Por
mais que os ficcionistas quebrem a cabeça para inventar crimes,
mistérios e conspirações complexos, surpreendentes e emocionantes, os
livros, filmes e seriados acabam sempre superados pela vida real. O
assassinato do prefeito Celso Daniel completa dez anos sem culpados nem
condenados, e pior, desde o início das investigações sete testemunhas e
investigados já foram assassinados ou morreram em circunstâncias
misteriosas. O principal acusado é digno de um pulp fiction: o Sombra.
O roteiro: prefeito de uma
próspera cidade industrial faz um acordo com empresários
correligionários para desviar dinheiro público para as campanhas do seu
partido. Ninguém ganharia nada, não eram corruptos, eram patriotas a
serviço da causa e do partido, afinal, estava em jogo transformar o
Brasil, os nobres fins justificavam os meios sujos. Foi assim no início,
mas o ser humano?
Com a dinheirama crescendo e
rolando sem controle, o Sombra, chefe da operação e amigo do prefeito,
começa a desviar para sua própria causa. Outros empresários do esquema, e
alguns políticos que intermediavam as contribuições, também começam a
meter a mão. Até que o prefeito, que não sabia de nada, descobre tudo e
ameaça detonar o esquema. Seria o fim para o Sombra e a quadrilha.
O prefeito é atraído pelo Sombra
para uma cilada, o carro dos dois é interceptado por bandidos e o
prefeito sequestrado, o Sombra escapa ileso. Nenhum resgate é pedido,
dias depois o prefeito é encontrado morto a tiros e com marcas de
tortura. Contra as evidências, a polícia trata o caso como um sequestro
comum, mas o Ministério Publico vai fundo nas conexões políticas. O
garçom que havia testemunhado a última conversa entre o prefeito e o
Sombra é executado. Em seguida, uma testemunha da morte do garçom. O
bandido que fazia a ligação entre os sequestradores e o Sombra é
assassinado na cadeia. O médico legista, que atestou as marcas de
tortura, morre envenenado. Ameaçado, o irmão do prefeito se exila na
França. O Sombra continua nas sombras, o processo não anda, logo o crime
estará prescrito. E o pior de tudo: não é ficção.
Fonte: Jornal O Globo
Um comentário:
O sentimento no Brasil é o de que as penas, a aplicação das penas, a morosidade da justiça e as leis demasiadamente protetivas ao criminoso estão destruindo nossa sociedade.
Lamentável!!!
"A Sombra continua nas sombras, o processo não anda, logo o crime estará prescrito. E o pior de tudo: não é ficção".
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