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terça-feira, 5 de junho de 2012

Juliane, por Nadia Foes


Houve uma época que foi moda as adolescentes trocarem a festa de quinze anos em terra por uma festa em alto-mar. A moda era ir para a Disneylândia e comemorar com uma viagem para as Bahamas, As companhias de turismo cobravam uma fortuna pelo evento. Na época, minha filha até desejou fazer este passeio. Seria o presente de quinze anos que receberia de seu pai, o meu seria a festa de quinze anos e o baile de debutantes. Porem nossa vida sempre foi de altos e baixos e justamente nesta época meu marido estava operando no vermelho. Ele sempre foi muito  calmo para se resolver! Quando eu via que não ia dar conta de pagar os meus fornecedores, coisa que era sagrada, eu ligava um mês antes e pedia para esticar o prazo. Meu marido esperava para ver no que ia dar. Ele esperou e não aconteceu nada. A não ser a frustração da adolescente. Foi nesta época que Juliane despontou na sociedade e para surpresa geral pediu uma viagem a Bélgica. Ninguém entendeu mas seu avô se prontificou e como tinha algumas economias, para um caso de emergência, resolveu que era o momento e foi com sua mulher levar sua amada neta para Bruxelas, terra cujo lema é “L’union fait la force” – a união faz a força. Lá chegando Juliane fez questão de conhecer os segredos da chocolateria e mais, pediu para seus avós para ficar morando na cidade para aprender francês e as artes da pastiserie. Seu avô entendeu e tratou de procurar um pequeno apartamento para alojar Juliane e sua avó. Encontrou um belo apartamento no centro de Bruxelas, perto da Grand Place e matriculou a neta em um curso de francês, idioma que Juliane já praticava. O avô de Juliane voltou para o Brasil para resolver seus negócios e deixou as duas instaladas. Enquanto a avó de Juliane passeava visitando todos os museus e pontos turísticos, Juliane estudava e logo se passaram seis meses e Juliane andava triste. Sua professora que já morara no Brasil onde veio aprender o português e chegou a dar aulas na faculdade ficou sensibilizada com a tristeza de Juliane e foi aí que Juliane explicou, a vida em Bruxelas estava cara para os padrões brasileiros e que ela e sua avó logo estariam de volta para o Brasil. Sua professora perguntou quais eram os objetivos de Juliane que lhe contou seu sonho. Ser dona de uma fabrica de chocolates, e que para isso ela deveria permanecer mais tempo na Europa. Sua professora perguntou onde estavam morando e Juliane deu seu endereço. A professora ficou pasma foi era o local mais caro da cidade e disse que ela e seus pais moravam em Antuérpia, a pouco tempo de trem e que viviam na mesma casa desde o casamento de seus pais. O senhorio morava no térreo e alugava seus apartamentos dos quais dois eram para sua família, pois a medida em que foram nascendo os filhos e sentindo falta de espaço alugava o apartamento vizinho e com a permissão do proprietário fizeram a integração através de uma porta, derrubaram parte de uma parede e colocaram portas de folhas duplas. A professora morava com seus em um dos apartamentos e sua irmã e o marido moravam no outro imóvel. Sua irmã é médica e o marido também, e estavam nos Estados Unidos fazendo curso de especialização e sugeriu que se Juliane e sua avó concordassem ela poderia ver junto a sua irmã e seus pais a possibilidade de locar o imóvel para a avó de Juliane , com o consentimento de Birnot o proprietário. Todos concordaram e Juliane e sua avó se instalaram no apartamento em Antuérpia e Juliane conseguiu trabalhar em uma pâtissiere nos finais de semana, o que já contava como experiência. No nosso pais para começar a trabalhar é muito importante ter experiência! Isso todos exigem, ninguém pensa que a experiência vem com o tempo. Juliane nessa época trabalhou duro e estudou. Ficaram lá durante três anos e Juliane voltou para o Brasil. Foi trabalhar no ramo e aos vinte e cinco anos era dona de uma boutique de doces e chocolates. Montou a boutique na casa onde seus pais haviam morado no início do casamento. Uma casa linda que foi restaurada e casou com um jovem também voltado para o ramo de alimentos. Nos primeiros anos foi uma correria, os viajaram o mundo sempre para se superar. Hora era através de especiarias, ora fazendo cursos, e deixaram para mais tarde a vinda de herdeiros. Juliane contava trinta anos e era famosa, rica e de vem com a vida. Resolveu que a hora era agora e Juliane engravidou e a estava correndo tudo bem até ela sentir certo mal estar. Procurou sua médica e nada foi descoberto. Juline continuou mal a ponto de ser encontrada caída no chão de seu quarto. Seu marido desesperado levou Juliane para outro Estado. Juliane estava entre o terceiro e o quarto mês de gestação, fez exames e o resultado foi um tumor maligno no pâncreas. Os médicos sugeriram abortar sua bebê e fazer todo o procedimento que sua doença exigia. Deixaram a resolução com Juliane e seu marido. Juliane perguntou se o bebê ia nascer com células cancerosas. Os médicos afirmaram que não. Juliane resolveu ter seu bebê. Passou mal toda a gestação. Em setembro o bebê nasceu. Uma linda menina. Tudo escolhido com muito carinho e amor. Juliane batizou a filha assim que pode se manter em pé. Sua cirurgia foi marcada para logo após o batizado porém no dia marcado Juliane veio a óbito. Ela entrou no quarto para dar mamadeira para sua filhinha, pois foi proibida de amamentar, abraçou a filha e adormeceu. Seu coração parou, ela foi poupada de todas as dores. A avó de Juliane é que está cuidando da bisneta. O marido de Juliane mudou para o mesmo prédio onde vivem os avós e seus pais, pois a avó paterna e a bisa estão cuidando de Juliane. A avó de Juliane perdeu a filha e a neta nas mesmas circunstancias. Juliane hoje descansa nos braços do senhor! Aos trinta e três anos ela partiu e sua filha que recebeu o seu nome conta hoje três anos, é linda como foi sua mãe. A boutique de Juliane continua no mesmo lugar. Ela antes de partir formou uma equipe que está sob o comando de sua irmã e seu marido, Para ocupar o lugar de Juliane nos negócios veio a sobrinha de sua professora de francês que esteve no Brasil durante a gestação de Juliane para dar suporte. Ela acabou encontrando um belga que estava perdido na cidade, dando aulas na universidade e casou. Algumas vezes a pequena Juliane é vista nos jardins da boutique de doces e chocolates. Está sempre acompanhada de seu pai e das avós. Segundo as vontades de Juliane era para não vender a loja de doces e chocolates pois muitas famílias seriam prejudicadas. Ela prezava seus funcionários e depois, quem sabe! E se a pequena quiser seguir a trilha dos pais? Também estava preocupada com o futuro da filha e pediu que seu marido arranjasse uma boa companheira. O marido de Juliane confessa que foi muito feliz durante os anos que viveram juntos e que sua mulher é insubstituível. Que a maior prova de amor que alguém pode dar, ela deu. Deu sua vida pela vida de sua filha e da realização da sua mãe. Até nestes momentos Juliane foi intensa. Hoje ela descansa em paz. Partiu como o anjo simplesmente adormeceu para sempre!

Restaurandora de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura, cinema, e a paixão de escrever.

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