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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pérola da Praia - Nadia Foes

Conheci Pérola na praia vendendo brincos. Negra retinta de cabelos sarará, moça muito simpática, mas mal ajambrada. Eu gostava de conversar com ela e ela conversava com a praia em toda a sua extensão. Dos brincos ela passou a fazer trancinhas tererê, ela carregava continhas, linhas, tudo muito colorido, espelhos, enfim, um arsenal sem tamanho. Andava sempre em companhia de suas irmãs, moças honestas e ficava encantada com o dom de Pérola. Ela separava pequenas mechas de cabelo e trabalhava com contas e fios. Durante muitos anos ela fez isso; ela já era a minha amiga da praia. Eu não sabia que ela tinha mais um dom, era cantora: tinha voz afinada, foi descoberta por um produtor argentino e foi viver em Buenos Aires, mas no verão batia ponto na praia, só que agora já se transformara em uma diva negra. Não era mais mal ajambrada, pelo contrário, usava umas cangas lindas. Os cabelos muito bem tratados, Pérola estava no auge da mocidade e dos sonhos. A praia inteira acompanhou o desabrochar da Pérola Negra. Não era mais simplesmente Pérola. Acrescentou o Negro ao Pérola. No último verão que passei na praia, ela já não vendia mais na areia. Continuava trabalhando, mas como era uma estrela, abriu loja com salão de beleza anexo e vendia panos e objetos de decoração africanos; suas raízes negras. Me contou que estava feliz e casando com um conde italiano. Essa é outra que sabia o que queria da vida. Há dois verões que não sei de Pérola Negra, mas até onde sei ela ia casar com o conde e ia levar na sua bagagem para Roma, a mãe e duas irmãs, tão decentes quanto Pérola Negra, que era respeitada no seu trabalho honesto e preocupada com o dia seguinte. A Pérola Negra foi longe. Hoje é condessa Pérola e foi morar na Itália com o seu conde. Não foi fazer programa. Até imagino Pérola fazendo suas compras na Via Del Condote, na Viale Pavioli, passeando pela Piazza de Espanha, Piazza Navona, visitando o Panteão, jogando moeda na Fontana Di Trevi. Hoje não deve usar mais suas cangas coloridas ou trajes africanos, mas deve estar elegantérrima percorrendo as sete colinas de Roma. Já deve ter tirado milhares de fotografias na Coluna de Trajano, no Templo de Vesta, no Coliseu Romano e já deve ter colocado suas mãos na Boca da Verdade, sem medo de ser abocanhada por ela. Nas horas vagas deve andar de motoneta pela Cidade Eterna. Mora em palácio e tudo dentro dos conformes. Felicidades Pérola. Você merece. Fez por merecer. Quem sabe ainda vou encontrar Pérola em Roma, com loja montada, na Piazza de Espanha. É vero!!!



Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

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