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terça-feira, 12 de junho de 2012

Ambidestro

- Você está errado, tenho absoluta certeza disso !
- Mas que falta de inteligência; pense, pense bem !
  Ouvimos ordinariamente frases assim, proferidas quase sempre no auge da impaciência.
  Já há algum tempo tenho entendido como perfeitamente normal duas pessoas discordarem e ambas estarem certas, tudo dependendo evidentemente de como interpretaram determinado fato; que hemisfério do cérebro estavam usando naquele momento, o analítico e lógico esquerdo ou o intuitivo e criativo direito.
  Vejo que o mundo tem estado dessa forma canhestramente dividido entre comportamentos canhotos e destros, cada qual entendendo a seu modo, formando assim sem sentir e de pronto, sua pequena guerra particular.
  De minha parte, ambidestro que sou, às vezes me quedo, hesitante diante do simples fato de que lado girar a chave de fenda pra soltar um mero parafuso, por vezes apertando-o ainda mais... O jeito é parar, trocar de
mão, refletir um pouquinho, e resolver o impasse.
  Também não raro me debato sobre que atitude tomar, no mais das vezes raciocinando de forma ambivalente, confuso mesmo diante da falta de predominância deste ou daquele entendimento.
  Aos críticos de plantão, não pensem que sou lerdo, Q.I. baixo etc etc; simplesmente faço uso do dobro do tempo dito normal para processar uma informação, antes de chegar a uma decisão, pois, meu amigo, entendo que absolutamente tudo, tudo nessa vida, tem dois lados.
  Sabemos que a resistência física vem dos exercícios aeróbicos, da eficiência cardiovascular do indivíduo, e que o coração, esse precioso músculo, não podendo ser exercitado diretamente, precisa do estímulo de outros músculos do corpo, os das pernas e braços por exemplo, numa corrida pelo quarteirão, numa disputa ciclística ou numa inocente natação aos domingos no clube. Tudo numa perfeita sinergia.
  Que maravilha é poder sentir os batimentos cadenciados dentro do peito, o diafragma expandindo, o suor brotando, não ?
  Mas o que dizer do cérebro que silenciosamente comanda tudo lá do alto; aparentemente inerte, oxigenando e vendo tudo misturado numa agitação só ?
  Ler e escrever, hábitos diametralmente opostos aos exercícios físicos, são os que nos levam à expansão da mente, provendo-nos da tão delicada clareza mental, discernimento e memória, explodindo em sinapses mil, mantendo o cérebro sadio e elevando certamente a nossa qualidade de vida
no dia a dia. Quem opta somente pelo culto ao corpo, está portanto perdendo algo muito importante. Há que existir também a reflexão, o exercício mental.
  Corpo são em mente sã é a máxima desde os mais sábios tempos.
  E por aí vai. A flexibilidade do corpo dependendo do alongamento, este requerendo um aquecimento prévio e um resfriamento ao fim de uma atividade física, dissipando o ácido lático, evitando uma posterior dor muscular.
Dor, a mesma dor também tão necessária e importante em outros segmentos da nossa vida, sinalizando que algo vai mal. Sempre uma dualidade.
 Vemos portanto que fatores, aparentemente antíteses, estão intrinsecamente ligados, definitivamente atrelados a um resultado final.
  Ninguém está completamente certo... Uma coisa sempre subordinada à outra.
  E assim, meu caro, vou levando a vida, gastando mais alguns segundos que os demais, cambiando entre uma emoção, uma palavra e um gesto, certo porém que de qualquer forma só ganhamos quando valorizamos as diferenças, conseguindo genuinamente ver a nova face de uma mesma questão, mesmo quando julgamos estar diante do nosso mais autêntico inimigo.
  Por que não tentar então desenvolver uma atitude ambidestra diante do mundo, pensando pelos dois lados ?
  A maioria certamente agradeceria.
 - Não tenho esse tempo.
 Diriam alguns.
  Mas como reclamar da falta de tempo, se o tempo é um dado relativo, e se fazemos sempre o que mais gostamos, até mesmo ficar à toa ?
  Você, você que me lê, talvez já impaciente, acha que não seria a maioria a agradecer ?
  Pois bem, aceito que seja a metade então !
  Concordo e já me dou por satisfeito.


Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.

Um comentário:

Nana disse...

Boa noite!
Ótimo texto e nos deixa a refletir sobre a vida, essa vida, qq tem lá os seus sofrimentos, mas é bela por natureza.
Um abraço,
Ana Maria