Meu caro Dalmo...
Fosse um dia normal estas seriam minhas palavras primeiras ao te enviar um e-mail.
Hoje porém acordei um tanto introspectivo, o cérebro agoniado por uma
sensação esquisita. Acho que tive um sonho ruim, algo como uma solidão
pesada me sufocando, não me lembro ao certo.
Deprimido, com dificuldade para expressar o que me vai na alma, o
que me move nesse momento é a necessidade premente de um pouco de paz
para o espírito. Tento em vão buscá-la dentro de mim...
Sem querer vejo-me criança novamente e lembro de salmos ecoando nas
abóbadas da igrejinha branca na minha distante e primeira comunhão...
Estávamos todos, meninos, de mãos dadas, e entoávamos cânticos de amor e paz.
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo é o pensamento que me ocorre nesse instante.
A primeira parte do mandamento, a que se refere a Deus, soa forte e
bela como um axioma e me toma inteiramente, sem margem para qualquer
discussão; mas a segunda, que fala em amar ao próximo como a ti mesmo,
quão hercúlea tem sido essa tarefa pra mim. Nada fácil, meu amigo .
Você, Dalmo, há muito iniciado nas estreitas veredas do árduo caminho
evolutivo, certamente pode bem avaliar como me sinto, sem saber amar
direito, mas entendendo que a paz é o começo de tudo.
Por mais bem intencionado, quando penso na paz a ser conquistada
através do exercício diário da caridade e do perdão, percebo que existe
uma grande distância entre a intenção e o gesto nesse meu débil peito.
Amar, como a ti mesmo, é muito pra mim, egoísta que sou nos dias de
hoje diante de tanta crueldade gratuita, tantos exemplos negativos.
Como amar alguém como a ti mesmo, se esse alguém é tão diverso de voce em palavras e ações, e tão inteiramente sem amor ?
Lembro-me no entanto de Gandhi, Luther King, Madre Teresa na sua
infinita bondade, e uma onda de afeto me envolve lentamente. Recordo-me
ainda de outros exemplos, de gente comum, num passado bem recente, e que
a despeito de toda dor, conseguiu perdoar as atrocidades vividas na
própria carne, como a perda de um ente querido, um irmão, um filho,
levado dessa vida por mãos sem qualquer traço de piedade.
Bem poucos são capazes de tão sublime gesto.
Perdoar incondicionalmente.
Amar de verdade.
Sei que as Profecias Maias falam num período de grandes transformações
na Terra, mudanças impingidas através da dor, como temos visto
ultimamente; coincidentemente a Doutrina Espírita prega que já estamos
vivendo a Era da Regeneração, um período conturbado de transição
para o bem. Fala-se também no Emmanuel redivivo, espírito de luz,
tantas e tantas vezes presente em outras jornadas, expiando a própria
culpa, evoluindo em cada lampejo de vida, e desta feita entre nós,
trazendo uma nova mensagem, quem sabe, de esperança.
Acredito, meu amigo, na religião sendo substituída pela espiritualidade.
Acho que é o caminho...
Bonito pensar numa jornada de anjos, assim, pelos séculos e séculos afora, nos instruindo, iluminando.
Chego a sorrir pensando nessa imagem.
Mas hoje quero apenas poder sonhar com um mundo melhor, com a evolução
serena do homem, vivendo sob a égide de um crescimento sustentável,com
fontes alternativas de energia, limpa; com o replantio das florestas,
com soluções inteligentes na geração de alimentos, sabendo respeitar a
vida dos animais, um após outro levados à extinção ao longo desse tempo.
Penso no homem dando um pouco de sossego à terra, rios e mares,
pilhados sem dó,
revitalizando-os agora, cuidando das nascentes, das matas ciliares,
salvando os nativos nas suas humildes comunidades ribeirinhas.
Há muito o que fazer no entanto.
Pensando nisso olho para o céu da minha cidade natal, buscando por
mais um sinal além da fumaça das fábricas e deparo surpreso com um bando
de verdes maritacas, voando de um bosque próximo numa algazarra
tremenda, mais
adiante araras multicoloridas aos pares, roucas, voam de volta aos seus
ninhais, um pouco mais distantes; e até tucanos, que há bem pouco só
encontrava nos zoológicos, vejo exibindo sua anotomia exótica num vôo
pesado e aparentemente às avessas, pegando carona no vento.
Será que estamos evoluindo, ou estarei sonhando acordado ?
As coisas estão mudando pra melhor.
Há muito não tenho visto um menino sequer, munido com um estilingue, como era habitual na minha infância.
Tão bom ver hábitos assim caindo no esquecimento. A população dos
pequenos animais crescendo, livres das gaiolas, cantando nos ramos,
chegando sem medo bem pertinho da gente.
É, meu amigo Dalmo, já estou me sentindo bem, o coração batendo
compassado. Foi só um sonho ruim na madrugada e sobretudo foi bom ter
meditado acerca do que me afligia. A falta de paz.
Sim, a Fisica Quântica tem provado que a consciência tem o poder de
modificar a matéria; a vida ganhando novo sopro a cada pensamento
positivo.
E dessa forma, pensando assim, acredito firmemente que o mundo terá
salvação, seremos bons, sem qualquer resquício de maldade; felizes,
saudáveis; as guerras findarão, e viveremos em paz finalmente.
Sem sonhos ruins na madrugada.
Nilson
Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais
42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração
diária pra aguentar os trancos da vida.
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