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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Flavinha e Paloma - Nadia Foes


Flavinha é o protótipo da mulher realizada. Tem um marido exemplar, tipo metade da laranja.  O único senão foi receber a noticia de que seu marido exemplar vai passar uma longa temporada fora, a negócios. Explica-se, é a primeira vez que o casal não vai viajar junto. Os filhos estão em idade escolar. Ela nunca fumou, não toma calmantes, nem sabe o que é isso. Ela é do tipo ame e cure sua vida. Família certinha. Como estava triste, ligou para sua irmã Paloma para saírem juntas. Convite feito, convite aceito. As duas almoçaram juntas, foram ao shopping fazer umas comprinhas e no final da tarde sua irmã lembrou de dar uma esticada em casa de uma amiga. Flavinha concordou. A casa da amiga era uma casa muito mal conservada e desarrumada. A dona da casa estava com olhos vermelhos e não dizia coisa com coisa. Lá pelas tantas chegou o filho da dona da casa e resolveu mostrar para as visitantes os produtos para emagrecer que ele vendia. Ele puxou uma porta para fazer as vezes de um quadro e com o pincel atômico fazia desenhos do interior do corpo humano e dava explicações científicas. Ele acabara de fazer o curso de vendas na empresa que representava e usou Flavinha e sua irmã como cobaia. E como as duas visitantes não compraram nada, ele ofereceu um cigarro e Paloma, para surpresa de Flavinha, praticamente atirou-se para apanhar o tal cigarrinho de cheiro esquisito. A dona da casa entrou em um quarto e trouxe uma quantidade de cachecol de lã para vender. Como estavam no inicio da primavera elas não compraram os cachecóis. Pois a dona da casa não desistiu e tentou vender uma caixa de doces mineiros, cada caixa com 60 doces caseiros. Flavinha explicou que estava fazendo dieta. O filho da dona da casa resolveu fazer demonstração dos produtos mineiros. Flavinha, já desesperada, comprou um vidro de doce de leite com ameixas. O cheiro do cigarro estava lhe dando dor de cabeça. Flavinha foi para a varanda e o dono da casa ofereceu um cigarrinho novamente e novamente ela explicou que não fumava. Se despediram e saíram. Chegando em sua casa Flavinha colocou o tal doce na prateleira da cozinha e foi cuidar do jantar com a empregada que queria servir o tal doce de sobremesa, mas acabou servido o doce predileto do marido de Flavinha. Tocou o telefone no dia seguinte cedo, era Paloma que desesperada pediu para Flavinha não abri o doce porque aquele lote não era para vender, foi engano e o lote estava estragado. Não deu meia hora e Paloma apareceu levar o doce. Trouxe consigo uma pinça grande e uma espátula. Abriu o vidro, com a espátula afastou o doce e com a ajuda de uma pinça alcançou um invólucro que retirou delicadamente de dentro do vidro de doce, lavou o tal secando com cuidado, depois examinou contra luz. Flavinha vendo toda aquela operação sem entender nada falou para Paloma: você me disse que ficaria para o almoço, pois vou mandar preparar o teu prato predileto. Paloma agradeceu e disse que estava apressada e viu um pote de bicarbonato entre os temperos na prateleira da cozinha e colocou junto com o tal invólucro e saiu sem se despedir. Dias depois Flavinha leu nos jornais que a policia estava a procura de um grupo de senhoras que estavam traficando drogas dentro de vidros de doces caseiros. Flavinha lembrou do tal invólucro dentro do vidro de doce e também de ter visto o vidro com doce na lata de lixo. Paloma levou apenas o que lhe interessava. Flavinha até hoje treme nas bases só de pensar que poderia ter sido envolvida e em como ficaria sua família tão certinha, tudo tão perfeito. Flavinha ligou para Paloma, a empregada disse que dona Paloma estava fora do país por um longo tempo.

Nadia  Foes
Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

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