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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Cérebro recicla funções para aprender a ler


A pesquisadora Lucia Braga analisa imagens feitas por ressonância magnética no Centro Internacional de Neurociências, em Brasília


Pesquisa realizada em conjunto pelo Brasil, França e Portugal revela os mecanismos que entram em ação na hora da leitura e conclui que adultos não têm mais dificuldades que crianças 

A pesquisadora Lucia Braga analisa imagens feitas por ressonância magnética no Centro Internacional de Neurociências, em Brasília

Faz pouco mais de 5.000 anos que a escrita foi inventada. Não deu tempo para que o cérebro evoluísse a ponto de dedicar uma área exclusiva para a leitura. Então, como aprendemos a ler? Segundo uma pesquisa realizada em conjunto por cientistas brasileiros, franceses e portugueses, nosso cérebro recicla funções diferentes para aprender a ler. O estudo, publicado na edição desta semana da revista americana Science, uma das mais respeitadas no mundo, foi o primeiro a demonstrar o impacto da leitura no cérebro.
“O que a gente descobriu é que áreas do cérebro destinadas a outras funções são recicladas para atender a uma demanda social e cultural”, afirma a neurologista Lucia Braga, pesquisadora do Centro Internacional de Neurociências da Rede Sarah, e uma das coordenadoras do estudo, em entrevista ao site de VEJA.
No caso da leitura, o cérebro ativa a área visual e a área destinada à linguagem. Esse campo, localizado no lado esquerdo do lobo occipital, na parte de trás do cérebro, foi batizada de 'área visual da forma da palavra'. É ela que responde, depois da alfabetização, aos estímulos ortográficos. Enquanto aprendemos a ler e escrever, as atividades mais antigas, como o reconhecimento de imagens, sofrem redução em favor da leitura. Ou seja, um efeito colateral de aprender a ler é uma piora no reconhecimento de faces. Por isso, ao ver uma palavra, um analfabeto só ativa a área visual do cérebro, enquanto uma pessoa alfabetizada ativa a área ligada à linguagem.
Combate ao analfabetismo — As descobertas do estudo, que começou no início de 2007 e ficou pronto há dois meses, foram feitas por meio da análise de imagens captadas por ressonância magnética de 41 brasileiros (10 analfabetos, 10 pessoas alfabetizadas na idade adulta,  11 pessoas com menos de 12 anos de escolaridade e outras 10 com mais de 16 anos de escolaridade) e 22 portugueses.
Durante a ressonância, o cérebro dos participantes do estudo eram estimulados com frases faladas, escritas, palavras, desenhos, faces e palavras falsas. Com base nessas imagens, foi possível descobrir que aprender a ler muda as conexões cerebrais nas áreas da visão e linguagem.
A pesquisa ainda descobriu que a alfabetização no adulto liga as mesmas áreas que durante a infância. Uma prova de que não é mais difícil aprender a ler na idade adulta. “Isso mostra a importância de oferecer cursos de alfabetização para adultos”, ressaltou Lucia. O Brasil tem 14,1 milhões de analfabetos, pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler, segundo a última pesquisa divulgada pelo IBGE, este ano. Esse número representa 9,7% da população.

Via Revista Veja

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