Pesquisa genética promete acabar com problemas de visão, como a miopia, que se tornou epidêmica em todo o mundo
Óculos vão virar peças de museu e não demora, pelo menos os modelos de grau, para corrigir defeitos como a miopia.
Uma ótima notícia, até porque o número de pessoas com dificuldade para enxergar de longe só aumenta. Esta semana, cientistas de diferentes países anunciaram a descoberta de um dos genes que seria responsável pelo crescimento distorcido do olho. A novidade abriria o caminho para o desenvolvimento de drogas, como, por exemplo, colírios para corrigir a miopia e outras defeitos de visão. Também avançam as pesquisas para tratar a vista cansada e a cegueira associadas à idade.Segundo médicos, em cerca de dez anos, os óculos serão apenas acessórios de moda, se for possível corrigir defeitos em genes, um deles o RASGRF1, como mostram estudos sobre o tema na revista “Nature Genetics”.A publicação cita ainda investigações de variantes genéticas associadas ao glaucoma, uma impor tante causa de cegueira.C h r i s t o p h e r H a m mond, do King’s College em Londres, que participou de uma das pesquisas, está otimista e acredita que será possível acabar com a miopia pingando colírios ou por meio de comprimidos, assim que se conseguir identificar como as variações genéticas afetam os olhos.Só no Brasil, a taxa de alta miopia (acima de 6 graus) atinge mais de 10% da população.— Esperamos bloquear os sinais genéticos que causam a miopia — diz Hammond, c u j a e q u i p e a v a l i o u 4.270 pacientes. — Provavelmente, isto seria feito com pílulas ou colírios, mas levaria pelo menos uma década.O gene RASGRF1 já era conhecido por interferir em células nervosas da retina, estrutura que transforma o estímulo luminoso em nervoso.Tanto que teria papel importante na consolidação da memória visual. Há um consenso, porém, de que ele não é um único culpado pelos problemas de refração.E apesar de a miopia ser o problema de visão mais comum, até hoje pouco se sabe a respeito de suas bases genéticas.
Fatores ambientais têm um peso importante Em Cingapura, por exemplo, 80% da população é míope, enquanto nos EUA, uma em cada três tem essa dificuldade. Na China, mais de 61% apresentam algum grau de miopia.Diante desses números, se os cientistas acabarem com o problema apenas receitando medicamentos — hoje a única opção, mesmo assim com restrições, é a cirurgia —, muita gente vai se ver livre dos óculos de grau. Isso porque o número de míopes cresce em todos os continentes, provavelmente por causa de fatores ambientais. Um deles é o excesso de horas em frente ao computador.— A ideia de um mundo sem óculos é fascinante e algumas sociedades serão mais beneficiadas do que outras. Embora a miopia seja determinada geneticamente, é muito mais provável que seja desencadeada pelo estilo de vida moderno — diz Hammond. — A falta de atividades ao ar livre é um fator, assim como excesso de trabalho em escritórios e viver em centros urbanos.Terri Young, que liderou o estudo na Universidade de Duke, concorda que a vida moderna contribui para mais casos de miopia. O olho desaprende a enxergar de longe.— As pessoas precisam sair mais às ruas, olhar o horizonte — sugere. — Hoje em dia forçamos nossos olhos a estar em tensão constante para focar em objetos próximos, para leitura, TVs, computadores e trânsito pesado. Estamos cercados por prédios altos e temos pouca chances de olhar cenários distantes. Essas situações afetam os olhos de adultos e o desenvolvimento da visão nas crianças.Os cientistas concordam em outro ponto: se os fatores ambientais nocivos aos olhos não forem eliminados, os óculos ainda vão existir por muito tempo. O oftalmologista Marcelo Martins Ferreira Junior, do Instituto Benjamin Constant, no Rio, acha que o estudo genético é fantástico, mas concorda com Hammond, quando ele afirma que nem todos se verão livres do acessório.— Não só eu, mas outros médicos brasileiros, constatamos novos diagnósticos de miopia em adultos jovens, por volta dos 25 anos. Antes, esse vício de refração era mais visto até o fim da adolescência. O uso em excesso de computadores pode ser um fator. Será que esse abuso afeta a córnea e o globo ocular? Talvez seja uma pista.
Parcela significativa pode ainda precisar do acessório Para o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier, em Campinas, a pesquisa genética poderá evitar a cegueira numa parcela importante da população mundial. Isso porque, a evolução da alta miopia predispõe ao glaucoma, ao descolamento e à degeneração da retina, doenças graves.
Ele também acha que os óculos de grau ainda serão um acessório indispensável para um grande número de pessoas.E reforça que a causa da miopia é ambiental.— Nos últimos 20 anos, a população de míopes duplicou no mundo. Se fosse só um problema genético isso não teria ocorrido. Além disso, crianças que passam muitas horas no computador ou jogando games têm quase o dobro de chance de sofrer de miopia — alerta Queiroz.
Esta é a conclusão de um estudo que ele liderou no Instituto Penido Burnier com 360 crianças de 9 a 13 anos. Neste grupo, a prevalência de miopia no Brasil é de 12%. Entre os participantes do estudo, 21% apresentaram miopia acomodativa.Trata-se de uma dificuldade transitória para enxergar de longe por causa do esforço prolongado para ver de perto, que diminui a capacidade de o olho focalizar com nitidez: — Até em pessoas acima de 20 anos, fase em que o grau estabiliza, é comum o aumento da miopia quando elas estão se preparando para vestibular ou concurso, devido à da leitura prolongada — diz.E a pesquisa genética para acabar com a miopia e outros defeitos da visão ainda vai facilitar a vida de quem não quer usar óculos ou lentes de contato e não pode operar, afirma Martins Ferreira.
— Antes se operava todo mundo que tinha miopia. Com a evolução das técnicas cirúrgicas, vimos que há limitações.Por exemplo, pacientes com a córnea fina, muito plana e com irregularidades na superfície podem ter contraindicação cirúrgica.Agora é esperar os resultados dos próximos estudos genéticos
Outros recursos para melhorar a visão
VISTA CANSADA: Opções cirúrgicas para vista cansada, que aparece depois dos 40 anos, têm sido um grande desafio. Há mais de dez anos o laser é uma opção confiável e segura para corrigir a miopia e a hipermetropia, mas ainda não há remédio definitivo para o mais trivial dos males oculares. Segundo o oftalmologista Queiroz Neto, com o laser, médicos conseguem a monovisão, ou seja, o cirurgião faz com que o olho dominante fique com a boa visão para longe, e o outro, com boa visão para perto, uma adaptação da cirurgia a laser para corrigir a miopia e a hipermetropia. Mais recentemente, na cirurgia da catarata, ao substituir o cristalino por uma lente artificial, o médico implanta uma lente intraocular multifocal, e há quem faça isso numa tentativa de corrigir a vista cansada.
DEGENERAÇÃO MACULAR: Para a degeneração macular senil (DMRI), Queiroz Neto diz que teremos novidades com a nanotecnologia e os implantes intraoculares. São implantes que vão liberar lenta e gradualmente anti-inflamatórios hormonais e/ou não hormonais.Também haverá maior conhecimento sobre a causa da doença, novos estudos sobre os efeitos da radiação ultravioleta no sistema ocular. Ele acredita que o mapeamento genético poderá revelar a predisposição para desenvolver a doença, o que pode levar a um tratamento eficaz. Ainda inexiste solução para a degeneração macular do tipo atrófica ou seca, responsável por 90% dos casos. Já a degeneração macular exsudativa ou úmida, caracterizada pela formação de uma teia de vasos sanguíneos na retina, pode, em alguns casos, ser tratada a laser evitando-se a sua progressão. Embora a sua incidência seja menor, representa um maior risco de perda importante da visão.Nos últimos anos, o tratamento da doença passou a contar com a terapia fotodinâmica que associa um medicamento especialmente desenvolvido com a aplicação de um novo laser. A técnica consiste em injetar o fármaco em uma da veias do braço do paciente e o líquido se espalha pelo corpo, concentrandose nos vasos anormais da retina.Em seguida, esses vasos são destruídos por pulsos de luz do laser dirigidos para a retina.O paciente deve se proteger da luz do sol por um período de 24 horas a 48 horas.Este tratamento não reverte a perda da visão ocorrida anteriormente, mas evita danos adicionais. Em alguns casos, pode ser necessário repetir o procedimento mais de uma vez por ano.Recentemente, chegaram ao mercado drogas antiangiogênicas que barram a evolução da doença em 95% dos casos e melhoram a visão de 40% dos pacientes após um ano de tratamento, segundo estudos clínicos.Uma pesquisa multicêntrica, o Age-Related Eye Disease Study, indicou que o consumo de uma combinação de vitamina C (500 mg), betacaroteno (15 mg), vitamina E (400 UI), zinco (80 mg) e cobre (2 mg), além de luteína, é benéfico em alguns casos.
Além disso, a suplementação com ácido fólico, vitaminas B12 e B6 reduz em 35% o risco de degeneração macular e em 41% a sua piora, quando indicada na fase inicial, segundo estudo com mulheres acima dos 40 anos na Escola de Medicina de Harvard. O problema é que o idoso brasileiro toma, em média, 6 remédios diferentes ao dia e compromete de 30% a 45% do orçamento em alimentação, de acordo com IBGE. Hoje, 2,9 milhões de brasileiros sofrem de DMRI.
Fonte: Jornal O Globo, caderno Saúde
DEGENERAÇÃO MACULAR: Para a degeneração macular senil (DMRI), Queiroz Neto diz que teremos novidades com a nanotecnologia e os implantes intraoculares. São implantes que vão liberar lenta e gradualmente anti-inflamatórios hormonais e/ou não hormonais.Também haverá maior conhecimento sobre a causa da doença, novos estudos sobre os efeitos da radiação ultravioleta no sistema ocular. Ele acredita que o mapeamento genético poderá revelar a predisposição para desenvolver a doença, o que pode levar a um tratamento eficaz. Ainda inexiste solução para a degeneração macular do tipo atrófica ou seca, responsável por 90% dos casos. Já a degeneração macular exsudativa ou úmida, caracterizada pela formação de uma teia de vasos sanguíneos na retina, pode, em alguns casos, ser tratada a laser evitando-se a sua progressão. Embora a sua incidência seja menor, representa um maior risco de perda importante da visão.Nos últimos anos, o tratamento da doença passou a contar com a terapia fotodinâmica que associa um medicamento especialmente desenvolvido com a aplicação de um novo laser. A técnica consiste em injetar o fármaco em uma da veias do braço do paciente e o líquido se espalha pelo corpo, concentrandose nos vasos anormais da retina.Em seguida, esses vasos são destruídos por pulsos de luz do laser dirigidos para a retina.O paciente deve se proteger da luz do sol por um período de 24 horas a 48 horas.Este tratamento não reverte a perda da visão ocorrida anteriormente, mas evita danos adicionais. Em alguns casos, pode ser necessário repetir o procedimento mais de uma vez por ano.Recentemente, chegaram ao mercado drogas antiangiogênicas que barram a evolução da doença em 95% dos casos e melhoram a visão de 40% dos pacientes após um ano de tratamento, segundo estudos clínicos.Uma pesquisa multicêntrica, o Age-Related Eye Disease Study, indicou que o consumo de uma combinação de vitamina C (500 mg), betacaroteno (15 mg), vitamina E (400 UI), zinco (80 mg) e cobre (2 mg), além de luteína, é benéfico em alguns casos.
Além disso, a suplementação com ácido fólico, vitaminas B12 e B6 reduz em 35% o risco de degeneração macular e em 41% a sua piora, quando indicada na fase inicial, segundo estudo com mulheres acima dos 40 anos na Escola de Medicina de Harvard. O problema é que o idoso brasileiro toma, em média, 6 remédios diferentes ao dia e compromete de 30% a 45% do orçamento em alimentação, de acordo com IBGE. Hoje, 2,9 milhões de brasileiros sofrem de DMRI.
Fonte: Jornal O Globo, caderno Saúde
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