“Posso não ser responsável pelo que fizeram de mim
mas sou responsável pelo que faço com o aquilo que fizeram de mim.”(Jean Paul
Sartre).
Ela chegou na agropecuária cansada como sempre.
Quando entrou na loja um senhor de boa aparência, elegante, aquele tipo de pai
idoso e bonitão, pai de uma pessoa madura. Ele estava no caixa pagando a conta
e ela começou a escolher o que estava faltando para os seus bichinhos; escolheu
os ossinhos, os florais, a ração para as calopsitas e o senhor elegante, muito
gentilmente, disse ao balconista. Pode atender essa moça primeiro que eu posso
esperar. Ao que ela respondeu, não se preocupe, afinal o senhor já está pagando
as suas compras. Não, ele respondeu, faço questão de esperar, pois sou um homem
a moda antiga, abro a porta do carro para as senhoras, mando flores, gosto de
viajar, gosto de acompanhá-las ao
teatro, e perguntou: gosta de teatro? Ela fez que sim com a cabeça. E de
cinema? Ela concordou novamente com um gesto. Diga-se de passagem, ela é meio
arisca, acho até que tem seus escudos em segredo. Nisso o funcionário pegou o
saco de ração e disse vou colocar no seu carro, senhor. O senhor virou-se para
ele e disse: já falei, atende primeiro a moça. Mas o rapaz que estava com o
saco de ração nas costas levou assim mesmo e o senhor voltou-se para ela e
disse, nós estávamos aqui conversando, e ele, disse apontando para o rapaz, faz
isso. Ela pensou, esse senhor deve estar enganado, isto é um monólogo, afinal
eu não disse uma palavra até agora. Foi só ele que falou. E como não estava
interessado em dialogar, pois tinha pressa, quando o rapaz entrou ela pediu
mais um saco de ração, pagou a conta e saiu. Na semana seguinte, ela voltou
novamente na agropecuária, foi atendida pelo irmão do dono, que é uma moça
muito acanhada, muito calada, nem parece comerciante, mal olha para os fregueses.
Pois a moça foi atendê-la e perguntou: A senhora esteve aqui na semana passada?
Ela respondeu que sim. Aí a moça perguntou: foi na segunda feira não foi? Ela
continuou perguntando. comprou um saco de ração de 8 quilos? Comprou também
ossinhos e florais? Sim. Aí ela pensou: isso parece um inquérito! Aí a moça
disse, gostaria de saber se a senhora
vende gatos ou cachorros e o seu telefone celular. Ela não vendia gatos, pois
seus gatinhos já são idosos e de estimação. E os cães também, são de companhia
e de estimação. E o telefone, porque que você quer saber? Vou ganhar algum
premio, vão fazer algum sorteio com números de telefone? A moça disse que não e
ficou calada. No momento ela não pensou em nada, pois tinha pressa. Mas no dia
seguinte ela se perguntou, porque que a moça que não gosta de falar fez tantas
perguntas? Vá saber. Mas da próxima vez que voltar lá eu vou perguntar a ela o
que aconteceu. Foi aí que ela lembrou , será que foi para dar informações para
alguém? E o senhor do monólogo? Não acredito. E foi-se olhar no espelho para
ver se tinha cara de carente, do tipo estou a perigo.
Restaurandora
de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi
classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros
publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais
domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura,
cinema, e a paixão de escrever.
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