Igual a todos os trabalhadores do mundo, eu também chegava em casa cansado e me jogava no sofá, e ligava a TV para saber das últimas notícias do dia. Naquela noite não estava sendo diferente, ate ser interrompido por meu filho, na época com 5 anos, que ao me ver chegar correu pedindo-me atenção. Sem paciência, e me sentindo exausto, peguei um pedaço de papel e lápis e pedi que ele fizesse algo enquanto eu via mais uma vez o repórter, com as mesmas manchetes, e os mesmos entraves políticos. Volta e meia, ele me interrompia me fazendo perguntas sem nexo, tipo:
-Papai como se escreve “UE”? Papai como se escreve “OMA”
-Filhinho, respondi com pouca paciência, papai ta vendo o repórter e ta cansado depois você pergunta, o que quiser... Lu estava na cozinha preparando algo para jantar, também trabalhava durante o dia, e chegava a casa pouco antes de mim, Silvia no quarto dela arrumando seus brinquedos e eu e o “Chato” do Renato na sala, eu querendo ver o repórter, e ele querendo escrever o que ainda não sabia (escrever).
A gente não percebe o quanto de errado nos comportamos em família. E muito comum colocarmos a culpa nos meios de comunicação, na modernidade, na violência urbana, etc. Mas não reconhecemos, que muito do que podemos mudar... esta bem ali - diante dos nossos olhos, logo abaixo do nosso nariz. Estamos presos aos “nossos” problemas, as nossas responsabilidades, e a tudo que nos cerca “fora” do lar.
Na vida moderna, onde homem e mulher trabalham, para melhorar a parte financeira da casa, esquecemos que pagamos um alto preço pelo que deixamos de administrar em família, e delegamos a outros, aquilo que é de nossa inteira responsabilidade - educar e amar nossos filhos.
Tantas vezes insistiu, e tantas vezes ficou sem resposta... que acabou adormecendo em meu colo sobre o sofá, enquanto eu ainda via a TV.
Lu me avisou que a janta estava pronta, então delicadamente, peguei-o no colo e ia me dirigindo ao seu quarto, quando um papel, o mesmo que eu havia dado para ele se distrair, caiu no chão, curioso, peguei o papel ainda antes de levá-lo para a cama, e li o que me parecia IMPOSSIVEL, pois o Renato ainda não sabia escrever, estava na alfabetização, aprendendo o som das letrinhas. “Papai eu te amo”. Como um soco aquilo me atingiu em cheio. Dentro do seu pequeno mundo, tentando demonstrar seus sentimentos, e era ignorado por mim, na troca de um simples programa de TV, que se repetem todos os dias - enquanto momentos como esse eu nunca mais tive. Carinhosamente eu o apertei em meus braços e velei seu sono por muito tempo.
A janta esta esfriando, falou minha esposa...
OS: Mandei emoldurar esse texto, junto a uma foto sua, e até hoje me emociono ao ver tanta espontaneidade ignorada por mim...
2 comentários:
Texto emocionante! Isso acontece em todas as famílias, infelizmente, e mesmo que a gente saiba de experiências assim e já tenha passado por elas, voltamos a repeti-las.
Com os nossos momentos são intensos e graças a Deus podemos refazer, em qualquer tempo, as nossas ações mal-sucedidas. Acredito que seu filho tenha o maior orgulho de você e que para ser pai ele lhe vê como a grande referência. Obrigada por ter tido a coragem de postar esse momento marcante na sua atuação como pai!
Marilene
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