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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Dona Olenka - Nadia Foes



Dona Olenka e seu Nicolau eram refugiados oriundos da Ucrânia uma das regiões mais ricas da Rússia. Mais precisamente da Cracóvia. A mãe de dona Olenka, consciente dos riscos que a família corria, deu instruções para as filhas e costurou na barra dos seus casacos alguns diamantes com a orientação de a quem recorrer em uma situação mais grave. Uma semana depois a família foi aprisionada e separada. Dona Olenka contava dezesseis anos e estava noiva do Sr. Nicolau que também foi aprisionado. Sr. Nicolau conseguiu fugir e após manobras arriscadas, dona Olenka foi ao seu encontro e nunca mais soube de seus familiares. Aconselhados pela pessoa que comprou os diamantes (um joalheiro francês) eles vieram para o Brasil e compraram uma chácara de flores. Progrediram e da união nasceram dois filhos. Os filhos receberam uma ótima educação, graduaram-se em curso superior. O Sr. Nicolau adoeceu pois ficou com seqüelas devido a falta de alimentação e os trabalhos forçados no campo de concentração e veio a óbito. Dona Olenka desenvolveu uma doença crônica no aparelho circulatório e perdeu uma perna, mas era forte e superou todos os obstáculos. Continuou vivendo da chácara de flores. Cinco anos depois ela ficou muito mal e perdeu a outra perna. E o seu ritmo de trabalho foi afetado. Ela trabalhava com arranjos florais, era florista, e suas filhas resolveram que estava na hora de vender a chácara. A chácara foi vendida e dona Olenka passou a viver em um pequeno apartamento. Suas filhas já estavam casadas e com a parte da herança delas garantida, resolveram aplicar o dinheiro da mãe. A aplicação não deu certo, o prejuízo foi grande e dona Olenka sem dinheiro e sem as duas pernas tornou-se um peso para suas filhas que estavam preocupadas com o próprio umbigo. Dona Olenka parou de se alimentar e ficou muito fraca; passou dois meses de cama e seus pulmões não agüentaram. Foi internada no hospital universitário em estado gravíssimo. Veio a óbito em poucos dias. Suas filhas, chamadas para levar o doente para morrer em casa se recusaram aceitar tamanha responsabilidade e ainda perguntaram se o médico sendo professor de medicina não poderia interceder junto ao centro de anatomia para aceitarem a doação do corpo da mãe, pois sabiam que eles estavam lutando com a falta de cadáveres. Na realidade elas não queriam arcar com as despesas dos funerais da dona Olenka.

Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

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