Tem dia que tudo dá errado.
Pra começar, amanheceu chovendo.Detesto chuva, mesmo quando fininha, renitente, deixando o trânsito
ruim, semáforos defeituosos e confusão de gente molhada pra todo lado.
Na loja, clientes mal humorados vão entrando com guarda-chuvas e
sombrinhas gotejantes, alagando o piso aqui e ali, formando poças
escorregadias como quiabo ensopado. Haja pano de chão seco, e tudo isso
trabalhando com funcionário a menos, que faltou simplesmente sem avisar,
provavelmente em decorrência da chuva. Desculpa que alegará depois, sem
dúvida alguma.
Dizem os entendidos que necessidade satisfeita não motiva ninguém. Deve
ser isso mesmo. Pago bem, premiando sempre meus colaboradores...Mas de
nada tem adiantado ser bom e viver agradando essa turma. Não há
reconhecimento algum quando se mais precisa. Vivemos assim, reféns do
empregado.
De minha parte neste dia tinha logo cedo uma consulta marcada , e o
médico, normalmente atrasado, e com uma sutileza de elefante, me
adiantou que provavelmente todos nós, os homens, se vivermos muito,
morreremos com câncer na próstata, e isso assim, depois de olhar de
soslaio para o meu exame de PSA, um tanto alterado dessa vez, disse-me
ele.
Fazer o que ? Morrer velho tem lá suas consequências.
Não se pode querer ganhar sempre...
Há algum tempo aprendi que nem sempre vencer é o mais importante.
De que adianta ganhar uma discussão com a mulher da gente e vê-la
depois de cara amarrada, pondo dificuldade nas menores coisas ? Por
vezes é melhor calar, abrindo mão da própria opinião e deixar o amor
incondicional levar a melhor.
Melhor que ter de andar por aí sozinho, com aquela eterna sensação de
vazio de quem se perdeu de sua alma gêmea nessa vida e vê o tempo
passar célere e em vão, sem chance alguma de um recomeço feliz.
De que vale também provar ao filho amado que Administração de
Empresas seria o canal pra perpetuar a empresa familiar, se ele,
narizinho empinado, ambiciona ser Designer de Moda ? Brigar pra que, se a
consequência será vê-lo triste, com um comportamento cada vez mais
arredio ?
Obter uma vitória a curto prazo num negócio certamente poderá significar a perda de um cliente potencial mais adiante.
E foi o que aconteceu hoje, com um fornecedor derrotado e insatisfeito,
numa disputa por centavos. Caiu fora !
Ah ! A eterna dicotomia presente no perde e ganha.
Pra continuar o dia, meu Contador ligou acusando a falta do Informe
de Rendimentos Financeiros para Declaração do Imposto de Renda, que este
ano não foi entregue pelos Correios.
Resultado, uma verdadeira peregrinação de última hora por 5 bancos
diferentes, cada qual com sua política de atendimento mais austera e
impessoal que se pode imaginar. Foi barra !
Ao fechar o caixa, no final do expediente, logicamente o resultado
negativo não foi de espantar, nesse dia de chuva e poucas vendas.
Voltando pra casa depois de um dia assim ainda guardava uma vaga
esperança de um merecido descanso, rezando pra não furar um pneu ou
coisa parecida. Diga-se de passagem, sempre fui otimista nato, pelo
menos essa vantagem tenho.
Mas estava esquecendo; sou o síndico do prédio e hoje é o dia da
cobrança do condomínio, dia de aturar desculpas de inadimplentes, caras
de pau com sorrisos amarelos... E mais, quarta-feira, lembrei logo
depois, é dia de jogo pela Libertadores e Copa do Brasil, com meus dois
times atuando nos gramados. Adeus descanso, certamente dormirei tarde,
pensei agora, a latinha de cerveja como companhia certa.
E pra finalizar, ambos os times, um no Rio, outro em B.H., entraram
pelo cano, perdendo pênalty e tudo, nas suas respectivas competições.
Decididamente não era o meu dia.
Fui dormir de pijama, sem chance de um diálogo com a "patrôa", e pior, com a cabeça quente.
Nilson
Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais
42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração
diária pra aguentar os trancos da vida.
Um comentário:
Boa tarde!!!
Legal, gostei mto..srrssr..Realmente, ele teve um verdadeiro "Dia de Cão".
Um abraço,
Ana Maria
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