Houve uma época que foi moda as adolescentes trocarem a
festa de quinze anos em terra por uma festa em alto-mar. A moda era ir para a
Disneylândia e comemorar com uma viagem para as Bahamas, As companhias de
turismo cobravam uma fortuna pelo evento. Na época, minha filha até desejou
fazer este passeio. Seria o presente de quinze anos que receberia de seu pai, o
meu seria a festa de quinze anos e o baile de debutantes. Porem nossa vida
sempre foi de altos e baixos e justamente nesta época meu marido estava
operando no vermelho. Ele sempre foi muito
calmo para se resolver! Quando eu via que não ia dar conta de pagar os
meus fornecedores, coisa que era sagrada, eu ligava um mês antes e pedia para
esticar o prazo. Meu marido esperava para ver no que ia dar. Ele esperou e não
aconteceu nada. A não ser a frustração da adolescente. Foi nesta época que
Juliane despontou na sociedade e para surpresa geral pediu uma viagem a
Bélgica. Ninguém entendeu mas seu avô se prontificou e como tinha algumas
economias, para um caso de emergência, resolveu que era o momento e foi com sua
mulher levar sua amada neta para Bruxelas, terra cujo lema é “L’union fait la
force” – a união faz a força. Lá chegando Juliane fez questão de conhecer os
segredos da chocolateria e mais, pediu para seus avós para ficar morando na
cidade para aprender francês e as artes da pastiserie. Seu avô entendeu e
tratou de procurar um pequeno apartamento para alojar Juliane e sua avó.
Encontrou um belo apartamento no centro de Bruxelas, perto da Grand Place e
matriculou a neta em um curso de francês, idioma que Juliane já praticava. O
avô de Juliane voltou para o Brasil para resolver seus negócios e deixou as
duas instaladas. Enquanto a avó de Juliane passeava visitando todos os museus e
pontos turísticos, Juliane estudava e logo se passaram seis meses e Juliane
andava triste. Sua professora que já morara no Brasil onde veio aprender o
português e chegou a dar aulas na faculdade ficou sensibilizada com a tristeza
de Juliane e foi aí que Juliane explicou, a vida em Bruxelas estava cara para
os padrões brasileiros e que ela e sua avó logo estariam de volta para o
Brasil. Sua professora perguntou quais eram os objetivos de Juliane que lhe
contou seu sonho. Ser dona de uma fabrica de chocolates, e que para isso ela
deveria permanecer mais tempo na Europa. Sua professora perguntou onde estavam
morando e Juliane deu seu endereço. A professora ficou pasma foi era o local
mais caro da cidade e disse que ela e seus pais moravam em Antuérpia, a pouco
tempo de trem e que viviam na mesma casa desde o casamento de seus pais. O
senhorio morava no térreo e alugava seus apartamentos dos quais dois eram para
sua família, pois a medida em que foram nascendo os filhos e sentindo falta de
espaço alugava o apartamento vizinho e com a permissão do proprietário fizeram
a integração através de uma porta, derrubaram parte de uma parede e colocaram
portas de folhas duplas. A professora morava com seus em um dos apartamentos e
sua irmã e o marido moravam no outro imóvel. Sua irmã é médica e o marido
também, e estavam nos Estados Unidos fazendo curso de especialização e sugeriu
que se Juliane e sua avó concordassem ela poderia ver junto a sua irmã e seus
pais a possibilidade de locar o imóvel para a avó de Juliane , com o consentimento
de Birnot o proprietário. Todos concordaram e Juliane e sua avó se instalaram
no apartamento em Antuérpia e Juliane conseguiu trabalhar em uma pâtissiere nos
finais de semana, o que já contava como experiência. No nosso pais para começar
a trabalhar é muito importante ter experiência! Isso todos exigem, ninguém
pensa que a experiência vem com o tempo. Juliane nessa época trabalhou duro e
estudou. Ficaram lá durante três anos e Juliane voltou para o Brasil. Foi
trabalhar no ramo e aos vinte e cinco anos era dona de uma boutique de doces e
chocolates. Montou a boutique na casa onde seus pais haviam morado no início do
casamento. Uma casa linda que foi restaurada e casou com um jovem também
voltado para o ramo de alimentos. Nos primeiros anos foi uma correria, os
viajaram o mundo sempre para se superar. Hora era através de especiarias, ora
fazendo cursos, e deixaram para mais tarde a vinda de herdeiros. Juliane
contava trinta anos e era famosa, rica e de vem com a vida. Resolveu que a hora
era agora e Juliane engravidou e a estava correndo tudo bem até ela sentir
certo mal estar. Procurou sua médica e nada foi descoberto. Juline continuou
mal a ponto de ser encontrada caída no chão de seu quarto. Seu marido
desesperado levou Juliane para outro Estado. Juliane estava entre o terceiro e
o quarto mês de gestação, fez exames e o resultado foi um tumor maligno no
pâncreas. Os médicos sugeriram abortar sua bebê e fazer todo o procedimento que
sua doença exigia. Deixaram a resolução com Juliane e seu marido. Juliane perguntou
se o bebê ia nascer com células cancerosas. Os médicos afirmaram que não.
Juliane resolveu ter seu bebê. Passou mal toda a gestação. Em setembro o bebê
nasceu. Uma linda menina. Tudo escolhido com muito carinho e amor. Juliane
batizou a filha assim que pode se manter em pé. Sua cirurgia foi marcada para
logo após o batizado porém no dia marcado Juliane veio a óbito. Ela entrou no
quarto para dar mamadeira para sua filhinha, pois foi proibida de amamentar,
abraçou a filha e adormeceu. Seu coração parou, ela foi poupada de todas as
dores. A avó de Juliane é que está cuidando da bisneta. O marido de Juliane
mudou para o mesmo prédio onde vivem os avós e seus pais, pois a avó paterna e
a bisa estão cuidando de Juliane. A avó de Juliane perdeu a filha e a neta nas
mesmas circunstancias. Juliane hoje descansa nos braços do senhor! Aos trinta e
três anos ela partiu e sua filha que recebeu o seu nome conta hoje três anos, é
linda como foi sua mãe. A boutique de Juliane continua no mesmo lugar. Ela
antes de partir formou uma equipe que está sob o comando de sua irmã e seu
marido, Para ocupar o lugar de Juliane nos negócios veio a sobrinha de sua
professora de francês que esteve no Brasil durante a gestação de Juliane para
dar suporte. Ela acabou encontrando um belga que estava perdido na cidade,
dando aulas na universidade e casou. Algumas vezes a pequena Juliane é vista
nos jardins da boutique de doces e chocolates. Está sempre acompanhada de seu
pai e das avós. Segundo as vontades de Juliane era para não vender a loja de
doces e chocolates pois muitas famílias seriam prejudicadas. Ela prezava seus
funcionários e depois, quem sabe! E se a pequena quiser seguir a trilha dos
pais? Também estava preocupada com o futuro da filha e pediu que seu marido
arranjasse uma boa companheira. O marido de Juliane confessa que foi muito
feliz durante os anos que viveram juntos e que sua mulher é insubstituível. Que
a maior prova de amor que alguém pode dar, ela deu. Deu sua vida pela vida de
sua filha e da realização da sua mãe. Até nestes momentos Juliane foi intensa.
Hoje ela descansa em paz. Partiu como o anjo simplesmente adormeceu para
sempre!
Restaurandora
de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi
classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros
publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais
domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura,
cinema, e a paixão de escrever.
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