Só faltou mesmo caminhar sobre as águas. O ex-capitão do Exército britânico Ed Stafford, de 34 anos, terminou ontem, após quase dois anos e meio, uma das últimas grandes aventuras ainda inéditas — e por muitos considerada impossível — na Terra: andar toda a extensão do Rio Amazonas, o maior do mundo, da nascente à foz. O périplo começou em Monte Mismi, no Peru, em 2 de abril de 2008. Dispensando a ajuda de eventuais canoas, barcos ou balsas, mesmo quando era preciso cruzar o rio, Stafford levou 859 dias para cortar seu caminho de 9,5 mil quilômetros por dentro do “inferno verde” da densa selva amazônica. No percurso, contabilizou mais de 50 mil mordidas de insetos, dezenas de ferroadas de vespas, duas picadas de escorpiões, ataques de piranhas e cobras venenosas, perseguição de índios e até duas acusações de assassinato.
— É inacreditável estar aqui.
Isso prova que você pode fazer qualquer coisa, mesmo quando as pessoas dizem que não pode — afirmou logo após molhar os pés no Oceano Atlântico na Praia de Marudá, no Pará.
Stafford iniciou a saga acompanhado do amigo Luke Collyer.
Três meses depois, porém, o amigo não suportou e desistiu.
Mais dois meses se passaram até que ele encontrasse outro companheiro de viagem: o peruano Gadiel “Cho” Sanchez Rivera, 31 anos. Inicialmente, Rivera guiaria “este homem louco” por cinco dias através de um trecho de 50 quilômetros de floresta infestada por traficantes de drogas e tribos hostis, mas acabou “gostando da vida simples” e decidiu segui-lo até o fim.
— Nunca fiquei tão cansado e exultante em toda a minha vida.
Passamos por algumas situações sérias e houve momentos em que realmente tememos por nossas vidas, mas nunca pensamos em desistir — afirmou.
E perigos não faltaram, alguns bem diferentes dos costumeiros onças, jacarés e obstáculos naturais. No Peru, encontraram uma tribo que ainda hoje teme os homens brancos, aos quais imputam crimes como sequestro de bebês para tráfico de órgãos. Ainda no país, na localidade de Rieno Unido, foram presos, acusados pelo assassinato de um homem que desapareceu pouco antes de sua chegada. Provada sua inocência, seguiram viagem um dia depois. Mas o momento mais assustador, admite Stafford, foi quando foram perseguidos e capturados por índios ashaninkas.
— No início, a Amazônia era assustadora, mas nossa visão foi mudando durante a expedição.
O que antes era um lugar misterioso e perigoso agora é um local onde nos sentimos seguros.
Nunca tivemos noites tão relaxantes quanto as que sentamos em volta da fogueira sozinhos no meio da selva — disse.
Num viés moderno para uma epopeia clássica, porém, os dois não estavam exatamente sós o tempo todo. Com um telefone via satélite na bagagem de cerca de 40 quilos, Stafford alimentou um blog e páginas em redes sociais com informações sobre a aventura, que por pouco não teve um final feliz. A 24 horas da chegada, ele desmaiou na beira de uma estrada e cogitou pedir a ajuda de uma ambulância, mas reuniu suas últimas forças para o trecho final. Terminada a saga, seus desejos são simples: — Humor britânico, garotas, rúgbi, beber com os amigos e comer peixe com batatas
Um comentário:
Tem gosto pra tudo, né não???
Postar um comentário