“Durou pouco mais de dez dias as resoluções do Conselho Regional de
Medicina do Rio de Janeiro(Cremerj), que proibiam médicos de fazerem
parto em casa e vetava a participação de parteiras e doulas
(acompanhantes de gestantes) nos procedimentos em hospitais. Nesta
segunda-feira, a 2ª Vara Federal do Rio de Janeiro suspendeu ambas as
determinações, acatando a ação civil pública ajuizada na sexta-feira
pelo Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ).”
[texto de Pollyanne Lima e Silva, para a Veja on line, Rio de Janeiro]
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, as resoluções eram válidas
apenas no âmbito do Rio de Janeiro, como se pode confirmar no trecho da
reportagem, acima. Apesar disso, o tema foi discutido amplamente,
principalmente em redes sociais e muito mais naqueles perfis e páginas
que se configuram em defesa da liberdade feminina com relação ao próprio
corpo. Até porque, hoje, poucas coisas acabam ficando ‘localizadas’,
tendo em vista a abrangência da mídia e a forma como a internet nos
torna rapidamente tão próximos de tudo e de todos. De qualquer forma, é
um assunto que merece mesmo um olhar mais demorado, atento. E por que
não? Fala-se sobre tudo e todos e há coisas que devem sair do
corriqueiro para tomar seu lugar em nossas mentes, como se pudéssemos
agora
nos sentar em uma mesa e conversarmos a respeito, refletindo juntos. Principalmente as mulheres.
É bem verdade que existem, sim, riscos rondando um parto natural [eles
sempre existiram, veja-se, lembre-se, o grande número de mulheres que já
pereceram ao dar à luz]. Há também que se considerarem os riscos que
rondam os nossos hospitais, sejam da rede pública ou mesmo privada. Além
de tudo isso, e eu diria até principalmente, há a questão cultural, a
base de formação de cada um e, um ponto essencial, crucial mesmo: a
vontade soberana da mulher em relação ao que ela vivencia durante todo o
período em que está engendrando em seu corpo, o filho.
A
vontade da mãe é soberana, sim. É preciso que se respeite muito isso,
porque aliena a possibilidade de uma pessoa saber o que é melhor para si
e para seu filho – logicamente com o acompanhamento necessário durante
todo o pré-natal, isso não se discute.
O momento maternidade de
uma mulher lhe é sagrado [salvo raras exceções, porque sei bem que elas
existem, claro] e deve acontecer em um processo de máxima paz possível,
em um estado de alma repleto de positividade. Portanto, que ela escolha
seu modo de entregar seu rebento ao mundo com o auxílio daqueles que
lhes são próximos e jamais sofra pressões que correspondam ao que é de
interesse de um grupo.
O que mexe muito comigo, e cada vez mais,
é a desfaçatez com que se tem tratado “coisas de mulher”, no que me
parece ser um retrocesso imenso do ponto de vista social. Tanto já foi
obtido e, de repente, parecem ruir algumas boas e [acreditava-se] firmes
construções. No
assunto em questão, mais uma vez reflete-se uma
preocupação com o lucro fácil de cirurgias muitas vezes desnecessárias
para que venha alguém ao mundo – o que, é sabido, levou, nas últimas
décadas, milhões de mulheres a optarem pelas cesarianas, prática
bastante comum em nosso país. Porque sempre há algum interesse obscuro
[ou nem tanto] por trás de tudo o que se tenta instituir por aqui. O bom
é que, hoje, essas coisas funcionam como aquele antigo jogo dos
palitos: alguém mexe em um e...quando não faz direito...mexe com todos!
Foto: Veja.abril online
Aglaé Gil, de Curitiba – com formação em revisão e produção de
textos; pesquisadora de História e Literatura; aprendiz de viver;
poeta;mãe; cidadã. [não necessariamente nessa ordem]
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