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sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Imprestável ! - Nilson Ribeiro

   Foi assim que minha mulher me chamou, com ódio nos olhos, por causa de uma bobagem qualquer.
  Quis retribuir no ato, no auge da minha indignação chamando-a de louca, mas preferi me calar, como aliás tenho feito ultimamente nesses momentos.
  Como chamar de louca alguém que tão bem soube me conquistar, que entre meigos sorrisos me tirou de uma convicta vida celibatária ? Como chamar de louca a fada com quem me casei, pensando ser para sempre, a mulher da minha vida ?
  Tampouco sou um imprestável, eu sei.
 Imprestável, sinônimo de feio parasita. Ofensa pura !
  Estou longe disso, mas me pergunto como os sentimentos entre dois seres podem mudar tanto ?
  Há pouco eu era inteligente, papo interessante, belo, boa situação financeira, disputado pelas mulheres. Agora o que sou? Um imprestável !
  Ela também, uma boneca cobiçada, deusa inatingível, olhar claro e sereno. No que se transformou ?
  Uma verdadeira megera, cuspindo no meu rosto ao falar descontroladamente.
Lá se foi toda beleza, e todo o encanto.
  Por que, meu Deus, mudamos tanto assim ?
  Aonde foi, em que ponto da vida mexemos errado os peões neste jôgo de xadrez da nossa convivência, pondo tudo a perder dessa forma ?
  Semana passada lá se foi um tanto da minha alegria com a morte do incomparável mestre do humor,o Chico Anysio; nesta semana outro tanto se vai com a perda da inteligência brilhante do Millôr Fernandes, presença marcante nos áureos tempos da minha juventude.
  Agora, assim de chofre, me torno imprestável, perdendo também de vez o meu amor...
  É uma lástima ver o desamor aproveitando-se de um momento de pseudo decrepitude, se instalando covardemente entre nós, assim.
  E decididamente, vindo pra ficar, mudo, absurdo, para sempre!


Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.

Um comentário:

Nana disse...

Boa tarde!
A vida a dois tem qq ser plena, se não, desanda mesmo. Infelizmente, á assim mesmo qq se procede. De repente, são essas e outras qq nos machucam, qq nos fazem decepcionar e ir em busca do viver "sózinha"..Nesse artigo podemos trocar a vogal do início do título sem problema, pois tb acontece mto com a mulher.Creio qq, viver a vida tem destas coisas...
Um abraço,
Ana Maria