quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Família de fino trato - Nadia Foes
O desembargador está caduco, olé, olé, olá! A
molecada da rua passa cantando na porta da residência do próprio! Que sai de
sua casa com chinelo na mão e vociferante tenta apanhar os moleques. Sua mulher
já está cansada dos espetáculos que aquela família anda aprontando e se
resignou na religião, não sai da igreja. Sempre foi católica e cantou no coral.
O desembargador recebeu uma educação rígida, desde menino era circunspecto. A
família achava engraçado um menino tão pequeno e tão responsável; foi um aluno
excelente, colecionava medalhas de mérito. Jovem, nunca incomodou, não teve o
ranço de todo adolescente. Diziam que ele foi adulto antes do tempo. Casou logo
no início da carreira com a primeira namorada. Teve uma vida folgada. Mal entrou
na terceira idade começou o tormento. Pensando bem ele tem razão de sobra para
perder a razão. Seus filhos seguiram seu caminho. Ele quer saber de onde veio
tanta loucura, tanta insanidade mental, pois o louco não é ele! Se bem que já
está se sentindo no limiar da loucura! Tudo começou quando o filho de seu
filho, seu neto, teve um envolvimento com uma jovem senhora casada com o filho
do senador. A mulher perdeu a cabeça e ficou loucamente apaixonada pelo neto do
desembargador. Ela era ciumenta e o rapaz tentou matar a jovem senhora e foi
preso em fragrante. Depois foi seu outro neto que formou uma gangue
unifamiliar, e em um dia calmo quando todos estavam fora, ele abriu a porta do
apartamento do vizinho do andar de baixo (o prédio tem dez andares e dez
apartamentos). Ele estava mancomunado com seus primos que entraram no
apartamento e fizeram um arrastão. Como foi fácil, na semana seguinte eles
elegeram outro andar para assaltar. Se deram mal, o vizinho preocupado e
desconfiado colocou câmara filmadora e o porteiro viu que o apartamento estava
sendo assaltado, chamou a polícia que prendeu todos os aprendizes de bandido.
Todos eram menores de idade e foram algemados no prédio. Logo após foi a filha
de seu filho caçula, moça de fino trato e finória que invadiu a residência de
seu amante onde realizou uma festa e tanto. Ela tinha a chave da casa, estava
acostumada a dormir lá algumas vezes. Os vizinhos ouviram barulho e chamaram a
polícia. Esta rolando o maior barato que virou barraco. O dono da casa chegou e
como era secretário de estado e tinha uma reputação a zelar, entrou com um
processo contra a moça que por sua vez era casada e com quatro filhos pequenos.
Suas netas gêmeas, filhas de sua única filha, meninas bonitas, finas, educadas,
foram estudar na Europa. Um amigo do desembargador foi para Barcelona e foi com
a sua mulher conhecer a noite e sua mulher reconheceu as moças que eram
dançarinas. Preocupada, a ilustre senhora foi falar com as jovens na saída da
boate. A noite estava fria, porem ela não arredou o pé até ver as duas saírem
da boate. Estava com medo da máfia, pois a máfia eram as próprias meninas que
reconhecendo a amiga de sua avó convidaram o casal para outra casa noturna em
que trabalhavam. O casal aceitou o convite e na noite seguinte estavam a
postos. As meninas faziam strip-tease na tal casa noturna que era um
inferninho. Na hora da saída o amigo do desembargador foi assaltado e sua
mulher foi espoliada de suas jóias. Levaram até a aliança de casamento. O
último neto abandonou a faculdade para ser distribuidor de drogas que eram
fabricadas na casa de praia do avô. A polícia foi avisada porque os vizinhos
estavam preocupados com o entra e saia e como conheciam o histórico familiar e
pensando que o avô era sócio dos netos, resolveram o impasse chamando a polícia
federal. Com todos esses contratempos, o desembargador quer porque quer saber
de onde veio esta maldita loucura pois do lado dele é que não foi. Ele agora
acusa os familiares de sua mulher que é filha de um ex-governador. Segundo ouvi
dizer, o casal está se separando pois a mulher do desembargador cansada de
tanta falta de vergonha na família, resolveu assumir o seu caso com o pároco
que é pai de seu filho caçula. Os fiéis estão divididos, uma ala acredita no
pároco que se diz inocente, mas a outra jura de pé junto que já viu a ilustre
senhora trocando olhares com o pároco durante a missa das dez. O pároco tem
olhos azuis e o filho caçula da ilustre dama também. O pároco é alto, o filho
caçula da ilustre dama também é alto e seus irmãos são baixinhos como o
desembargador. A senhora em questão jura que a loucura deve ser hereditária,
pois um trizavô do desembargador era maluco, comia casca da banana e jogava a
banana fora.
Restaurandora
de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi
classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros
publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais
domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura,
cinema, e a paixão de escrever.
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Nadia Foes
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Tocando o céu, sem braços
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MULHERES
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
5 acontecimentos inspirados pelo álcool
Foto: Getty Images
Nos seus primórdios, a bebida alcoólica era sagrada. “Diversas narrativas contam as origens míticas do vinho como uma gota de sangue dos deuses que choveu sobre a terra de onde brotou uma videira”, escreve o historiador Henrique Carneiro no livro “Bebida, Abstinência e Temperança -- Na História Antiga e Moderna”. O álcool desenvolveu um papel importante e influenciou vários atos de grandes personalidades ao longo da história – bem mais mundanos, porém, do que sua origem sugere. Com a ajuda de Henrique, selecionamos cinco deles para contar para vocês.
1- Fez Alexandre, o Grande matar o melhor amigo e queimar palácios
Na Antiguidade, os macedônios, assim como os gregos, cultuavam Dionísio, o deus do vinho. Para homenageá-lo, como era de se esperar, bebiam. O conquistador Alexandre Magno (ou Alexandre, o Grande) não escapava à regra e também enchia a cara. Depois de ter entornado muitas taças em um banquete, Alexandre discutiu com Cleitus, um de seus generais mais conhecidos, e, puxando uma adaga de um de seus guarda-costas, acabou assassinando o amigo. Quando percebeu que havia assassinado alguém que tantas vezes o havia defendido da morte, Alexandre se arrependeu e tentou se matar, mas foi contido pelos seus guardas. Mas a estupidez não parou por aí. O incêndio de Persépolis, antiga e opulenta capital persa, é atribuído a outra bebedeira de Alexandre. Numa noite em que os macedônios estavam ocupando a cidade, o conquistador ordenou que os palácios do lugar fossem incendiados.
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CURIOSIDADE,
HISTÓRIA
O Nascimento em 3D - The Secret of life
Via Canal de Lucas66523 no Youtube
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NATUREZA
domingo, 25 de dezembro de 2011
A influência da mídia sobre as nossas vidas. - Network - Mad As Hell (LEGENDADO PT/BR)
Trecho do filme Network que mostra a influência da mídia sobre a vida das pessoas. E sobre como nós aceitamos tantas coisas erradas e ruins devido a essa influência. E para mudar, primeiramente nós temos que procurar verificar o que há de errado e nos enfurecer contra isso. Precisamos repetir o bordão que está no vídeo.
sábado, 24 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Uma maçã por dia ajuda a prevenir o derrame, segundo estudo
Maçãs e peras podem prevenir o derrame, segundo um estudo holandês publicado no jornal "Stroke", da American Heart Association, no qual pesquisadores defendem que comer muitas frutas e vegetais de cores variadas com carne branca pode prevenir a doença.
Os pesquisadores examinaram a relação entre as cores de frutas e vegetais em uma população de 20.069 adultos, com idade média de 41 anos, livres de doenças cardiovasculares no início do estudo. Eles responderam a um questionário sobre a frequência de consumo de 178 alimentos e, segundo os pesquisadores, a cor da parte comestível de frutas e vegetais reflete a presença de fitoquímicos benéficos, como carotenoides e flavonoides.
Frutas e vegetais foram classificados em quatro grupos de cores, sendo verdes os vegetais verde-escuros, alfaces e repolhos; laranja/ amarelo a maior parte das frutas cítricas; vermelho/ roxo a maior parte dos vegetais vermelhos; e 55% dos brancos eram maçãs e peras.
Durante dez anos de acompanhamento, 233 derrames foram documentados. Os vegetais e frutas verdes, laranja/ amarelo e vermelho/ roxo não foram relacionados ao derrame. E o risco de derrame foi 52% menor em pessoas com alta ingestão de vegetais e frutas brancos. Cada 25 gramas diários de frutas e vegetais brancos (também estavam incluídos bananas, couve-flor e pepino - batatas foram classificadas como amido) foram associados a um risco 9% menor de derrame.
Antes que você se anime e saia comendo maçãs e peras todos os dias, a pesquisadora Linda Oude Griep, coordenadora do estudo, alerta que a descoberta ainda deve ser confirmada com outros estudos. Além disso, a redução de derrames deve ser associada a estilo de vida e alimentação.
Fonte: Jornal O Globo
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SAÚDE
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
NOSSA COLUNA VERTEBRAL
Clique no link
http://www.chiroone.net/why_chiropractic/index.html
Passe, lentamente, o mouse ao longo das 24 vértebras da coluna vertebral.
Você verá uma demonstração de como a nossa coluna vertebral afeta todo o nosso corpo.
http://www.chiroone.net/why_chiropractic/index.html
Passe, lentamente, o mouse ao longo das 24 vértebras da coluna vertebral.
Você verá uma demonstração de como a nossa coluna vertebral afeta todo o nosso corpo.
Mova o mouse lentamente sobre imagem da coluna e poderá ver as áreas do corpo que são afetadas.
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SAÚDE
Um casaco de pele como você nunca viu
Surpreendente número de circo.
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PERFORMANCE
domingo, 18 de dezembro de 2011
Jessé - Voa Liberdade
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Adriana Calcanhotto - Do fundo do meu coração
Via Luzia Cristina Silvestre
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MÚSICAS
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
A Morte Devagar – Martha Medeiros
Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.
A escritora Martha Medeiros é natural da cidade de Porto Alegre, nasceu no dia 20 de agosto de 1961. Formada em Jornalismo pela PUC do Rio Grande do Sul, trabalhou com propaganda e publicidade, mas largou a profissão e passou a dedicar-se a poesia.
Atualmente, Martha Medeiros é considerada uma das mais importantes escritoras contemporânea.
Martha tem 19 livros publicados, alguns adaptados para o teatro e o cinema; escreve para o jornal Zero Hora de Porto Alegre e para o Jornal O Globo do Rio de Janeiro. Com muita sensibilidade e propriedade, as crônicas, textos e poesias de Martha Medeiros abordam temas atuais: relacionamentos, amores, família, e todo o universo de sentimentos que norteiam a vida de qualquer ser humano.
“Sou uma mulher madura, que as vezes brinca de balanço. Sou uma criança insegura, que as vezes anda de salto alto.”
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Martha Medeiros,
TEXTOS
De peito aberto - Nelson Motta
Que Praça Tahir que
nada, Ocuppy Wall Street é passado, que indignados conseguem chamar mais
atenção para suas causas? Entre as novas formas de manifestações e
protestos na era digital, a mais sensacional é o coletivo ucraniano
Femen. Mulheres lindas, louras e nuas, ou quase, protestando em via
pública pelas mais variadas causas, não necessariamente feministas. De
peito aberto, elas gritam contra a corrupção, as fraudes eleitorais, a
violência contra mulheres, a prostituição, e ganham espaços
espetaculares na mídia planetária. Os policiais encarregados de
reprimi-las ficam nervosos e cheios de dedos, elas esperneiam e gritam
enquanto eles tentam cobrir a nudez ultrajante com a manta da
hipocrisia. Epa! Nudez ultrajante? Manta da hipocrisia? Menos,
colunista, menos.
As manifestações começaram em Kiev, mas as garotas do Femen ficaram tão famosas que até já atuaram como protestantes-convidadas na Rússia. Se continuarem tão requisitadas para manifestações na Europa, em breve poderão programar uma turnê internacional de protestos. Hoje elas são cerca de 300 militantes na Ucrânia, mas a tropa de choque que vai para as ruas tem 40 ativistas, não por acaso as mais bonitas e com melhores atributos para a missão. Logo se abriu outra discussão entre as feministas, sobre a ausência de barangas no núcleo duro, ou macio, das manifestações. Elas negam e dizem que já houve até uma sexagenária topless. Mas é exceção, a tática é mesmo escalar as mais gatas para chamar a atenção. É um bom uso para a beleza.
Feministas americanas históricas como Betty Friedan e Germaine Greer ficariam histéricas diante das lourinhas e louraças do Femen e seus corpos avassaladores. Não se discutem os méritos das suas causas, mas a eficiência dos seus métodos e práticas, as reações que provocam. Elas invertem o jogo de mulheres nuas como objetos sexuais dos homens, e exercem seu poder exibindo o corpo, não como oferta ou sedução, mas como um veículo de suas vontades. São elas que estão em controle, aos homens resta ficar olhando e desejando - mas terão delas apenas as suas palavras de ordem e seus slogans.
Fonte: Jornal O Globo
As manifestações começaram em Kiev, mas as garotas do Femen ficaram tão famosas que até já atuaram como protestantes-convidadas na Rússia. Se continuarem tão requisitadas para manifestações na Europa, em breve poderão programar uma turnê internacional de protestos. Hoje elas são cerca de 300 militantes na Ucrânia, mas a tropa de choque que vai para as ruas tem 40 ativistas, não por acaso as mais bonitas e com melhores atributos para a missão. Logo se abriu outra discussão entre as feministas, sobre a ausência de barangas no núcleo duro, ou macio, das manifestações. Elas negam e dizem que já houve até uma sexagenária topless. Mas é exceção, a tática é mesmo escalar as mais gatas para chamar a atenção. É um bom uso para a beleza.
Feministas americanas históricas como Betty Friedan e Germaine Greer ficariam histéricas diante das lourinhas e louraças do Femen e seus corpos avassaladores. Não se discutem os méritos das suas causas, mas a eficiência dos seus métodos e práticas, as reações que provocam. Elas invertem o jogo de mulheres nuas como objetos sexuais dos homens, e exercem seu poder exibindo o corpo, não como oferta ou sedução, mas como um veículo de suas vontades. São elas que estão em controle, aos homens resta ficar olhando e desejando - mas terão delas apenas as suas palavras de ordem e seus slogans.
Fonte: Jornal O Globo
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AVANÇO
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Tenho preguiça de sofrer - Zuenir Ventura
Há 26
anos, elas cumprem uma alegre rotina: às sextas-feiras pela manhã sobem a
serra e descem aos domingos à tarde, quando não permanecem a semana
toda lá, em sua casa de Itaipava, distante hora e meia do Rio.
São quatro irmãs de sobrenome
Sette - Mily, a mais velha, de 86 anos; Guilhermina (84), Maria Elisa (76) e Maria Helena (73) - mais a cunhada Ítala (87), a prima Icléa (90) e a amiga de mais de meio século, Jacy (78). O astral e a energia da "Casa das sete velhinhas" são únicos.
Elas cuidam das plantas, visitam exposições, assistem a shows, lêem, jogam baralho, conversam, discutem política, vêem televisão, fazem tricô, crochê e sobretudo riem. Só não falam e não deixam falar de doença e infelicidade.
Nos conhecemos nos anos 70, quando morávamos no mesmo prédio no Rio e Maria Elisa, que é química, passou a dar aulas particulares de matemática para meus filhos, ainda pequenos, de graça, pelo prazer de ensinar.
Depois nos mudamos, continuamos amigos e nossa referência passou a ser a casa de Itaipava, onde minha mulher e eu temos um cantinho, um
pequeno apartamento na parte externa da casa, os "Alpes suíços".
No começo o terreno não passava de um barranco de terra vermelha.
Na parede, Tom Jobim observa tudo. A foto é autografada para Elisa, de quem ele foi colega no Andrews.
Aliás, nesse colégio da Zona Sul do Rio, Guilhermina trabalhou 53 anos, como secretária e professora de Latim, que ela ensinava pelo método direto, ou seja, falando com os alunos. Ficou muito feliz quando na praia ouviu, vindo de dentro do mar, o grito de alguém no meio das ondas,provavelmente um surfista: "Ave, magister!".
Amiga de personagens como o maestro Villa-Lobos, ela ajudou ou acompanhou a carreira de dezenas de jovens que passaram por aquele tradicional colégio, cujo diretor uma vez lhe fez um rasgado elogio
público, ressaltando o quanto ela era indispensável ao educandário. No dia seguinte, ela pediu as contas, com essa sábia alegação:
"Eu quero sair enquanto estou no auge, não quando não souberem mais o que fazer comigo".Foi para casa e teve um choque, achando que não ia suportar a
aposentadoria. Durou pouco, porque logo arranjou o que fazer. É tradutora e gosta muito de etimologia: adora estudar a vida das palavras desde suas origens, principalmente quando são gregas. Ah, nas horas vagas faz bijuterias.
Para explicar como se desvencilhou do vazio de deixar um emprego de 53 anos e começar nova vida já velha, Guilhermina usou uma frase que se aplica a todas as outras seis velhinhas e que eu gostaria de adotar também:
- "Tenho preguiça de sofrer".
Não são o máximo as meninas do Zuenir?
"Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é opcional" (Roberto Shinyashiki)
São quatro irmãs de sobrenome
Sette - Mily, a mais velha, de 86 anos; Guilhermina (84), Maria Elisa (76) e Maria Helena (73) - mais a cunhada Ítala (87), a prima Icléa (90) e a amiga de mais de meio século, Jacy (78). O astral e a energia da "Casa das sete velhinhas" são únicos.
Elas cuidam das plantas, visitam exposições, assistem a shows, lêem, jogam baralho, conversam, discutem política, vêem televisão, fazem tricô, crochê e sobretudo riem. Só não falam e não deixam falar de doença e infelicidade.
Baixaria, nem pensar... Quando preciso tomar uma injeção de ânimo e rejuvenescimento, subo até lá, como fiz no último sábado.
Já viajamos juntos algumas vezes, como a Tiradentes, por cujas redondezas andamos de jipe, o que naquelas estradas de terra é quase como andar a cavalo. Tudo numa boa. Elas têm uma sede adolescente de novidade e conhecimento. Modéstia à parte, são conhecidas como "As meninas do Zuenir". Me dão a maior força.
Quando sabem que estou fazendo alguma palestra no Rio, tenho a garantia de que a sala não vai ficar vazia.
São meu público cativo e ocupam em geral a primeira fila. Numa dessas ocasiões, com a casa cheia, elas chegaram atrasadas e fizeram rir ao se anunciarem a sério na entrada: "Nós somos as meninas do Zuenir".
Já viajamos juntos algumas vezes, como a Tiradentes, por cujas redondezas andamos de jipe, o que naquelas estradas de terra é quase como andar a cavalo. Tudo numa boa. Elas têm uma sede adolescente de novidade e conhecimento. Modéstia à parte, são conhecidas como "As meninas do Zuenir". Me dão a maior força.
Quando sabem que estou fazendo alguma palestra no Rio, tenho a garantia de que a sala não vai ficar vazia.
São meu público cativo e ocupam em geral a primeira fila. Numa dessas ocasiões, com a casa cheia, elas chegaram atrasadas e fizeram rir ao se anunciarem a sério na entrada: "Nós somos as meninas do Zuenir".
Nos conhecemos nos anos 70, quando morávamos no mesmo prédio no Rio e Maria Elisa, que é química, passou a dar aulas particulares de matemática para meus filhos, ainda pequenos, de graça, pelo prazer de ensinar.
Depois nos mudamos, continuamos amigos e nossa referência passou a ser a casa de Itaipava, onde minha mulher e eu temos um cantinho, um
pequeno apartamento na parte externa da casa, os "Alpes suíços".
No começo o terreno não passava de um barranco de terra vermelha.
Hoje é um jardim
suspenso, com árvores e flores variadas que constituem uma atração para
os pássaros. Dessa vez, não cheguei a tempo de ver a cerejeira florida,
mas em compensação assisti a uma exibição especial de um casal de
papagaios. O interior da casa é um brinco, não fossem elas meio
artistas, meio artesãs, todas muito prendadas, como se dizia
antigamente.
Helena e Jacy, por exemplo, tecem mantas e colchas de tricô e crochê que já mereceram exposições.
Mily desafia a idade preferindo as novas tecnologias e a modernidade, sem falar no vôlei, de que é torcedora apaixonada. Sabe tudo de computador e, com Jacy, freqüenta todos os cursos que pode: de francês a ética, de inglês a filosofia.
Helena e Jacy, por exemplo, tecem mantas e colchas de tricô e crochê que já mereceram exposições.
Mily desafia a idade preferindo as novas tecnologias e a modernidade, sem falar no vôlei, de que é torcedora apaixonada. Sabe tudo de computador e, com Jacy, freqüenta todos os cursos que pode: de francês a ética, de inglês a filosofia.
Na parede, Tom Jobim observa tudo. A foto é autografada para Elisa, de quem ele foi colega no Andrews.
Aliás, nesse colégio da Zona Sul do Rio, Guilhermina trabalhou 53 anos, como secretária e professora de Latim, que ela ensinava pelo método direto, ou seja, falando com os alunos. Ficou muito feliz quando na praia ouviu, vindo de dentro do mar, o grito de alguém no meio das ondas,provavelmente um surfista: "Ave, magister!".
Amiga de personagens como o maestro Villa-Lobos, ela ajudou ou acompanhou a carreira de dezenas de jovens que passaram por aquele tradicional colégio, cujo diretor uma vez lhe fez um rasgado elogio
público, ressaltando o quanto ela era indispensável ao educandário. No dia seguinte, ela pediu as contas, com essa sábia alegação:
"Eu quero sair enquanto estou no auge, não quando não souberem mais o que fazer comigo".Foi para casa e teve um choque, achando que não ia suportar a
aposentadoria. Durou pouco, porque logo arranjou o que fazer. É tradutora e gosta muito de etimologia: adora estudar a vida das palavras desde suas origens, principalmente quando são gregas. Ah, nas horas vagas faz bijuterias.
Para explicar como se desvencilhou do vazio de deixar um emprego de 53 anos e começar nova vida já velha, Guilhermina usou uma frase que se aplica a todas as outras seis velhinhas e que eu gostaria de adotar também:
- "Tenho preguiça de sofrer".
Não são o máximo as meninas do Zuenir?
A Máquina de Escrever - Giuseppe Ghiaroni
Mãe, se eu morrer de um repentino mal,
vende meus bens a bem dos meus credores:
a fantasia de festivas cores
que usei no derradeiro Carnaval. Vende ese rádio que ganhei de prêmio
por um concurso num jornal do povo,
e aquele terno novo, ou quase novo,
com poucas manchas de café boêmio.
Vende também meus óculos antigos
que me davam uns ares inocentes.
Já não precisarei de duas lentes
para enxergar os corações amigos.
Vende , além das gravatas, do chapéu,
meus sapatos rangentes. Sem ruído
é mais provável que eu alcance o Céu
e logre penetrar despercebido.
Vende meu dente de ouro. O Paraíso
requer apenas a expressão do olhar.
Já não precisarei do meu sorriso
para um outro sorriso me enganar.
Vende meus olhos a um brechó qualquer
que os guarde numa loja poeirenta,
reluzindo na sombra pardacenta,
refletindo um semblante de mulher.
Vende tudo, ao findar a minha sorte,
libertando minha alma pensativa
para ninguém chorar a minha morte
sem realmente desejar que eu viva.
Pode vender meu próprio leito e roupa
para pagar àqueles a quem devo.
Sim, vende tudo, minha mãe, mas poupa
esta caduca máquina em que escrevo.
Mas poupa a minha amiga de horas mortas,
de teclas bambas,tique-taque incerto.
De ano em ano, manda-a ao conserto
e unta de azeite as suas peças tortas.
Vende todas as grandes pequenezas
que eram meu humílimo tesouro,
mas não! ainda que ofereçam ouro,
não venda o meu filtro de tristezas!
Quanta vez esta máquina afugenta
meus fantasmas da dúvida e do mal,
ela que é minha rude ferramenta,
o meu doce instrumento musical.
Bate rangendo, numa espécie de asma,
mas cada vez que bate é um grão de trigo.
Quando eu morrer, quem a levar consigo
há de levar consigo o meu fantasma.
Pois será para ela uma tortura
sentir nas bambas eclas solitárias
um bando de dez unhas usurárias
a datilografar uma fatura.
Deixa-a morrer também quando eu morrer;
deixa-a calar numa quietude extrema,
à espera do meu último poema
que as palavras não dão para fazer.
Conserva-a, minha mãe, no velho lar,
conservando os meus íntimos instantes,
e, nas noites de lua, não te espantes
quando as teclas baterem devagar.
vende meus bens a bem dos meus credores:
a fantasia de festivas cores
que usei no derradeiro Carnaval. Vende ese rádio que ganhei de prêmio
por um concurso num jornal do povo,
e aquele terno novo, ou quase novo,
com poucas manchas de café boêmio.
Vende também meus óculos antigos
que me davam uns ares inocentes.
Já não precisarei de duas lentes
para enxergar os corações amigos.
Vende , além das gravatas, do chapéu,
meus sapatos rangentes. Sem ruído
é mais provável que eu alcance o Céu
e logre penetrar despercebido.
Vende meu dente de ouro. O Paraíso
requer apenas a expressão do olhar.
Já não precisarei do meu sorriso
para um outro sorriso me enganar.
Vende meus olhos a um brechó qualquer
que os guarde numa loja poeirenta,
reluzindo na sombra pardacenta,
refletindo um semblante de mulher.
Vende tudo, ao findar a minha sorte,
libertando minha alma pensativa
para ninguém chorar a minha morte
sem realmente desejar que eu viva.
Pode vender meu próprio leito e roupa
para pagar àqueles a quem devo.
Sim, vende tudo, minha mãe, mas poupa
esta caduca máquina em que escrevo.
Mas poupa a minha amiga de horas mortas,
de teclas bambas,tique-taque incerto.
De ano em ano, manda-a ao conserto
e unta de azeite as suas peças tortas.
Vende todas as grandes pequenezas
que eram meu humílimo tesouro,
mas não! ainda que ofereçam ouro,
não venda o meu filtro de tristezas!
Quanta vez esta máquina afugenta
meus fantasmas da dúvida e do mal,
ela que é minha rude ferramenta,
o meu doce instrumento musical.
Bate rangendo, numa espécie de asma,
mas cada vez que bate é um grão de trigo.
Quando eu morrer, quem a levar consigo
há de levar consigo o meu fantasma.
Pois será para ela uma tortura
sentir nas bambas eclas solitárias
um bando de dez unhas usurárias
a datilografar uma fatura.
Deixa-a morrer também quando eu morrer;
deixa-a calar numa quietude extrema,
à espera do meu último poema
que as palavras não dão para fazer.
Conserva-a, minha mãe, no velho lar,
conservando os meus íntimos instantes,
e, nas noites de lua, não te espantes
quando as teclas baterem devagar.
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TEXTOS
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Adoráveis mulheres - Nadia foes
Aquela família era
o protótipo da família ideal, um pai e uma mãe que se amavam, e dois filhos
lindos, um menino e uma linda menina com quem a mãe gostava de brincar de
boneca. Moravam em zona nobre. Foi em uma época que uma importante estatal se
instalou na capital e para estimular os seus funcionários ofereceu várias
regalias, entre estas o financiamento de casas de alto padrão como forma de
compensação pela mudança de Estado e também um aumento significativo no
salário. Foi com toda essa mordomia que a família se instalou na nova cidade.
Foi a explosão imobiliária e demográfica e a pacata capital, com suas praias e
topografia linda, logo se tornou o paraíso na terra. Como sempre tem um porem,
com a chegada do alto escalão também chegaram os alpinistas sociais. Foi
simples, os jovens funcionários da empresa chegaram ao topo muito rápido sem
tempo para digerir todas as oportunidades, ficaram deslumbrados e passaram a
ser assediados pelas mulheres disponíveis que buscavam uma forma de melhorar
seu status. Para os homens ser fiel não era mais ponto de honra e logo ter
casos foi se tornando algo corriqueiro. Eles até gostavam de alardear seus
casos extraconjugais. Coisa bem de macho contar para o outro macho que estava
tendo um caso. E foi aí que a jovem mulher ficou sabendo do caso de seu marido
que negou tudo mas que logo estava caindo em tentação. E assim ainda viveram
juntos por mais alguns anos, até que o casamento acabou. Tudo foi dividido, até
os talheres e a samambaia, fora as colchas de crochê da mamã da cabeça do
casal. Com o dinheiro da venda da casa que ainda não estava quitada, eles
compraram dois pequenos apartamentos. O ex-marido foi morar com a eleita e a
ex-mulher ficou com os dois filhos. Foram levando a vida meio aos trancos, com
as crianças em idade escolar. Foram anos de penúria. Isso durou até a entrada
do filho na universidade. O rapaz foi estudar medicina. O pai do rapaz viu aí a
oportunidade de fazer uma pequena economia, e propôs ao filho ir morar com ele
em troca de um carro. O rapaz concordou, a mãe foi avisada do acordo e não
concordou pois a filha mais nova ainda estava cursando o colegial e as suas
despesas eram muito grandes. A mãe implorou para que o filho ficasse, e se não
por amor, mas por compaixão porque ela tinha um sub emprego que não dava sequer
para pagar o aluguel do imóvel onde estavam morando; porque para fazer frente
as despesas com a educação dos filhos, ela vendeu o pequeno apartamento que
comprara na época da separação. O filho não se compadeceu e foi morar com o
pai. A avó das crianças para ajudar a filha, como recebia uma pensão do
falecido marido, foi morar junto. E foi este arranjo que possibilitou a entrada
da neta na faculdade. A menina foi estudar bioquímica e o pai mais uma vez
apareceu para propor a compra de um apartamento financiado ou carro. A moça
estava morando em uma cidade próxima dividindo um sala e quarto com mais três
meninas, mas não aceitou qualquer oferta. Enfrentou anos de penúria, via a mãe
a avó passarem a morar em um quarto alugado em casa de uma família. Arranjou
trabalho na faculdade onde estudava, era uma excelente aluna e concluiu o curso
com louvor. Nunca se reconciliou com o pai ou o irmão que se formou em medicina
e foi morar no interior paulista sem procurar pela mãe ou pela irmã. O jovem
médico conheceu um enfermeiro durante o curso de medicina e se apaixonou.
Depois de formados foram morar juntos. Ele era muito grato pelo que o
companheiro fez por ele. Durante o curso quem deu suporte financeiro para que
ele conseguisse estudar e mesmo depois quando foi fazer residência, foi o seu
companheiro, porque o jovem foi deixado à deriva pelo pai. A bioquímica está
muito bem financeiramente e recebeu uma proposta irrecusável. A moça é uma
vencedora e as três mulheres continuam vivendo juntas. A avó, aconselhada pelo
médico amigo da família, foi fazer um curso de canto e conheceu um maestro,
senhor de setenta e três anos, que faz um trabalho social muito importante
junto a jovens carentes. Houve uma empatia entre os dois e ela aos setenta anos
está namorando. Não pensa em casar, ele até tentou convencer a eleita, mas
segundo ela, como estão vivendo já está de bom tamanho, e que o casamento não
vai fazer diferença, é só mera formalidade. A filha sofreu duas cirurgias no
coração, mas já está recuperada. Foi aposentada por motivo de saúde, mas está
começando um pequeno negócio. Ela está comercializando arte sacra e artesanato
estilo barroco fabricado em Minas Gerais. Conheceu um delegado da polícia
federal aposentado, estão namorando e ela não deseja casar, e também não deseja
morar junto. Está feliz e isso é que importa. A neta é pesquisadora, faz parte
da equipe de famoso cientista norte americano. Aos trinta e dois anos não pensa
em casamento, mas está de namoro assumido com um cientista que vem com
freqüência ao Brasil só para acompanhar sua amada. O irmão da doutora continua
morando no interior de São Paulo com o seu companheiro. O pai dos dois está com
saúde debilitada por conta do alcoolismo e como saiu da empresa onde trabalhava
só para receber o dinheiro da demissão incentivada, hoje sem aposentadoria vive
de uma pensão que sua ex-mulher lhe dá espontaneamente. Continua no mesmo
apartamento apertado. Teve mais duas filhas que são vendedoras de lojas no
shopping e não puderam estudar. Não se sabe se foi por falta de verba ou de
estímulo, mas, seja lá o que for, a vida para ele foi bem mais difícil, caráter
fraco, se enterrou no alcoolismo, e vive a margem da vida, sem o carinho e o
respeito de seus familiares, recebendo ajuda financeira justamente de onde
menos se esperava. Explica-se: aquelas mulheres são grandes guerreiras, elas
sofreram mas não desistiram de conquistar o seu lugar ao sol.
Restaurandora
de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi
classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros
publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais
domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura,
cinema, e a paixão de escrever.
Depressão, angústia ? - Nilson Ribeiro
Às vezes me surpreendo parado, a caneta imóvel entre os dedos e no papel uma frase
simplesmente incompleta.
Noutras é alguém que me cutuca, percebendo que fiquei ausente, o olhar atravessando
tudo, perdido num pensamento qualquer.
Estou ficando velho, distraído ( assim diz minha mulher ), e
então me dou conta que hoje o que mais me agrega valor à vida é o sonho,
o devaneio...
Quem sabe não seja a leitura de um belo romance ambientado numa
terra distante e desconhecida, aquilo que nos falta pra ativar a
imaginação, que nos fará também ter vontade de escrever a um amigo,
qualquer coisa, uma pequena bobagem que seja.
Percebo que o que dá cor à vida é dar descanso ao carro num fim de semana e sair por
aí, colhendo uma paisagem que se descortina e passa correndo pela
janela de um trem, bem diante da gente como verdadeiras telas em
movimento, substituídas a cada instante
por outra, outra e mais outra.
E ficar no fim da tarde embevecido ao escalar um pequeno platô de modo a assistir a um
mágico por do Sol, cheio de cores, gradualmente substituído por um crepúsculo de paz.
Mais tarde, imerso na noite de um sítio bucólico, sentar num
banco de madeira tendo lá em cima na vastidão de um céu profundo, uma
imensa Lua cheia, muito clara, que se desloca veloz numa ilusão de ótica
de encontro a núvens brancas e ralas , que vão se dissolvendo em novas
formas ao sabor do vento. Sentindo de vez em quando um leve arrepio
causado pela brisa suave que também mexe com as folhas das árvores,
inclinando delicados arbustos, espargindo o perfume das flores,
principalmente a fragrância adocicada de uma solitária dama da noite,
plantada alí perto por um poeta do passado. Tudo isso misturado ao
farfalhar das plantas rasteiras, do rumorejar de um córrego bem próximo,
e à orquestra natural de sapos e grilos, reunidos numa disputa inocente
por uma felicidade táo simplória.
Se pudermos estar a dois num momento como esse, tanto melhor.
Depreendo que quase nada dá mais sentido à vida que as pequenas
coisas gratuitas da natureza. Dentre as quais podemos escolher uma
infinidade de opções ao longo do mes.
Desde dias de chuva, com neblina espalhada pelos campos, manhãs radiosas de Sol
com mar em movimento, tardes em sossegadas cachoeiras, circundadas
por árvores guardiãs, noites escuras pontilhadas por pirilampos e
estrelas mil, distribuídas por galáxias infindáveis pelo universo... E
depois ainda, intercambiar tudo isso.
Não existe depressão que sobreviva na alma de quem num rítmo de reflexão serena,
observa assim a natureza a sua volta.
Há que se trabalhar, mas sem exageros, sem essa de workaholic,
nada de correria insana no dia a dia, horas e horas repletas de
atividades vazias de valor para no fim ficar com aquela sensação
desagradável ( um frio no estômago ) de que o tempo não foi suficiente
pra resolver tudo; gerando sem querer a insatisfação por algo que nem
sabemos definir direito, compensada quase sempre com a falsa euforia das
festas arranjadas via internet, pelos encontros sem identidade nas
baladas e boates, com noites mal dormidas,
substituídas por dias enfiados numa cama guarnecida por black-outs
nas vidraças, mantendo lá fora a alegria colorida do Sol, numa completa
inversão de valores, que tanto
mal faz ao nosso desprezado metabolismo.
Impossível não despertar com a cabeça pesada, gosto amargo na
boca e pensamentos ruins, maldizendo mais uma rotina que recomeça.
E assim o triste hábito se perpetuando, pessoas até à tampa de
ressentimentos, casais em eternas discórdias, vivendo dias sempre
iguais, sem poder sequer distingui-los um do outro, numa entediante
mesmice.
Podemos e devemos viver a vida de forma completa, utilizando um
pouco de tudo; trabalhando, estudando , lendo, conversando com amigos,
dançando, amando, meditando,
mas sobretudo vivendo em comunhão com a natureza, partilhando com ela a maior parcela do nosso tempo. A maior parcela, sempre.
Não há depressão que aguente, angústia que resista.
Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.
Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.
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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Como inspirar pessoas a agir
Os grandes líderes começam pelo Porquê, como mostra Simon Sinek neste vídeo (que tem legendas em Português disponíveis no botão view subtitles:
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domingo, 11 de dezembro de 2011
Fotografia: como tirar fotos de paisagens
Fotografar paisagens e lugares abertos é um desafio, e é preciso saber alguns truques para conseguir imagens mais chamativas. Aprenda algumas dicas para deixar as suas paisagens muito mais bonitas!
Quem nunca se decepcionou ao ver uma fotografia mediana de um lugar que parecia tão lindo ao vivo? Isso acontece bastante, principalmente por que a beleza de uma paisagem é muito difícil de ser passada para uma imagem estática, já que ela envolve muito mais do que apenas o visual bonito. Porém, algumas técnicas simples podem ajudar na hora de escolher como fazer a fotografia.
Lembre-se sempre da regra dos terços quando for fotografar uma paisagem, isso ajuda na hora de escolher o que fotografar, qual enquadramento fazer e o que deixar de fora. Veja se você quer mostrar mais o céu ou não, incline a câmera, experimente novos pontos de vista.
Não pense na paisagem como você está vendo, pois na câmera ela ficará bem diferente. Uma dica é observar a paisagem diretamente no visor, para que se tenha uma ideia mais clara de como o resultado final ficará.
Uma fotografia de paisagem simples não tem muitos atrativos e, por isso, ela deve conter algo que chame a atenção. O enquadramento ajuda nisso, já que ele indica o que é importante e o que vale a pena ser olhado. Relembre um pouco da regra dos terços neste artigo e veja como usar as linhas retas e curvas ao seu favor para enriquecer as suas imagens.
Você pode utilizar a regra dos terços e o enquadramento para capturar esse elemento de destaque e deixá-lo mais visível, além do que, ele não precisa ser nada palpável. O que não pode acontecer é a fotografia ficar monótona, lavada. Na hora que você está vendo, é possível ver detalhes, árvores interessantes, cores diferentes, mas a câmera tende na “chapar” isso tudo, esconder os menores detalhes e unificar as cores.
Desse modo, acorde cedo, explore o ambiente, caminhe bastante para descobrir os melhores pontos de vista e algumas surpresas no caminho. É claro que é possível fotografar uma paisagem que você está vendo pela primeira vez, mas quanto mais familiarizado você estiver com o ambiente, melhor você poderá capturá-lo.
O elemento surpresa do qual nós tanto falamos aqui pode ser, inclusive, uma alteração na profundidade de campo. Se engana quem acha que fotografias de paisagem precisam ter uma profundidade de campo enorme.
Escolha um canal entre os nove disponíveis: “Reds” (vermelhos), “Yellows” (amarelos), “Greens” (verdes), “Cyans” (cianos, os azuis mais claros), “Blues” (azuis mais escuros e fechados), “Magentas” (tons de rosa), “Whites” (brancos, as áreas claras da foto), “Neutrals” (tons neutros) e “Blacks” (pretos, as áreas mais escuras da foto).
Os seis primeiros canais mexem apenas nas partes da foto que contêm as suas cores. Você pode então balancear cada tom, adicionando mais amarelo ou ciano, ou retirando esses tons, por exemplo. Brinque um pouco com a ferramenta para entender como a alteração tem efeito. Resumidamente, funciona assim: cada canal de cor da foto possui em si todas as outras cores e cabe a você escolher a quantidade de cada uma dessas cores em cada canal.
Se ainda for preciso, abra o controle de níveis (“Levels”) pressionando Ctrl + L no teclado e faça os demais ajustes que forem necessários. Em imagens de paisagem, na maior parte dos casos, esses dois ajustes já são suficientes. Existem casos, no entanto, nos quais você ainda pode usar a ferramenta de corte (“Crop”) para recortar a imagem, enquadrando novamente a paisagem, como é possível ver na imagem a seguir:
Ao unir um bom enquadramento e elementos surpresas a uma edição final leve, as chances de que a sua fotografia de paisagem se torne muito mais do que apenas um registro simples do que foi visto são muito maiores. Exercite o seu olhar sempre e, se possível, carregue uma câmera (pode ser compacta ou mesmo de celular) com você o tempo inteiro, para não deixar passar uma oportunidade que renderia uma ótima foto.
Quem nunca se decepcionou ao ver uma fotografia mediana de um lugar que parecia tão lindo ao vivo? Isso acontece bastante, principalmente por que a beleza de uma paisagem é muito difícil de ser passada para uma imagem estática, já que ela envolve muito mais do que apenas o visual bonito. Porém, algumas técnicas simples podem ajudar na hora de escolher como fazer a fotografia.
O
Dentre vários fatores que determinam se uma foto é boa ou não, para a fotografia de paisagens existem três deles que são essenciais: um bom enquadramento, o fator surpresa e um tratamento final que valorize mais a imagem.Recortando a paisagem
Um dos principais motivos por que as imagens de paisagem não ficam tão bonitas como quando são vistas pessoalmente é que, quando recortamos a vista dentro de uma fotografia, limitamos o olhar das pessoas para uma parte apenas do que estávamos vendo. É por isso que saber escolher bem os pontos de recorte é essencial.Lembre-se sempre da regra dos terços quando for fotografar uma paisagem, isso ajuda na hora de escolher o que fotografar, qual enquadramento fazer e o que deixar de fora. Veja se você quer mostrar mais o céu ou não, incline a câmera, experimente novos pontos de vista.
Não pense na paisagem como você está vendo, pois na câmera ela ficará bem diferente. Uma dica é observar a paisagem diretamente no visor, para que se tenha uma ideia mais clara de como o resultado final ficará.
Uma fotografia de paisagem simples não tem muitos atrativos e, por isso, ela deve conter algo que chame a atenção. O enquadramento ajuda nisso, já que ele indica o que é importante e o que vale a pena ser olhado. Relembre um pouco da regra dos terços neste artigo e veja como usar as linhas retas e curvas ao seu favor para enriquecer as suas imagens.
Use as curvas da paisagem a seu favor (Fonte da imagem: Cuba Gallery)
Uma dica: para saber quanto do céu você vai pegar, leve em conta dois fatores, as nuvens e a proposta. Um céu com nuvens grandes e aparentes ganha destaque posteriormente na hora da edição final e não deixa a imagem “lavada”. Porém, em alguns casos, o céu completamente limpo pode ficar bom, dependendo da proposta. Em uma imagem desértica, por exemplo, ele passa a ideia de infinito, o que pode contribuir com o propósito da foto.Surpreenda o olhar
Esse passo é, sem dúvidas, o mais importante. É o elemento surpresa que vai impactar e chamar a atenção de quem for ver a sua fotografia. Não existe uma lista com objetos e efeitos que você deve usar para causar isso, mas é só pensar que algo na imagem precisa surpreender.O contraste das flores com a neve ao fundo pode ser considerado um elemento de destaque (Fonte da imagem: Cuba Gallery)
O seu elemento surpresa pode ser uma iluminação pouco usual, a neblina, uma onda no mar, linhas retas ou curvas, um objeto ou planta diferenciado, o arranjo das nuvens no céu, uma coloração impactante, um lens flare etc... Não importa o que for, a atenção precisa ser capturada para que a fotografia se torne chamativa.Você pode utilizar a regra dos terços e o enquadramento para capturar esse elemento de destaque e deixá-lo mais visível, além do que, ele não precisa ser nada palpável. O que não pode acontecer é a fotografia ficar monótona, lavada. Na hora que você está vendo, é possível ver detalhes, árvores interessantes, cores diferentes, mas a câmera tende na “chapar” isso tudo, esconder os menores detalhes e unificar as cores.
Use a luz natural para transformar paisagens simples e imagens chamativas (Fonte da imagem: Cuba Gallery)
Não quer dizer que você não possa bater uma fotografia simples, mas se a paisagem não possuir muitos atrativos, tente arrumar isso com o enquadramento e com o ângulo de visão. Outro fator importantíssimo é o horário. As melhores fotos de paisagem são feitas não quando o sol está alto, mas nos extremos do dia.Desse modo, acorde cedo, explore o ambiente, caminhe bastante para descobrir os melhores pontos de vista e algumas surpresas no caminho. É claro que é possível fotografar uma paisagem que você está vendo pela primeira vez, mas quanto mais familiarizado você estiver com o ambiente, melhor você poderá capturá-lo.
O elemento surpresa do qual nós tanto falamos aqui pode ser, inclusive, uma alteração na profundidade de campo. Se engana quem acha que fotografias de paisagem precisam ter uma profundidade de campo enorme.
Brinque com a profundidade de campo para criar imagens incríveis (Fonte da imagem: Cuba Gallery)
É claro que isso não é tão perceptível como em uma foto macro, mas é possível brincar com esse efeito, sim. Mexa manualmente nos valores da abertura do diafragma para desfocar levemente o fundo ou os elementos mais próximos da foto.O toque final
Existem dois ajustes que podem fazer toda a diferença em uma fotografia de paisagem: as cores seletivas e os níveis. Neste artigo nós falamos um pouco sobre as duas ferramentas, porém existem muitas possibilidades que podem ser exploradas além do que foi comentado, principalmente no ajuste de cores.Ferramenta de cores seletivas (Fonte da imagem: Baixaki)
Abra a imagem no Photoshop e vá em Image > Adjustments > Selective Colors. Essa ferramenta é ótima, pois ela mexe separadamente com cada canal de cores da foto. Isto é, você tem muito mais controle sobre cada parte da imagem, sem precisar alterar a sua coloração por inteiro.Escolha um canal entre os nove disponíveis: “Reds” (vermelhos), “Yellows” (amarelos), “Greens” (verdes), “Cyans” (cianos, os azuis mais claros), “Blues” (azuis mais escuros e fechados), “Magentas” (tons de rosa), “Whites” (brancos, as áreas claras da foto), “Neutrals” (tons neutros) e “Blacks” (pretos, as áreas mais escuras da foto).
Os seis primeiros canais mexem apenas nas partes da foto que contêm as suas cores. Você pode então balancear cada tom, adicionando mais amarelo ou ciano, ou retirando esses tons, por exemplo. Brinque um pouco com a ferramenta para entender como a alteração tem efeito. Resumidamente, funciona assim: cada canal de cor da foto possui em si todas as outras cores e cabe a você escolher a quantidade de cada uma dessas cores em cada canal.
Editar as cores seletivas já valoriza bastante a imagem (Fonte da imagem: Fotografia por Niamor83 e edição por Ana Nemes)
Já os três últimos canais devem ser alterados com muito cuidado, pois eles mexem em toda a imagem. Os brancos são as partes claras da imagem, os neutros são os tons médios e os pretos são as sombras. Nesses três canais, procure alterar apenas o último controle deslizante, “Blacks” (sem confundir com o canal “Blacks”, controle de mesmo nome), para escurecer ou clarear a foto. É algo parecido com o ajuste de níveis, porém mais focado nas cores e não na iluminação.Se ainda for preciso, abra o controle de níveis (“Levels”) pressionando Ctrl + L no teclado e faça os demais ajustes que forem necessários. Em imagens de paisagem, na maior parte dos casos, esses dois ajustes já são suficientes. Existem casos, no entanto, nos quais você ainda pode usar a ferramenta de corte (“Crop”) para recortar a imagem, enquadrando novamente a paisagem, como é possível ver na imagem a seguir:
A edição e o crop podem valorizar a sua fotografia de paisagem (Fonte da imagem:
Em geral, esses três ajustes simples no Photoshop devem bastar para destacar os elementos da imagem e deixá-la mais atrativa, porém você sempre pode usar outras ferramentas e filtros da sua preferência, de acordo com a proposta da foto.Ao unir um bom enquadramento e elementos surpresas a uma edição final leve, as chances de que a sua fotografia de paisagem se torne muito mais do que apenas um registro simples do que foi visto são muito maiores. Exercite o seu olhar sempre e, se possível, carregue uma câmera (pode ser compacta ou mesmo de celular) com você o tempo inteiro, para não deixar passar uma oportunidade que renderia uma ótima foto.
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sábado, 10 de dezembro de 2011
Você faria uma passeio de barco assim???
Via João Perboyre
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BARCO,
NOVA ZELÂNDIA,
PASSEIO
Belo Monte, nosso dinheiro e o bigode do Sarney
Um dos mais respeitados especialistas na área energética do país, o professor da USP Célio Bermann, fala sobre a “caixa preta” do setor, controlado por José Sarney, e o jogo pesado e lucrativo que domina a maior obra do PAC. Conta também sua experiência como assessor de Dilma Rousseff no Ministério de Minas e Energia
ELIANE BRUM
ELIANE BRUM Jornalista, escritora e
Se você é aquele tipo de leitor que acha que Belo Monte vai “afetar
apenas um punhado de índios”, esta entrevista é para você. Talvez você
descubra que a megaobra vai afetar diretamente o seu bolso. Se você é
aquele tipo de leitor que acredita que os acontecimentos na Amazônia não
lhe dizem respeito, esta entrevista é para você. Para que possa
entender que o que acontece lá, repercute aqui – e vice-versa. Se você é
aquele tipo de leitor que defende a construção do maior número de
usinas hidrelétricas já porque acredita piamente que, se isso não
acontecer, vai ficar sem luz em casa para assistir à novela das oito,
esta entrevista é para você. Com alguma sorte, você pode perceber que o
buraco é mais embaixo e que você tem consumido propaganda subliminar,
além de bens de consumo. Se você é aquele tipo de leitor que compreende
os impactos socioambientais de uma obra desse porte, mas gostaria de
entender melhor o que está em jogo de fato e quais são as alternativas,
esta entrevista também é para você.
documentarista. Ganhou mais
de 40 prêmios nacionais e
internacionais de reportagem.
É autora de um romance.
Como tenho escrito com frequência sobre a megausina hidrelétrica de Belo Monte, por considerar que é uma das questões mais relevantes do país no momento, observo com atenção as manifestações dos leitores que comentam neste espaço ou em redes sociais como o Twitter. Anotei as principais dúvidas para incluí-las aqui e assim colaborar com o debate.
Desta vez, propus uma conversa sobre Belo Monte a Célio Bermann, um dos mais respeitados especialistas do país na área energética. Bermann é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), com doutorado em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unicamp. Publicou vários livros, entre eles: “Energia no Brasil: Para quê? Para quem? – Crise e Alternativas para um País Sustentável” (Livraria da Física) e “As Novas Energias no Brasil: Dilemas da Inclusão Social e Programas de Governo” (Fase). Ex-petista, ele participou dos debates da área energética e ambiental para a elaboração do programa de Lula na campanha de 2002 e foi assessor de Dilma Rousseff entre 2003 e 2004, no Ministério de Minas e Energia. Célio Bermann foi também um dos 40 cientistas a se debruçar sobre Belo Monte para construir um painel que, infelizmente, foi ignorado pelo governo federal.
Vale a pena ouvir o professor a qualquer tempo. Mas, especialmente, depois de uma semana dramática como a passada. Na quarta-feira (26/10), o julgamento da ação movida pelo Ministério Público Federal reivindicando que os índios sejam ouvidos sobre a obra, como determina a Constituição, foi interrompida e adiada mais uma vez no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília. Na mesma quarta-feira, chamado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) para explicar por que não suspendeu as obras de Belo Monte, o Brasil não compareceu, desrespeitando o organismo internacional e exibindo um comportamento mais usual em ditaduras. Em reportagem publicada em 20/10, o Estadão denunciou que, como retaliação por ter sido advertido sobre Belo Monte, o Brasil deixou de pagar sua cota anual como estado-membro.
Na quinta-feira (27/10), centenas de pessoas, entre indígenas, ribeirinhos e moradores das cidades atingidas, ocuparam pacificamente o canteiro de obras de Belo Monte, no rio Xingu, pedindo a paralisação da construção da usina. Foram expulsos por ordem judicial. Enquanto o canteiro de obras era ocupado por uma população invisível para o governo de Dilma Rousseff, o cineasta Daniel Tendler apresentava no Seminário Nacional de Grandes Barragens, no Rio de Janeiro, o projeto de uma megaprodução cinematográfica que se propõe a documentar as obras de Belo Monte por cinco anos. O projeto é comandado pela LC Barreto, a produtora da poderosa família Barreto, a mesma que fez “Lula, O Filho do Brasil”. Tendler, aliás, foi um dos roteiristas do filme sobre a vida do ex-presidente. Entre as repercussões da megaprodução cinematográfica sobre a megaobra do PAC no Twitter, destacou-se uma: “Os Barreto estão para o cinema nacional como os Sarney para a política”.
Ainda na semana passada, o governo federal publicou um pacote de sete portarias ministeriais com o objetivo de “destravar a concessão de licenças ambientais no país para acelerar grandes empreendimentos, como rodovias, portos, exploração de petróleo e gás, hidrelétricas e até linhas de transmissão de energia”. Ou seja: o governo caminha para anular as conquistas socioambientais obtidas na redemocratização do país.
Dias antes, em 26/10, o Senado havia aprovado um projeto de lei que retira o poder do Ibama para multar crimes ambientais, como desmatamentos. Se não for vetado pela presidente, o poder de multar passará para estados e municípios, sujeito às pressões locais já bem conhecidas. A aprovação do projeto aconteceu quatro dias depois de mais um assassinato no Pará: João Chupel Primo, mais conhecido como João da Gaita, foi morto com um tiro na cabeça, depois de denunciar ao Ministério Público Federal, em Altamira, uma rota de desmatamento ilegal na reserva extrativista Riozinho do Anfrísio e na Floresta Nacional Trairão, área do entorno de Belo Monte. Como de hábito, o Congresso decide os rumos do país desconectado com o que acontece na vida real para além do aquário brasiliense.
No momento histórico em que recursos como água e biodiversidade se consolidam como o grande capital de uma nação, o Brasil, um dos países mais beneficiados pela natureza no planeta, corre em marcha à ré. O cenário que você acabou de ler tem no centro – como obra simbólica e estratégica – Belo Monte, a maior obra do PAC. A seguir, parte de minha conversa de quase três horas com o professor Célio Bermann, em sua sala no Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.
- Por que o senhor, assim como outras pessoas que estudam o setor, afirma que a área energética do país é uma “caixa preta”. Afinal, que caixa preta é essa?
Célio Bermann – A política energética do nosso país é uma caixa preta e é mantida dessa forma por uma série de razões. Primeiro, porque a baixa escolaridade da população brasileira não permite, por exemplo, que o leitor da Época entenda o que é terawatts-hora. Mas seria interessante que a população toda tivesse conhecimento e pudesse, com informação, começar a definir junto com empresas e governo os rumos que são mais adequados. Acho que a academia tem um papel fundamental nesse processo. Eu, particularmente, tento, na área do meu conhecimento, procurar as populações tradicionais, mostrar o que é uma usina hidrelétrica, por que alaga quando você interrompe o fluxo, o que é uma barragem, e como isso vai acabar transformando a vida da comunidade. Acho importante que a academia preste esse tipo de informação, já que governo e empresas não o fazem.
- Sim, mas por que o setor energético tem sido uma caixa preta por décadas?
Bermann - A governabilidade foi encontrada através de uma aliança que mantém o círculo de interesses que sempre estiveram no nosso país. É a mesma turma que continua na área energética. E isso é impressionante. A população não participa do processo de decisões. Não existem canais para isso. Ainda no governo FHC, durante a privatização, o governo criou um Conselho Nacional de Política Energética. Nos dois mandatos de FHC participavam os dez ministros, mas havia um assento para um representante da academia e um da chamada sociedade civil. Eles sentavam, discutiam as diretrizes energéticas de uma forma aparentemente saudável, mas, no frigir dos ovos, na prática não mudava nada. De qualquer forma, havia pelo menos esse sentido de escutar. Isso, com Lula, acabou. O resultado do governo "democrático popular" do Lula, nos dois mandatos, e da Dilma, agora, é a negação de escutar outros interesses que não sejam aqueles que sempre estiveram junto ao poder. A própria Dilma, no início do governo Lula, tinha uma dificuldade muito grande de ouvir, de sentar-se com os movimentos sociais e ouvir. Eu tive a oportunidade de vivenciar o primeiro mandato do Lula, lá, em Brasília.
- E qual era o seu papel?
Bermann – Era apagar fogo, este era o meu papel...
- Mas, oficialmente...
Bermann - O meu papel era tentar amenizar um pouco os conflitos, mas, oficialmente, eu fui trabalhar com a Dilma como assessor ambiental no Ministério de Minas e Energia. A ideia inicial era criar uma Secretaria de Meio Ambiente dentro do ministério. Era a época em que tínhamos a Marina (Silva) falando em transversalidade, então havia um ambiente extremamente propício para aparar arestas e ver se a coisa poderia caminhar de uma forma mais adequada. Achei, então, que a melhor forma de fazer isso não era criar um lugar dos ambientalistas no ministério, mas colocar em todas as secretarias do ministério gente que pensasse o meio ambiente. Mas acabei ficando um ano lá em Brasília. Mesmo assim, foi extremamente interessante, porque me permitiu sair da academia e ter, na prática, a percepção de como as coisas se dão no dia a dia dentro do governo.
- E como as coisas se dão no dia a dia dentro do governo?
Bermann – É um horror. É uma lentidão. É um imobilismo. É incrível a capacidade da máquina de governo de fazer de conta que faz sem estar fazendo absolutamente nada. Eu falo isso com todos os pontos nos “is”. No início do governo se buscava um entendimento entre os chamados "ministérios fins" e o meio ambiente. Transportes, por causa da construção de estradas e portos, e Minas e Energia, por causa da atividade mineral, metalúrgica e energética, e as questões ambientais que são intrínsecas a essas atividades. Houve uma boa intenção de levar adiante a possibilidade do estabelecimento de pontos comuns. Fizemos, então, um acordo entre Ministério de Minas e Energia e Ministério do Meio Ambiente em função da definição de "pontos comuns", de procurar verificar onde poderíamos estabelecer alguns consensos. Era um documento em que se definia uma agenda energética e ambiental comuns aos dois ministérios. Se bem me lembro, o documento foi concluído em setembro de 2003. Mas as duas ministras só foram assinar em 31 de março de 2004.
- Por quê?
Bermann – Boa pergunta. Por quê? Boas intenções... mas por quê? Eu realmente não consigo definir exatamente se era uma questão de veleidade... não sei. No final de 2003 a Marina começou a perceber a dificuldade de ela continuar, e o Lula, daquele jeito dele, deixando a coisa acontecer. Naquele momento, o governo poderia ter tido uma agenda comum, um processo extremamente positivo de entender que existem usinas hidrelétricas que não devem ser construídas.
Em 2003, a Dilma estava feliz porque tinha conseguido afastar a turma do Sarney do setor elétrico"
Célio Bermann
Bermann - É, foi uma coisa meio... difícil. Como falei, eu tinha uma relação particular com os movimentos sociais e estava mais numa situação de bombeiro. Vou te contar uma coisa, como referência. Eu encontrei a Dilma na posse do (físico) Luiz Pinguelli Rosa, no Rio de Janeiro, como presidente da Eletrobrás. Ela estava extremamente satisfeita, alegre, contente, porque tinha conseguido, politicamente, afastar a turma do (José) Sarney da seara energética. (Luiz Pinguelli Rosa deixaria o cargo em 2004, a pedido de Lula, que precisava colocar alguém ligado ao PMDB e a José Sarney.) Para você ver. Na época, o (José Antonio) Muniz (Lopes) era diretor da Eletronorte... e depois tornou-se presidente da Eletrobrás (de 2008 a 2011).
- O José Antonio Muniz Lopes, um homem da cota do Sarney, é um personagem longevo nessa história de Belo Monte... Só para situar os leitores, em 1989, no último ano do governo Sarney, ele era diretor da Eletronorte e foi no rosto dele que a índia caiapó Tuíra encostou seu facão por causa da proposta de Belo Monte (então chamada de Kararaô), naquela foto histórica que correu mundo. O tal do Muniz já estava lá... Depois de deixar a presidência da Eletrobrás, no início deste ano, continuou lá, agora como diretor de Transmissão da Eletrobrás...
Bermann – Pois então. Naquela época, em 2003, era ele o diretor da Eletronorte que a Dilma tinha ficado feliz por ter conseguido afastar. Por isso que eu falo que não é o governo Lula, é o governo Lula/Sarney. E agora Dilma/Sarney. Constituiu-se um amálgama entre os interesses históricos do superfaturamento de obras, sempre falado, nunca evidenciado. Não se trata de construir uma usina para produzir energia elétrica. Uma vez construída, alguém vai precisar produzir energia elétrica, mas não é para isso que Belo Monte está sendo construída. O que está em jogo é a utilização do dinheiro público e especialmente o espaço de cinco, seis anos em que o empreendimento será construído. É neste momento que se fatura. É na construção o momento onde corre o dinheiro. É quando prefeitos, vereadores, governadores são comprados e essa situação é mantida. Estou sendo muito claro ao expor a minha percepção do que é uma usina hidrelétrica como Belo Monte.
- No momento em que o senhor encontrou a Dilma, logo na constituição da equipe do primeiro mandato de Lula, o senhor conta que ela estava feliz porque tinha conseguido tirar a turma do Sarney do comando da área energética. O que aconteceu a partir daí?
Bermann - A pergunta é: tirou mesmo?
- E qual é a resposta?
Bermann - Naquele momento, manter esse pessoal à distância era estratégico para reconstruir as relações e viabilizar algumas das diretrizes que tinham sido objeto da proposta de governo. O que aconteceu é que a vida dessa situação (de afastamento) foi extremamente curta devido às relações de poder. Eles não gostaram de se sentir afastados. E eu suponho que a percepção do problema da governabilidade no governo Lula foi uma ação desses setores que tinham percebido que estavam longe da teta da vaca e que não podiam continuar assim. Qual era o jeito de fazer? PMDB era oposição. Vamos conversar... E aí se reacomodam as questões. Eu não digo que seja um grupo de ladrões mercenários. Não é isso que está em jogo. Mas essa capilaridade do Sarney permite manter o usufruto do poder. Eu não sou psicólogo para entender o que o senhor Sarney pensa quando vê o Muniz voltar para o governo, ou quando se encontra diante da incapacidade técnica do senador Edison Lobão ao conduzir o Ministério de Minas e Energia no governo Lula e agora no de Dilma. Não há lógica para isso. Vou dizer de novo: não é possível a gente acreditar na capacidade gerencial de um governo que se submete a esse tipo de articulação política, colocando uma pessoa absolutamente incapaz de entender o que é quilowatt, quilowatt-hora. De ir a público sem saber a diferença entre tensão em volts e energia em quilowatts-hora.
- O senhor está falando do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão?
Bermann- Edison Lobão.
- E Belo Monte ocupa que lugar nesse jogo?
Bermann - É a oportunidade de se fazer dinheiro e de se reconstituir as relações de poder. Essa obra tinha sido sepultada em 1989, por conta da mobilização da população indígena, e voltou à tona no governo Lula, aprovada pelo Congresso (em 2005) com o discurso de que era um novo projeto.
“O valor de Belo Monte aumentou em mais de R$ 20 bilhões em apenas
cinco anos. E deverá ser maior ainda. Sem contar que 80% do
financiamento é dinheiro público"
Célio Bermann
Bermann - Não tenho a mínima ideia. Mas vamos falar em cifras, agora. Em 2006 o projeto foi anunciado com um custo de R$ 4,5 bilhões. Você sabe, as cifras avançaram violentamente. Antes de ir para o leilão, a usina foi avaliada em R$ 19 bilhões. Foi feito o leilão e se definiu um custo fictício de geração de energia elétrica de R$ 78 o megawatt-hora.
- Por que fictício?
Bermann - Fictício porque esse custo não remunera o capital investido. É por isso que várias empresas caíram fora do empreendimento, sob o ponto de vista da geração da energia elétrica. Mas as grandes empreiteiras estão presentes, porque não é na venda da energia elétrica, mas sim na obra que se dá uma parte significativa da apropriação da renda. Com o consórcio constituído com 50% entre Eletrobrás e Eletronorte, as empreiteiras voltaram para fazer a obra. A elas interessa a obra – e não ficar vendendo energia elétrica. Essa situação é entendida pelos dirigentes, pelo governo, como normal. Para o governo federal, é uma parceria público-privada que está dando certo. Em que termos? A obra hoje está oficialmente orçada em R$ 26 bilhões. Imagine, de R$ 4,5 bilhões para R$ 26 bilhões...
- Em cinco anos, o valor da obra avançou em mais de R$ 20 bilhões?
Bermann – Oficialmente está hoje orçada em R$ 26 bilhões. Mas existem estimativas de que não vai sair por menos de R$ 32 bilhões. Isso sem falar em superfaturamento.
- Deste valor, quanto sairá do BNDES, ou seja, do nosso bolso?
Bermann – Oitenta por cento da grana para isso é dinheiro público. O que estamos testemunhando é um esquema de engenharia financeira para satisfazer um jogo de interesses que envolve empreiteiras que vão ganhar muito dinheiro no curto prazo. Um esquema de relações de poder que se estabelece nos níveis local, estadual e nacional – e isso numa obra cujos 11.200 megawatts de potência instalada só vão funcionar quatro meses por ano por causa do funcionamento hidrológico do Xingu. Então, é preciso entender que a discussão sobre a volta da inflação não se dá porque está aumentando o preço da cebola, do tomate, do leite... É por causa da volúpia de tomar recursos públicos que será necessário fabricar dinheiro. O ritmo inflacionário vai se dar na medida em que obras como Belo Monte forem avançando e requerendo que se pague equipamento, que se pague operários, que se pague uma série de coisas e também que se remunere com superfaturamento.
Com Belo Monte, ganham as empreiteiras e os vendedores de
equipamentos. E ganham os políticos que permitem que essa articulação
seja possível"
Célio Bermann
Bermann - Há as pessoas que ganham pela obra - fabricantes de equipamentos, empreiteiras. E há quem ganhe não financeiramente, mas politicamente, por permitir que essa articulação seja possível, porque é esse pessoal que vai bancar a campanha para o próximo mandato. É a escolinha ou o posto de saúde que eventualmente aquele vereador, aquele prefeito vai dizer: "É obra minha!". É isso que está em jogo. É dessa forma que a cultura política se estabelece hoje no nosso país. Isso precisa mudar. Como? É complicado.
- O senhor costuma usar a expressão “Síndrome do Blecaute” para se referir ao pânico da população de ficar à luz de velas devido a um apagão energético. Acredita que essa “síndrome” é manipulada pelo governo federal e pelos grandes interesses empresariais para emprestar um caráter de legitimidade a megaobras como Belo Monte?
Bermann – O que eu tenho chamado de "Síndrome do Blecaute" conduz à legitimação de empreendimentos absolutamente inconsistentes. Belo Monte, como foi provado pelo conjunto de cientistas que se debruçaram sobre o tema (painel dos especialistas), é uma obra absolutamente indesejável sob o ponto de vista econômico, financeiro e técnico. Isso sem falar nos aspectos social e ambiental. Mas se dissemina uma ideia do caos e, hoje, há 77 projetos de usinas hidrelétricas somente na Amazônia que utilizam a "Síndrome do Blecaute" para se viabilizarem. O fato de hoje o aquecimento global dominar a mídia e o senso comum, assim como a própria academia, ajuda a mostrar a hidroeletricidade como uma grande maravilha, independentemente do lugar em que a usina vai ser construída e dos impactos que ela vai causar. Mas o que é preciso compreender e questionar? Hoje, seis setores industriais consomem 30% da energia elétrica produzida no país. Dois deles são mais vinculados ao mercado doméstico, que é o cimento e a indústria química. Mas os outros quatro têm uma parte considerável da produção para exportação: aço, alumínio primário, ferroligas e celulose.
- As chamadas indústrias eletrointensivas...
Bermann – Isso. Eu não estou defendendo que devemos fechar as indústrias eletrointensivas, que demandam uma enorme quantidade de energia elétrica a um custo ambiental altíssimo. Mas acho absolutamente indesejável que a produção de alumínio dobre nos próximos 10 anos, que a produção de aço triplique nos próximos 10 anos, que a produção de celulose seja multiplicada por três nos próximos 10 anos. E é isso que está sendo previsto oficialmente.
- O que poucos parecem perceber e menos ainda questionam, quando essas metas são comemoradas, é a forma como o Brasil está inserido no mercado internacional em pleno século XXI. O quanto o fato de nossa economia estar baseada na exportação de bens primários tem a ver com a necessidade de grandes hidrelétricas?
Bermann – Desde a ditadura militar, passando pela redemocratização, pelos sucessivos governos até FHC, tem sido assim. Nós imaginávamos que, com Lula, essa questão ia ser reorientada. Porque o programa de governo em que eu me envolvi preconizava a necessidade dessa mudança. E o que aconteceu? Se você comparar os dados de 2001 com os dados de 2010, vai constatar que a economia brasileira está se primarizando cada vez mais. Isto é: cada vez mais são produzidos no Brasil bens industriais primários, sem agregação de valor. E são justamente os bens primários que consomem muita energia e geram pouco emprego. Além disso, satisfazem uma demanda marcada pelo consumismo. E o Brasil se mostrou incapaz de dizer: "Não, nós não vamos fazer isso".
- E depois esses produtos retornam para o Brasil, via importação, com valor agregado...
Bermann – É. Eu sempre chamo a atenção para o fato de que, do alumínio primário que o Brasil produz, 70% é exportado. E o alumínio consome muita energia. Para se pegar um barro vermelho, que é a bauxita, e transformá-la em alumínio, é preciso um processo de produção extremamente devastador sob o ponto de vista ambiental. Há um primeiro refino para obter a alumina, que é um pó branco. Esse pó branco tem como consequência ambiental uma borra chamada de “lama vermelha”. Um ano atrás, na Europa, na Hungria, houve uma catástrofe em função do rompimento de uma barragem que continha essa lama vermelha e tóxica. Ela se espalhou pelo Rio Danúbio e foi um horror. E cada vez mais se faz isso no nosso país – e, claro, não se faz mais isso nos países centrais. Isso não está acontecendo agora no Brasil, está acontecendo desde os anos 70.
“Com Lula – e agora com Dilma – ocorreu a reprimarização da economia,
com exportação de bens primários sem valor agregado, numa subordinação
ao mercado internacional"
Célio Bermann
Bermann – O que acontece a partir de Lula é o que eu tenho chamado de "reprimarização da economia". Nós já tivemos uma época em que a economia dependia basicamente da produção de bens primários: café, açúcar e também alguns bens industriais primários. Depois, tivemos Getúlio Vargas, Juscelino (Kubitschek), e nos anos 50 houve a substituição das importações com a vinda da indústria pesada. Aquele período marca um processo acelerado de industrialização da economia brasileira em que se buscava um desenvolvimento tecnológico para acompanhar o ritmo internacional. Agora, vivemos a reprimarização da economia. E não é uma questão do governo, simplesmente. O governo poderia tornar essa questão pública, dar condições para que a população compreendesse e debatesse o que está em jogo, e isso pudesse servir como base de apoio para uma tomada de decisão do tipo: "Olha, Alcoa (corporação de origem americana com grande presença no Brasil, é a principal produtora mundial de alumínio primário e alumínio industrializado, assim como a maior mineradora de bauxita e refinadora de alumina), vocês não vão continuar aumentando a produção aqui no Brasil. Procurem um outro lugar. A produção de energia elétrica gera um problema ambiental enorme, um problema social enorme, e nós vamos priorizar a demanda da população”. Mas, infelizmente, isso não é feito.
- Mas essa obstinação do governo Lula, e agora do governo Dilma, em fazer Belo Monte, mesmo já tendo um prejuízo de imagem aqui e lá fora, mesmo tendo mais de uma dezena de ações judiciais contra a obra movidas pelo Ministério Público Federal, fora as outras... Essa obstinação se dá apenas por causa do esquema de governabilidade, do esquema político para as eleições a curto e médio prazo, ou é por mais alguma coisa?
Bermann – Isso já não te parece plausível? Ou você acha que tem alguma coisa meio doentia, que precisa ser explicada? (risos)
- Doentia, não sei. Mas eu gostaria de compreender melhor por que o senhor e a maioria dos especialistas que estudaram o projeto afirmam que esta obra é ruim também do ponto de vista técnico.
Bermann – Divulgaram que esta será a única usina do Xingu. Inclusive, houve um seminário recente aqui na USP em que tive a oportunidade de discutir com o Mauricio Tolmasquim (presidente da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia). E ele veio com essa ladainha: “Vai ser a única...”. E eu disse a ele: “Com o perdão do poeta, o que você está afirmando, somente de papel passado, com firma em cartório e assinado: Deus”.
- O senhor não acredita que será a única usina do Xingu, então?
Bermann – Me diga alguma coisa no nosso país que vigorou como cláusula pétrea. Me fale alguma coisa aqui no nosso país que foi dito de uma forma e se manteve ao longo do tempo. VAI ser necessário construir outras usinas. No atual projeto, esta é uma usina que vai funcionar à plena carga, no máximo, quatro meses por ano, por causa do regime hidrológico. Se ela estiver sozinha, o volume de água para rodar as turbinas dependerá da quantidade de chuva. E aquela região tem a seguinte característica: quando chove, quando tem água, quando desce a água dos tributários para o Xingu é muita água, é um volume enorme de água. Mas isso só acontece durante quatro meses por ano. Só nesse período os 11.200 megawatts vão estar operando. Em outubro, na época da estiagem, será apenas 1.100 megawatts, um décimo. Então, a pergunta é: por que construir uma usina desse porte, se, na média anual, ela vai operar com 4.300 megawatts? Necessariamente vão vir as outras quatro. Eu estou afirmando isso, infelizmente. Tecnicamente, eu tenho absoluta certeza. Porque as usinas rio acima vão segurar a água e aí Belo Monte não vai depender da quantidade de chuva. É o único jeito dessa potência instalada de 11.200 megawatts existir de fato.
“O conceito do governo e das empresas não é o de população atingida, mas o de população afogada"
Célio Bermann
Bermann – Estou dizendo que, da forma como esta usina está colocada, é uma aberração técnica tão grande que é totalmente ilógico construí-la.
- E essa afirmação, discutida hoje na Justiça, de que os povos indígenas não serão atingidos?
Bermann – A noção que as empresas e o governo federal têm é a noção de população afogada – e não atingida.
- Agora, digamos que nós concordássemos que a obstinação de construir Belo Monte, ainda que atropelando a população e talvez a Constituição, se devesse à necessidade de energia elétrica. E digamos que Belo Monte fosse de fato um projeto de engenharia viável e inteligente. As usinas hidrelétricas são as melhores opções para a geração de energia no Brasil de hoje? Quais são as alternativas a elas?
Bermann – Não podemos olhar a questão da produção de energia sem questionar ou considerar o outro lado, que é o consumo de energia. Parece meio prosaico, porque envolve hábitos culturais da população. E a população sempre entendeu que energia elétrica se resume a você apertar o botão e ter eletricidade disponível. E por isso fica em pânico com a “Síndrome do Blecaute”. Mas é preciso pensar além disso. Não estou dizendo para fechar as fábricas de alumínio, de aço e de celulose no Brasil. O que estou dizendo é o seguinte: parem de ampliar a produção. Parem, porque diversos países desenvolvidos já fizeram isso. O Japão fez mais do que isso. O Japão produzia, em 1980, 1,6 milhões de toneladas de alumínio. Nós estamos produzindo quase 1,7 milhões de toneladas hoje. Só que a energia elétrica necessária para produzir alumínio tornou-se da ordem do absurdo. Então o governo japonês, as empresas japonesas produtoras de alumínio e os trabalhadores da indústria do alumínio realizaram um debate que culminou com o fechamento de todas as usinas de produção de alumínio primário no Japão, exceto uma. Isso ainda nos anos 80. Hoje, o Japão produz apenas 30 mil toneladas. De 1,6 milhões para 30 mil toneladas. Diante da necessidade de gerar muita energia para produzir alumínio, o que o Japão fez? O governo e a sociedade japonesa disseram: “Vamos priorizar a eficiência, o maior valor agregado. Nós não precisamos produzir aqui. Tem o Brasil, tem a Venezuela, tem a Jamaica, tem os lugares para onde a gente pode transferir as plantas industriais e continuar a assegurar o suprimento para a nossa necessidade industrial. A gente pega esse alumínio, agrega valor e exporta na forma de chip. Parece uma coisa tão besta, né? Mas foi isso o que os japoneses fizeram. Eles mantiveram o crescimento econômico e reduziram a demanda por energia. Nós estamos caminhando no sentido inverso. Estamos aumentando o consumo de energia a título de crescimento e desenvolvimento, e, numa atitude absolutamente ilógica, porque a gente exporta hoje a tonelada de alumínio a US$ 1.450, US$ 1.500 dólares. E, para se ter uma ideia, hoje falta esquadrias de alumínio no mercado interno, no mercado de construção brasileiro. O preço foi aumentado por indisponibilidade. Hoje, e fizemos um estudo recente sobre isso, é preciso importar esquadrias de alumínio porque a oferta no mercado interno é insuficiente. E, enquanto o Brasil exporta o alumínio por US$ 1.450, US$ 1.500, o preço da tonelada de esquadria importada é o dobro: cerca de US$ 3 mil a tonelada.
- Para o senhor, a questão de fundo é outra...
Bermann - Nós temos pouca capacidade de produzir alumínio com valor agregado. Então, não estou dizendo para fechar essas fábricas, botar os trabalhadores na rua, mas dizendo para parar de produzir alumínio primário, que exige uma enorme quantidade de energia, e investir no processo de melhoria da matéria-prima para satisfazer inclusive a demanda interna hoje insatisfeita. Agora, vai perguntar isso para a ABAL (Associação Brasileira de Alumínio). Veja se eles estão pensando dessa forma. Billiton, Alcoa, mesmo o sempre venerado Antônio Ermírio de Moraes, com a Companhia Brasileira de Alumínio. A perspectiva desse pessoal é a cega subordinação ao que define hoje o mercado internacional, o mercado financeiro. E é assim que o nosso país fica desesperado com a ideia de que vai faltar energia.
Não é Programa Luz para Todos, mas Luz para quase Todos ou Conta de Luz para Todos"
Célio Bermann
Bermann – Isso. Os recursos naturais são limitados. Por isso, no meu ponto de vista, a discussão do aquecimento global obscurece o entendimento da hidroeletricidade em particular. Ficamos às cegas. Para transformar o barro da bauxita naquele pó branco do alumínio, que depois é fundido através de uma corrente elétrica, é uma quantidade de energia enorme, absurda. Essa possibilidade você não vai conseguir com energia solar, com energia eólica. São processos produtivos que exigem a manutenção do suprimento de energia elétrica 24 por 24 horas. A solar não consegue fazer isso na escala necessária. Uma tonelada de alumínio consome 15 a 16 mil kilowatts-hora. Para se ter uma ideia, na média, o consumidor brasileiro consome, por domicílio, 180 kilowatts-hora por mês, o que é baixo. Nós ainda estamos vivendo uma situação muito próxima da miserabilidade em termos energéticos para a população. Nós temos uma demanda a ser satisfeita com equipamentos eletrodomésticos. Satisfeita não construindo grandes usinas hidrelétricas para as empresas eletrointensivas, mas para conseguirmos equilibrar a qualidade de vida, que se deve fundamentalmente a uma herança histórica: a de sermos um dos países com a pior distribuição de renda do mundo.
- Uma das piores distribuições de renda e uma das piores distribuições de eletricidade do mundo...
Bermann – Eu chamo o programa de universalização de "Luz para quase todos". Não é para todos, é para quase todos. Desde que estejam próximos da rede para extensão, tudo bem. Mas, para o sujeito distante, só agora é que se começa a pensar em sistemas de produção descentralizada. A percepção ainda é, infelizmente, de pegar e estender a rede. Mas o custo de extensão da rede é muito alto. Principalmente, se você pegar e atravessar 15 quilômetros para atender duas, três casas. O lógico seria a adoção de energia descentralizada em escala menor, que seja mais bem controlada pela população. Mas isso não passa pela cabeça porque define inclusive uma outra relação social. Eu também chamo esse programa de “Conta de luz para todos”, porque de repente você fica refém de uma companhia e necessariamente paga conta de luz, quando você poderia criar uma situação de autonomia energética.
- O senhor poderia explicar melhor quais são as alternativas para a população, já que todos nós crescemos dentro de uma lógica em que recebemos a conta da luz e pagamos a conta da luz; apertamos um botão na parede e a luz se faz. A realidade está exigindo que sejamos mais criativos e tenhamos mais largura de raciocínio. Quais são as alternativas para o cidadão comum, especialmente o de regiões mais afastadas?
Bermann – Depende muito do acesso à tecnologia existente no local ou na região. Hoje, por exemplo, temos no Rio Grande do Sul uma experiência de queimar casca de arroz para gerar energia. O calor da queima da casca de arroz aquece a água, a água se transforma em vapor e esse vapor é injetado num tubo e gira uma turbina produzindo energia elétrica. Não tem nada de fantástico nisso, esse processo é conhecido há muito tempo, mas, puxa vida, eu estou tão acostumado a simplesmente acender e apagar o botão... Vou ficar agora me preocupando se tem combustível? Existe um lado meio trágico da população em geral que é o comodismo: deixa que resolvam por mim. Então, quando você me pergunta sobre alternativas, depende do que a gente está falando. Existem alternativas promissoras deixando de produzir mais mercadorias eletrointensivas. Como também é promissor ter esquemas de financiamento para que o pequeno empresário adquira um painel fotovoltaico (placa que transforma luz solar em energia elétrica) ou uma usina de geração eólica (transformação de vento em energia elétrica). E use essa tecnologia que está disponível para satisfazer as suas necessidades, sem necessariamente ficar ligado a uma grande linha de transmissão, de distribuição, puxando energia não sei de onde.
- O que o senhor diria para a parcela da população brasileira que faz afirmações como estas: "Ah, se não construir Belo Monte não vai ter luz na minha casa", ou "Ah, esses ecochatos que criticam Belo Monte usam Ipad e embarcam em um avião para ir até o Xingu ou para a Europa fazer barulho". O que se diz para essas pessoas para que possam começar a compreender que a questão é um pouco mais complexa do que parece à primeira vista?
Bermann – Não é verdade que nós estamos à beira de um colapso energético. Não é verdade que nós estamos na iminência de um “apagão”. Nós temos energia suficiente. O que precisamos é priorizar a melhoria da qualidade de vida da população aumentando a disponibilidade de energia para a população. E isso se pode fazer com alternativas locais, mais próximas, não centralizadas, com a alteração dos hábitos de consumo. É importante perder essa referência que hoje nos marca de que esse tipo de obra é extremamente necessário porque vai trazer o progresso e o desenvolvimento do país. Isso é uma falácia. É claro que, se continuar desse jeito, se a previsão de aumento da produção das eletrointensivas se concretizar, vai faltar energia elétrica. Mas, cidadãos, se informem, procurem pressionar para que se abram canais de participação e de processo decisório para definir que país nós queremos. E há os que dizem: “Ah, mas ele está querendo viver à luz de velas...”. Não, eu estou dizendo que a gente pode reduzir o nosso consumo racionalizando a energia que a gente consome; a gente pode reduzir os hábitos de consumo de energia elétrica, proporcionando que mais gente seja atendida, sem construir uma grande, uma enorme usina que vai trazer enormes problemas sociais, econômicos e ambientais. É importante a percepção de que, cada vez que você liga um aparelho elétrico, a televisão, o computador, ou a luz da sua casa, você tenha como referência o fato de que a luz que está chegando ali é resultado de um processo penoso de expulsão de pessoas, do afastamento de uma população da sua base material de vida. E isso é absolutamente condenável, principalmente se forem indígenas e populações tradicionais. Mas também diz respeito à nossa própria vida. É necessário ter uma percepção crítica do nosso modo de vida, que não vai se modificar amanhã, mas ela precisa já estar na cabeça das pessoas, porque não é só energia, é uma série de recursos naturais que a gente simplesmente não considera que estão sendo exauridos e comprometidos. É necessário que desde a escola as crianças tenham essa discussão, incorporem essa discussão ao seu cotidiano. Eu também tenho uma dificuldade muito grande de chegar aqui na minha sala e não ligar logo o computador para ver emails, essas coisas. Confesso que tenho. Mas eu também percebo uma grande satisfação quando eu consigo não fazer isso. E essa percepção da satisfação é uma coisa cultural, pessoal, subjetiva. Mas ela precisa ser percebida pelas pessoas. De que o nosso mundo não existe apenas para nos beneficiarmos com essas "comodidades" que a energia elétrica em particular nos fornece. Agora isso exige um esforço, e a gente vive num mundo em que esse esforço de perceber a vida de outra forma não é incentivado. Por isso é difícil. E por isso, para quem quer construir uma usina, quer se dar bem, quer ganhar voto, quer manter a situação de privilégio, seja local ou nacional, para essas pessoas é muito fácil o convencimento que é praticado com relação a essas obras. Por mais que eu tenha sempre chamado a atenção para o caráter absolutamente ilógico da usina, das questões que envolvem a lógica econômico e financeira dessa hidrelétrica, para o absurdo que é a utilização do dinheiro público para isso, para a referência à necessidade de se precisar, num futuro próximo, enfrentar um ritmo violento de custo de vida, emitindo moeda para sustentar empreendimentos como esse, é muito difícil fazer com que as pessoas compreendam a relação dessa situação com as grandes obras. E Belo Monte é mais um instrumento disso. Eu não sou catastrofista, não tenho a percepção maléfica da hidroeletricidade. Não demonizo a hidroeletricidade. Eu apenas constato que, da forma como ela é concebida, particularmente no nosso país nos últimos anos, é uma das bases da injustiça social e da degradação ambiental. Se não é pensando em você, você necessariamente vai precisar pensar nas gerações futuras. Este é o recado para o leitor: é preciso repensar a relação com a energia e o modelo de desenvolvimento, é preciso mudar o nosso perfil industrial e também é preciso mudar a cultura das pessoas com relação aos hábitos de consumo. Nós precisamos mudar a relação que nos leva a uma cega exaustão de recursos.
Em Brasília há um vírus letal que se chama ‘Brasilite’. É um verme que
entra pelo umbigo e faz com que a pessoa se ache o centro do universo"
Célio Bermann
Bermann - Ela é muito cabeça dura.
- Às vezes eu acho que as questões subjetivas têm um peso maior do que a gente costuma dar. Não sei...
Bermann - É, mas eu também não sei, não tenho nenhuma proximidade maior com o que ela está pensando agora. O que eu sei é que, no dia a dia, lá no ministério, ela demonstrava uma capacidade muito reduzida de ouvir. Ela pode até ouvir, mas as coisas na cabeça dela já estão postas.
- Por que o senhor saiu do governo em 2004?
Bermann - Porque venceu o contrato, e eu achei que não valia a pena continuar. Há conhecidos meus que foram na mesma época que eu e estão até hoje em Brasília. Não estão mais no ministério, mas estão em Brasília. Acho que Brasília é uma cidade com um vírus letal, que é a "Brasilite". A "Brasilite" se compõe de um verme que entra no umbigo e toma a barriga da pessoa de forma a ela achar que é o centro do universo. A partir daí, mudam as relações pessoais, o que a pessoa era e o que ela passa a ser. Eu mesmo perdi muitos amigos que começaram a empinar o queixo. Fazer o quê? E isso faz parte do “modus vivendi” brasiliense. Basta você ter um terno e uma gravata que você é doutor. Eu acho que a gente não vai muito longe alimentando isso.
- O senhor participou da elaboração do programa de Lula na campanha de 2002 e participou do primeiro ano de governo. Está desiludido?
Bermann – Eu não aceito quando me definem como: "Ah, você também é daqueles que estão desiludidos, estão chateados...". Tem essa conotação, né? Em absoluto. Eu não estou desiludido, chateado, bronqueado. Eu estou indignado!
- Quando o senhor se desfiliou do PT?
Bermann – Ah, quando o bigode do Sarney estava aparecendo muito nas fotos.
(Eliane Brum escreve às segundas-feiras)
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