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terça-feira, 21 de agosto de 2012

Camisinha, até quando?

'O casal deveria era experimentar tirar a camisinha do coração', diz Leo Jaime
Você conhece alguém que lhe desperta desejo e curiosidade. Na primeira vez que vão rolar intimidades, um dos dois propõe o uso de camisinha. Soa elegante, cuidadoso, gentil até. Passa-se um mês e o que era uma promessa vira um tórrido romance, daqueles em que conta-se as horas até o próximo encontro. Um mês e 23 transas depois, em uma noite intensa, as camisinhas acabam e o desejo está lá, presente e quase sufocante. Dizer neste momento: “Deixa a camisinha pra lá e vamos nessa”, é quase que uma declaração de amor. No fundo o que está sendo dito é: eu corro esse risco com você, em nome do que eu sinto. E daí em diante, camisinha é passado. Sem exame, nem nada. É um risco mas é, também, uma historinha comum, não é? Você já a ouviu antes.

Algumas mulheres casadas escolhem a camisinha como contraceptivo porque acham que os maridos podem lhes trair e, ao traírem, não usarão camisinha. São casadas com esta hipótese. Há casais que acham que como já se conhecem bem, e se gostam muito, não precisam dela. Outros usam a camisinha porque se iniciaram na vida sexual com ela e a acham muito natural. Faz parte. Outros não usam a camisinha porque querem sentir o corpo do outro, querem a troca de fluidos, querem a sensação completa de preenchimento e união que o gozo despreocupado e interno pode proporcionar. E há, claro, quem queira filhos.

O aparecimento da Aids trouxe dois grandes males para a humanidade. O primeiro é óbvio: a doença que matou milhões e ainda incomoda muita gente. Embora seja atualmente tratável, ainda não há cura ou vacina. O segundo grande mal foi a paranoia associada ao sexo. De uma hora para a outra as palavras sexo, camisinha e morte começaram a aparecer com muita frequência na mesma sentença. Como bem anunciou Cazuza, uma das vítimas deste mal: “Meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’roll”. Sinal dos tempos. A doença matou milhões de pessoas; a paranoia continua matando milhões de desejos, levando para as camas de todos o espectro da morte, assombrando relações e apavorando-as com culpa. E isto é uma doença que, ao meu ver, tem cura.

Acho que seria igualmente elegante e cortês se, no primeiro dia, na primeira transa, logo após a proposição de usar a camisinha, um dos dois, deste nosso hipotético casal, dissesse: Até quando? Até a quinta vez? Até o final do primeiro mês? Não importa a data, que se estabelecesse um dia para cessar o medo. Os casais, ou parceiros sexuais, deveriam oferecer, um ao outro, seus exames de saúde eliminando do ambiente erótico toda e qualquer dúvida sobre doenças. Isto é saudável.

A camisinha, perpetuada na relação, acaba por ser a permanência da dúvida. Em um determinado momento pedir ou usar camisinha é dizer: não sei do seu passado, não sei se você pode me passar uma doença mortal e não confio em você; confio na camisinha. Pode-se dar a isso o nome de sexo seguro. Mas o amor é inseguro! Ao invés de colocar camisinha no sexo, ou filme plástico na mulher que vai receber sexo oral, o casal deveria era experimentar tirar a camisinha do coração.

Até porque camisinha serve para casais onde um é doente e o outro não. E eles existem e devem poder existir! Serve também para casais onde os dois são soropositivos. E a possibilidade de alguém soropositivo ser amado tem que existir. E de fazer sexo, com camisinha, claro, idem. O amor não é só para os que têm a saúde perfeita. Gente que tem deficiências físicas das mais diversas devem procurar o máximo de satisfação afetiva e sexual. E todos nós devemos nos preparar para o amor, como anunciam os votos no casamento: na saúde e na doença!

Sexo é vida. Sexo é bom. Sexo não mata. O que mata é a ignorância. Sexo é o que dá a vida. Para se gerar vida tem que haver sexo. Sem camisinha, claro. Na dúvida, use camisinha. Para acabar com a dúvida: exames.

Fonte: http://gnt.globo.com/comportamento/leo-jaime/Camisinha--ate-quando-.shtml

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