Siga o Blog do Oracy

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Senhor à moda antiga - Nadia Foes


“Posso não ser responsável pelo que fizeram de mim mas sou responsável pelo que faço com o aquilo que fizeram de mim.”(Jean Paul Sartre).
Ela chegou na agropecuária cansada como sempre. Quando entrou na loja um senhor de boa aparência, elegante, aquele tipo de pai idoso e bonitão, pai de uma pessoa madura. Ele estava no caixa pagando a conta e ela começou a escolher o que estava faltando para os seus bichinhos; escolheu os ossinhos, os florais, a ração para as calopsitas e o senhor elegante, muito gentilmente, disse ao balconista. Pode atender essa moça primeiro que eu posso esperar. Ao que ela respondeu, não se preocupe, afinal o senhor já está pagando as suas compras. Não, ele respondeu, faço questão de esperar, pois sou um homem a moda antiga, abro a porta do carro para as senhoras, mando flores, gosto de viajar,  gosto de acompanhá-las ao teatro, e perguntou: gosta de teatro? Ela fez que sim com a cabeça. E de cinema? Ela concordou novamente com um gesto. Diga-se de passagem, ela é meio arisca, acho até que tem seus escudos em segredo. Nisso o funcionário pegou o saco de ração e disse vou colocar no seu carro, senhor. O senhor virou-se para ele e disse: já falei, atende primeiro a moça. Mas o rapaz que estava com o saco de ração nas costas levou assim mesmo e o senhor voltou-se para ela e disse, nós estávamos aqui conversando, e ele, disse apontando para o rapaz, faz isso. Ela pensou, esse senhor deve estar enganado, isto é um monólogo, afinal eu não disse uma palavra até agora. Foi só ele que falou. E como não estava interessado em dialogar, pois tinha pressa, quando o rapaz entrou ela pediu mais um saco de ração, pagou a conta e saiu. Na semana seguinte, ela voltou novamente na agropecuária, foi atendida pelo irmão do dono, que é uma moça muito acanhada, muito calada, nem parece comerciante, mal olha para os fregueses. Pois a moça foi atendê-la e perguntou: A senhora esteve aqui na semana passada? Ela respondeu que sim. Aí a moça perguntou: foi na segunda feira não foi? Ela continuou perguntando. comprou um saco de ração de 8 quilos? Comprou também ossinhos e florais? Sim. Aí ela pensou: isso parece um inquérito! Aí a moça disse,  gostaria de saber se a senhora vende gatos ou cachorros e o seu telefone celular. Ela não vendia gatos, pois seus gatinhos já são idosos e de estimação. E os cães também, são de companhia e de estimação. E o telefone, porque que você quer saber? Vou ganhar algum premio, vão fazer algum sorteio com números de telefone? A moça disse que não e ficou calada. No momento ela não pensou em nada, pois tinha pressa. Mas no dia seguinte ela se perguntou, porque que a moça que não gosta de falar fez tantas perguntas? Vá saber. Mas da próxima vez que voltar lá eu vou perguntar a ela o que aconteceu. Foi aí que ela lembrou , será que foi para dar informações para alguém? E o senhor do monólogo? Não acredito. E foi-se olhar no espelho para ver se tinha cara de carente, do tipo estou a perigo.
Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

Nenhum comentário: