Se eu pudesse comprava com certeza uma casa portuguesa, com quatro
paredes caiadas e um cheirinho de alecrim. A hora é essa. Segundo a
influente revista “Visão”, o país está à venda. O estado, os bancos, as
empresas, as famílias, todos estão precisando de dinheiro. Daí a moda
dos leilões, que se multiplicam como “uma das formas que os portugueses
encontraram para suprir as suas necessidades imediatas”. Para pagar
dívidas, leiloa-se tudo: “Desde objetos pessoais ao recheio da casa,
entregando os apartamentos aos bancos por não cumprimento dos
empréstimos.” Mais de 140 mil famílias encontram-se com as prestações da
habitação em atraso. No terceiro trimestre de 2011, cerca de 600 mil
pessoas não conseguiram saldar o que deviam (é mais do que a população
da cidade de Lisboa). Também as empresas estão com as suas contas
atrasadas: pelo menos 6% do crédito concedido a elas, ou 7 milhões de
euros, não foram pagos.
Quanto ao estado, promove a liquidação de seu patrimônio para atender às
drásticas medidas de austeridade impostas pela chamada Troika (Comissão
Europeia, FMI e Banco Central Europeu), que é quem manda hoje na
economia dos países do euro. Portugal já vendeu no correr do martelo 80
mil imóveis e dez mil carros, sem falar nos artigos apreendidos em
portos e aeroportos (obras de arte, equipamentos eletrônicos, máquinas,
sofás e até carrinhos de bebês). Mas precisa arrecadar mais, pelo menos 5
bilhões de euros, e para isso terá que privatizar suas maiores
estatais, nas quais algumas empresas brasileiras estão de olho. A
Eletrobrás, por exemplo, se interessa pela EDP (Energias de Portugal) e a
Andrade Gutierrez já declarou a intenção de participar ativamente desse
rico processo de privatização.
Estranhamente, não aparece nenhum candidato brasileiro na lista dos
quatro pretendentes da TAP que “Visão” publica: British Airways/Ibéria,
Qatar Airways, TAAG (angolana) e Lufthansa. No entanto, a julgar pelo
que pude apurar em minha última viagem a Lisboa, a preferência da
simpática companhia aérea é por uma congênere brasileira. O
ex-presidente Lula teria se oferecido até para tentar atrair para o
negócio uma delas, a TAM. Mas pelo visto a mediação fracassou.
Enquanto isso, os portugueses continuam fugindo da crise e buscando o
Brasil. Calcula-se que nos últimos cinco anos os vistos de trabalho
aumentaram quase 70%, concedidos na maioria a jovens profissionalmente
qualificados. Com 20% de desemprego lá e com a expansão da economia
aqui — boom da construção civil, perspectivas do petróleo, obras para
Copa do Mundo e Olimpíadas — o Brasil virou um paraíso, por exemplo,
para engenheiros, arquitetos e construtores. Essa onda migratória faz
lembrar o velho “Fado Tropical”, de Chico Buarque. Com tantos
portugueses se mudando para cá, o Brasil, quem sabe, “ainda vai
tornar-se um imenso Portugal”.
Fonte: Jornal O Globo
Um comentário:
Boa noite!!
Assim, então,desde já, se tornará bem fácil conhecer e de pertinho o famoso "Fado Português"....
Que situação lamentável chega Portugal, um país lindo e com uma história rica em arte e cultura..
Um abraço,
Ana Maria
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