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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mulher nota dez - Nadia Foes

A vida de Angel sempre foi muito boa! Foi uma criança amada, respeitada, e criada sabendo que era inteligente e que o futuro da nação dependia de pessoas amadas, cultas e bem resolvidas. Ela não entendia muito bem o que isto significava, era muito pequena para resolver o futuro da nação! Mas acreditava em tudo o que sua mãe dizia, nunca apanhou, era educada e sua mãe gostava de brincar como se Angel fosse sua boneca. Angel vivia enfeitada de laços e babados. Até hoje suas amigas de infância comentam que elas ainda não sabiam andar calçadas, porque viviam descalças, e Angel já usava botas no inverno do sul e bolsa. Angel era chic, freqüentava os melhores colégios. Aos quatro anos fazia aulas de inglês e dança, com sua mãe e seu irmão. Seu irmão aprendia violão não dançava! Mas Angel e sua mãe vestiam malha preta, prendiam seus cabelos em coque e caiam na dança. Angel teve acesso a todos os livros desde pequena. Leu todos os clássicos da literatura infantil e juvenil; lia jornais e revistas, usava jóias de ouro e um colar de ouro com placa gravada seu nome. Sabia que seu nome era uma referencia angelical. Sua mãe gostava de pronunciar seu nome. Angel viajava com seus pais e sua mãe não mentia para ela dizendo que ia tomar injeção para poder ir ao baile, até porque Angel participava de maneira ativa na produção de sua mãe que era vaidosa e bonita. Angel participava de concurso de fantasias no carnaval e era sempre bem destacada. Suas festas de conta anos eram lindas e sempre festejadas com pompa e circunstancia. Angel foi criança feliz porque era tratada como pessoa inteira. Sempre foi ótima aluna. Sua mãe lhe dizia: Angel você é linda e inteligente, você no futuro será o que aprender hoje, o importante é aprender. Ela aprendeu! E certo dia já moça, sua mãe, com toda a franqueza lembrou Angel que ela deveria ser não igual a sua mãe, que não era exemplo para ninguém, mas muito melhor. Angel não entendeu pois se achava sua mãe perfeita como é que ela a filha deveria suplantar a mãe.  O que sua mãe quis ensinar é que ela deveria ser elegante, educada, boa, companheira, e excelente profissional. Sua mãe foi da geração que não doutorou, mas aprendeu com a vida, na escola da vida. Sua filha foi a lição de que ela poderia ser chic, usar grife, sem se descuidar de seu futuro profissional. E que intelectual também pode se vestir, e não apenas se cobrir, como costumava ensinar certa corrente da época. Angel fez faculdade, doutorou e ensinou. É uma mulher de seu tempo, vive a mil, cuida das filhas, da casa,dá ordens às empregadas, é companheira e amante. Continua sempre bem vestida, compra roupas e sapatos de grife, ajuda o marido a pagar a fono, psicóloga, terapeuta e mais outras tantas despesas da filha que tem autismo. Veste suas filhas de boneca, enfim, ela viaja para onde bem entende, com sua família e sem família, é respeitada profissionalmente, é feliz, bem resolvida, ganha tanto quanto seus colegas de profissão do sexo masculino e tem sempre um leque de opções porque bom profissional é assim. Angel é filha das mulheres que não doutoraram mas que aprenderam com a vida. Sua mãe é de uma época em que a mulher ideal era a mulher prendada, de prendas do lar. Angel é uma mulher de vanguarda com pitadas de romantismo de um passado recente.



Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

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