Quando estava trabalhando no site da Igreja Nossa Senhora das Dores, tive acesso aos arquivos fotográficos do IPHAN e do projeto Monumenta de Porto Alegre. O Monumenta é um programa federal de recuperação do patrimônio cultural urbano brasileiro, executado pelo Ministério da Cultura e financiado pelo BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento. Aqui em Porto Alegre, é responsável pelas obras de restauro da Biblioteca Pública do Estado, Igreja das Dores, MARGS e também sobre obras do patrimônio tombado da cidade. Claro que, com recursos, fica mais fácil resguardar a história da cidade, que também é repleta de documentos incríveis, como essas fotografias.
Conversando com Glaci Braga, numa manhã de trabalho nas Dores, descobri que o Monumenta tinha fotos de escravos libertos - os primeiros escravos libertos de Porto Alegre. Prontamente, ela conseguiu as fotos digitalizadas e me enviou os arquivos. Tive vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, porque acho que a história tem sim que estar ao alcance de todos e porque jamais achei que iria ver imagens tão raras.
Imagem: Arquivo do projeto Monumenta
Essa aí é uma das imagens do nosso nada glamouroso porto, por onde chegavam mantimentos para quem morava na jovenzita Porto Alegre. Muita coisa chegava de barco ou navio - e as primeiras pessoas que tinham pouco - ou quase nenhum - dinheiro foram para as margens do Guaíba, mais especificamente para a Ilha dos Marinheiros, onde a população ainda hoje é grande. E ainda bem necessitada de amparo. As vilas de Porto Alegre também tem muita falta de infra-estrutura, saneamento básico, planejamento urbano, mas nada comparado ao que conheci nas ilhas, nosso primeiro reduto de miséria da cidade.
Imagem: Arquivo do projeto Monumenta
Na época da Abolição da Escravatura, os escravos passaram a poder ser fotografados. Mas com uma restrição: sem sorrir. As fotos deveriam ser apenas documentais. As fotos, normalmente, eram tiradas no dia da libertação deles. Esse casal me comove. Estão unidos, segurando as mãos, mas com um olhar perdido, desnorteado.
A seguir, algumas das fotos que os fotógrafos da época registraram. Para quem quiser ver maior, é só clicar nas imagens.
Imagens: Arquivo do projeto Monumenta
Se tu ampliares esta última, vai ver as muitas marcas no rosto do escravo recém-liberto. E essa aqui de baixo... não tem palavras para descrever. Lembrem-se: não era permitido que os escravos sorrissem para a câmera.
Via http://oportuario.blogspot.com/2011/03/um-porto-diferente.html
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