolhido foi o Palácio dos Esportes local. Era um local novo e muito bonito, contrataram umas bandas, o salão onde a miss se apresentou foi totalmente decorado com flores e a miss desfilou em traje de gala, traje típico e maiô Catalina que patrocinava o concurso. Um famoso costureiro ficou encarregado dos trajes para a noite de coroação. O vestido foi magnífico, o traje típico era uma rede de pescador inteiramente bordada de pedrarias, com chapéu de ráfia bordado e puçá. Veruska foi aclamada a mais bela miss do litoral e foi a segunda colocada no Estado. Na noite da coroação os parentes de Veruska ficaram no guichê vendendo os ingressos. O Palácio dos Esportes lotou, mas ninguém lembrou de pedir um orçamento das roupas criadas pelo famoso costureiro e após a coroação o costureiro se informou a respeito dos lucros e apresentou a conta que empatava. Foi tudo perfeito mas alguma coisa haveria de dar errado pois a miss conheceu na capital um jovem médico especialista em namorar misses e se apaixonou esquecendo suas origens. O moço se encantou e na primeira oportunidade foi a cidade para conhecer os familiares de sua amada, agradou a todos, e soube da verdadeira história de Veruska e não confirmou o jantar para apresentar a amada para seus pais. Voltou à cidade mais um par de vezes e levou a miss para morar na capital, não como sua preferida mas como sua amante e cinco anos depois largou Veruska para se casar com uma jovem de família tradicional. Veruska não estudara e, pasmem, passou a desempenhar a mais antiga das profissões, enquanto as filhas do político estavam casando (casamentos principescos) Veruska fazia michê. Certo dia o político famoso ligou para uma cafetina para contratar uma modelo para alegrar alguns políticos vindos de Brasília. Veruska foi designada e como era boa profissional foi e fez jus ao cachê recebido das mãos do ilustre político.

Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.


domingo, 29 de abril de 2012

Um dia de domingo. por Aglaé Gil

Sempre achei os domingos difíceis, arrastados, lentos. Engraçado como a gente acaba se condicionando a uma ideia. Que besteira. Os domingos são dias como outros quaisquer. E mais um dia que a gente ganha para viver.
Mas essa coisa toda de condicionamento explica e expõe muito de nós - do quanto nos minimizamos enquanto pretendemos nos engrandecer.
Na verdade, somos tão pouco que acreditamos que um dia inteiro é menos que nós, que é menor que nossas vontades, nossos anseios.
Ah. Um domingo são as inteiras vinte e quatro horas a serem escritas, dirigidas e trabalhadas, depois de ganhas, quando um relógio autômato dá lá suas doze badaladas e já é madrugada, e já é novo dia.
Muita gente nasce e morre em um domingo - durante as vinte e quatro horas vive toda a sua vida aqui. Pelo menos aquela vida. Aquele trecho de um infinito caminhar.
Mas faz, de um dia, de vinte e quatro horas, tudo o que tem. E faz bem. Cumpre seu dia, sua vida, com a dignidade de quem aprende o bê-a-bá da vida - eterna sucessão de aulas.
Então, acabo de recuperar a alegria e meus domingos.
Resgatei a verdade de minhas manhãs preguiçosas e lindas - lindas apenas por serem manhãs, por ser domingo e por eu estar aqui.
E estar aqui, convenhamos, é uma bela oportunidade para, um dia, quem sabe, ser eu própria um domingo de luz.
Aglaé Gil,  de Curitiba – com formação em revisão e produção de textos; pesquisadora de História e Literatura; aprendiz de viver; poeta;mãe; cidadã. [não necessariamente nessa ordem]

terça-feira, 24 de abril de 2012

Manual de sobrevivência na CPI - ARNALDO JABOR

Há oito anos, escrevi um artigo sobre o "Se..." de políticos sob suspeita, em vaga homenagem ao poema celebre de Rudyard Kipling de 1910. Estávamos às vésperas de uma CPI. Agora estamos diante de outra CPI, inédita, autofágica, uma espécie de banho de descarrego de todos contra todos. Creio que tem sido tanta a vergonha dos escândalos, tão forte a repulsa da opinião pública que, estranhamente, os congressistas resolveram se purgar em público, em um ritual coletivo de "purificação". Estão arrependidos, porque cederam a um impulso inconsciente e vão deparar com mil crimes insuspeitados sobre a voraz corrupção que atinge todos os empreendimentos privados com grana pública. Todos. Por isso, repito e atualizo esse texto para hoje, pois mudaram as circunstâncias, mas os delitos e as negações continuam iguais. Veremos um replay, mas creio que essa CPI é bem "contemporânea" e atende a uma demanda da vida atual: a democracia, a imprensa livre, o crescimento econômico e cultural criaram uma nova "ética de mercado", rejeitando a mixaria de antigas ladroagens feudais.

O que devem fazer os acusados para escapar? Sigam o manual de instruções do bom corrupto: "Se puderes manter a cabeça erguida, quando todos te acusarem, chamando-te de 'corrupto', por te terem pegado com a mão na cumbuca, se mantiveres a aparente dignidade, com sorrisos de mofa diante de provas inabaláveis do teu crime e disseres com voz serena: 'Tudo é uma infâmia de meus inimigos políticos' ou 'Não me lembro se esta loura de coxas douradas foi minha secretária ou não...', se disseres isso sem suar, sem desmanchar a gravata, com roupas impecáveis que não revelem o esterco que te vai na alma, se fores capaz de chorar diante da CPI, ostentando arrependimento profundo, usando filhos, pais, pátria, tudo para se livrar... e, sobretudo, se puderes construir uma ideologia que te justifique e absolva, de modo que os atos mais sujos ganhem uma luz de beleza política, se puderes dourar tua pílula, colorir teus crimes, musicar teus grunhidos, de modo que possas mentir com fé, trair sem remorsos e roubar com júbilo, se puderes convencer a ti mesmo de que Cristo (também injustiçado) compreende teus pecados e te perdoa, se puderes crer que tens direito de roubar o povo para vingar uma infância pobre, ou porque tua mãe foi lavadeira e prostituta para pagar teu diploma fajuto de business administration, se acreditares mesmo que tens direito de trair ou tascar granas ou inventar precatórios ou superfaturar remédios de criancinhas com câncer porque também sofreste como menino comido por garotão mais forte no porão da tua infância, dor e delícia sempre negadas por teu machismo compensatório, se acreditares que a mutreta, a maracutaia, a 'mão grande', o 'me dá o meu aí' tem algo de transgressão pós-moderna, algo de Robin Hood para si mesmo, como dizes, na piada 'há há... eu roubo dos ricos para o pobre aqui...', ou se, convocando uma ideologia conservadora, pensas que a roubalheira sempre houve na humanidade, ou seja, que metes a mão por uma poética saudade do passado, como se ama uma antiguidade, um vaso Ming ou um abajur art decô ou se, em homenagem ao populismo tradicional, plagiares antigos slogans 'ademaristas' e, pensando em teus viadutos superorçados, disseres baixo a ti mesmo: 'Roubo, mas faço...' enquanto enfias a língua na orelha da lobista gostosa ao teu lado no 'Piantella' de porre e feliz ou se justificares tua fortuna escrota por motivos mais científicos, invocando Darwin ou Spencer, declarando que o animal humano sobrevive pela agressão e competição ('survival for the fittest') e que, portanto, assim como o chimpanzé ataca o mico-leão e o jacaré come o veado, também cumpres a ordem natural das coisas: 'Roubo, sim, pois isso está inscrito no genoma dos hominídeos...' ou mesmo, se mais filosófico, lamentares melancolicamente que 'acabou o tempo das utopias...' ou 'a vida é a ilusão dos sentidos' e, portanto, 'roubo, sim, e caguei...' ou ainda, se num gesto de superioridade literária, invocando ladrões poéticos como Villon ou Jean Genet, assumires tua fisionomia de rato ou de preá, tua carinha embochechada por anos de uisquinhos, licores, pudins, babas de moça, se puderes erguer o queixo diante do espelho ou diante de amigos como fez o grande (raro gesto) Arruda e o inesquecível PC que cunhou a frase eterna '10% é pra garçom...', se te orgulhares de tua esperteza e, de cuecas diante do espelho, enquanto a amante se lava no banheiro, berrares em júbilo: 'Eta garoto bão, espertalhaço!', ou seja, se diante de si e do mundo, puderes enfunar a barrigona cheia de merda e dizer: 'Sou ladrão, sim, mas quem não é?' ou 'podem me acusar, mas quem tem este Renoir?', se puderes cultivar todos esses méritos, se puderes justificar com serenidade tua vida de estelionatos, pequenos furtos, orelhas de traficantes ou até mesmo de esquartejamentos com motosserras ('Esquartejo, sim, mas por bons motivos...'), se puderes fazer tudo isso, confiante nos teus advogados sempre alertas como escoteiros na pilhagem nacional, confiante na absoluta conivência de rituais jurídicos que sempre te livrarão da cadeia enquanto os pardos pobres apodrecem nas celas com aids e 'quentinhas' superfaturadas pelo marido da perua louca, e se, além da confiança na cega Justiça, no manto negro dos desembargadores que sempre te acolherão, se, além deste remanso, deste consolo que te encoraja, roubares mesmo, no duro, por amor, por paixão, por desejo sexual, pela bruta tesão de acumular o máximo de dólares para nada, pela fome de lanchas, jatos, putas, coberturas, Miami, Paris e se, com fé e coragem, reconheceres esse prazer com orgulho e sem remorsos, então, eu te direi, com certeza, que vais herdar a Terra toda com todos os dinheiros públicos dentro e, mais que isso, eu te direi que serás, sim, impune para sempre, um extraordinário exemplo do canalha brasileiro, meu filho!!..."

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Levitação quântica pode levar a carros voadores no futuro

Lembra dos Jetsons? E de De Volta Para o Futuro? O que tanto o desenho dos anos 1960 e o filme dos anos 1980 tem em comum é a visão de um futuro com carros voadores. E este tipo de máquina está cada vez mais próxima com o desenvolvimento e domínio da levitação quântica. Levitação Quântica (Foto: Divulgação)Levitação Quântica (Foto: Divulgação) Pesquisadores da Universidade de Tel-Aviv, em Israel, demonstraram no evento científico ASTC 2011 seu projeto de levitação quântica e os resultados impressionaram a todos. É um fenômeno conquistado ao custo de uma generosa porção de nitrogênio líquido, ouro e safira. E funciona assim: finas camadas de safira são revestidas com películas também bastente finas de ouro. O material é envolvido em um plástico resistente e depois congelado a temperaturas assustadoramente baixas. E quanto mais baixa a temperatura de um condutor de energia como o ouro, mais eficiente ele irá conduzir esta energia. Esse é o princípio do supercondutor: o campo magnético flui pelo ouro congelado livremente, e sem obstáculos, criam-se fluxos de tubos quânticos, que aderem ao objeto seguindo o a estrutura de condutores de ouro. Como o ouro resfriado não oferece alta resistência para o magnetismo, a atração entre os dois acaba sendo muito forte, a ponto de nada perturbar o movimento do esfumaçante emaranhado de safira, plástico, ouro e nitrogênio. Os pesquisadores enfocam seus esforços sobretudo para levar esta tecnologia aos transportes. Em resumo, pense que em um trilho que ofereça a energia, para isso basta construir um trem que não use rodas, mas supercondutores que irão flutuar sem atrito algum, favorecendo em muito a conservação do veículo e, claro, à sua velocidade.  
Fonte: http://www.techtudo.com.br/curiosidades/noticia/2011/10/levitacao-quantica-pode-levar-carros-voadores-no-futuro.html?utm_source=twitter.com&utm_medium=referral&utm_campaign=editorial

sábado, 21 de abril de 2012

Ele queria o divórcio...e aí...


Naquela noite, enquanto minha esposa servia o jantar, eu segurei sua mão e disse: "Tenho algo importante para te dizer". Ela se sentou e jantou sem dizer uma palavra. Pude ver sofrimento em seus olhos. De repente, eu também fiquei sem palavras. No entanto, eu tinha que dizer a ela o que estava pensando. Eu queria o divórcio. E abordei o assunto calmamente.

Ela não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente perguntou em voz baixa: "Por quê?" Eu evitei respondê-la, o que a deixou muito brava. Ela jogou os talheres longe e gritou "você não é homem!" Naquela noite, nós não conversamos mais. Pude ouvi-la chorando. Eu sabia que ela queria um motivo para o fim do nosso casamento. Mas eu não tinha uma resposta satisfatória para esta pergunta. O meu coração não pertencia a ela mais e sim a
Jaque. Eu simplesmente não a amava mais, sentia pena dela.

Me sentindo muito culpado, rascunhei um acordo de divórcio, deixando para ela a casa, nosso carro e 30% das ações da minha empresa.

Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou violentamente. A mulher com quem vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma estranha para mim. Eu fiquei com dó deste desperdício de tempo e energia mas eu não voltaria atrás do que disse, pois amava a Jaque profundamente. Finalmente ela começou a chorar alto na minha frente, o que já era esperado. Eu me senti libertado enquanto ela chorava. A minha obsessão por divórcio nas últimas semanas finalmente se materializava e o fim estava mais perto agora.

No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde e a encontrei sentada na mesa escrevendo. Eu não jantei, fui direto para a cama e dormi imediatamente, pois estava cansado depois de ter passado o dia com a Jaque. Quando acordei no meio da noite, ela ainda estava sentada à mesa, escrevendo. Eu a ignorei e voltei a dormir.


Na manhã seguinte, ela me apresentou suas condições: ela não queria nada meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio. Ela pediu que durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver juntos de forma mais natural possível. As suas razões eram simples: o nosso filho faria seus exames no próximo mês e precisava de um ambiente propício para preparar-se bem, sem os problemas de ter que lidar com o rompimento de seus pais.

Isso me pareceu razoável, mas ela acrescentou algo mais. Ela me lembrou do momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa no dia em que nos casamos e me pediu que durante os próximos 30 dias eu a carregasse para fora da casa todas as manhãs. Eu então percebi que ela estava completamente louca mas aceitei sua proposta para não tornar meus próximos dias ainda mais intoleráveis.

Eu contei para a Jaque sobre o pedido da minha esposa e ela riu muito e achou a idéia totalmente absurda. "Ela pensa que impondo condições assim vai mudar alguma coisa; melhor ela encarar a situação e aceitar o divórcio" ,disse Jaque em tom de gozação.

Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contato físico havia muito tempo, então quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro dia, foi totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu dizendo "O papai está carregando a mamãe no colo!" Suas palavras me causaram constrangimento. Do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa, eu devo ter caminhado uns 10 metros carregando minha esposa no colo. Ela fechou os olhos e disse baixinho "Não conte para o nosso filho sobre o divórcio" Eu balancei a cabeça mesmo discordando e então a coloquei no chão assim que atravessamos a porta de entrada da casa. Ela foi pegar o ônibus para o trabalho e eu dirigi para o escritório.

No segundo dia, foi mais fácil para nós dois. Ela se apoiou no meu peito, eu senti o cheiro do perfume que ela usava. Eu então percebi que há muito tempo não prestava atenção a essa mulher. Ela certamente tinha envelhecido nestes últimos 10 anos, havia rugas no seu rosto, seu cabelo estava ficando fino e grisalho. O nosso casamento teve muito impacto nela. Por uns segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela estar neste estado.


No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade maior com o corpo dela. Esta mulher havia dedicado 10 anos da vida dela a mim.


No quinto dia, a mesma coisa. Eu não disse nada a Jaque, mas ficava a cada dia mais fácil carregá-la do nosso quarto à porta da casa. Talvez meus músculos estejam mais firmes com o exercício, pensei.

Certa manhã, ela estava tentando escolher um vestido. Ela experimentou uma série deles mas não conseguia achar um que servisse. Com um suspiro, ela disse "Todos os meus vestidos estão grandes para mim". Eu então percebi que ela realmente havia emagrecido bastante, daí a facilidade em carregá-la nos últimos dias.

A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso... ela carrega tanta dor e tristeza em seu coração..... Instintivamente, eu estiquei o braço e toquei seus cabelos.


Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse "Pai, está na hora de você carregar a mamãe". Para ele, ver seu pai carregando sua mãe todas as manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa abraçou nosso filho e o segurou em seus braços por alguns longos segundos. Eu tive que sair de perto, temendo mudar de idéia agora que estava tão perto do meu objetivo. Em seguida, eu a carreguei em meus braços, do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa. Sua mão repousava em meu pescoço. Eu a segurei firme contra o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso casamento.


Mas o seu corpo tão magro me deixou triste. No último dia, quando eu a segurei em meus braços, por algum motivo não conseguia mover minhas pernas. Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me vi pronunciando estas palavras: "Eu não percebi o quanto perdemos a nossa intimidade com o tempo".


Eu não consegui dirigir para o trabalho.... fui até o meu novo futuro endereço, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de idéia...Subi as escadas e bati na porta do quarto. A Jaque abriu a porta e eu disse a ela "Desculpe, Jaque. Eu não quero mais me divorciar".


Ela olhou para mim sem acreditar e tocou na minha testa "Você está com febre?" Eu tirei sua mão da minha testa e repeti "Desculpe, Jaque. Eu não vou me divorciar. Meu casamento ficou chato porque nós não soubemos valorizar os pequenos detalhes da nossa vida e não por falta de amor. Agora eu percebi que desde o dia em que carreguei minha esposa no dia do nosso casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até que a morte nos separe.

A Jaque então percebeu que era sério. Me deu um tapa no rosto, bateu a porta na minha cara e pude ouvi-la chorando compulsivamente. Eu voltei para o carro e fui trabalhar.

Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um buquê de rosas para minha esposa. A atendente me perguntou o que eu gostaria de escrever no cartão. Eu sorri e escrevi: "Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos separe".

Naquela noite, quando cheguei em casa, com um buquê de flores na mão e um grande sorriso no rosto, fui direto para o nosso quarto onde encontrei minha esposa deitada na cama - morta.
Minha esposa estava com câncer e vinha se tratando a vários meses, mas eu estava muito ocupado com a Jaque para perceber que havia algo errado com ela. Ela sabia que morreria em breve e quis poupar nosso filho dos efeitos de um divórcio - e prolongou a nossa vida juntos proporcionando ao nosso filho a imagem de nós dois juntos toda manhã. Pelo menos aos olhos do meu filho, eu sou um marido carinhoso.

Os pequenos detalhes de nossa vida são o que realmente contam num relacionamento. Não é a mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro no banco. Estes bens criam um ambiente propício a felicidade mas não proporcionam mais do que conforto. Portanto, encontre tempo para ser amigo de sua esposa, faça pequenas coisas um para o outro para mantê-los próximos e íntimos. Tenham um casamento real e feliz!


Se você não dividir isso com alguém, nada vai te acontecer.

Mas se escolher enviar para alguém, talvez salve um casamento.
Muitos fracassados na vida são pessoas que não perceberam que estavam tão perto do sucesso e preferiram desistir...


Desconheço o autor

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A Vida em um Dia: assista ao épico filme do YouTube

Com 26 diretores, 80.000 clipes de vídeo e 4.500 horas de material fornecido por crowdsourcing, ele tinha todo o potencial de ser uma bagunça. Em vez disso, o filme Life in a Day é tão profundo, intenso e inspirador quanto seu assunto – a vida, mais especificamente a vida no dia 24 de julho de 2010. O filme foi produzido por Ridley Scott (Alien, Gladiador) e reúne vídeos curtos enviados ao YouTube pelos usuários. Ele chega ao YouTube hoje, depois de ser exibido em festivais. Você pode assisti-lo com uma de 25 legendas – inclusive português – mas as palavras não são tão importantes como as imagens: o amanhecer, o entardecer, entre a luz e escuridão. Há momentos que consideramos como únicos, e outros que todos já vivenciamos antes, e que nos conectam. O filme é uma visão que abrange tudo no mundo, como o vemos e como o capturamos. Com certeza ele merece 1h30 da sua atenção.

Corrupção: crime contra a sociedade - Leonardo Boff

         Segundo a Transparência Internacional, o Brasil comparece como um dos países mais corruptos do mundo. Sobre 91 analisados, ocupa o 69% lugar. Aqui ela é histórica, foi naturalizada, valedizer, considerada com um dado natural, é atacada só posteriormente quando já ocorreu e tiver atingido  muitos milhões de reais e goza de ampla impunidade. Os dados são estarrecedores: segundo aFiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) anualmente ela representa 84.5 bilhões de reais. Se esse montante fosse aplicado na saúde subiriam em 89% o número de leitos nos hospitais; se na educação, poder-se-iam abrir 16 milhões de novas vagas nas escolas; se na construção civil,  poder-se-iam construir 1,5 milhões de casas.
         Só estes dados denunciam a gravidade do crime contra a sociedade que a corrupção representa. Se vivessem na China muitos corruptos acabariam na forca por crime contra a economia popular. Todos os dias, mais e mais fatos são denunciados como agora com o contraventor Carlinhos Cachoeira que para garantir seus negócios infiltrou-se corrompendo gente do mundo político, policial e até governamental. Mas não adianta rir nem chorar. Importa compreender este perverso processo criminoso.
         Comecemos com a palavra corrupção. Ela tem origem na teologia. Antes de se falar em pecado original,  expressão que não consta na Bíblia mas foi criada por Santo Agostinho no ano 416 numa troca de cartas com São Jerônimo, a tradição cristã dizia que o ser humano vive numa situação de corrupção. Santo Agostinho explica a etimologia: corrupção é ter um coração (cor)  rompido (ruptus) e pervertido. Cita o Gênesis: “a tendência do coração é desviante desde a mais tenra  idade”(8,21). O filósofo Kant fazia a mesma constatação ao dizer:“somos um lenho torto do qual não se podem tirar tábuas retas”. Em outras palavras: há uma força em nós que nos incita ao desvio que é a corrupção. Ela não é fatal. Pode ser controlada e superada, senão segue suatendência.
         Como se explica a corrupção no Brasil? Identifico três razões básicas entre outras: a histórica, a política e a cultural.
         A histórica: somos herdeiros de uma perversa herança colonial e escravocrata que marcou nossos hábitos. A colonização e a escravatura são instituições objetivamente violentas e injustas. Então as pessoas para sobreviverem e guardarem a mínima liberdade eram levadas a corromper. Quer dizer: subornar, conseguir favores mediante trocas, peculato (favorecimentoilícito com dinheiro público) ou nepotismo. Essa prática deu  origem ao jeitinho brasileiro, uma forma de navegação dentro de uma sociedade desigual e injusta e à lei de Gerson que é tirar vantagem pessoal de tudo.
         A política: a base da corrupção política reside no patrimonialismo, na indigente democracia e no capitalismo sem regras. No patrimonialismo não se distingue a esfera pública da privada. As elites trataram a coisa pública como se fosse  sua e organizaram o Estado com estruturas e leis que servissem a seus interesses sem pensar no bem comum. Há um neopatrimonialismo na atual política que dá vantagens (concessões, médios de comunicação) a apaniguadospolíticos.
         Devemos dizer que o capitalismo aqui e no mundo é em sua lógica, corrupto, embora aceito socialmente. Ele simplesmente impõe a dominação do capital sobre o trabalho, criando riqueza com a exploração do trabalhador e com a devastação da natureza. Gera desigualdades sociais que, eticamente, são injustiças, o que origina permanentes conflitos  de classe. Por isso, o capitalismo é por natureza antidemocrático, pois  a democracia supõe uma igualdade básica dos cidadãos e direitos garantidos, aqui violados pela cultura capitalista. Se tomarmos tais valores como critérios, devemos dizer que nossa democracia é anêmica, beirando a farsa. Querendo ser representativa, na verdade, representa os interesses das elites dominantes e não os gerais da nação. Isso significa que não temos um Estado de direito consolidado e muito menos um Estado de bem-estar social. Esta situação configura uma corrupção  já estruturada e faz com que ações corruptas campeiem livre e impunemente.
         Cultura: A cultura dita regras socialmente reconhecidas. Roberto Pompeu de Toledo escreveu em 1994 na Revista Veja: “Hoje sabemos que a corrupção faz parte de nosso sistema de poder tanto quanto o arroz e o feijão de nossas refeições”. Os corruptos são vistos como espertos e não como criminosos que de fato são. Via de regra podemos dizer:  quanto mais desigual e injusto é um Estado e ainda por cima centralizado e burocratizado como o nosso, mais se cria um caldo cultural que permite e tolera a corrupção.
         Especialmente nos portadores de poder se manifesta a tendência à corrupção. Bem dizia o católico  Lord Acton (1843-1902): ”o poder  tem a tendência a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente”. E acrescentava:”meu dogma é a geral maldade dos homens portadores de autoridade; são os que mais se corrompem”.
         Por que isso? Hobbes  no seu Leviatã (1651)  nos acena para uma resposta plausível: “assinalo, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e de mais poder que cessa apenas com a morte; a razão disso reside no fato de que não se pode garantir o poder senão buscando ainda mais poder”. Lamentavelmente foi o que ocorreu com o PT. Levantou a bandeira da ética e das transformações sociais. Mas ao invés de se apoiar no poder da sociedade civil e dos movimentos e criar uma nova hegemonia, preferiu o caminho curto das alianças e dos acordos com o corrupto poder dominante. Garantiu a governabilidade  a preço de mercantilizar as relações políticas e abandonar a bandeira da ética. Um sonho de gerações foi frustrado. Oxalá  possa ainda ser resgatado.
         Como combater a corrupção? Pela transparência total, pelo aumento dos auditores confiáveis que atacam antecipadamente a corrupção. Como nos informa o World Economic Forum, a Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100.000 habitantes; o Brasil apenas, 12.800 quando precisaríamos pelo menos de 160.000. E lutar para umademocracia menos desigual e injusta que a persistir assim será sempre corrupta e corruptora.

Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor
Publicado no Jornal do Brasil

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Salmo de Paz - Nilson Ribeiro

Meu caro Dalmo...
   Fosse um dia normal estas seriam minhas palavras primeiras ao te enviar um e-mail.
   Hoje porém acordei um tanto introspectivo, o cérebro agoniado por uma sensação esquisita. Acho que tive um sonho ruim, algo como uma solidão pesada me sufocando, não me lembro ao certo.
   Deprimido, com dificuldade para expressar o que me vai na  alma, o que me move nesse momento é a necessidade premente  de um pouco de paz para o espírito. Tento em vão buscá-la dentro de mim...
   Sem querer vejo-me criança novamente e lembro de salmos ecoando nas abóbadas da igrejinha branca na minha distante e primeira comunhão...
   Estávamos todos, meninos, de mãos dadas, e entoávamos cânticos de amor e paz.
   Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo é o  pensamento que me ocorre nesse instante.
   A primeira parte do mandamento, a que se refere a Deus, soa forte e bela como um axioma e me toma inteiramente, sem margem para qualquer discussão; mas a segunda, que fala em amar ao próximo como a ti mesmo, quão hercúlea tem sido essa tarefa pra mim. Nada fácil, meu amigo .
  Você, Dalmo, há muito iniciado nas estreitas veredas do árduo caminho evolutivo, certamente pode bem avaliar como me sinto, sem saber amar direito, mas entendendo que a paz é o começo de tudo.
  Por mais bem intencionado, quando penso na paz a ser conquistada através do exercício diário da caridade e do perdão, percebo que existe uma grande distância entre a intenção e o gesto nesse meu débil peito.
  Amar, como a ti mesmo, é muito pra mim, egoísta que sou nos dias de hoje diante de tanta crueldade gratuita, tantos exemplos negativos.
  Como amar alguém como a ti mesmo, se esse alguém é tão diverso de voce em palavras e ações, e tão inteiramente sem amor ?
  Lembro-me no entanto de Gandhi, Luther King, Madre Teresa na sua infinita bondade, e uma onda de afeto me envolve lentamente. Recordo-me ainda de outros exemplos, de gente comum, num passado bem recente, e que a despeito de toda dor, conseguiu perdoar as atrocidades vividas na
própria carne, como a perda de um ente querido, um irmão, um filho,
levado dessa vida por mãos sem qualquer traço de piedade.
  Bem poucos são capazes de tão sublime gesto.
  Perdoar incondicionalmente.
  Amar de verdade.
  Sei que as Profecias Maias falam num período de grandes transformações na Terra, mudanças impingidas através da dor, como temos visto ultimamente; coincidentemente a Doutrina Espírita prega que já estamos vivendo a Era da Regeneração, um período conturbado de transição
para o bem. Fala-se também no Emmanuel redivivo, espírito de luz,
tantas e tantas vezes presente em outras jornadas, expiando a própria culpa, evoluindo em cada lampejo de vida, e desta feita entre nós, trazendo uma nova mensagem, quem sabe, de esperança.
  Acredito, meu amigo, na religião sendo substituída pela espiritualidade.
Acho que é o caminho...
  Bonito pensar numa jornada de anjos, assim, pelos séculos e séculos afora, nos instruindo, iluminando.
 Chego a sorrir pensando nessa imagem.
 Mas hoje quero apenas poder sonhar com um mundo melhor, com a evolução serena do homem, vivendo sob a égide de um crescimento sustentável,com fontes alternativas de energia, limpa; com o replantio das florestas, com soluções inteligentes na geração de alimentos, sabendo respeitar a vida dos animais, um após outro levados à extinção ao longo desse tempo. Penso no homem dando um pouco de sossego à terra, rios e mares, pilhados sem dó,
revitalizando-os agora, cuidando das nascentes, das matas ciliares,
salvando os nativos nas suas humildes comunidades ribeirinhas.
  Há muito o que fazer no entanto.
  Pensando nisso olho para o céu da minha cidade natal, buscando por mais um sinal além da fumaça das fábricas e deparo surpreso com um bando de verdes maritacas, voando de um bosque próximo numa algazarra tremenda, mais
adiante araras multicoloridas aos pares, roucas, voam de volta aos seus ninhais, um pouco mais distantes; e até tucanos, que há bem pouco só encontrava nos zoológicos, vejo exibindo sua anotomia exótica num vôo pesado e aparentemente às avessas, pegando carona no vento.
  Será que estamos evoluindo, ou estarei sonhando acordado ?
  As coisas estão mudando pra melhor.
  Há muito não tenho visto um menino sequer, munido com um estilingue, como era habitual na minha infância.
  Tão bom ver hábitos assim caindo no esquecimento. A população dos pequenos animais crescendo, livres das gaiolas, cantando nos ramos, chegando sem medo bem pertinho da gente.
  É, meu amigo Dalmo, já estou me sentindo bem, o coração batendo compassado. Foi só um sonho ruim na madrugada e sobretudo foi bom ter meditado acerca do que me afligia. A falta de paz.
  Sim, a Fisica Quântica tem provado que a consciência tem o poder de modificar a matéria; a vida ganhando novo sopro a cada pensamento positivo.
  E dessa forma, pensando assim, acredito firmemente que o  mundo terá salvação, seremos bons, sem qualquer resquício de maldade; felizes, saudáveis; as guerras findarão, e viveremos em paz finalmente.
  Sem sonhos ruins na madrugada.


Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.

terça-feira, 17 de abril de 2012

O beco das flores, por Aglaé Gil

O sorriso, naquele dia, nasceu e morreu  ali: na rua sem saída.
Era um lugar estranho, diriam alguns, até  impróprio a sorrisos e declarações. 
Mas foi o lugar que lhe coube para falar  de amor e, durante um certo tempo, conseguiu transformá-lo em um quase  jardim. É...o beco estava até florido, tinha  uma certa claridade de bons sentimentos, 
bons pensamentos, intenções iluminadas. Durante um tempo, vicejou por ali o 
amor, em forma de amores-perfeitos,  bocas-de-leão, alguns crisântemos e até  margaridas.
Ela [ele...quem sabe, o que importa?]  

deu muito de si por ali: plantou e cultivou  e semeou. Aguou todos os dias. E sorria 
o sorriso do sol que dava um jeito de se  embrenhar por entre as sombras dos  prédios escuros do beco.
Agora, no entanto, estava ali. Falaria a  palavra, aquela que põe um ponto final no 
amor -não..no amor não...ele não acaba de fato, não é? ele se transforma em  algo,nem que seja numa boca-de-leão - e 
sairia dançando dores e tristeza. 
Cantaria baixinho uma espécie de canção  de ninar: decidiu que o amor hibernaria. 
E ia adiante, depois de deixar o sorriso  desmaiado entre as luzes de final de  tarde.
Mas, vejam só. Tinha sementes nas  mãos.
..___Aglaé
*revisora de textos - ortografia e gramática, fluência*

  









 

 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Insana Paixão - José Cardoso

Bocas coladas, olhos fechados, corpos unidos em um ritual prazeroso e proibido....
Insana paixão, ardorosa entrega mútua, frenesi ardente de luxúria, espasmos delirantes de tesão a envolver dois seres que não deveriam juntos estar....
Algoz destino, no encontro fortuito e camuflado a liberação de desejos que não deveriam acontecer....
Insana paixão, procuro uma razão plausível para que este forte sentimento me tenha dominado, mas não a acho....
Uma voz suave e sensual vem de meu íntimo e manda-me pular de olhos fechados nessa louca e conivente relação, enquanto outra parte de minha consciência avisa-me do perigo imediato desta febril investida amorosa.....
Através de simples pensamentos, pratico atos pecaminosos e deliciosos, acreditando tua presença possuir....
Vislumbro sua silhueta em cada rosto, em cada corpo feminino que meus olhos observam na rotina diária....
Forças já não mais possuo para extraí-la de minha mente e de meu coração ingênuo e romanticamente desprotegido.....
Insana paixão, entrego-me de corpo e alma nesse relacionamento caloroso e ardente que os preceitos morais abominam....
Por vezes vejo-me em um beco sem saída, onde ou esqueço esta devastadora paixão doentia que de mim se apossou e volto a rotina e a realidade, ou assumo de vez esta coisa louca e prazerosa e vivo novamente momentos de pura volúpia e delírio....
Nos raros momentos em que juntos passamos, embriago-me com teu cheiro inebriante e pergunto-me como fugir disso???
Insana paixão, minha carência afetiva e o desejo de seu corpo possuir sobrepõem-se às minhas vontades e a ti me entrego completamente.....
Vivencio contigo sublimes, aconchegantes e inesquecíveis momentos de desejo saciado, onde o fogo da sexualidade outrora extinto, volta a reacender-se com uma força descomunal....
No passado deixo meus receios e dúvidas para com você o presente viver, mesmo tendo que suportar disfarçadamente paralelos e perigosos caminhos....
Se certo ou errado é, não sei, somente sei que te quero e te desejo, tornando-se a cada dia mais forte e incontrolável este estranho e inexplicável sentimento de insana paixão....

12 Jan 2002

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Bear Counting in Canada

Bear Counting in Canada This is wonderful and the audio is hilarious! Enjoy. This clip is great for animal lovers and young children -- Momma Bear and her three very young cubs in the wild of northern Ontario , Canada .. Humane wildlife experts taking a winter bear census right in the hibernation dens. You'll love this, beside s the cute precious 6 week old baby bears (eyes still closed) the guy (Rick Mercer) has some of the funniest lines. This is a special video of retagging a mommy bear.

Olhar urbano - O presente do chefe, Teresa Santos

Ele chegou com aquele sorriso indisfarçadamente irônico e esticou a mão.
- Toma! Este é o meu presente para o dia das secretárias.
E continuou:
- Você vai receber  um outro em nome do escritório. Mas este é o meu . E enfatizou no pronome possessivo.
Agradeci. Era uma caixa de palha envolta em papel celofane e um com um grande laço de cetim vermelho.
Olhei e vi que eram produtos de beleza e uma sensação de “déjà vu” passou pela minha cabeça.
Deixei-a em um canto e resolvi abri-la, com calma, em minha casa.
Algumas horas depois, lá vem ele novamente me dizer:
- Tê (é assim que ele me trata) verifica se eu não deixei a etiqueta com o preço. Você sabe como sou distraído. Já cometi muitas gafes por ser assim. Dei uma olhadinha rápida e disse que estava tudo correto.
Ele já ia saindo quando salientou:
- Você vai gostar destes produtos. Eu os uso.
Não me ative àquela frase...”Eu os uso” e continuei com o meu trabalho.
Cheguei em casa e tranquilamente comecei a desatar o laço quando uma visão passou pela minha cabeça:
... Meu chefe adentra no escritório com uma caixa, com papel celofane, que ele havia ganhado como brinde em um almoço para executivos organizado pelo empresário João Dória Jr.
Meu dedos, então, aceleraram na abertura daquela caixa e qual não foi a minha surpresa ao constatar que eram...brindes!!!
Aquela bela cesta não tinha sido comprada por ele!!!!
Todo aquele blablablabla de etiqueta com preço era pura balela.
Ele, ao guardar na sua casa, esqueceu-se por completo que os produtos eram brindes e criou toda uma história para se mostrar gentil e simpático!
Uma raiva se apossou de mim. Xinguei-o de tudo quanto foi palavrão. Senti-me desprezada, enganada, desrespeitada.
Liguei para uma colega, para desabafar a minha ira e ela confirmou tê-lo visto levando para casa a tal caixa.  Foi aí que mais possessa fiquei.
Não tive dúvida. Guardei a cesta e coloquei os produtos (shampoos, creme rinse, blush, estojinho de maquiagem, batom, e outras quinquilharias) dentro de uma sacola.
No dia seguinte, lá estava eu distribuindo os produtos “comprados com carinho pelo chefe” nas mesas das colegas de trabalho.
Somente aquela colega/amiga sabia do por que de minha atitude. Para as demais, eu dizia:
- Aceite este presentinho, do Papai Noel fora de hora.
Tempos depois ao comentar  com outro colega, sobre este assunto, soube que ele fez a mesma coisa com a namorada.
Ao retornar de uma viagem do exterior se esqueceu de comprar algo para ela e deu-lhe aqueles pequenos sabonetes que ficam no toalete do hotel !!!
A namorada, ao receber aquilo, teve um acesso de raiva, jogou fora e ficou sem falar com ele uns bons quinze dias.
Eu, do meu lado, esperei o momento oportuno.
E aconteceu quando no dia 08 de Março um almoço foi organizado para as mulheres do escritório.
Fui a única que não compareceu.
Foi a forma – delicada – de lhe dizer:
- Dispenso a sua gentileza.  O conheço de velhos carnavais.
Comemorei a data sozinha. E muito bem por sinal. Fui andarilhar pela Av. Paulista, aportei na Livraria Cultura, depois fui a um restaurante árabe de velhos conhecidos meus, tomei um banana split que há muito desejava e voltei para casa.
Ao chegar um ramalhete de rosas vermelhas e amarelas me aguardavam. Vieram de muito longe.
E para encerrar aquele dia, meu querido irmão preparou um jantarzinho especial para mim.
Fiquei sabendo que meu chefe – embora não tivesse sido convidado – apareceu no final do evento para fazer as suas gracinhas habituais e mostrar-se gentil com o chapéu alheio.
Notou a minha falta e perguntou porque eu não tinha ido.
Inventaram uma desculpa e ficou tudo por isso mesmo.

Teresa Santos, 60 anos, paulistana. Aposentada, mas na ativa. Formada em Letras pela Universidade São Paulo. Gosta de estudar idiomas, de viajar, de ler  e de observar o mundo. Considera o ser humano a melhor personagem para seus escritos. É grata à vida  e se considera uma pessoa feliz.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O contador de histórias, por Aglaé Gil



Ele sabia contar histórias como ninguém. Enquanto consertava calçados,
era capaz de criar mundos e fundos em palavras.
Sabia escrever pouco em Português, mas aprendera a ler a Bíblia, alguns livros de Eça e de alguns socialistas - literatura maldita, escondida, mas que tinha nele o efeito da anarquia.
Rezava o desmando, não suportava comando, sagrava a força do trabalho.
E era sapateiro.
Criou dez filhos seus e mais os dois que seu irmão deixou quando morreu, junto a mulher, vítimas da gripe espanhola.
Por causa dessa sua paternidade exacerbada, talvez, juntava crianças em torno de si como ninguém mais. Os aprendizes trabalhavam com prazer ouvindo as histórias que ele contava.
Suou camisa, escancarou portas para quem vinha atrás e aquelas mãos de artista só cessaram a lida quando deu um último suspiro, ainda sorrindo, enquanto tirava um sapado da forma de lacear.
Logo depois de colocar na última história, um ponto final.

 
Aglaé Gil,  de Curitiba – com formação em revisão e produção de textos; pesquisadora de História e Literatura; aprendiz de viver; poeta;mãe; cidadã. [não necessariamente nessa ordem]

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Imprestável ! - Nilson Ribeiro

   Foi assim que minha mulher me chamou, com ódio nos olhos, por causa de uma bobagem qualquer.
  Quis retribuir no ato, no auge da minha indignação chamando-a de louca, mas preferi me calar, como aliás tenho feito ultimamente nesses momentos.
  Como chamar de louca alguém que tão bem soube me conquistar, que entre meigos sorrisos me tirou de uma convicta vida celibatária ? Como chamar de louca a fada com quem me casei, pensando ser para sempre, a mulher da minha vida ?
  Tampouco sou um imprestável, eu sei.
 Imprestável, sinônimo de feio parasita. Ofensa pura !
  Estou longe disso, mas me pergunto como os sentimentos entre dois seres podem mudar tanto ?
  Há pouco eu era inteligente, papo interessante, belo, boa situação financeira, disputado pelas mulheres. Agora o que sou? Um imprestável !
  Ela também, uma boneca cobiçada, deusa inatingível, olhar claro e sereno. No que se transformou ?
  Uma verdadeira megera, cuspindo no meu rosto ao falar descontroladamente.
Lá se foi toda beleza, e todo o encanto.
  Por que, meu Deus, mudamos tanto assim ?
  Aonde foi, em que ponto da vida mexemos errado os peões neste jôgo de xadrez da nossa convivência, pondo tudo a perder dessa forma ?
  Semana passada lá se foi um tanto da minha alegria com a morte do incomparável mestre do humor,o Chico Anysio; nesta semana outro tanto se vai com a perda da inteligência brilhante do Millôr Fernandes, presença marcante nos áureos tempos da minha juventude.
  Agora, assim de chofre, me torno imprestável, perdendo também de vez o meu amor...
  É uma lástima ver o desamor aproveitando-se de um momento de pseudo decrepitude, se instalando covardemente entre nós, assim.
  E decididamente, vindo pra ficar, mudo, absurdo, para sempre!


Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.

Papo de boleiro com César Sampaio

César Sampaio é o convidado para a conversa descontraída com Fernando Fernandes no Papo de Boleiro

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Os cheiros, uma Crônica de Danuza Leão

Existem cheiros inesquecíveis. Cada pessoa tem seus prediletos. E basta uma mínima lembrança para que tudo volte: a temperatura do momento, a felicidade ou a tristeza que se sentia, as imagens de quem estava perto, tudo. Tudo. Cheiros podem ser alegres ou tristes. Era muito bom quando se entrava em casa depois do colégio, logo antes do almoço, e se sentia o cheiro do refogado – alho, cebola e tomate – para fazer o picadinho ou o bife de panela enrolado no bacon e preso por um palitinho. Quantos segundos você leva para atravessar o tempo e voltar aos seus 11 anos?

Lembra quando há muitos, muitos anos, você ia passar as férias na fazenda? Ah, uma fazenda tem aromas absolutamente inesquecíveis: o do capim, o da terra depois da chuva, o do estábulo onde se ia de manhã bem cedo tomar o leite tirado da vaca, ainda morno, numa canequinha de alumínio. E o cheiro da tangerina? Aliás, tangerina não, mexerica; aquela pobrinha, modesta, de casca fina, que deixava a mão cheirando durante três dias. Esse é um cheiro muito alegre. O cheiro do bolo saindo do forno é para sempre – bolo de tabuleiro, cortado em losangos, com cobertura de açúcar com limão, e um detalhe precioso: naquele tempo, por mais que se comesse não se engordava, e em cima da mesa havia sempre um vidro de fortificante para abrir o apetite. Que felicidade uma infância no interior!

Mas existem outros aromas não ligados ao paladar e também inesquecíveis. O cheiro do mar quando se chega em Salvador – uma licença poética, com licença. E você já teve uma tia-avó que morava numa casa bem arrumada, cujo assoalho era encerado toda semana? O brilho era dado a mão, com uma escova de cabo alto como uma vassoura, e era chegar e ouvir: “Cuidado para não escorregar”. Que cheiro limpo, honesto, que cheiro de gente direita. Será que isso ainda existe?

Mas há também os cheiros angustiantes: os de hospital, de sala de cirurgia. Muito cheiro de flor você sabe o que lembra – melhor não falar disso. E existem os perfumes ricos: de carro novo, de um bom fumo de cachimbo. E vamos combinar: cheiro de alho é bom na cozinha, de sexo no quarto, e é proibido misturar. Por falar nisso, o cheiro do homem que se ama, depois do amor, é melhor nem lembrar para não desmaiar de saudade.

As cidades também têm seu cheiro, cada uma muito particular: se você for levada, de olhos vendados, para o Bloomingdale’s, sabe na hora que está em Nova York. E se respirar um aroma de cominho misturado a curry e a canela vai saber que está no souk de Marrakesh.

Mas existe um cheiro que só as mulheres conhecem. É o que elas sentem quando estão enxugando seus bebês depois do banho. É preciso que não haja uma só pessoa por perto num raio de 200 metros para não haver interferência de qualquer ordem. Sem nenhuma presença estranha – nem mesmo a do pai –, mãe e filho poderão dizer bobagens e rir de coisas que só eles vão entender. Depois do talco, a mãe vai botar o nariz no pescoço de sua cria e cheirar com todos os seus cinco sentidos. No princípio timidamente, mas cada vez mais forte, até quase arrebentar os pulmões de tanto amor. Na hora a gente não sabe, mas um dia vai saber: não existe nada igual a esse cheiro nem a esse momento, e nunca vai haver um melhor. Porque esse é o cheiro da vida.

Danuza Leão é cronista, autora de vários livros

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Eu te amo - Nadia Foes


São três palavras que podem fazer toda a diferença. O personagem de Wallace Stegner no seu magistral Ângulo de Repouso coloca em questão as cartas trocadas pela sua avó há cem anos. A dúvida é se entre as duas amigas, Susan e Augusta, houve ou não algo mais que uma simples amizade. Se sua avó era ou não homossexual. Considerando que o personagem em questão é um professor de história aposentado precocemente. Contemporâneo que dá um mergulho no passado em busca de fatos da vida de sua avó. Nas cartas Susan se dirige à amiga de forma carinhosa e se despede com um “eu te amo”. Eu também digo “eu te amo” para todos os meus amigos porque eu realmente acredito em várias formas de amor. Eu amo meu cardiologista, eu amo minha dermatologista, eu amo a empregada de minha filha pelo carinho que dispensa a minha filha e netos, amo meus familiares e costumo me dirigir as minhas amigas com um “querida” e me despeço com um “eu te amo”. Pois agora estou empenhada em ensinar a minhas netas a importância de dizer “eu te amo”. Não saio por aí distribuindo o “eu te amo” como se fosso panfleto. Estas palavras devem ser pronunciadas com muita responsabilidade. Se todos aprenderem dizer “eu te amo” nosso mundo será muito melhor. Aproveita e pegue o telefone e diga para seus amigos “eu te amo” antes que seja tarde. Vamos exercitar nossa capacidade de amar, de afagar, de dar um abraço apertado. Amar é de graça e só faz bem. Vamos distribuir uma bula de amor. Indicação: tristeza, solidão, doenças em geral, distância de amigos, amargura, coração apertado, boca amarga, falta de energia vital, isolamento, raiva, inveja. Guarde seus afetos em lugar fresco e seco. Composição: amor, aura e mais amor igual amor. Não mantenha este medicamento longe das crianças ou animais domésticos. Este medicamento não tem efeito colateral, pode ser usado com adultos, crianças e idosos. Modo de usar: dose mínima, de hora em hora diga “eu te amo”. Superdosagem: use à vontade. Reações adversas: não tem. Precauções: vá em frente. Contra Indicações: não tem. Ação esperada do medicamento: alegria, retorno amoroso, felicidade, pele brilhante, cabelos idem, rejuvenescimento, paz de espírito. Interrupção do tratamento: não interromper, uso contínuo. Ingestão concomitante: com outras substancias todas as pesquisas comprovam pode fazer uso sem preocupação. Prazo de validade: infinito. Este é um medicamento se não souber usar procure um psiquiatra pois você pode estar precisando e não sabe o que está perdendo. Não existe beleza maior que o amor fraterno. Talvez você venha a se deparar com situações ridículas. Uns tempos atrás um jovem me perguntou porque você me trata tão bem. A pergunta foi formulada de modo impertinente. Respondi: porque exatamente neste momento eu espero que alguém a milhares de quilometro de distancia esteja fazendo o mesmo pela minha filha. Lembre-se, quem não recebeu amor não sabe dar, não sabe amar.
“Os temas é que escolhem o escritor. Tenho sempre a sensação de que haviam certas histórias que eu tinha que escrever, que não havida jeito de evitá-las, mas existe um elemento muito difícil de ser captado por um leitor médio: o narrador de uma história não é nunca o autor. É sempre uma invenção.” (Mário Vargas Lhosa)

Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Entrei com “Dengue” e saí com “Virose”... - Ana M. R. Campos

A desconsideração das varáveis sócio – econômicas explica em grande parte o malogro total ou parcial dos planos de saúde.”
 
Carlos Gentile de Mello – Sistema de Saúde em Crise
 
Um dos cruéis momentos de nossa vida, é quando temos que enfrentar e vivenciar situações de calamidade pública despreparo e falta de responsabilida de uns aos outros. E é na pele, que sentimos por nós, pelos irmãos, que não têm condições financeiras para receber e com dignidade, um tratamento, que condiz ao respeito humano.
Estar ou não com “Dengue” ou “Virose”, é um caso a parte. O mais importante, é deixar bem claro, a panacéia ocasionada pelo tão poderoso “Aedis Egipity” e que não conseguimos vencê –lo. Permanece a batalha invencível do nosso dia – a – dia e sem termos mais a quem apelar para sanar ou prevenir contra as doenças de toda espécie, que destroem o povo brasileiro.
Os hospitais lotados de pacientes, que aguardam e às vezes morrem, por um atendimento; por outro lado, plantas, entulhos nos quintais, pratinhos de vasos com flores, que nos alegram desde cedo a viver a vida, bueiros, fossas, caixas d águas e outros locais, são dominados por esse tão pequenino mosquito, causador de tanta doença, e é ele, apontado como o culpado. É impressionante!
E é justamente, nessa hora, que nos sentimos acuados, frágeis, sem ação e completamente sem forças para se fazer algo em troca. Ainda bem que, hoje utilizamos do teclado do computador, internet (e não mais a pena da caneta) para  expressarmos nossas alegrias, tristezas, frustrações e decepções.
As medicinas, os médicos, não têm culpa, quando se deparam com um caso clínico de “Dengue”. A clínica médica diagnostica, o laboratório confirma e prova por meio de exames, o diagnóstico médico, e o paciente sofre e aguarda os resultados e as soluções frente aos seus problemas de saúde. (no caso aqui, a dengue)
Antigamente, o médico era clínico de verdade, tratava com precisão, e o seu diagnóstico também era preciso. O juramento de Hípócrates era o que prevalecia em seu exercício, na profissão: “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar – me – ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar – me, suceda – me o contrário.” ( Hipócrates, 450 a . C)
Hoje constatamos que, existe uma demanda muito grande de laboratórios espalhados por esse Brasil afora. Muitas vezes, o resultado do diagnóstico clínico não se coincide com o resultado do laboratório. Segundo pesquisas, seriam os erros laboratoriais. “Deixamos bem claro, que os laboratórios clínicos desempenham um papel fundamental no suporte às decisões médicas”. Os erros variam entre 54.5% e 88.9%, total de incidentes. (fonte: Saúde e Clínica para todos)
Para as autoridades competentes, tudo isso passa batido. Existe uma pesquisa rolando em um meio de comunicação, (TV) a fim de se eleger o homem mais poderoso do Brasil. Quem sabe é a nossa hora de acertar, hein!. Torçamos por isso, pois só assim, quem sabe, conseguiremos vencer o “mosquito da dengue”.     
E ao ser apontado o vencedor do concurso, quem sabe conseguiríamos um saneamento básico; quem sabe diminuiríamos a pobreza e a miséria; quem sabe não teríamos tantas injustiças ao lidar com o ser humano; quem sabe subiríamos na escala pelo critério da classificação de renda; quem sabe a Saúde passaria a ser prioridade...
A saúde no Brasil capenga, ela já nasceu doente. Pobres de nós, brasileiros, que vivemos em uma sociedade, que ainda acredita em história da Carochinha, do país do faz de conta, e que estamos “deitados eternamente em berço esplêndido”.
“Entrei com “Dengue” e saí com “Virose”, continuará. O mosquito ao nosso redor, a nos ameaçar e à nossa saúde.
O quadro da saúde pública e particular da nossa população, é sem dúvida alguma, gritante, permeado pela hipocrisia. Com isso, necessitamos de uma atuação mais radical e geral de toda a sociedade brasileira. Está em nossas mãos, aqui, e agora... O VOTO.
 
 
Ana M. R. Campos
Natural de Uberaba – MG, reside em  Ituiutaba – MG – Professora, formada em Licenciatura em Letras pela UEMG – Pós Graduação em Filosofia.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Olhar Urbano - Desprendimento ( Teresa Santos )


E eu o deixei ir. Não tinha mais jeito.
Ou o eliminava do meu coração ou piraria. E ficar louca de amor, não estava em meus projetos de vida.
Vi que ele nunca soube avaliar a ternura, o carinho e o amor  a ele destinados, desde praticamente sempre.
Fui para ele apenas um passatempo. Uma companhia para diminuir a solidão de duas pessoas maduras e que poderia ser descartada a qualquer hora.
Há algum tempo pude ter a exata dimensão do acontecido: tornei-me somente o preenchimento de um vazio.
No entanto, em minha cabeça, aquele "carinho" - que ele parecia demonstrar por mim - tinha outro significado. E me enganei.
Confesso que me desprender foi um grande exercício de humildade e perserverança.
Somente quem já amou alguém de verdade pode avaliar o que senti.
Até que o Destino sabiamente cortou os laços que nos " uniam".
Foi muito duro abrir os olhos e tirar aquela névoa adolescente que achava ter encontrado seu princípe encantado. Foi muito duro ver que o principe estava mais para sapo do que para qualquer outra coisa.
E tudo isso - hoje reconheço - só teve uma única culpada: eu.
Idealizei um homem que não existia. Joguei fichas em quem não merecia. Amei uma ilusão. E as ilusões, costumam ferir muito,  quando acabam.
Saí muito ferida. Hoje sei que foi exclusivamente culpa minha. Se eu tivesse sido um pouquinho mais racional teria visto que aquele "relacionamento" era uma grande farsa.
Foi necessário, no entanto, passar por tudo que passei. E da forma mais cruel possível.
Enquanto isso, a outra extremidade dava às costas e partia para uma nova conquista.
Ainda fiquei - alguns meses- em estado de estupefação. Procurava entender o inexplicável.
E eis que algo aconteceu.... D´us presenteou a minha vida.
E a partir deste bonito presente constato que o melhor estava por vir.
Quanto ao outro, ficou no passado. E lá pretendo deixá-lo para sempre.
 
Teresa Santos, 60 anos, paulistana. Aposentada, mas na ativa. Formada em Letras pela Universidade São Paulo. Gosta de estudar idiomas, de viajar, de ler  e de observar o mundo. Considera o ser humano a melhor personagem para seus escritos. É grata à vida  e se considera uma pessoa feliz.

domingo, 1 de abril de 2012

O clube dos gênios mortos - Zuenir Ventura

Heleno de Freitas, Raul Seixas e Chico Anysio. O primeiro no futebol, o segundo na música e o terceiro no humor. Os dois primeiros foram tidos como loucos, o terceiro, como normal, o que dificulta a caracterização dos tipos a que chamamos de gênios. Podem ser esquisitos ou malucos, mas podem ser também gente como a gente, aparentemente. Em menos de 15 dias estive em contato com os três: dois na tela grande — "Heleno", de José Henrique Fonseca; "O início, o fim e o meio", de Walter Carvalho — e Chico em todas as TVs, jornais e revistas do país.

Não vi Heleno jogar, só ouvi (sou da época em que se ouvia, mais do que se via futebol), mas ele foi meu ídolo, mesmo sendo botafoguense incurável, tanto quanto a doença que o matou. Raul também só conheci de ouvido. Embora eu tivesse lido muito sobre eles, os filmes me foram indispensáveis para a compreensão desses trágicos personagens. Não concordo com os que acham que Heleno foi o precursor de bad-boys ou rebeldes sem causa como Edmundo. Há pelo menos uma diferença: mesmo bebendo e cheirando éter, Heleno, o angustiado perfeccionista, só fez mal a si mesmo. Sem sífilis e com barba e cabelos grandes, ele estaria mais para contestadores como Sócrates e como Afonsinho, outro botafoguense maltratado pelo clube de Dapieve e Sérgio Augusto.


Em relação a Raul, o documentário de Walter, que é também o extraordinário fotógrafo de "Heleno", desfaz o mito que atribui sua genialidade às drogas (impressionante a revelação de Paulo Coelho de que ele, o mago, foi quem iniciou o parceiro no vício). O compositor foi genial apesar delas, que, junto com o alcoolismo e a pancreatite, só serviram para abreviar sua vida. Heleno e Raul pertenceriam à categoria dos "iracundos", dos seres radicalmente inconformados, na qual o antropólogo Darcy Ribeiro se incluía e incluía Glauber Rocha.


De Chico Anysio também não fui próximo, a não ser por meio de seu irmão Zelito, meu amigo. Graças a isso, tive o privilégio de passar alguns fins de semana no sítio da família e, em uma dessas vezes, pude observar que o inacreditável criador de mais de 200 tipos (Fernando Pessoa criou 68 e quatro heterônimos) não correspondia à expectativa de que profissional do riso tem que fazer graça o tempo todo. Não ri uma vez sequer com ele, só com o irmão cineasta, que, esse sim, parecia o humorista da família.


O que se pode concluir desses exemplos é que não há receita para a matéria-prima com que são feitos os gênios. Trata-se de um enigma. O que há de comum é o fato de que cada um é uma matriz, um padrão original, uma fôrma que não consegue ser replicada. Em outras palavras, eles são aqueles raros exemplares que vieram ao mundo para serem fundadores de novos modos de proceder em qualquer ramo de atividade.