Naquela época,
1965, o concurso de miss era concorridíssimo e todas leram o Pequeno Príncipe.
Foi nesta época que Veruska pontificou conforme se dizia no jargão do
jornalismo. Estudante da terceira série ginasial desfilava pela cidade de
uniforme colegial, saia pregueada marinho com alças longas e camisa de mangas
compridas branca com gravata marinho de três listras que eram referencia ao ano
que estava cursando. Usava longas tranças com laço azul marinho, Na cidade ano
sim ano não era uma agonia conseguir uma miss, coisa que era muito importante
para a sociedade local. Veruska foi descoberta por determinada senhora bem
posta nos meios sociais que se esmerou dando aulas de boas maneiras para sua
pupila.Veruska passava todas as tardes na residência da distinta dama se
preparando para seu grande dia de candidata única. O guarda roupa de Veruska
era sofrível, Vivia em companhia de um casal de primas de sua mãe, residia em
uma casa antiga de duas alas, uma das alas era alugada. Sua mãe era funcionária
ativa de um bordel chamado Casa Verde. Seu pai era um famoso político, mais
precisamente um deputado federal. Não reconheceu a filha que usava os nomes de
primos. Mas se não lhe deu nome, contribuía com uma mesada generosa para sua
educação pois na época não existia exame de DNA, o pai não foi obrigado a
reconhecer a filha. Na cidade Veruska era bem recebida em todas as casas e
sempre aparecia alguém de boa vontade para conseguir convites para todos os
clubes. Era uma moça querida, e como era de se esperar todas contribuíram com
donativos para a representante da beleza não fazer feio. As senhoras
organizaram vários eventos como bailes, jantares, lanches. Coube a senhora que
descobriu a miss organizar a noite de coroação da miss. O local escolhido foi o
Palácio dos Esportes local. Era um local novo e muito bonito, contrataram umas
bandas, o salão onde a miss se apresentou foi totalmente decorado com flores e
a miss desfilou em traje de gala, traje típico e maiô Catalina que patrocinava
o concurso. Um famoso costureiro ficou encarregado dos trajes para a noite de
coroação. O vestido foi magnífico, o traje típico era uma rede de pescador
inteiramente bordada de pedrarias, com chapéu de ráfia bordado e puçá. Veruska
foi aclamada a mais bela miss do litoral e foi a segunda colocada no Estado. Na
noite da coroação os parentes de Veruska ficaram no guichê vendendo os
ingressos. O Palácio dos Esportes lotou, mas ninguém lembrou de pedir um
orçamento das roupas criadas pelo famoso costureiro e após a coroação o
costureiro se informou a respeito dos lucros e apresentou a conta que empatava.
Foi tudo perfeito mas alguma coisa haveria de dar errado pois a miss conheceu
na capital um jovem médico especialista em namorar misses e se apaixonou
esquecendo suas origens. O moço se encantou e na primeira oportunidade foi a
cidade para conhecer os familiares de sua amada, agradou a todos, e soube da
verdadeira história de Veruska e não confirmou o jantar para apresentar a amada
para seus pais. Voltou à cidade mais um par de vezes e levou a miss para morar
na capital, não como sua preferida mas como sua amante e cinco anos depois
largou Veruska para se casar com uma jovem de família tradicional. Veruska não
estudara e, pasmem, passou a desempenhar a mais antiga das profissões, enquanto
as filhas do político estavam casando (casamentos principescos) Veruska fazia
michê. Certo dia o político famoso ligou para uma cafetina para contratar uma
modelo para alegrar alguns políticos vindos de Brasília. Veruska foi designada
e como era boa profissional foi e fez jus ao cachê recebido das mãos do ilustre
político.
Restaurandora
de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi
classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros
publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais
domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura,
cinema, e a paixão de escrever.