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sábado, 17 de novembro de 2012

As crianças e os tablets

As fotos acima foram tiradas em um restaurante de São Bernardo do Campo, perto de São Paulo. Retratam uma cena cada vez mais comum: crianças distraem-se com iPads enquanto os adultos conversam. Com pouco mais de dois anos de existência, o tablet caiu no gosto de meninos e meninas e muitas vezes tem uma função conhecida por “babá eletrônica”, antes ocupada pela TV.

A nova babá eletrônica?

Em diversos países pesquisas mostram o quanto a criançada gosta do aparelho. Na Inglaterra, em levantamento da Duracell, 12% dos entrevistados com idades entre cinco e 16 anos disseram querer ganhar um tablet de presente. Bonecos e bonecas (7%) e bichos de pelúcia (5%) ficaram bem atrás. Só o celular (14%) vem à frente. Nos Estados Unidos, já no Natal do ano passado, 44% das crianças entre seis e 12 anos queriam ganhar um iPad de presente, apontou o instituto Nielsen.
A tela sensível ao toque dos dedos (chamada de “touch screen”) é um convite ao uso. Há centenas de vídeos no YouTube com crianças se divertindo com o poder do próprio toque. Além disso, o tablet junta tudo o que os outros eletrônicos trazem. Tem vídeos, tchau TV. Tem jogos, adeus, videogame. E internet, até mais computador.
MOUSE X CADARÇO
A intimidade com tablets pode ser só mais uma característica da Geração Z, crianças que nasceram depois da popularização da internet. Uma pesquisa da empresa AVG feita em dez países, como Estados Unidos, França e Japão, mostra que a ligação com tecnologia começa cedo.
Entre dois e cinco anos, há mais crianças que sabem jogar games (58%) do que nadar (20%) e amarrar cadarço (11%). Nessa idade, sabem usar um mouse (69%), abrir a internet (25%) e utilizar aplicativos (19%). É cedo para tanta tecnologia? A “Folhinha” reflete sobre isso neste caderno especial sobre o uso de tablets na infância.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS?
Especialistas se posicionam contra e a favor do uso do tablet na infância.
Veja trechos de entrevista da “Folhinha” com Valdemar W. Setzer, 71, professor do departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP, e Andréa Jotta, 38, psicóloga do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC São Paulo.
“Qualquer aparelho eletrônico é terrível para a criança.” A frase, que costuma gerar polêmica, é de Valdemar W. Setzer.
Leia mais.
Apertar os botões
Qualquer aparelho eletrônico é terrível para crianças. Elas deveriam brincar ativamente. O que fazem, por exemplo, quando brincam com um carrinho de controle remoto? Mexem os dedos para apertar botões. Um bom brinquedo deve ser simples. A criança deve entender o seu funcionamento, como uma boneca de pano. Nenhum adulto compreende o funcionamento de um tablet. Se eu quebrar o chip, não saberei montar.

O bom brinquedo
O brinquedo também deve despertar a imaginação. No caso da boneca, por exemplo, a criança usa a imaginação. Aparelhos com tela, como computador, tablet e TV, entregam imagens prontas. Não há o que imaginar. Os brinquedos também deveriam exigir movimento, como jogar bola ou pular corda. Os meios eletrônicos, começando pelo iPad, deixam a criança parada.

Sem conversa
Graças ao iPad e outros jogos eletrônicos, os pais estão falando menos com os filhos. Você vai a um restaurante e vê famílias com crianças jogando seus tablets na mesa. Não há conversa e brincadeiras. Isso é cômodo para os pais.

“O uso do tablet por crianças só é prejudicial se houver abuso. Do contrário, é uma brincadeira.” Essa opinão é de Andréa Jotta. Leia mais.
Demônio?
A tecnologia é inevitável. Não adianta olhar para isso como algo do demônio [ruim]. As crianças não fazem diferença entre algo que é tecnológico [como tablet ou computador] e algo que não é [bola ou boneca, por exemplo]. Para elas, é tudo igual. Brincam com um ou outro sem problemas. O tablet faz parte de um mundo cheio de informações, que chegam com facilidade às pessoas -e isso pode deixá-las mais inteligentes.

Brinquedo?
A criança precisa aprender a brincar no tablet, mas também a montar quebra-cabeça e a visitar parques. São os pais que devem decidir se uma criança deve ou não ganhar um iPad como brinquedo, que custa R$ 1.500. Mas a criança não é preparada para ter um brinquedo num valor tão alto. Não é recomendado que os pais briguem se ela quebrar ou perder o tablet.

Uso moderado
Não há idade certa para usar tablet. O importante é a criança, independentemente da idade, ter opções diferentes de atividades, brincar das mais diferentes maneiras. Uma criança que aos cinco anos só brinca com tablet, aos dez ganha console e aos 12 está viciada em tecnologia não foi estimulada a brincadeiras sem os eletrônicos.

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SAO PAULO, SP, BRASIL, 12.04.2012. Os alunos do 8° ano, Stefanie Maia, 12 e Omar Fares, 12 com I Pads na biblioteca no Colegio Magno, onde usam conjuntamente com o material tradicional. (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress, FOLHINHA). ***EXCLUSIVO***

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ALUNOS SE EMPOLGAM
Há mais de dois mil anos, pessoas usavam lápis feito de bambu para aprender a escrever sobre uma placa de argila mole.
Hoje, a novidade que chega às escolas tem o mesmo formato de placa, ou melhor, de tablete. Mas agora pode-se escrever com o dedo, já que possui tela sensível ao toque. É preciso dizer o que é?!
Desde 2010, os tablets ganham espaço nas salas de aula, ao lado de livros e cadernos. Em algumas escolas, começaram a fazer parte da lista da materiais obrigatórios. Luca Amaral, 12, conta que, no colégio Dante Alighieri, nos Jardins (São Paulo), onde estuda, os professores de geografia bolaram uma espécie de caça ao tesouro.
Em dupla, os alunos usaram um tablet fornecido pela escola para acessar o Google Maps. Digitaram ali coordenadas geográficas (dados para achar lugares no mapa), que os levaram a locais do colégio onde havia peças de quebra-cabeça escondidas. Juntas, formaram um QR Code (tipo de código), lido com o tablet. Finalmente, apareceu uma foto da Estação da Luz, porque os alunos estavam estudando ferrovias.
Atividade parecida foi desenvolvida no colégio Magno, no Jardim Marajoara (São Paulo). Em equipe, estudantes escanearam com o tablet QR Codes espalhados pela escola.
Cada um mostrava um problema matemático, que eles tinham de resolver para passar de etapa. No final, deviam apresentar os cálculos que os haviam levado às respostas. “Esse tipo de projeto é mais divertido. De tanto que é legal, a gente tem vontade de aprender”, disse Omar Hassan, 12, do Magno.
No Bandeirantes, na Vila Mariana (São Paulo), aplicativos ajudam a entender as células (iCell) e ver como funciona o corpo humano (Virtual Heart). Na aula de português, apps foram usados para fazer pesquisas e gráficos, com os quais alunos escreveram textos jornalísticos.

O RECEIO DOS PROFESSORES
Para Myriam Tricate, diretora do colégio Magno, não dá para ignorar o que acontece fora dos muros da escola. “A partir do momento que a tecnologia se torna próxima da nossa vida, temos que abraçá-la.”
Mas ninguém sabe direito como fazê-lo. No Bandeirantes, que tem 50 iPads para uso em classe, professores se reúnem quinzenalmente para trocar ideias de atividades e pensar em como lidar com as novidades. Sílvia Vampré, coordenadora de tecnologia educacional do colégio, conta que uma das principais preocupações dos educadores é perder o controle sobre os alunos.
Eles perguntam-se o que terão de fazer para continuar sendo foco das atenções quando cada aluno tiver um tablet nas mãos. Para Sílvia, é necessário que as atividades sejam envolventes e enriqueçam o ensino. O professor Claudemir Belintane, da Faculdade de Educação da USP, tem opinião parecida e alerta: “Não podemos achar que as crianças vão aprender mais só porque estão mais envolvidas com os efeitos tecnológicos”.
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SAO PAULO,SP, BRASIL-21-09-2012: As criancas Sofia Salgado,10 ( camisa branca) Ysis Barreto,10 ( blusa escurta) Eduardo Bordon,10 ( de oculos) e Gustavo Fortes,10, com tablets em sala de aula do colegio Dante Alighieri. ( Foto: Joel Silva/ Folhapress ) ***FOLHINHA *** EXCLSUIVO FOLHA***
Segundo ele, para construir conhecimento o aluno deve deixar de prestar atenção só a formas e movimentos dos tablets e se ligar no conteúdo.
Nas escolas públicas, o acesso é mais restrito. Segundo o Ministério da Educação, o governo federal repassou dinheiro para os Estados comprarem tablets para professores do ensino médio de escolas públicas.
Já foram adquiridos mais de 400 mil aparelhos, mas ainda não há previsão de entrega para os colégios, segundo o ministério.
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PAIS PRECISAM SABER O QUE O FILHOS ACESSAM
Para usar um tablet é preciso ter alguns cuidados parecidos com os já conhecidos de quem utiliza o computador tradicional.
Na opinião da Safernet, organização que pesquisa a segurança na internet, uma criança deve ter o tempo controlado pelos pais, que também precisam saber que conteúdo os filhos estão acessando.
Lojas de aplicativos dão uma ajuda ao manter classificação por idade. Mas é só indicação e não impede uma criança mais nova de usar um aplicativo não recomendado. É preciso tomar cuidado com apps gratuitos desconhecidos. Eles podem ter funcionamento parecido com o de um vírus e copiar informações sobre o dono do tablet. Também corre esse risco quem usa rede sem fio pública.
A Safernet lembra que tablets exigem cuidados especiais, parecidos com os de quem usa smartphone (celular com internet). Crianças não devem ter a senha. Precisam de autorização e orientação dos pais para baixar apps.
SAO PAULO, SP, BRASIL, 27 - 04 - 2012, 16:58. Autorizacao de menores das irmas Gabriela Arevalillo Llata Souza, 11 e Jaqueline Arevalillo Llata Souza, 8, para a Folhinha.( Foto: Alessandro Shinoda/Folhapress, FOLHINHA )***EXCLUSIVO FOLHA***
Fonte: Folha/Folhinha
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COMENTÁRIO
É muito justa a preocupação com as crianças e seu envolvimento com a tecnologia e com a web, como bem mostou esta série de reportagem da Folha de S.Paulo, em seu suplemento infantil.
A conclusão é óbvia: não podemos evitar que as crianças utilizem os tablets e os smarphones, ou mesmo os notebooks e computadores. Sewria um atraso na vida delas e elas não podem ser criadas numa redoma de vidro – como querem alguns quando tratam da Publicidade e as crianças.
Não podemos criar crianças imbecilizadas pela falta de contato com a realidade do dia-a-dia, da tecnologia à Publicidade, dos esportes à realidade das drogas, da seleção de bons e maus amigos.
E é esta a função dos pais: educar, orientar, cuidar, supervisionar e até controlar para que não cometam excessos ou erros.
É assim com a internet, é assim com o hamburguer, a batata frita, os doces, o chocolate, o refrigerante, o bate-bola, a bicicleta, o skate, o judô ou karatê, o basquete ou o volei, os biscoitos e tudo mais que torna uma infância pela e feliz.
Só não pensam assim is retrógrados e os incompetentes, que preferem proibir tudo que puderem, para não precisaram orientar, nem controlar, como as senhoras da Alana e alguns dos parlamentares brasileiros.
Gente amarga, que nunca deve ter chupado um pirolito na infância.

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