De repente, o mundo descobriu que a geração
"baby boom" está em idade de se aposentar. Os "baby boomers", você sabe,
foram as crianças nascidas logo a seguir à Segunda Guerra, quando
milhões de soldados voltaram para seus países e começaram a casar e a
procriar em massa. Os que tinham ficado em casa, de ouvido na BBC,
fizeram o mesmo, talvez por uma sensação de alívio diante do apocalipse
que não aconteceu, mas poderia ter acontecido -e, então, mais do que
nunca, pela súbita existência da bomba atômica.
Curioso é que, em vez de partir para a esbórnia em face do possível fim
do mundo, os jovens do pós-Guerra adotaram a singela atitude de casar e
"constituir família". Pode ser que, depois de anos em trincheiras, reais
ou metafóricas, o lar lhes parecesse um casulo protetor. Daí tantos
casamentos e, em meses, milhões de novos cidadãozinhos no mundo. Um
deles, eu -porque, nascido em 1948, sou um legítimo "baby boomer".
Bem, passaram-se décadas e os "baby boomers" já podem ser avaliados. Em
vários departamentos, não fizemos feio. Ativos desde os anos 60,
implantamos o sexo sem culpa, a consciência ecológica, os direitos das
mulheres, das minorias e dos animais, revolucionamos a tecnologia,
avançamos espetacularmente a medicina e as comunicações etc.
Em compensação, tornamos as cidades impraticáveis, disseminamos as
drogas, destruímos o cinema e a música popular, triplicamos a pobreza,
intoxicamos o planeta com publicidade, carros e agrotóxicos, compramos e
vendemos armas, políticos e tudo que pudesse ser negociado -enfim,
vamos deixar também uma bela lambança.
E pensar que nossos pais, quando nos conceberam, só queriam um pouco de
sossego, "Seleções", Ovomaltine, discos de Tito Schipa, uma cama quente,
pijama e, para eles, sim, uma merecida aposentadoria.
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