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segunda-feira, 27 de maio de 2013

A menina que morou na ladeira - Nadia Foes

Um dia, tem sempre um dia, a menina cresceu e criou asas, mas só a sua mãe não via. Não via porque não queria ver. Adolescente quando cria asas cabe aos pais deixar que o destino se cumpra, pois um dia a filha será mãe.
 A menina resolveu se resolver já que para sair voando para o mundo, só terminando a faculdade. Ela tratou de fazer dois semestres em um. O acordo era esse. E lá se foi a menina para outro país. Poderia ser outro estado, mas não, ela queria ir mais longe.
Foi no mês de agosto e em outubro estava de volta para fazer o visto de estudante e disse que ia estudar lá e logo estaria de volta para aplicar no pais dela tudo o que iria aprender lá fora. Chegou dezembro ela voltou. Mas já chegou meio sonhadora, a menina esta mudando. A mãe pensou: ela precisa ser livre para existir.
Não teve cobranças. Passou o Natal e o Ano-Novo e lá se foi. No ano seguinte chegou saltitante e só no meio do ano. E depois voltou para o Natal e Ano Novo. Era outra pessoa; estava encantada com tudo: curso, trabalho,a cidade onde estava vivendo, os olhos brilhando. Já não queria sair de casa com os amigos, dava desculpas.
Dizia: vim para ficar com meus pais, eu sou o presente deles. E se foi novamente. Em maio voltou com o namorado para apresentar à família. E a mãe entendeu: o elo estava fechado. Sua menina não era mais menina, era uma linda mulher e sabia o que queria e o que ela queria tinha um nome: era um irlandês de olhos cor de água, muito bem treinado para agradar. E isso ele fez com competência e porque ele também queria a linda mulher que agora está ao seu lado.
Este ano ela apareceu, ficou alguns dias. Agora já um profissional na sua área, tem compromissos, compraram uma casa e ela está com sina de passarinho, arrumando seu próprio ninho. E a mãe ficou com o ninho vazio porque é assim quando os filhos partem e a história sempre se repetirá, porque eles crescem muito rápido e a gente não se dá conta que estão com asas prontas para voar. Voe alto minha menina, voe em todas as direções e se o destino dos pais é a solidão, assim é a vida, mas que eles nos deram muitas alegrias, ah! Isso eles deram.
Mesmo o amor a distancia vale a pena. Como diria Fernando Pessoa: valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena!
A menina foi, viu e venceu. Agora ela não mora mais na ladeira, mora de frente para o canal onde pode ver os barcos passarem, pois ela não vive longe do mar. E está feliz com o príncipe de olhos cor de água. E a mãe reza pelos dois. Mãe que é mãe deve rezar muito e se não de certo é porque rezou pouco. Então reza mais!!!
 - Perfil do Autor:
Pintora, escultora, ourives, escrivinhadora, restauradora de bens móveis, apaixonada por literatura, pelas artes em geral, dando preferencia à cinema, teatro, música. Gosta de viajar, de animais domésticos, de gente bem humorada, mas se dá bem também com os que estão de mal com a vida.

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