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domingo, 30 de setembro de 2012

Ficções dos criadores do Jetsons já são realidade

Os Jetsons, desenho animado popular na década de 60 que retrata a Terra no ano 2062
É difícil de acreditar, mas George Jetson, seu filho Elroy, a filha de Judy, Jane, sua esposa – e Astro, nosso cão espacial favorito – completam agora 50 anos de idade. O show foi futurista em sua essência: quando estreou no início dos anos 1960, foi o primeiro programa a cores a ser veiculado pela ABC. Mas foram os avanços tecnológicos peculiares que Hanna Barbera imaginou – de empregadas domésticas robô para carros voadores – que realmente formaram o contexto da animação e mantiveram os espectadores interessados.
Em homenagem ao 50º aniversário de Os Jetsons, demos uma olhada para ver o quanto já avançamos. E com base em onde estamos até agora, até 2062, ano em que se passa o desenho, nós poderemos conseguir realizar tudo o que os roteiristas haviam previsto, e até mais. Uma das coisas de maior importância para nós atualmente e que não foi transmitida dessa forma no programa é nossa poderosa tecnologia de telefonia móvel e seus dispositivos que nos permitem ainda constante acesso à internet (que também não foi concebida naquela época), além de grande variedade de aplicativos úteis.
Como Os Jetsons imaginaram a vida em 2062 e onde estamos em 2012:
Asimo, da Honda, é o robô mais avançado da atualidade
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Asimo, da Honda, é o robô mais avançado da atualidade.
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Robôs
Rosie, a empregada, é um robô e robôs eram usados regularmente na série para completar as tarefas diárias, como cozinhar e limpar e ajudar os personagens a se vestir.
Em 2012 …
O robô Asimo da Honda é o mais avançado até à data, já que pode andar, falar e interagir com os humanos. Esses dispositivos estão se tornando mais populares quando se trata de limpeza também, particularmente com aspiradores robóticos como a iRobot Roomba.
Jornadas de trabalho mais curtas
George Jetson reclamava regularmente de suas três horas de trabalho diário na Spacely Sprockets, onde sua principal responsabilidade era repetidamente apertar um botão em um computador grande.
Em 2012 …
Nos EUA, especialmente, os trabalhadores estão trabalhando mais do que nunca, de acordo com o American Journal of Epidemiology, que divulgou os resultados de um estudo que afirma que os efeitos dessa jornada de trabalho longa podem causar problemas cardíacos prematuros. Muitos países europeus já proibiram a população de trabalhar por mais de 48 horas por semana.
A empresa Virgin Galactic já realizou experiências bem sucedidas para voos espaciais turísticos
+A Virgin Galactic já realizou experiências bem sucedidas para voos espaciais turísticos.
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Viagens para a lua
Passear na lua não era grande coisa, e em um dos episódios o pequeno Elroy vai para lá em uma viagem de escoteiros.
Em 2012 …
Richard Branson está trabalhando para começar a oferecer “voos suborbitais” através da Virgin Galactic, já que concluiu vários voos de teste bem-sucedidos; já a NASA é parceira da SpaceX, de Elon Musk, para missões comerciais. Há também um porto espacial no Novo México, está quase finalizado para pode receber turistas que desejam ir ao espaço.
O Terrafugia Transition é o mais perto que chegamos de um
+O Terrafugia Transition é o mais perto que chegamos de um “carro voador”.
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Carros voadores
De acordo com o desenho, no futuro nós não dirigiríamos em estradas, mas no ar – em pequenos carros aéreos com painel de visão em formato de bolha.
Em 2012 …
Engenheiros vêm tentando chegar lá por várias décadas, e como a Popular Mechanics relatou, estamos mais perto do que nunca. O último modelo do gênero que foi produzido é o Terrafugia Transition, que pode chegar até a 62 mph na estrada, com as rodas traseiras impulsionadas horizontalmente por um motor de quatro cilindros Rotax 100-hp. É claro que o preço é exorbitante, algo em torno de US$ 230.000.
Face Time é apenas uma das ferramentas atualmente disponíveis de video chat
+Face Time é apenas uma das ferramentas atualmente disponíveis de video chat.
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Vídeo chat
Em vez de simples telefonemas, os personagens eram regularmente vistos usando um “videochat”, seja Jane falando com sua família ou George recebendo uma ligação indesejada do Sr. Spacely.
Em 2012 …
Nesta área, parece que já superamos as expectativas dos Jetsons. Ferramentas de vídeo chat, tais como Skype, Google Voice, FaceTime e Logitech são regularmente utilizadas para negócios e em casa. E o melhor: sua utilização não se limita a um único monitor, mas pode também ser usado a partir de dispositivos móveis. Para muitos, seria difícil imaginar a vida sem ver colegas e entes queridos falando com você em tempo real.
Justin Bieber é comparado ao vocalista do Jet Screamer, ídolo teen do desenho animado
+Justin Bieber é comparado ao vocalista do Jet Screamer, ídolo teen do desenho animado.
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Pop star “Jet Screamer”
Em um dos episódios mais conhecidos de Os Jetsons, Judy ganha um encontro com o galã e o cantor do Jet Screamer depois de participar de um concurso.
Em 2012 …
Ídolos pop são tão relevantes hoje como sempre foram. O blog de lifestyle ChipChic fez uma comparação incrível com o nosso Justin Bieber. “Haverá sempre a necessidade de ídolos teen, algo que o Jet Screamer foi mais do que feliz em nos fornecer em um dos primeiros episódios da série. Este foi um exemplo de inovação no mundo real, também. O breve vídeo da música ‘Eep, Opp , Ork’, Ah Ah, que é na sua maioria composta de gráficos das letras piscando na tela, era uma versão antiga da música moderna, muito antes de a MTV existir. Além disso, o refrão (“Baby , baby, baby! “) e o nome da banda fazem o Jet Screamer parecerem quase proféticos.”
Protótipos de cidades que flutuam no mar estão sendo realizados com o intuito de se evitar a superlotação das metrópoles
+Protótipos de cidades que flutuam no mar estão sendo realizados
com o intuito de se evitar a superlotação das metrópoles.
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Os edifícios na era dos Jetsons não estavam perto do chão; eles podiam ser levantados abaixo ou acima das nuvens, como uma forma de lidar com mudanças climáticas.
Em 2012 …
Cidades flutuantes de hoje não estão sendo vislumbrada no ar, mas como prédios que flutuam sobre o mar aberto. No entanto, mesmo não estando em uso ainda, protótipos estão sendo construídos com o objetivo de futuramente ajudar a lidar com a superlotação nas cidades em terra.
Lady Gaga se apresenta em mais um de seus trajes inusitados
+Lady Gaga se apresenta em mais um de seus trajes inusitados.
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O vestido elétrico da Jane
Em um episódio, Jane compra um vestido que pode ser iluminado se for conectado a uma tomada.
Em 2012 …
Ela fez um vestido de carne, usou óculos 3-D e tablóides de jornal como roupa, e fez um vestido de bonecos do personagem Kermit, de Os Muppets. Então é claro que Lady Gaga também usou um traje que se iluminava. Bem, na verdade a roupa dela era equipada com seios pirotécnicos, isso conta?
A ovelha Dolly foi o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso através de células adultas
+A ovelha Dolly foi o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso através de células adultas.
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Clonagem humana
George decidiu que, com a ajuda da ciência, ele criaria outro George para ir ao trabalho enquanto ele próprio ficaria em casa relaxando.
Em 2012 …
Foi na época dos Jetsons que a clonagem humana passou a ser debatida como uma possibilidade real, e várias leis ao redor do mundo baniram a prática. Cães e ovelhas foram clonados e há muito interesse em trazer de volta à vida, a partir de células intactas, animais extintos, como o mamute.
Meio de transporte feito a partir de tubos a vácuo pode se tornar realidade
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Meio de transporte feito a partir de tubos a vácuo pode se tornar realidade.
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Transporte de tubo a vácuo
Ao invés de usar elevadores ou subir escadas, no desenho os trabalhadores eram sugados por um tubo a vácuo super rápido.
Em 2012 …
Como carros voadores, sistemas de tubos eram algo com o qual se sonhava na época dos Jetsons, e alguns engenheiros passaram a esboçar transportes que utilizariam esse tipo de tecnologia. A BBC informou neste ano que equipes dos EUA e da China estão atualmente trabalhando sobre o conceito de transportadores, desenhados para funcionar através de túneis que teriam tido todo o ar sugado para fora. Agora, os cientistas estão prevendo que esses tubos poderiam, teoricamente, atingir velocidades de até 2.500 quilômetros por hora. Isso faria o trajeto da América do Norte para a Europa apenas 60 minutos em vez de seis horas de avião.
(*) Advertising Age
Tradução de Mariana Barbosa, em Meio e Mensagem

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Estudo liga falta de sono ao Alzheimer - Paloma Oliveto

Horas a menos de repouso levam ao acúmulo no cérebro de uma proteína ligada à doença. Se confirmação se der em humanos, médicos terão uma forma de antecipar o surgimento do mal degenerativo

Paloma Oliveto

À medida que a idade avança, a tendência é dormir menos. Não é à toa que os idosos costumam acordar antes do raiar do dia. É também na velhice que alguns tipos de demência, como o mal de Alzheimer, começam a se manifestar. De acordo com diversos estudos, essa doença neurodegenerativa, contudo, se estabelece até 15 anos antes de os sintomas aparecerem: quando isso ocorre, o cérebro já está bastante danificado. Distúrbios no sono podem fornecer as primeiras pistas de que algo não vai bem no funcionamento dos neurônios, segundo um estudo publicado nesta semana na revista científica Science Translational Medicine. Para o neurologista David M. Holtzman, da Universidade de Washington em St. Louis, que há mais de uma década investiga o Alzheimer, existe uma forte relação entre poucas horas de sono, idade e demência.

Uma das causas do Alzheimer é o acúmulo, no espaço entre os neurônios, da proteína beta-amiloide. Em pessoas saudáveis, ela é eliminada naturalmente, mas, por motivos ainda não completamente esclarecidos, a substância pode começar a se agrupar, formando placas de gordura. A equipe de Holtzman constatou, em ratos, que a deprivação do sono faz com que esse processo ocorra antes e mais rapidamente. Caso o mesmo se confirme em humanos, será possível, no futuro, detectar o Alzheimer precocemente, antes que a demência se estabeleça. Embora ainda não exista cura para doença, as pesquisas sobre possíveis intervenções já estão aceleradas. “Estamos trabalhando para isso”, garante Holtzman.

Há dois anos, o laboratório do cientista aplicou uma técnica, chamada microdiálise in vivo, para monitorar os níveis de beta-amiloide no cérebro dos animais. Com esse exame, os pesquisadores notaram que a quantidade da proteína aumentava quando os ratos estavam acordados e caía enquanto dormiam. O mesmo foi observado em humanos, em um estudo paralelo de outro laboratório da Universidade de Washington, um centro de referência de pesquisa em distúrbio do sono.

Os cientistas, liderados pelo neurologista Randall Bateman, coletaram amostras do líquido cefalorraquidiano (LCR) de voluntários de vários grupos etários, com ou sem Alzheimer. O LCR circula pelo cérebro e faz uma faxina no órgão, chegando até a medula espinhal, de onde pode ser retirado. O líquido carrega metabólitos, o “lixo” resultante das reações químicas ocorridas no cérebro e, por isso, é possível verificar a presença e as taxas de determinadas substâncias, como a beta-amiloide.

“Em pessoas saudáveis, os níveis da proteína cai para seu patamar mais baixo cerca de seis horas depois do sono e retorna ao ponto máximo seis horas após elas despertarem. E o único fator fortemente relacionado ao aumento e à queda da proteína no LCR foi o sono”, afirma Bateman.

Maior concentração Agora, Holtzman investigou se a deprivação do sono pode influenciar nesse ciclo natural, levando ao acúmulo da proteína. Para isso, ele utilizou ratos geneticamente modificados, que desenvolvem Alzheimer quando envelhecem. A pesquisa mostrou que, à medida que as placas começam a se formar, o intervalo entre sono e vigília é interrompido bruscamente. Da mesma forma, quando os cientistas forçavam os animais a ficarem acordados por mais tempo, isso se revertia em um aumento na concentração da proteína e, consequentemente, na formação de placas (veja arte).

A relação entre período de sono e o acúmulo de beta-amiloide foi confirmada em mais um teste. Os pesquisadores imunizaram parte dos ratos modificados geneticamente com uma substância que impede o agrupamento da proteína. Mesmo programados para terem Alzheimer, os animais não desenvolveram placas beta-amiloides e seus padrões de sono continuaram normais, com os níveis da substância aumentando e caindo normalmente, como o esperado em um cérebro saudável.

Ainda não se sabe por que a formação de placas está relacionada ao aumento do tempo de vigília. Os cientistas desconfiam que, ao começar a se acumular, a beta-amiloide interrompa a atividade dos neurônios no córtex cerebral, impactando na qualidade do sono. Também é possível que as placas danifiquem regiões específicas relacionadas ao ciclo cicardiano.

Para Holtzman, é importante intensificar as pesquisas para desenvolver um método não invasivo e seguro que detecte o Alzheimer até uma década antes do estabelecimento da demência. De acordo com ele, a Universidade de Washington em St. Louis também pretende fazer uma pesquisa epidemiológica para estudar os padrões de sono em pacientes de Alzheimer e, assim, obter dados populacionais que confirmem as descobertas que ele fez em laboratório.

Risco elevado para atletas

Jogadores profissionais de futebol americano são mais suscetíveis a danos nas células cerebrais, condição que pode desencadear diversos males neurológicos, incluindo o mal de Alzheimer e a doença de Lou Gehrig, caracterizada por paralisia progressiva e problemas cognitivos. Um estudo publicado na revista científica Neurology, da Academia Americana de Neurologia, comparou a causa de óbito de atletas que competiram em pelo menos cinco temporadas, entre 1959 e 1988, à da população americana em geral e descobriu que os primeiros correm mais riscos de morrer devido a males neurodegenerativos.

O estudo examinou os atestados de óbito de 337 jogadores da Liga Nacional de Futebol, que tinham cerca de 57 anos quando morreram, e se concentraram nos documentos daqueles cuja causa havia sido Alzheimer, Parkinson ou Lou Gehrig. Os riscos de morrer de mal de Parkinson não foram significativamente maiores, comparando-se à população em geral. Porém, em relação às outras duas, houve a probabilidade foi quase quatro vezes maior. “Esses resultados estão consistentes com estudos recentes que sugerem um aumento no risco de jogadores de futebol desenvolverem doenças neurodegenerativas”, disse, em nota, Everett J. Lehman, principal autora do artigo e pesquisadora do Instituto Nacional para Segurança Ocupacional e Saúde dos EUA.

De acordo com ela, embora o estudo tenha analisado as causas de morte a partir das certidões de óbito, é possível que a encefalopatia traumática crônica (ETC) tenha sido o fator primário ou secundário dessas mortes. Essa condição surge depois de traumas sucessivos no crânio e tem sido associada a boxeadores, lutadores e jogadores de futebol americano. (PO)

FOLHA DE S.PAULO

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pérola da Praia - Nadia Foes

Conheci Pérola na praia vendendo brincos. Negra retinta de cabelos sarará, moça muito simpática, mas mal ajambrada. Eu gostava de conversar com ela e ela conversava com a praia em toda a sua extensão. Dos brincos ela passou a fazer trancinhas tererê, ela carregava continhas, linhas, tudo muito colorido, espelhos, enfim, um arsenal sem tamanho. Andava sempre em companhia de suas irmãs, moças honestas e ficava encantada com o dom de Pérola. Ela separava pequenas mechas de cabelo e trabalhava com contas e fios. Durante muitos anos ela fez isso; ela já era a minha amiga da praia. Eu não sabia que ela tinha mais um dom, era cantora: tinha voz afinada, foi descoberta por um produtor argentino e foi viver em Buenos Aires, mas no verão batia ponto na praia, só que agora já se transformara em uma diva negra. Não era mais mal ajambrada, pelo contrário, usava umas cangas lindas. Os cabelos muito bem tratados, Pérola estava no auge da mocidade e dos sonhos. A praia inteira acompanhou o desabrochar da Pérola Negra. Não era mais simplesmente Pérola. Acrescentou o Negro ao Pérola. No último verão que passei na praia, ela já não vendia mais na areia. Continuava trabalhando, mas como era uma estrela, abriu loja com salão de beleza anexo e vendia panos e objetos de decoração africanos; suas raízes negras. Me contou que estava feliz e casando com um conde italiano. Essa é outra que sabia o que queria da vida. Há dois verões que não sei de Pérola Negra, mas até onde sei ela ia casar com o conde e ia levar na sua bagagem para Roma, a mãe e duas irmãs, tão decentes quanto Pérola Negra, que era respeitada no seu trabalho honesto e preocupada com o dia seguinte. A Pérola Negra foi longe. Hoje é condessa Pérola e foi morar na Itália com o seu conde. Não foi fazer programa. Até imagino Pérola fazendo suas compras na Via Del Condote, na Viale Pavioli, passeando pela Piazza de Espanha, Piazza Navona, visitando o Panteão, jogando moeda na Fontana Di Trevi. Hoje não deve usar mais suas cangas coloridas ou trajes africanos, mas deve estar elegantérrima percorrendo as sete colinas de Roma. Já deve ter tirado milhares de fotografias na Coluna de Trajano, no Templo de Vesta, no Coliseu Romano e já deve ter colocado suas mãos na Boca da Verdade, sem medo de ser abocanhada por ela. Nas horas vagas deve andar de motoneta pela Cidade Eterna. Mora em palácio e tudo dentro dos conformes. Felicidades Pérola. Você merece. Fez por merecer. Quem sabe ainda vou encontrar Pérola em Roma, com loja montada, na Piazza de Espanha. É vero!!!



Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

domingo, 23 de setembro de 2012

A educação está no ar - Martha Medeiros

Em geral, as pessoas levam o concreto mais a sério do que o abstrato, mas é necessário repartir essa conta. Na hora de educar um filho, por exemplo, regra é o que mais existe: ensinar a agradecer, a dizer por favor, a se desculpar.

Determinar o tempo para ficar em frente ao computador, cobrar as lições da escola. Isso e mais uma sequência de eteceteras civilizatórios. Porém, sempre acreditei que esse manual de instruções terá pouco efeito se a atmosfera do lar for ruim. É imprescindível uma casa leve, em que os pais não faltem com o respeito um com o outro, em que as pessoas não engrossem por qualquer bobagem, onde ninguém humilhe as crianças, em que não se esbanje xingamentos descabidos e grosseiros.

Uma casa em que haja música boa tocando, com muitos livros, revistas e jornais, um ambiente arejado no mais amplo sentido: não só com janelas abertas, mas também com cabeças abertas. Uma casa onde os amigos possam chegar a qualquer hora e serem bem recebidos, uma casa com cheiro de comida vindo da cozinha e onde os funcionários não sejam submetidos à tirania.

Uma casa onde os membros da família sejam afetuosos entre si e que tratem os conflitos de forma apropriada: conversando. Ou até brigando, se for inevitável, mas em privado, sem acordar os vizinhos e preservando as crianças. Creio que um ambiente desestressado educa mais do que um regulamento rígido: “Isso pode, isso não pode”.

Dentro dessa linha de raciocínio, tenho reparado também na importância do tom de voz com que falamos uns com os outros, principalmente com os filhos. Podemos dizer a mesma frase com fúria, com ódio, com impaciência – ou com serenidade, com segurança, com amor. A mesmíssima frase: dependendo do tom de voz, serão duas formas totalmente distintas de se comunicar, e com resultados também diferentes.

Há muitos subentendidos no tom de voz. A pessoa que nos ouve percebe o nosso grau de comprometimento com o que estamos dizendo. Um simples “não”, se dito de forma vacilante, não será obedecido. Ficará clara a ausência de seriedade daquela ordem. Já diante de um “não” categórico, ninguém discute: é rapidamente assimilado.

Vale também para quando os filhos nos pedem algo de que não estão certos de serem merecedores, ou que desconfiam que não lhes fará bem. Sentimos na voz deles que o que eles querem, na verdade, é que imponhamos limite. Estão apenas testando nosso amor. Que desespero quando um filho nos pede algo absurdo com uma voz hesitante, quase implorando pelo nosso não, e os pais dizem um sim automático só para se livrar do assunto, sem reparar na sutileza do jogo que está se estabelecendo.

Por não saberem escutar, muitos pais abandonam seus filhos dentro da própria casa em que vivem. O tom de voz. A atmosfera do lar. Prestemos mais atenção no que o abstrato nos informa.



FONTE: ZERO HORA

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A prova das empadinhas - Ruy Castro

Dois meses depois de concluir um tratamento que envolvera químio e radioterapia e uma cirurgia, fui fazer a prova definitiva para saber se ainda me restavam certos gostos, sabores e texturas -ou se teria de me conformar com uma nova e áspera realidade, privada de prazeres gozados por muitos anos. A prova era comer as empadinhas de camarão do Caranguejo, um querido pé-sujo de unha feita, em Copacabana.
O garçom serviu o prato com a primeira porção. As empadinhas do Caranguejo são famosas pela massa de perturbadora leveza, mas robusta o suficiente para só se quebrar em bloco, sem esfarelar. O tempero de seu recheio é outro milagre, mas não era o que me movia naquele momento. É que, para quem sofreu 33 aplicações de radiação na região do pescoço, mandar uma empadinha para dentro é uma façanha.

Uma consequência da radioterapia nessa região é uma saarização do ambiente. A salivação pode ficar tão comprometida que obriga o sujeito a dar adeus a coisas muito secas, como farinha, farofa e... empadinhas. Em raros casos, se as glândulas não tiverem sido mortalmente atingidas, haverá uma relativa recuperação da lubrificação, que ainda pode ser estimulada com limonada ou coisas que deem "água na boca".

A primeira empadinha foi atacada com cautela, tendo ao lado um copo d'água, por via das dúvidas. O naco comportou-se bem e desceu com suavidade pela epiglote. Mandei o segundo -idem. Agora, o teste definitivo: o naco final. Gulp. Lá se foi ele, sem problemas. Eu estava salvo. Atirei-me às outras. Tudo isso foi em fins de 2005 e, desde então, quase mil empadinhas já foram engolidas com amor.

Quando Lula vier ao Rio, alguém deveria levá-lo ao Caranguejo. O ex-presidente também foi irradiado. Falta-lhe, talvez, fazer a prova das empadinhas para voltar a ser feliz.



FOLHA DE S.PAULO

Jeff Beck - Somewhere Over the Rainbow

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Dicas simples para Facebook - Aumente a sua segurança e garanta a privacidade com apenas algumas configurações rápidas

1 - Sua vida é um livro aberto? Deseja que permaneça assim?

Tenha em mente que a Internet é um ambiente público e que você deve escolher com cautela as informações que divulga a seu respeito, sob o risco de perder completamente a privacidade: dos lugares que frequenta, das pessoas com quem se relaciona, das empresas em que trabalha (ou trabalhou), dos amigos e dos gostos pessoais em geral.

Quando você abre uma conta no Facebook, essas informações são preenchidas para complementar o perfil. Se, depois disso, você quiser alterá-las, basta clicar em seu nome, na parte superior esquerda do site e escolher "Atualizar Informações".

Sobre cada área da sua vida que pretende alterar (profissional, informações pessoais e preferências), clique na opção "Editar", faça as alterações (ou apague os dados, conforme queira) e clique em "Salvar".



Repare que ainda é possível, de acordo com cada campo das informações adicionadas, restringir a visualização de determinados campos apenas aos amigos ou mesmo ocultá-los de todos.

2 - Escolhendo os destinatários de seus posts

Se você não quer que o mundo inteiro fique conhecendo seus posts imediatamente,  pode limitar a amplitude da divulgação. Logado no Facebook, clique em "Página Inicial" e siga até "Configurações de Privacidade".

No espaço de "Controlar sua Privacidade Padrão", você pode mudar de "Público" (padrão do aplicativo) para "Amigos", ou ainda clicar em "Personalizado" e escolher para quais pessoas quer publicar seus posts ou ocultá-los. Isso vale também para fotos e atualizações de status divulgadas em sua linha do tempo.



Outro detalhe que vale a pena mencionar é que você pode, ao digitar na caixa de texto (pela parte inferior direita) direcionar a publicação para os "Melhores Amigos", para grupos específicos e até indicar o lugar em que está no momento. Confira um exemplo na imagem abaixo.



3 - Fechando a sua linha do tempo

Outro recurso interessante é a "Linha do Tempo e Marcação", que também está nas "Configurações de Privacidade".

Nesta janela, você responde a perguntas simples e úteis, como:

A - "Quem pode publicar em sua linha do tempo?": permite fechar o mural para publicações de terceiros.

B - "Quem pode ver o que as outras pessoas publicam em sua linha do tempo?": você pode permitir que as pessoas publiquem no seu mural, mas limitar, nessa opção, quem está autorizado a ler as informações de terceiros.

C - "Analisar as publicações em que você foi marcado antes de serem exibidas..." e "Analisar marcações feitas por seus amigos em suas próprias publicações": opções realmente úteis para evitar aqueles engraçadinhos que divulgam fotos embaraçosas ou piadas de mau gosto vinculando o seu perfil aos deles.


4 - Bloqueando Pessoas e Aplicativos

Sabe aqueles aplicativos e joguinhos do Facebook a que o povo sempre fica te convidando? É possível bloqueá-los.

Na opção "Block apps", você pode digitar os aplicativos bloqueados. A caixa de texto é inteligente, por isso você não precisa saber exatamente o nome do aplicativo. Basta digitar uma referência e escolher uma opção da lista que o Facebook apresenta.

Nas linhas acima, você também pode bloquear convites para eventos e para aplicativos de seus amigos, que às vezes incomodam. Dentre eles Cityville, Calendário e vários outros.

Por fim, você pode bloquear todas as ações, comentários e visualizações de determinados usuários (inconvenientes ou desconhecidos, por exemplo) pelo nome ou por e-mail.


5 - Aplicativos, Jogos e Sites

Geralmente, você acaba compartilhando informações de seu perfil ao acessar sites e serviços online. Algo comum quando usa o Facebook para fazer login em outros lugares. Estes sites e serviços acabam recebendo as informações de seu perfil.

Se desejar um controle melhor sobre esta opção, use novamente as "Configurações de Privacidade" e clique em "Aplicativos, Jogos e Sites".



No espaço "Aplicativos que você Usa", está a lista de aplicativos com os quais você compartilha os dados do seu perfil. Para escolher quais informações serão compartilhadas, clique em "Como as pessoas colocam suas informações nos aplicativos que usam" e retire aquelas que você julga inoportuno compartilhar.



Ainda na tela de "Aplicativos, Jogos e Sites", você pode clicar no botão "Remover aplicativos indesejados ou que enviam spam", por onde poderá escolher quais aplicativos pretende excluir de sua lista (isso pode ser feito clicando-se no X que fica à direita do site ou aplicativo listado, opção "Remover").

Se quiser tomar uma atitude radical, pode também clicar em "Desativar todos os aplicativos" e a partir daí impedir que esses sites e programas acessem seus dados (claro que, neste caso, também não conseguirá acessar esses serviços via Facebook).

6 - Cuidados com o seu mural de fotos

Na configuração atual do Facebook ("linha do tempo"), você acessa o mural de fotos clicando na sua página inicial e depois, em "Fotos".  Nesta parte do aplicativo, você gerencia as opções de privacidade de seu álbum.



Quando você acessa um álbum e clica sobre uma foto, pode acionar as "Opções" da foto (ou pelo botão "Editar", à direita). Feito isso, é possível colocar uma legenda para a foto (ou alterar a que já existe), incluir o nome dos amigos com quem estava (isso fará com que a foto seja compartilhada no álbum deles), o local e a data em que foi incluída na internet.

Logo abaixo, no botão padrão de privacidade do Facebook, você decide e indica se esta foto ficará disponível ao público em geral, apenas aos amigos ou restrita a você. É a melhor forma de proteger as fotos de seu álbum. A outra forma é não publicá-las!



Dica: abaixo da foto selecionada, você pode clicar em "Opções" e definir a foto do seu álbum como aquela para representar o seu perfil no Facebook.

7 -  O chat no Facebook

De repente, você não quer ficar online para todos (ou para algumas pessoas) por todo o tempo em que está conectado ao Facebook. Neste caso, na barra lateral direita, basta clicar no ícone da engrenagem. Há três alternativas: a primeira permite que todos os amigos lhe vejam, exceto aqueles que você indicar; a segunda define quais amigos podem vê-lo online para conversar; a terceira desconecta o bate-papo.



8 - Outras opções e cuidados nas conversas via Facebook

Quando você estabelece um bate-papo com um de seus amigos, o Facebook documenta toda a conversa e você pode vê-la clicando no ícone da engrenagem, seguindo pela opção "Ver Toda a Conversa". Aqui, portanto, fica o conselho de ouro: cuidado com a forma que se expressa e com o que fala, pois tudo é gravado pela rede social.

Outra opção interessante é a de "Adicionar amigos ao bate-papo", permitindo uma conferência entre diversas pessoas. Assim como o Windows Live Messenger (MSN) 2012 Em português Ouro No ranking semanal e o velho ICQ Em português Bronze faziam no passado.



9 - Criando grupos

Assim como era praxe no Orkut, o Facebook também permite a criação de grupos ou comunidades a respeito de assuntos específicos. São locais virtuais em que os membros afeitos ao assunto trocam informações entre si.

Na página inicial do seu Facebook, existe a opção "Criar grupo...". Ao clicar nela, é aberta uma janela que pede informações sobre o grupo a ser criado e as pessoas que você deseja convidar.
Existem três modalidades de grupos:
  • abertos: permitem que qualquer pessoa possa ver o conteúdo e as publicações do grupo;
  • fechados: dependem de moderação do criador e as publicações ficam restritas aos membros;
  • secretos: nos quais apenas os membros podem ver o grupo, seus integrantes e publicações. É a melhor opção para assuntos reservados.



10 - Gerenciamento da conta

Nunca é demais lembrar que algumas medidas de segurança são úteis para quaisquer aplicativos, sites e sistemas de informática. Por exemplo: colocar uma senha não óbvia, trocá-la periodicamente e fazer a cópia de segurança dos dados, o tal do backup.

Ao clicar em "Página Inicial" e seguir por  "Gerenciamento de Conta", você tem acesso a um menu à esquerda. Com um clique no ícone "Geral", é possível ver à direita, uma opção que permite baixar uma cópia completa de seus dados do Facebook.

Na guia "Segurança" é possível definir uma pergunta de segurança para relembrar a senha caso esqueça, optar pela navegação segura (altamente recomendado) e ainda solicitar um código de ativação para login por dispositivos desconhecidos (que você não acessa com regularidade).

Na parte inferior, existe opção "Desativar sua conta", que deleta todos os seus dados, se assim o desejar (processo conhecido como "suicídio digital").



Aconselhamos, ainda, a não logar no Facebook a partir de lan houses, computadores de terceiros, de centros comunitários e dispositivos de uso comum. Pois eles podem ter sido preparados para capturar logins e senhas.

Guepardo sobe em carro e posa para turistas em parque selvagem

Os turistas estavam interessados em flagrar cenas do mundo selvagem no parque de Masai Mara (Quênia). Mas este guepardo quebrou o protocolo e, de forma dócil, subiu no teto de um carro e posou para fotos. Os turistas aproveitaram a abertura no teto do jipe para clicar o animal sem qualquer proteção. O felino ficou em cima do veículo por 45 minutos! Via Page Not Found

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Nós - Martha Medeiros

Poucas pessoas gostam de viajar sozinhas. O que é compreensível: a melhor modalidade é a dois, também acho. Mas, na ausência momentânea de parceria, por que desconsiderar uma lua de mel consigo mesmo?
Uma amiga psicanalista me disse que não é por medo que as pessoas não viajam sozinhas, e sim por vergonha. Faz sentido: numa sociedade que condena a solidão como se fosse uma doença, é natural que as pessoas se sintam desconfortáveis ao circularem desacompanhadas, dando a impressão de serem portadoras de algum vírus contagioso. Pena. Tão preocupadas com sua autoimagem, perdem de se conhecer mais profundamente e de se divertir com elas próprias.
Vivi recentemente essa experiência. Tirei 10 dias de férias, e não diga que não reparou, ou morrerei de desgosto. Estive em lugares que já conhecia para não me sentir obrigada a conferir as atrações turísticas _ o “aproveitar” não precisa necessariamente ser dinâmico, podemos aproveitar o sossego também.
Minha intenção era apenas flanar, ler, rever amigos que moram longe e observar a vida acontecendo ao redor, sem pressa, sem mapas, sem guias. Dormir até mais tarde e almoçar na hora em que batesse a fome, se batesse. Estar disponível para conversar com estranhos, perceber o entorno de forma mais aguçada, circular de bicicleta por cidades estrangeiras. Ave, bicicleta! Diante do incremento de turistas no mundo, não raro impossibilitando a contemplação de certos pontos, alugar uma bike às 7h30min foi a solução para curtir ruas vazias e silenciosas.
Solitários, somos todos, faz parte da nossa essência. Não é um defeito de fabricação ou prova de nossa inadequação ao mundo, ao contrário: muitas vezes, a solidão confirma nossa dignidade quando não se está a fim de negociar nossos desejos em troca de companhia temporária. E a propósito: quem disse que, sozinho, não se está igualmente comprometido?
Numa praça em Roma, um casal de brasileiros se aproximou. Começamos a conversar. Lá pelas tantas, perguntei de onde eles eram. “De São Paulo, e você?” Respondi: “Nós, de Porto Alegre”. Nós!!! Quanta risada rendeu esse ato falho. Eu e eu. Dupla imbatível, amor eterno, afinidade total.
Se você não se atura, melhor não viajar em sua própria companhia. Mas se está tudo bem entre “vocês”, saiam por aí e descubram como é bom sentar num café num dia de sol, pedir algo para beber enquanto lê um bom livro, subir até terraços para apreciar vistas deslumbrantes, entrar em lojas e ficar lá dentro o tempo que desejar, entrar num museu e sair dali quando bem entender, caminhar sem trajeto definido nem hora pra voltar, pedalar ao longo de um rio ouvindo suas músicas preferidas no iPod, em conexão com seus pensamentos e sentimentos, nada mais.
Vergonha? Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da própria pele. Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só.


A VELHINHA MAL-HUMORADA

Quando uma velha senhora morreu na seção para o tratamento de doenças da velhice em uma pequena clínica perto de Dundee, na Escócia, todos estavam convencidos de que ela tinha deixado nada de valor. Então, quando as enfermeiras verificaram seus escassos pertences,e encontraram um texto poético. Sua qualidade e conteúdo muito impressionaram a todos.... resolveram publicar.
Seu nome? A VELHINHA MALHUMORADA

O que todos pensam quando olham para mim? Uma mulher mal-humorada de idade, não muito inteligente, costumes incertos, com olhos sonhadores ,fixos na distância.

A velha senhora, que você acredita que não está ciente das coisas que faz e continuamente perde seus óculos, ou chinelos. A velha, que contra sua vontade, mas humildemente, pede permissão para fazer o que vocês mandam , que se banha e se alimenta, mas que ninguém pensa que assim ela vai vivendo sua vida.
_É isso que vocês pensam? É isso que você vê?
Se assim for, abram os olhos, amigos, porque você só vê o que não sou !. Eu vou te dizer quem eu sou quando me sento aqui, ainda, eu, que você pensa, que não pensa em nada!
Eu sou uma menina de dez anos que têm um pai e uma mãe, irmãos e irmãs que se amam.
Eu sou uma menina de dezesseis anos, com asas nos pés, sonhando que em breve encontrará seu amado.
Eu sou uma noiva de vinte, o meu coração salta, quando eu faço uma promessa que me liga ao fim da minha vida.
Agora eu tenho vinte e cinco, eu tenho meus filhos, que precisam ser orientados, para terem um seguro e feliz.
Agora,com quarenta anos , meus filhos cresceram e não estão em casa. Meu lado é meu marido que toma conta de mim, para eu não esteja triste. Aos cinquenta, mais uma vez, de joelhos a brincar com os bebês novamente. É a volta da felicidade.
Sobre mim nuvens escuras se aproximando, o meu marido morreu, quando eu vejo o futuro, tenho medo, muito medo. Os meus filhos estão fora, têm os seus próprios filhos, pensar em todos os anos que passaram, o amor que eu conhecia é muito triste.
Agora eu sou uma mulher velha. A natureza é cruel!. A velhice é um truque que faz um ser humano alienado. O garrote do corpo, a atratividade e força se foram, ali, onde outrora foi o meu coração agora há uma pedra.
No entanto, nestas ruínas a menina ainda está viva. Meu coração cansado, por vezes, ainda repleto de sentimentos. Lembro-me da palavra amor de amor e revivo o meu passado.
Acho que todos esses anos foram muito poucos e chegou muito rápido, e é duro aceitar o fato inevitável que nada pode durar para sempre. Então, pessoas, abram os olhos, abram seus olhos e vejam!.
Antes que você seja um velho rabugento como sou eu para você!
Não quero ser invisível, ao menos para mim! Ainda sonho!

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)

Marina Colasanti
nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mulher nota dez - Nadia Foes

A vida de Angel sempre foi muito boa! Foi uma criança amada, respeitada, e criada sabendo que era inteligente e que o futuro da nação dependia de pessoas amadas, cultas e bem resolvidas. Ela não entendia muito bem o que isto significava, era muito pequena para resolver o futuro da nação! Mas acreditava em tudo o que sua mãe dizia, nunca apanhou, era educada e sua mãe gostava de brincar como se Angel fosse sua boneca. Angel vivia enfeitada de laços e babados. Até hoje suas amigas de infância comentam que elas ainda não sabiam andar calçadas, porque viviam descalças, e Angel já usava botas no inverno do sul e bolsa. Angel era chic, freqüentava os melhores colégios. Aos quatro anos fazia aulas de inglês e dança, com sua mãe e seu irmão. Seu irmão aprendia violão não dançava! Mas Angel e sua mãe vestiam malha preta, prendiam seus cabelos em coque e caiam na dança. Angel teve acesso a todos os livros desde pequena. Leu todos os clássicos da literatura infantil e juvenil; lia jornais e revistas, usava jóias de ouro e um colar de ouro com placa gravada seu nome. Sabia que seu nome era uma referencia angelical. Sua mãe gostava de pronunciar seu nome. Angel viajava com seus pais e sua mãe não mentia para ela dizendo que ia tomar injeção para poder ir ao baile, até porque Angel participava de maneira ativa na produção de sua mãe que era vaidosa e bonita. Angel participava de concurso de fantasias no carnaval e era sempre bem destacada. Suas festas de conta anos eram lindas e sempre festejadas com pompa e circunstancia. Angel foi criança feliz porque era tratada como pessoa inteira. Sempre foi ótima aluna. Sua mãe lhe dizia: Angel você é linda e inteligente, você no futuro será o que aprender hoje, o importante é aprender. Ela aprendeu! E certo dia já moça, sua mãe, com toda a franqueza lembrou Angel que ela deveria ser não igual a sua mãe, que não era exemplo para ninguém, mas muito melhor. Angel não entendeu pois se achava sua mãe perfeita como é que ela a filha deveria suplantar a mãe.  O que sua mãe quis ensinar é que ela deveria ser elegante, educada, boa, companheira, e excelente profissional. Sua mãe foi da geração que não doutorou, mas aprendeu com a vida, na escola da vida. Sua filha foi a lição de que ela poderia ser chic, usar grife, sem se descuidar de seu futuro profissional. E que intelectual também pode se vestir, e não apenas se cobrir, como costumava ensinar certa corrente da época. Angel fez faculdade, doutorou e ensinou. É uma mulher de seu tempo, vive a mil, cuida das filhas, da casa,dá ordens às empregadas, é companheira e amante. Continua sempre bem vestida, compra roupas e sapatos de grife, ajuda o marido a pagar a fono, psicóloga, terapeuta e mais outras tantas despesas da filha que tem autismo. Veste suas filhas de boneca, enfim, ela viaja para onde bem entende, com sua família e sem família, é respeitada profissionalmente, é feliz, bem resolvida, ganha tanto quanto seus colegas de profissão do sexo masculino e tem sempre um leque de opções porque bom profissional é assim. Angel é filha das mulheres que não doutoraram mas que aprenderam com a vida. Sua mãe é de uma época em que a mulher ideal era a mulher prendada, de prendas do lar. Angel é uma mulher de vanguarda com pitadas de romantismo de um passado recente.



Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

domingo, 16 de setembro de 2012

Gmail: Como posso acessar o e-mail de um parente que faleceu?

Nesse artigo vou mostar como é possível acessar o Gmail de um parente falecido.
Recentemente me perguntaram, via formulário de contato do blog, como seria possível acessar o Gmail de uma pessoa que já havia falecido, para deixar um aviso as pessoas e depois de um certo tempo excluir a conta do Gmail.
Como essa é uma situação que pode interessar a outras pessoa, ao invés de apenas responder a pessoa que me perguntou, resolvi escrever esse artigo ensinando como fazer o procedimento com o Gmail. Se não é isso que estava procurando, talvez um dos link abaixo possa lhe ajudar.

Como posso acessar o e-mail de um parente que faleceu

como acessar o gmail
O procedimento que vou descrever abaixo é baseado na solução apresentada pela própria equipe do Gmail no artigo “Como acessar o e-mail de uma pessoa falecida”.
Segundo o artigo mencionado acima,
“Caso você precise acessar o conteúdo dos e-mails de uma pessoa já falecida, em casos raros podemos fornecer o conteúdo da conta do Gmail a um representante autorizado do usuário falecido. Lamentamos o ocorrido e agradecemos sua paciência e compreensão durante este processo.”



O processo é demorado e tem duas etapas.

Etapa 1

Você precisa enviar as seguintes informações para o Google:
  • Seu nome completo
  • Seu endereço completo com CEP
  • Seu endereço de e-mail
  • Uma cópia de um documento de identidade emitido pelo governo ou da sua carteira de habilitação
  • O endereço do Gmail do usuário falecido
  • A certidão de óbito do usuário falecido. Se o documento não estiver em inglês, forneça uma tradução juramentada em inglês realizada por um tradutor juramentado competente
  • As seguintes informações provenientes de uma mensagem de e-mail recebida em seu endereço de e-mail enviada a partir do endereço do Gmail em questão:
    • O cabeçalho completo da mensagem de e-mail. Veja estas instruções sobre como localizar cabeçalhos no Gmail e em outros provedores de webmail. Copie todas as informações de “Delivered-To:” até a linha “References:”
    • Todo o conteúdo da mensagem

Envie essas informações por correio ou fax para:

Google Inc.
Gmail User Support – Decedents’ Accounts
c/o Google Custodian of Records
1600 Amphitheatre Parkway
Mountain View, CA 94043
Fax: +1-650-644-0358

Etapa 2

Ao receber essas informações, o Google analisará seu pedido e avisará por e-mail se poderá prosseguir para as próximas etapas do processo. Ainda segundo o artigo mencionado acima, o Google diz.
“Se pudermos dar sequência com base em nossa análise preliminar, enviaremos mais instruções descrevendo a Parte 2. Na Parte 2, será necessário entrar com um processo legal adicional, incluindo uma petição judicial de um tribunal dos E.U.A. e/ou envio de mais documentação. O envio dessa documentação não garante que poderemos fornecer o conteúdo da conta Gmail. Dessa forma, recomendamos não prosseguir com a Parte 2 até que você tenha obtido resposta em relação à Parte 1. Como nos preocupamos com a privacidade dos usuários, se decidirmos não fornecer o conteúdo da conta do Gmail, não será possível compartilharmos mais detalhes sobre a conta ou discutirmos nossa decisão.”

Conclusão

Como você já deve ter percebido não será uma tarefa fácil. O ideal é que você pense agora no seu futuro e, se for importante acessar sua conta do Gmail ou outro provedor/rede social, informe a algum parente de confiança ou até mesmo deixe essa informação em um documento oficial, como um testamento.

Fonte: GF Soluções

sábado, 15 de setembro de 2012

Como remover o Babylon Search do Firefox

Este e outros complementos fazem alterações nas configurações avançadas do navegador e é preciso restaurar os padrões do browser para se livrar deles.

Por Ana Nemes em 23 de Julho de 2012
 
Muitos programas gratuitos se oferecem para instalar barras de pesquisa e complementos para o seu navegador durante a sua própria instalação, como uma forma de propaganda para os seus patrocinadores.
Apesar de, na maior parte dos casos, ser possível impedir isso, nem sempre essa opção está clara, e você pode acabar autorizando essa instalação sem querer. Algumas vezes o incômodo é menor e você pode facilmente desinstalar esses complementos do seu navegador, porém existem casos que não são tão simples assim.
A caixa de pesquisa Babylon Search, por exemplo, não é retirada do Firefox nem que o utilizador desative a extensão e faz com que uma página do Babylon seja aberta quando algo é pesquisado diretamente pela barra de endereços. Para desativar isso de uma vez por todas, existem duas maneiras rápidas e simples, que você confere neste tutorial.

Restaurando as preferências

Como remover o Babylon Search do FirefoxSelecione a opção de reiniciar o navegador com as extensões desativadas. 
Primeiramente, exclua todas as extensões que você deseja remover do navegador. Depois, feche as abas que você estiver usando e salve os endereços que você não quiser perder, já que esse método exige que você reinicie o navegador. Agora, vá até ao menu do Firefox e, na aba “Ajuda”, clique em “Reiniciar com extensões desativadas”, como mostra a figura acima.
Isso não vai desativar permanentemente as extensões instaladas, portando é preciso ter apagado aquelas que você não deseja mais. Esse comando vai reiniciar o Firefox com uma janela do modo de segurança, e a opção desejada para que tudo volte ao normal é “Restaurar todas as preferências para o padrão do Firefox”. Marque essa caixa de seleção e reinicie novamente o browser.
Como remover o Babylon Search do Firefox 
Restaure todos os padrões do Firefox. 

Pelas configurações avançadas

Isso também pode ser feito pelas configurações avançadas do navegador, mas deve ser feito com muito mais cuidado do que a opção acima. Isto por que, ao acessar esse conjunto de personalizações, você sai da zona de controle do browser e pode mexer em opções que tem o potencial de desconfigurar totalmente o seu Firefox. A vantagem é que não é preciso voltar tudo para o padrão do Firefox, apenas o serviço de pesquisas.
Com isso em mente, digite about:config na barra de endereços do seu navegador. Um aviso é mostrado pedindo para que você tenha muito cuidado ao mexer nessas configurações, e você precisa prometer isso para o navegador clicando em “Serei cuidadoso, prometo!”.
Como remover o Babylon Search do FirefoxPrometa ser cuidadoso com essas configurações — e realmente seja! 
O próximo passo é encontrar, usando a caixa de busca “Localizar” na parte superior desta tela, a entrada browser.search.defaultenginename e clicar com o botão direito sobre ela. No menu de contexto, selecione a opção “Restaurar o padrão”.
A primeira parte está completa. Agora, falta restaurar o serviço de buscas para a barra de endereço. No mesmo campo de buscas, procure a entrada keyword.URL e, da mesma forma que a anterior, restaure o seu padrão. Se você estiver usando uma versão anterior ao Firefox 4.0, também é preciso fazer essa operação com a entrada browser.search.defaulturl.
Como remover o Babylon Search do Firefox 
Restaure o padrão do Firefox para os serviços de busca. 
Pronto! Agora é só fechar essa janela e fazer alguma busca usando a caixa de URL do seu Firefox para comprovar que o padrão foi restaurado e você não vai mais ver a página do Babylon ou de outro serviço intruso ao tentar realizar uma pesquisa de maneira mais rápida no seu navegador.

Fonte: http://www.tecmundo.com.br/como-fazer/27101-como-remover-o-babylon-search-do-firefox.htm#ixzz26X4iUxYz

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Assista um vídeo em alta definição do pouso do Curiosity em Marte

Norte-americano usou imagens da NASA para produzir vídeo-montagem fiel da operação O norte-americano Bard Canning juntou as imagens em alta resolução do robô Curiosity, divulgadas pela Nasa, e fez uma vídeo-montagem que recria o momento histórico do pouso do jipe em Marte. O vídeo é interessante porque, até então, a agência norte-americana não divulgou nenhum material audiovisual sobre a operação, que é vista como a mais complexa da história do programa espacial. Canning teria demorado quatro semanas para finalizar o vídeo, editando as fotos divulgadas pela agência especial norte-americana e as sincronizando com música. O vídeo conta com cerca de 30 quadros por segundo, e por isso conta com uma altíssima qualidade. Via Olhar Digital

PARALIMPÍADAS, UM DOS GRANDES MOMENTOS

Consumo de álcool aumenta risco de AVC

Pesquisa realizada na Universidade de Lille-Nord, na França, mostra que existe uma correlação significativa entre a ingestão de álcool e a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVCs).

Segundo os pesquisadores, indivíduos que consomem mais de três doses de bebidas alcoólicas por dia têm o risco de sofrer AVC equivalente ao de indivíduos 15 anos mais velhos.


A Dra. Charlotte Cordonnier, uma das coordenadoras do estudo, explica que o consumo de álcool tem sido especialmente relacionado ao tipo hemorrágico de AVC, popularmente conhecido como derrame.


Os pesquisadores entrevistaram 540 pessoas com idade média de 71 anos e que haviam sofrido um AVC com hemorragia intracerebral, assim como seus familiares e cuidadores, sobre os hábitos de consumo dos participantes. Desses, 137 (25%) apresentou consumo pesado de álcool, o que consiste em três ou mais doses de bebidas alcoólicas por dia. Os participantes também foram submetidos a exames cerebrais de tomografia computacional e seus prontuários médicos foram revisados.


Os resultados mostraram que os indivíduos que fizeram consumo pesado de álcool sofreram AVC com uma idade média de 60 anos, cerca de 14 anos antes da idade média de idade dos participantes que não faziam consumo pesado de álcool. Além disso, entre os participantes que sofreram AVC na parte profunda do cérebro antes dos 60 anos, os que consumiam mais álcool tinham maior probabilidade de morrer em até dois anos após o evento.


O estudo foi publicado na revista Neurology.


Fonte: Agência FAPESP, 11 de setembro de 2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Votar - Raquel de Queiroz

O texto de Raquel de Queiroz, de 1947, nos faz pensar como o povo demora para reconhecer seu direito e os que são realmente honestos
O tempo passa, mas a história se modifica muito lentamente e as verdades sinceras permanecem. Estamos em um momento muito propício à meditação, pois eleições municipais se aproximam. A esperança permanece forte e com a tecnologia da mídia eletrônica se fortalece ainda mais, pois a difusão das ideias são mais rápidas e os maus têm menos chances de ludibriar os incautos. Para instigas mais a reflexão, está se espalhando na internet o texto a seguir de autoria de Raquel de Queiroz, intitulado “Votar”, que foi publicado na revista “O Cruzeiro”, no ano de 1947, com o objetivo de alertar os eleitores de então, quanto a importância do voto.
É impressionante, o tempo passou mas o conteúdo permanesse absolutamente atual:
VOTAR
Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama govêrno democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato.
No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: govêrno do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVÊRNO.
Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo.
Escolhem-se pelo voto aquêles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas – e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.
Escolhemos igualmente pelo voto aquêles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aquêles que irão estipular a quantidade dêsses impostos. Vejam como é grave a escolha dêsses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gôta de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bôlso.
E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aquêles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aquêles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos.
Pois, se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Êles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero.
Não preciso explicar muito êste capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder.
Escolhem-se nas eleições aquêles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático. E, circunstância mais grave e digna de todo o interêsse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de tôdas as fôrças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias.
E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fêz um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio – lembrem-se de que não vão proporcionar a êsses sujeitos um simples emprêgo bem remunerado.
Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para êles comandarem – e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fôssem.

Entregamos a êsses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra – e a flor da nossa mocidade, a êles prêsa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador.
Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva.
Porque, afinal, a mulher quando é ruim, dá-se uma surra, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o govêrno, quando é ruim, êle é que nos dá a surra, êle é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da bôca dos nossos filhos e nos faz apodrecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo.
E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar êste ou aquêle candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto.
Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem mêdo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem mêdo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à fôrça, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”.
Raquel de Queiroz

Via Eliz Lima

O valioso tempo dos maduros - Mario de Andrade

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!
Mario de Andrade (1893 - 1945)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Saga da família do Gastão

Publicado no Facebook, página  OitoVidas
   
A saga da FAMÍLIA GASTÃO (gambazinho que caiu da mãe ainda de olhos fechados e foi resgatado por nós) continua...

Dias depois, saindo de casa, vimos novamente a Severina, sua mãe. Paramos novamente para que ela atravessasse a estrada, com a barriga lotada de filhotes e alguns agarrados nas sua costas.
Ela foi para o outro lado da pista.
Já era tarde e fiquei apreensiva com sua volta. Era fim de s

emana com transito bastante movimentado.
Duas horas depois estávamos voltando e não deu outra.
Ela estava caída no meio da pista, com uma das pernas para cima como se pedisse – “olhem meus filhos...”.
Foi triste demais.
Pensei até em não postar a história, para que as pessoas não sofressem como nos, ao ver tamanha crueldade.
Desci do carro com o Igor e a Talita, meus companheiros de resgates pelas madrugadas, e demos com a cena mais triste do mundo – filhotinhos mamando o último leite de sua mãe morta.
Fazer as fotos foi difícil, mas como uma "repórter tupiniquim", resolvi fazer, para informar sobre a necessidade de respeitar esses animais, que muitos acham nojentos, feios, sujos e que são apenas mais uma das criações de Deus, com sua função na natureza. Uma vida como qualquer outra, que quer viver em paz, com sua família, num mundo que também é deles.
Pra vocês esse registro triste como um alerta –RESPEITEM A VIDA SEJA ELA QUAL FOR!
Observem, desliguem as luzes dos carros e aguardem que eles passem, espere com calma, pois podem estar lentos carregando o peso de muitos filhotinhos. Alguns minutos não vão lhe fazer falta e pra eles podem custar suas vidas!

PARA ESPANTAR O BODE - Joaquim Ferreira dos Santos

 Quase não ouço música.
Tenho manifestado uma
opção preferencial pelo
silêncio. Escuto vozes o dia
inteiro, e quem me dera
fossem de “dead people”.


Meu querido Arthur Dapieve, eu li, como de hábito, o seu texto de sextafeira próxima passada — e uso essa expressão por pura curtição pessoal, em louvor ao dono dela, o grande locutor esportivo Orlando Batista. Mesmo presumindo que ele não seja um ícone da sua geração de rádio-ouvinte-esportivo, eu cito o Orlando como cumprimento viril a você, também fã do esporte bretão.

Pois, então, Dapi. Li suas bem traçadas, no caso apraz citado, focalizando o relançamento de “Tem que acontecer”, do Sérgio Sampaio. É um dos meus discos preferidos. Eu ia sorvendo feliz cada uma de suas exaltações à música do Sérgio, mais um de nossos ídolos levados pela maldita da cachaça. De repente, o texto já no último parágrafo, percebi o inexorável. Você não ia citar a minha música preferida do disco, a estupenda “Velho bode”, aquela do “Você é um fracasso/ do meu lado esquerdo do peito/ uma corda de nylon/ de aço/ que arrebenta quando eu faço dó”. Nesse “dó” final, ele tira o som da nota no violão, um dó pungente capaz de deixar humilhados os do Nélson Cavaquinho.

Eu estou te escrevendo, meu bom Dapi, para não deixar passar em branco o bode do Sérgio Sampaio, um dos bichos mais geniais da MPB (ao lado do “Pato”, do João, do “Sapo”, do Donato, da “Perereca”, da Dercy), e também porque está sendo lançado um livro com o título de “1001 músicas que você deve ouvir antes de morrer”. É o velho truque das listas, e eis que mais uma vez me deixo cair na armadilha de, primeiro, ficar curioso, e, em seguida, furioso. O livro deixou de fora o “Bode”, todas as outras músicas do Sérgio Sampaio, e também “Carinhoso”.

Faz sentido, Dapi, um cara ter vindo a esse mundo-de-meu-deus, se livrar de todos os carrinhos por trás da zaga adversária, sobreviver até a idade adulta aos rabos de arraia dos inimigos, e se despedir deste vale de lágrimas miserável sem alguém ter lhe recomendado a audição de Pixinguinha?

O livro é de um inglês, fala da música popular de todo mundo, e contempla o Brasil com indicações polêmicas que não vêm ao caso, porque música boa é a que assim lhe cai aos ouvidos.

Eu fui criado ouvindo o programa do César de Alencar na Rádio Nacional, depois, adolescente, passei para o “Hoje é Dia de Rock”, do Jair de Taumaturgo, na Mayrink da Veiga. Sei que Anísio Silva cantando “Quero beijar tuas mãos”, “Kokomo”, dos Beach Boys”, e o jingle do Café Capital, pela Dóris Monteiro, músicas que confundocom as harpas dos anjos, não são exatamente para uma listagem internacional.

Mas, meu bom Dapi, cá entre nós: o que sabem esses ingleses? O que sabe qualquer outro senão nós mesmos, da música que se deve ouvir antes do vento gélido soprar na nuca, dizer “chegou a hora” e a mão caridosa de uma amiga nos puxar o cobertor até a altura dos olhos, encerrando a vã jornada?

Eu vou confessar, querido companheiro, que alimento sobre você uma invejinha branca, embora ultimamente esteja preferindo as mais morenas. Quase não tenho ouvido música. Ouvi o “Rio”, do Keith Jarret, com empolgação, e as deliciosas babas-bregas do último CD da Marisa Monte. De resto, tenho manifestado uma opção preferencial pelo silêncio (já escuto vozes o dia inteiro, e quem me dera fossem de “dead people”). Quando pego o jornal e te vejo descobrindo novos sons, abrindo as orelhas sem preconceito aos tambores do planeta, sinto a tal invejinha — e por isso achei que serias o parceiro ideal para compartilhar as sugestões que pretendo mandar aos ingleses.

Que numa próxima edição, e livros de listas têm muitas, eles não se esqueçam de “Para ver as meninas”, do Paulinho da Viola, do “Preciso aprender a ser só”, dos irmãos Valle, e o “Nova ilusão”, do Pedro Caetano e Claudionor Cruz, cantada pela Marisa Monte. São canções para se cantar baixinho, porque eu vejo essas pessoas ouvindo música com o fone empurrado para dentro das orelhas, e faço tsk, tsk. Queria lhes apresentar o benefício do sussurro. Astrud Gilberto cantando “Insensatez” não faz mal ao ouvido antes do estrondo insuportável do bater das botas.

Eu sou de uma geração em que a ordem do mundo mudava ao sabor de um LP do Caetano, do Chico, dos Beatles. Hoje, eu ouço o Criolo, os crioulos do rap, e, a não ser que você me desminta, Dapi, não percebo as águas do mar se abrindo. A música não é mais o importante, mas o show. Por isso, vou dizer aos ingleses: as 1001 músicas que eu quero ouvir antes de morrer são as que já ouvi desde nascer. Toca aí “Desencontro”, do Chico, “Luzia luluza”, do Gil, “Qualquer bobagem”, do Tom Zé, e “Meu pobre blues”, do Sérgio Sampaio. Para animar o enterro, toquem “Oba”, do Bafo da Onça, e “Palmas no portão”, do Cacique.

Que tal, meu bom Dapi, se eu juntasse a minha lista daqui com as tuas daí, e para enfrentar os ingleses lançássemos o que realmente interessa, o nosso “Músicas para espantar o bode”?

O GLOBO

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A culpa é da Xulipa - Nadia Foes

No norte faz calor e o povo é muito agradável. Todo o mundo se comunica e todo dia é dia de festa. Se não tem festa, dá-se um jeito. Sempre tem alguém disposto. É assim: vamos fazer um tacacá? Um pirarucu de casaca? Um baião de dois? É uma animação danada. É como se diz por lá: um povo arretado. E isso é maravilhoso! A união deles me emociona. Sempre que vou visitar a filha me sinto muito bem acolhida.É um povo hospitaleiro, quente. Aqui no sul faz frio. É tudo diferente. No verão baita festa. Passa o verão e todos se recolhem para suas tocas hibernando, mas no norte é diferente. Até já andei pensando em trocar por uns tempos o sul pelo norte. Uma ocasião fomos conhecer um local lindo, chamado Hotel Pakaas, no meio da floresta amazônica, onde passamos um final de semana maravilhoso. Ficamos na piscina do hotel até a meia noite, olhando o luar e o encontro dos Rios Madeira e Mamoré. A gente tem impressão que está no meio do rio. As cabanas ficam sobre palafitas e a vegetação natural foi respeitada. Não cortaram uma árvores sequer. A fauna e a flora são muito ricas lá. Confesso que sou de procurar encrenca e se não tem eu arranjo. Pois no paradisíaco hotel encontrei com a nora do proprietário com um cãozinho muito bonitinho no colo. Como gosto muito de animais fui xeretear o cãozinho bonitinho no colo da dona e de barriga pra cima. Fiz festa pra ele, contei que minha neta tem uma igual e na animação encostei o meu rosto no cãozinho bonitinho. E o cãozinho bonitinho não gostou da intimidade e sem reserva deu uma mordida na ponta do meu nariz que na minha adolescência me incomodava muito. Vivia louca para fazer uma plástica. Até que fui num cirurgião e ele me explicou que estava dentro dos padrões para meu rosto anguloso e a boca grande. Ali não cabia um narizinho. Algum tempo ouvi dizer que o nariz da gente cai com o passar dos anos. Não é que acho que estava nesse tal de passar dos anos, porisso dona Xulipa comeu um pedaço. Foi um alvoroço danado. A dona do cãozinho bonitinho chorava, os empregados correndo com toalhas e o sangue que não ia estancar pois era uma zona muito vascularizada; foi um cenário de terror. Além de perder parte do nariz ainda tive que consolar a moça e os funcionários. Pedi a eles: por favor, a culpa não foi dela, tragam soro fisiológico. Não tinha. Tem médico aqui. Não tinha. Só na cidade mais próxima a poucas horas de viagem. E lá fomos em busca de socorro, segunda duas toalhas no rosto e como tudo estava fechado nos indicaram o hospital. Lá chegando uma enfermeira telefonou para a residência do médico e me levou para uma sala onde tinha uma mesa e no canto uma pia. Na pia um sabão azul e uma esponja grossa. E a tal enfermeira lavando a esponja com o sabão azul. Olhei desconfiada e perguntei: o que você vai fazer com isso? E ela responde: lavar seu ferimento. Perguntei: tem soro fisiológico? Me respondeu: não tem. Tem gaze? Não tem. E é com isso que você vai fazer a limpeza no meu nariz? Foi aí que fiquei doida, ensandecida. Respondi: não vai fazer isso comigo coisa nenhuma. Deixa que eu mesma limpo. Peguei um pedaço da dita toalha que o hotel me emprestou, lavei com o dito sabão azul e lavei meu ferimento. O que foi mais trágico foi quando o marido olhando dizia: falta um pedaço, falta um pedaço do nariz! O médico chegou e não tinha grande coisa para fazer. Faltava tudo. A recomendação foi volte para a capital pra tomar soro antitetânico e vacina anti-rábica. Voltamos para o hotel, almoçamos, pegamos a bagagem e voltamos para a capital. Na volta, com o pessoal todo em estado de choque, só chegamos de viagem tarde da noite. Só foi possível conseguir uma consulta no dia seguinte. Quando chegamos para a consulta, o cirurgião examinou e disse: se for para fazer um enxerto vai ficar uma bola na ponta do nariz. Tem que esperar a cicatrização para ver como vai ficar e só depois fazer uma reconstrução. Recomendou os medicamentos e lá fomos para a farmácia. Cada farmácia tem um anexo, uma espécie de posto de atendimento com pessoal capacitado. E comecei a fazer os curativos duas vezes ao dia: de manhã e à noite. Uma manhã fui atendida por uma enfermeira e a noite por um senhor. Tudo muito limpo e, dentro do possível, até que o curativo era bem feito. Parecia que eu tinha um pião na ponta do nariz. Em uma das vezes a delicada enfermeira que me atendia disse que trabalhava no hospital de hanseníase e lá eles só fazem curativo com açúcar grosso. Tem que ser do bem grosso. Perguntei: e as formigas? Ela disse: não tem perigo. Pensei com os meus botões: que fazer, eu é que não vou contrariar essa maluca. E saí de lá com açúcar grosso. À noite, na troca do curativo, perguntei ao enfermeiro que estava me atendendo a história do açúcar. E ele explicou que era para acelerar a cicatrização. Minha filha que andava muito triste pelos cantos porque achou que a volta para a casa seria adiantada para vir consultar o meu dermatologista, ficou feliz quando resolvi ficar a temporada programada. De curativa, chapéu ou boné, era assim que eu andava. E um pião na ponta do nariz. Na volta fui ao meu dermatologista que quando o estrago me abraçou e chorou. O tratamento durou doze meses. Saiu o curativo e entrou o esparadrapo e sempre de chapéu, até no inverno. Pois não é que a pele se regenerou; usei um medicamento que preencheu o buraco e o resultado que a dona Xulipa me fez uma plástica, pois a ponta do nariz ficou mais empinada. Agora, se alguém se candidatar a levantar o nariz, é só ir no Pakaas, lugar bonito, comida boa, tratamento de primeira e plástica gratuita. É só pagar as diárias. E olha que poderia ter sido um macaco porque lá eles pulam de galho em galho bem em cima de nossas cabeças. Na próxima temporada do norte, pretendo dar uma chegada lá, mas, por via das dúvidas, telefono antes para saber se a Xulipa está lá. Nunca se sabe...



Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.