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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Perigo, gaviões


Descobri admirado que onde moro, o rei dos animais é o gavião; sim, essa belíssima ave de rapina, prima irmã das águias altaneiras.
Você imagina que semana passada, ao descongelar vários pacotes de pescoço de peru, iguaria que serviria entre outros tira-gostos a um bando de amigos após a peladinha de domingo, resolvi por causa do volume maior mergulhar esses pacotes numa bacia com água, sobre uma mesa ao Sol num recanto da cobertura.
Pois bem, eis que entretido com outros afazeres na parte de baixo do apartamento, custei a me dar conta do barulho insistentes que vinha lá de cima.
Finalmente ao subir deparei com uma cena inusitada, surpreendente mesmo.
Um casal de gaviões tentava com afinco carregar os pacotes ainda congelados, espalhados em desordem pelo piso, alguns já bicados freneticamente pelo par audacioso, que chegou a me enfrentar quando os espantei, tentando recuperar o que me era de direito.
Acompanhei-os no seu voo majestoso até uma antena de celular, distante uns 300 metros, onde construíram o seu ninho, como "sem bosque" que são na atualidade.
De lá ficaram me espiando, grasnando roucos, claramente de forma inamistosa.
O certo é que de lá pra cá não tive mais paz. Não é que as referidas aves deram pra bicar minhas vidraças, promovendo um barulho terrível, batendo-se inclusive com as garras numa luta renhida pra entrar?
- Não é isso não, explicou-me um amigo. Eles simplesmente estão se vendo
no reflexo formado pelos vidros das saletas e varandas da cobertura, lutando contra inimigos imaginários, guardiões dos pacotes das belas guloseimas que descobriram recentemente ao acaso.
Fui obrigado então a colar papelões em todos os vidros que ficam a rés do chão, na esperança de resolver o problema.
Volta e meia, porém ainda os vejo caminhando pelo parapeito em direção aos vidros mais altos, desafiadoramente.
Agora minha empregada de repente chega agitada, me trazendo outra notícia, até cômica por sinal. Não, não são as aves, disse-me ela, são os vizinhos do 4º andar, casais maravilhosos, que se recebiam mutuamente em animadas festinhas até altas horas, jovens maridos que juntos batiam uma bolinha às terças, esposas saradas que se divertiam às quintas na quadra de peteca, que foram surpreendidos aos tapas, na maior baixaria, pois descobriram-se corneados reciprocamente pelos parceiros.
Tá um falatório danado no condomínio...
É, meu amigo, decididamente onde moro, o reinado é dos gaviões.
Decidi então que tenho de me cuidar duplamente, agora por terra também.
Alertei inclusive com carinho a minha mulher sobre o ocorrido, preocupado, pois os gaviões, estão audaciosos, à solta no prédio!


Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.

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