Jornalista escolhe suas melhores matérias e conta
histórias de bastidores. O escândalo do GP de Cingapura e sua desavença
com Senna são destacadas
Em 40 anos o mundo mudou. Muito. O Brasil perdeu a Copa de 82, o Muro
de Berlim caiu, o Brasil foi campeão mundial em 94 – feito repetido em
2002. No automobilismo, o país viu surgir três gênios: Emerson
Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Toda essa história foi
acompanhada de perto por Reginaldo Leme. Nesse ano de 2012, Regi, como é
carinhosamente chamado, completa 40 anos de carreira.
- Eu levei para o (jornal “O Estado de SP”) “Estadão” um projeto para cobrir a Fórmula 1. Pensei em como convencer o pessoal a cobrir F-1 em 1972. Fiz um projeto bacana, verdade que a diária que eu coloquei foi de cinco dólares, mas não foi aprovado. Em setembro, eles me chamaram para fazer a cobertura (do fim da temporada). Fiz aquilo porque acreditava no título (conquistado por Emerson Fittipaldi). Voltei com o Emerson e a taça e o Estadão me deu cinco páginas da corrida de Monza. Tive que escrever pra burro – relembra Reginaldo.
Mas as histórias não param por aí. Sobre Ayrton Senna, Reginaldo diz que não tinha dúvidas sobre o potencial do piloto. Apesar de terem sido muito próximos, no fim da década de 80, início da década de 90, divergências transformaram a sólida amizade em um relacionamento estritamente profissional .
- O que originou essa desavença foi que amigos do Senna botaram na cabeça dele que eu tinha preferência pelo Piquet. Honestamente eu não tinha preferência por nenhum. Tanto que uma vez voltando de viagem, botando os pratos limpos, ele disse: você sempre teve mais paciência com o Piquet do que comigo. E eu disse: cara, isso não é verdade – e não é mesmo – interrompeu Luis Roberto.
Ayrton Senna em seu primeiro trieno com um carro de Fórmula 1 (Foto: Divulgação/Williams)
Perguntado sobre quais matérias ele destacaria, Reginaldo não teve
dúvidas. Além do papo com Senna logo após o primeiro dos três títulos
mundiais, Reginaldo escolheu as coberturas das duas primeiras conquistas
de Piquet, em 81 e 83, o teste de Senna na Williams, a entrevista com
Piquet logo após o acidente em Indianápolis e um dos momentos mais
tristes do esporte mundial, quando ele revelou o esquema para
manipulação de resultado (no GP de Cingapura, em 2008, Nelsinho Piquet
causou deliberadamente o acidente que deu a vitória a Alonso a pedido de
Flavio Briatore e Pat Symonds, diretores da Renault na época).- (Essa história) me deixa muito triste porque o Nelsinho era um piloto de talento... Cedeu à pressão de um, não sei nem como chamar, de um crápula, um bandido, que foi o Briatore. Se faz o que fez a vida inteira e liga para o pai dele, ele não teria feito isso, teria abandonado a equipe.
Reginaldo então deu detalhes do furo mundial.
Eu tive uma fonte o tempo inteiro. Claro que depois fui buscar outras, mas tive uma que foi Nelson Piquet pai. Na corrida da Hungria (em 2009), o Nelson falou que estava ali por causa de uma coisa que tinha acontecido e que estava preocupado. E falou que me contaria no momento oportuno, mas tem a ver com Cingapura. Disse para não soltar antes da hora porque não tínhamos provas. E depois exigiu que o Nelsinho fosse bater na porta da FIA (Federação Internacional de Automobilismo, para confessar) – finalizou.
Houve ainda tempo para que os companheiros de transmissão nesses 40 anos demonstrassem todo o carinho com Reginaldo. Um programa para ser guardado.
Reginaldo Leme e a equipe do 'Linha de Chegada' (Foto: Erica Hideshima/Sportv.com)
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