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segunda-feira, 23 de julho de 2012

As Amigas - Nadia Foes


São cinco amigas. Tem a que tem olhos de gata, tem a que vive freqüentando motel,  tem a perua que gosta de receitas para depois do amor, tem a que é artista e tem a Xuxa morena. Encontram-se duas vezes por semana para fofocar. A que tem olhos de gata é louca por um padre e são íntimos. A que freqüenta motel é casada com um homem muito bonito, aliás, fazem um casal bonito, são mais jovens. A perua é madrasta da que freqüenta o motel e quando se encontram a conversa gira em torno de missa, coral, sexo, receitas, moda, enfim, assuntos gerais. Mas, o assunto mais discutido é o sexo e o desempenho sexual dos maridos. A que freqüenta motel gosta de apontar as vantagens desses encontros e também as novidades, tipo cadeira que gira, poltrona erótica, colchão d’água, piscina, pista de dança com espelhos no teto e no chão, uma loucura. Aqui cabe um porem, ela mora em um apartamento pequeno, tem um filho de 18 anos que gosta de trazer a namorada pra casa. Então a solução é eles irem para o motel. A perua é casada com um senhor que é pai da que freqüenta motel. Ele está na casa dos 60 e ela diz que tem 58 anos. Diga-se de passagem, a três anos a vela do bolo de aniversário dela tem o mesmo número. Mas ela diz que a performance do marido é de deixar muito garoto no chinelo e gosta de fazer petiscos para depois do amor. Eles têm um filho de 20 anos que também trás a namorada em casa, mas a casa é grande e ninguém tira a liberdade de ninguém. A Xuxa morena gosta mais de transar na casa dos outros e brincar de esconde-esconde com os donos das casas. A que tem olhos de gata, no aniversário dela, ganhou de presente de uma das amigas, um vibrador e roupas sexy e como não tem marido, a amiga achou que este era o presente ideal, mas ela disse que ainda não usou porque melhor mesmo é o padre e se fecha em copas... A artista é casada com um homem que ela tem certeza pensar que as mulheres tem inveja do órgão masculino só que o que ele não sabe é que as mulheres fazem sexo com prazer até os oitenta e só querer e ter flexibilidade. Essa não conta nada para as amigas só ouve as vantagens que elas tem para contar. É comum elas dizerem que as vezes tem que estar escapulindo para dar uma trégua tal o apetite sexual deles, são insaciáveis. Mas teve um dia que a artista foi obrigada a contar as peripécias dela e as amigas, conta, conta, conta... Aí ela meio encabulada pensou e soltou essa, nós fazemos sexo só na lua cheia porque é uma lua afrodisíaca, fazemos com direito a champagne, morangos e pensou, o que é mesmo que vi no filme Uma Linda Mulher, na cena em que a Julia Robert está na fase de prostituta deitada no tapete do hotel assistindo televisão e tomando champagne e comendo morangos. Aí ela lembrou, ah.., ela usava botas longas e mini-saia e ela soltou mais essa, uso botas vermelhas de paetês até os joelhos, calça corsário e espartilho negro. Afinal não era nem boba de dizer que usava mini-saia e botas de cano longo. Todas acharam o máximo e já estão até na fila da bota. Só que o que ela não disse é que sexo, só na lua cheia, a cada cinco anos. Mas, enfim, cada um fantasia como pode. Foi aí que a artista lembrou, uma ocasião quando foi viajar com o marido para uma festa de aniversário da sobrinha, ficaram hospedados num hotel, daqueles de rede internacional com nome de uma famosa corrida de carros. Quando eles saíram da festa e chegando no hotel, entraram pela garagem para estacionar. Isso era por volta das 23:30 horas e estava uma mulher loura, de cabelão crespão, de casaco xadrez rosa e branco, bolsas e botas rosa, e estava conversando com o funcionário do estacionamento; dava para notar que ela estava a procura de programa e a artista disse ao marido, enquanto você estaciona eu vou comprar água mineral na portaria  e ele respondeu, deixa que eu compro. E praticamente tirou-a de dentro do carro e jogou-a dentro do elevador e ainda gritou, espera lá em cima. Ela esperou, duas horas e meia, contadinho no relógio, foi quando ele chegou mal humorado, se queixando do transito, que era pra ela não fazer nenhuma pergunta e foi direto para o banho, alegando que teve que atravessar a cidade inteira para comprar uma garrafa de água. A artista, que tem muito medo de doenças venéreas, pegou a garrafinha com repugnância e lavou bem lavada, só depois abriu. A água era para tomar medicamentos, um calmante e um comprimido para dormir. Mas isso ela não contou para as amigas também porque esse tipo de humilhação a gente esconde bem escondidinho dentro de um baú, lá no fundo da memória e se algum dia abrir esse baú, será o mesmo que abrir a caixa de Pandora. Pandora não deveria abria a caixa, em hipótese alguma, mas, como toda a mulher, era curiosa, ela abriu e da caixa saíram todas as misérias do mundo. Na volta da viagem ela fez o marido acompanhá-la ao shoping, coisa que ele sempre detestou, e comprou uma bota rosa, rosa bebê, que custou os olhos da cara.  Foi realmente muito cara, só um sapateiro famoso  poderia ousar uma bota rosa igual e um casaco estilo channel, xadrez rosa. Ele pagou pelos dois. A idéia dela era se fantasiar de prostituta, mas pensou, pensou, e se deu o respeito. A bota ela usou uma vez com uma calça cinza e camisa branca e o casaco ela está querendo vender para não ficar no prejuízo. A bota fica como lembrança porque certas coisas uma mulher jamais deve esquecer. Quanto aos encontros com as amigas, continua sendo duas vezes por semana e a conversa, como sempre, é sexo, homem bonito, homem que tem boa pegada, gostoso, é lógico que nessa entra o padre, o sexo feito na casa dos outros, as comidas para depois do amor, o último motel que foi inaugurado. Só que dias desses, a que só freqüenta motel apareceu com uma pereba no braço e acha que pegou lá no motel que acaba de ser inaugurado. E o médico disse que era provável que não tenham trocado as toalhas de banho ou os lençóis e que de agora em diante é melhor que ela leve os seus lençóis e toalhas de banho. Aí a artista ficou pensando, ai que preguiça... E continuou ouvindo e pensando na próxima fantasia que vai inventar. Até já tentou usar a roupa de dragão da neta que tem quatro anos, pelo menos a parte de cima, só para tirar uma foto e mostrar para as amigas e dizer: essa fantasia é para a lua minguante que deve ser menos afrodisíaca para compensar os excessos da lua cheia, senão não há quem agüente. E a fantasia de dragão ela vai dizer que pediu emprestado ao dragão de São Jorge.
Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

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