Ele chegou com aquele sorriso
indisfarçadamente irônico e esticou a mão.
- Toma! Este é o meu
presente para o dia das secretárias.
E
continuou:
- Você vai receber
um outro em nome do escritório. Mas este é o meu . E
enfatizou no pronome possessivo.
Agradeci. Era uma caixa de
palha envolta em papel celofane e um com um grande laço de cetim
vermelho.
Olhei e vi que eram produtos
de beleza e uma sensação de “déjà vu” passou pela minha
cabeça.
Deixei-a em um canto e
resolvi abri-la, com calma, em minha casa.
Algumas horas depois, lá vem
ele novamente me dizer:
- Tê (é assim que ele me
trata) verifica se eu não deixei a etiqueta com o preço. Você sabe como sou
distraído. Já cometi muitas gafes por ser assim. Dei uma olhadinha rápida e
disse que estava tudo correto.
Ele já ia saindo quando
salientou:
- Você vai gostar destes
produtos. Eu os uso.
Não me ative àquela
frase...”Eu os uso” e continuei com o meu
trabalho.
Cheguei em casa e
tranquilamente comecei a desatar o laço quando uma visão passou pela minha
cabeça:
... Meu chefe adentra no
escritório com uma caixa, com papel celofane, que ele havia ganhado como brinde
em um almoço para executivos organizado pelo empresário João Dória
Jr.
Meu dedos, então, aceleraram
na abertura daquela caixa e qual não foi a minha surpresa ao constatar que
eram...brindes!!!
Aquela bela cesta não tinha
sido comprada por ele!!!!
Todo aquele blablablabla de
etiqueta com preço era pura balela.
Ele, ao guardar na sua casa,
esqueceu-se por completo que os produtos eram brindes e criou toda uma história
para se mostrar gentil e simpático!
Uma raiva se apossou de mim.
Xinguei-o de tudo quanto foi palavrão. Senti-me desprezada, enganada,
desrespeitada.
Liguei para uma colega, para
desabafar a minha ira e ela confirmou tê-lo visto levando para casa a tal caixa.
Foi aí que mais possessa fiquei.
Não tive dúvida. Guardei a
cesta e coloquei os produtos (shampoos, creme rinse, blush, estojinho de
maquiagem, batom, e outras quinquilharias) dentro de uma
sacola.
No dia seguinte, lá estava eu
distribuindo os produtos “comprados com carinho pelo chefe” nas mesas das
colegas de trabalho.
Somente aquela colega/amiga
sabia do por que de minha atitude. Para as demais, eu
dizia:
- Aceite este presentinho,
do Papai Noel fora de hora.
Tempos depois ao comentar
com outro colega, sobre este assunto, soube que ele fez a mesma coisa com
a namorada.
Ao retornar de uma viagem do
exterior se esqueceu de comprar algo para ela e deu-lhe aqueles pequenos
sabonetes que ficam no toalete do hotel !!!
A namorada, ao receber
aquilo, teve um acesso de raiva, jogou fora e ficou sem falar com ele uns bons
quinze dias.
Eu, do meu lado, esperei o
momento oportuno.
E aconteceu quando no dia 08
de Março um almoço foi organizado para as mulheres do
escritório.
Fui a única que não
compareceu.
Foi a forma – delicada – de
lhe dizer:
- Dispenso a sua
gentileza. O conheço de velhos carnavais.
Comemorei a data sozinha. E
muito bem por sinal. Fui andarilhar pela Av. Paulista, aportei na Livraria
Cultura, depois fui a um restaurante árabe de velhos conhecidos meus, tomei um
banana split que há muito desejava e voltei para casa.
Ao chegar um ramalhete de
rosas vermelhas e amarelas me aguardavam. Vieram de muito longe.
E para encerrar aquele dia,
meu querido irmão preparou um jantarzinho especial para
mim.
Fiquei sabendo que meu chefe
– embora não tivesse sido convidado – apareceu no final do evento para fazer as
suas gracinhas habituais e mostrar-se gentil com o chapéu
alheio.
Notou a minha falta e
perguntou porque eu não tinha ido.
Inventaram uma desculpa e
ficou tudo por isso mesmo.Teresa Santos, 60 anos, paulistana. Aposentada, mas na ativa. Formada em Letras pela Universidade São Paulo. Gosta de estudar idiomas, de viajar, de ler e de observar o mundo. Considera o ser humano a melhor personagem para seus escritos. É grata à vida e se considera uma pessoa feliz.
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