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quarta-feira, 9 de março de 2011

Os Ladrões, ótimo texto de Mário Prata

Definitivamente não se fazem mais ladrões como antigamente. Meneghetti, Sete Dedos. Eram homens de bens, conhecidos, respeitados. Poucos, mas bons. Profissionais. Alguns assaltavam de terno e o colarinho não era branco. Sapatos engraxados.

Em primeiro lugar, não eram assassinos. Não entravam nos lugares dando tiro pra tudo quanto é lado. E nem estupravam. Muito menos batiam. Respeitavam as vítimas. Um deles, o Bandido da Luz Vermelha, andou transando com algumas das assaltadas. Mas por que era belo, educado, sabia fazer a coisa. Muitas se apaixonavam por ele. Pediam para ele voltar. Eram ladrões de Primeiro Mundo, primeiro time. Gente fina mesmo.

Os ladrões de antigamente apenas roubavam casas. Usavam pé-de-cabra, lanterna e máscaras. Quer coisa mais romântica do que um ladrão de máscara? Mas não eram essas meias de mulher que os ladrões de hoje usam. Eram máscaras mesmo. Como as do Zorro. Preta, cobrindo só o rosto. A boca livre para o diálogo, um sorriso e um muito obrigado. Alguns, mais sofisticados, usavam máscara dourada. O Brasil era um baile à fantasia, naquele tempo.

Eram profissionais da gatunagem. Agiam sorrateiramente, como gatos. Daí o simpaticíssimo nome de gatunos. Ou larápios. Ou, para ir mais longe, amigo do alheio. E não inimigo, como hoje em dia. Eram respeitados pelos vizinhos. Tinham família, pagavam Imposto de Renda. Não se drogavam. Não roubavam dos pobres e nem dos camelôs.

Eram organizados. Faziam planos, estudavam a casa a ser assaltada, trabalhavam só na calada da noite, de preferência com Lua Cheia. Eram hábeis, não arrebentavam nada, não quebravam. Fechavam a gaveta, depois.

Também assaltavam bancos. Mas sem seqüestros, tiroteios ou tapa na cara. Vez ou outra, um trem pagador. Alguns, nem armas usavam. Era no gogó mesmo.

Naquele tempo a prisão de um ladrão era caso raro e bem noticiado. Ele dava entrevistas de cabeça erguida e não falava menas. Tinha – aqui no Brasil – ladrão de origem italiana, japonesa e até argentinos.

Eram poucos os nossos ladrões. E eram presos, julgados e condenados. Tudo dentro da lei, da ordem e do progresso.

Hoje são muitos os nossos ladrões. E não são presos, nem julgados e nem condenados. Vários deles são candidatos a cargos públicos e eleitos. E ai de quem chamar algum deles de nefasto. Esse sim, é condenado.

Hoje usam colarinho branco ou azul clarinho. Não roubam mais casas e nem usam máscaras, apesar de serem mascarados e nunca desmascarados.

Hoje temos dois tipos de ladrões no nosso Brasil. O que rouba milhões e o que rouba migalhas. Os primeiros, profissionais. Os segundos, a cara do País. São incapazes de roubar um toca-fita sem destruir todo o painel do carro. Não conseguem nada sem porrada. Tremem na hora do trabalho. Matam por migalhas. Fazem cocô no meio da sala, só de sacanagem. Amadores com dor de barriga.

Os ladrões dos milhões são bem mais sofisticados. Matam indiretamente. Jamais apertam um gatilho. Preferem supervalorizar obras. Como viadutos, que servem para abrigar os ladrões das migalhas.

Não se rouba em quantias, mas sim em porcentagens. Não usam mais o pé-de-cabra, nem são mais cabras da peste. São apenas uma peste. 
Mário Prata

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