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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Veruska - Nadia Fóes


Naquela época, 1965, o concurso de miss era concorridíssimo e todas leram o Pequeno Príncipe. Foi nesta época que Veruska pontificou conforme se dizia no jargão do jornalismo. Estudante da terceira série ginasial desfilava pela cidade de uniforme colegial, saia pregueada marinho com alças longas e camisa de mangas compridas branca com gravata marinho de três listras que eram referencia ao ano que estava cursando. Usava longas tranças com laço azul marinho, Na cidade ano sim ano não era uma agonia conseguir uma miss, coisa que era muito importante para a sociedade local. Veruska foi descoberta por determinada senhora bem posta nos meios sociais que se esmerou dando aulas de boas maneiras para sua pupila.Veruska passava todas as tardes na residência da distinta dama se preparando para seu grande dia de candidata única. O guarda roupa de Veruska era sofrível, Vivia em companhia de um casal de primas de sua mãe, residia em uma casa antiga de duas alas, uma das alas era alugada. Sua mãe era funcionária ativa de um bordel chamado Casa Verde. Seu pai era um famoso político, mais precisamente um deputado federal. Não reconheceu a filha que usava os nomes de primos. Mas se não lhe deu nome, contribuía com uma mesada generosa para sua educação pois na época não existia exame de DNA, o pai não foi obrigado a reconhecer a filha. Na cidade Veruska era bem recebida em todas as casas e sempre aparecia alguém de boa vontade para conseguir convites para todos os clubes. Era uma moça querida, e como era de se esperar todas contribuíram com donativos para a representante da beleza não fazer feio. As senhoras organizaram vários eventos como bailes, jantares, lanches. Coube a senhora que descobriu a miss organizar a noite de coroação da miss. O local escolhido foi o Palácio dos Esportes local. Era um local novo e muito bonito, contrataram umas bandas, o salão onde a miss se apresentou foi totalmente decorado com flores e a miss desfilou em traje de gala, traje típico e maiô Catalina que patrocinava o concurso. Um famoso costureiro ficou encarregado dos trajes para a noite de coroação. O vestido foi magnífico, o traje típico era uma rede de pescador inteiramente bordada de pedrarias, com chapéu de ráfia bordado e puçá. Veruska foi aclamada a mais bela miss do litoral e foi a segunda colocada no Estado. Na noite da coroação os parentes de Veruska ficaram no guichê vendendo os ingressos. O Palácio dos Esportes lotou, mas ninguém lembrou de pedir um orçamento das roupas criadas pelo famoso costureiro e após a coroação o costureiro se informou a respeito dos lucros e apresentou a conta que empatava. Foi tudo perfeito mas alguma coisa haveria de dar errado pois a miss conheceu na capital um jovem médico especialista em namorar misses e se apaixonou esquecendo suas origens. O moço se encantou e na primeira oportunidade foi a cidade para conhecer os familiares de sua amada, agradou a todos, e soube da verdadeira história de Veruska e não confirmou o jantar para apresentar a amada para seus pais. Voltou à cidade mais um par de vezes e levou a miss para morar na capital, não como sua preferida mas como sua amante e cinco anos depois largou Veruska para se casar com uma jovem de família tradicional. Veruska não estudara e, pasmem, passou a desempenhar a mais antiga das profissões, enquanto as filhas do político estavam casando (casamentos principescos) Veruska fazia michê. Certo dia o político famoso ligou para uma cafetina para contratar uma modelo para alegrar alguns políticos vindos de Brasília. Veruska foi designada e como era boa profissional foi e fez jus ao cachê recebido das mãos do ilustre político.

Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.


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