Noutro
dia, conversando entre amigos, a esposa de um deles, professora por
sinal, me corrigiu num tom brincalhão quando falei dos meus saudosos
tempos de escola, mais precisamente do período ginasial.
- " Eh, Nilson, hoje se diz ensino fundamental..."
Pois que seja, respondi, e até acho muito apropriada a nova denominação, Ensino Fundamental !
O
ginasial foi de fundamental importância na minha vida, tanto pessoal
como profissional, e assim também, acredito, para a grande maioria dos
que estudaram comigo.
O Henrique
Lage foi um celeiro de jovens promissores, comprovando-se ao longo do
tempo como uma realidade inconteste na formação de profissionais de
gabarito, presentes nas empresas nacionais e também no exterior. Somos
hoje uma gama de técnicos, engenheiros, professores, advogados,
empresários, enfim, homens que ajudaram a engrandecer de fato esse nosso
Brasil tão sofrido.
Até hoje, 40 anos depois, tenho o prazer de conviver com aquele belo passado, acessando velhos companheiros através da internet.
Lamentavelmente
nem todos fazem parte desse dia a dia. Como gostaria de contar com
Arthur, Cláudio, Carlos Alberto ( pequeno ), Emilson, Zé Bento, Cleto,
Robson, Pepeu, Elielson ( que se foi há pouco ), Luiz Carlos ( cuia ),
Marco Aurélio Nunes, Lincoln, Roberto da Costa, Chico, Rogério, Tuca, Zé
Ricardo (ganso), Alfredo, isso pra lembrar somente alguns que me foram
mais próximos, principalmente das turmas A,B e C a partir do 2º ano.
Outros, de
turma mais velha ou mais arredios, como o Dalmo, Oracy e Aderbal,
curiosamente são os que mais tenho contato eletrônico hoje.
Que
período bonito aquele, com disciplina e civismo, quando formávamos em
fila indianae por altura no pátio cercado por palmeiras imperiais,
assistindo ao hasteamento da bandeira e cantando o hino nacional ao som
da banda de música, também formada por alunos, companheiros nossos.
Começávamos assim os nossos dias, com matérias curriculares pela manhã e oficina industrial à tarde.
No horário
do intervalo desfrutávamos das sombras das mangueiras para descansar ou
brincar nas acirradas disputas de "bandeirinhas" ou "garrafão", riscados
no chão de terra.
Paralelamente
vinha a cantina com suas guloseimas, o cheiro forte e atrativo do
grapete, os doces, sanduiches e o gostoso salgadinho piraquê. Em anexo,
usávamos a quadra de futebol de salão, onde improvisávamos toquinhos de
madeira, pequenos retângulos que fazíamos de "bola", deslizando fácil
pelo cimento liso. Tinha também o espaço de areia com aparelhos de
educação física, c/ barras paralelas verticais difíceis de escalar só
com as mãos. Aloísio era mestre nisso...
Quando
chegava a hora do almoço, fazíamos fila no campo de futebol em frente ao
refeitório, supervisionados por inspetores que decidiam quem entrava
primeiro. Recordo-me do Seu Wilson, sempre camarada, Seu Mário, meio
investigador de polícia, nos encarando no fundo dos olhos, separando-nos
firme das brigas tôlas e eventuais. Havia também Seu Edésio, tão
cordato, Seu Esteves, caladão, e o temível Seu Cordélio, com uma varinha
de bambú sempre à mão...
Será que esqueci alguém ?
Além do
café da manhã com leite ou tody, pão e manteiga; no almoço servido em
bandejões tínhamos a presença alegre dos cozinheiros; um em particular
nos chamava a todos por Zé minhoca, preenchendo sorridente os
compartimentos da bandeja metálica, que nos alimentava tão bem.
Mesmo assim
às vezes havia "guerra" de pão, por causa da qualidade do que era
servido, principalmente quando era sôpa. Difícil agradar a todos.
Já
nas aulas de ginástica com os professores Afonso ou Irapuã era quase
unanimidade, todos gostavam, sobretudo quando tinha o futebol. Ali
convivi com verdadeiros craques que nada deixariam a desejar aos Neymar
de hoje.
Assim que
saímos do colégio, quando dava tempo, ainda íamos aos campos da rua
Galvão ou no Costeira. Parece que ainda ouço o Rogério, do Buraco da
Coruja, gritando comigo : "Corta o fino que é o Altair", na época um dos
baluartes na defesa do meu Flu.
Bom de bola
e estudioso era o Marco Aurélio Nunes, da turma B, que um dia me
procurou na turma A, desafiando a ser o melfhor do colégio. Eu possuía
bolsa de estudos do PEBE e já estudava para manter as necessárias médias
altas. Mas bom mesmo era não precisar fazer as provas finais...
Que
tempo bom aquele. Lembro-me dos professores Alédio, Olímpio, Aluizio,
Paim, Herly (careca), das professora Deusa, Diná, Norma, Paleolítica,
Djanira. Isto pra citar apenas alguns do nosso quadro docente. Tudo
muito bem orquestrado pelo Dr. Álvaro Caetano, diretor, que algumas
vezes vi chegar... Figura inusitada, parecendo um gringo com seus olhos
claros, charuto na bôca e dirigindo um jeep. Não menos ilustre o Dr.
Flávio Rocha, na vice direção, elegante como um ator de cinema, galgando
os degraus da escada para sua sala no sobrado. E como não lembrar do
Professor Eraldo, mentor de muitos, com sua dicção e voz marcantes, que
certamente queríamos possuir um dia.
Já na área
industrial vale citar o professor Cavalcante, da oficina elétrica, pela
qual me decidi após passar pela Gráfica ( professor Carrilho ? ),
Madeira e Tornearia Mecânica.
Tive
ao meu lado os colegas Lecir, Nélio, Ronaldo Orta e Bitencourt nesse
período, quee fez mais tarde optar por Eletrotécnica, no Curso Técnico
de Construção Naval, também ministrado no próprio estabelecimento de
ensino.
Curioso é
que tínhamos nessa época duas espécies de vestibular, um para admissão
ao ginásio, outro ao término do 2º grau para ingresso na Faculdade. Isto
certamente nos tornava mais competitivos e melhores.
Outro muito
estudioso era o José Júlio, amicíssimo até hoje, e com quem fiz uma
parceria ao escrever "Uma cidade sôbre o que fôra uma cidade",
magnificamente desenhada por ele no formato de revista em quadrinhos,
bastante elogiado por Dona Diná, professora de português e nossa
incentivadora maior.
Embalado por
esse fato escrevi , desenhei e vendi vários mini gibis a quatro côres,
feitos com canetas esferográficas. Alcir, com quem trocava os gibis
Fantasma, Cavaleiro Negro, Mandrake, Flexa Ligeira etc, era um dos meus
clientes.
Sempre
trocávamos estes gibis às escondidas próximo ao campo de futebol, onde
situava-se o prédio dos vestiário e banheiros, em cujo andar superior
instalava-se a biblioteca escolar, onde passei momentos mágicos com
belíssimos livros e também o consultório dentário, conduzido por uma
jovem profissional, carinhosa e simpática.
Formei-me na
turma de 1968, como muitos aos 14 anos, e ter deixado o ginásio naquela
ocasião foi como um bater de asas rumo a um futuro incerto, que me
traria saudades; na formatura lembro-me do coração pulsando
descompassado, numa ansiedade doida pelo que viria pela frente. Grande
noite aquela !
Mas isso já é uma outra história...
Nilson Ribeiro
P.S.- Graças à iniciativa e
empenho, principalmente dos amigos Dalmo e Deucimar, existe hoje um
encontro mensal, onde os membros, carinhosamente denominados por
jurássicos, se encontram e mitigam as saudades, numa conversa
descontraída e amiga.
Incentivado por Oracy escrevi este texto.
E através destes, encaminho estas simples reminiscências, esperando em breve vê-los pessoalmente.
Nilson
Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais
42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração
diária pra aguentar os trancos da vida.
7 comentários:
Memorável HENRIQUE lAGE
é muito bom ter boas recordações dos alicerces de nossa vida, esse seu orgulho daquele tempo de menino, mostra qual importante é uma boa escola que certamente transforma meninos em homens dignos e capazes para enfrentar a vida. Parabens
Maria angela freitas
cGostaria muito de saber onde esta ocorrendo ou ocorrera o proximo encontro - Sirlei dos Anjos Cunha -
formado 1969 Ginasial e 1772 eletrotecnica.
Gostaria de informaçoes sobre a proxima reuniao jurassico ou telefone de contato- Sirlei dos Anjos Cunha _formatura ginasila 1969 eletrotecnica 1972
Sirlei, entre no site do grupo, seja um seguidor e poste um comentário. Aí está o endereço: http://www.8p.com.br/dalmolima/flog/#
Abç
Lendo sua crônica, que me levou ao passado, me sinto imensamente orgulhoso de ter vivo parte da minha vida no Colégio Industrial Henrique Lage. Estudei todo o ginásio lá e fiz um primeiro semestre do curso de edificações no CTCN. No Henrique Lage fui presidente do Grêmio Cultural e Recreativo Roberto Silveira, que no eu último ano do ginásio realizamos nossa formatura junto com o Colégio Industrial Aurelino Leal... Tempo bom que sempre retorna, pois está vivo e muito bem guardado na memória.
Jorge Luiz Mota Vargas
Brasília-DF
Estudei de 1968 a 1972.
jhoyvargas@gmail.com
Eu, SÉRGIO RIBEIRO passei uma das partes mais importantes da minha vida no Henrique Lage, que foi minha adolecência, de 1971 a 1976 e tenho grandes amigos até hoje: SÉRGIO FIRMINO, SÉRGIO RAMOS, VALDECI RODRIGUES, PEDRO AVELAR, MANOEL CALAÇA, MARIO MACIEL, MARCOS BENEDITO, MILTON RIBEIRO, HUMBERTO RIBEIRO, PAULO CESAR DA SILVA e SIDNEY CARLOS PINHEIRO
Sergio, não consegui identificar o seu e-mail, saiu ilegível na postagem. Entre em contato comigo, por favor. Abç
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