Sou suspeito para falar pois as admiro e amo tanto, que às vezes
sinto as duas coisas juntas e sem querer, de pronto, me ponho a sorrir e
sonhar.
Mulher, vejo-a desde pequenina como uma bonequinha embalando uma
outra, em escala bem menor, fazendo-se de mãezinha, o olhar inocente já
compenetrado e zeloso de quem vai construindo nesses primeiros e
singelos gestos, um futuro cheio de graça e harmonia.
Logo depois essa menina num repente transforma-se numa adolescente perfumada, uma
flor pronta pra ser colhida, aspirada, afagada, amada por homens, tão simples como eu.
Jovem deusa que nos cativa com um breve olhar, com seu sorriso
envolvente, o jeito particular de mexer nos cabelos, o corpo insinuante
no caminhar decidido de quem sabe certamente aonde chegar.
Generosas, deixam-se amar, e aí vem o momento mais bonito, o da
mãe gerando o fruto mais querido, a barriga sobressaindo nas batas, nos
vestidos larguinhos, remando devagarinho, por meses, com paciência
inata. Existe fase que cause mais encantamento, que um ser abençoado,
doando-se tranquilamente, pronto a inscrever mais uma vida no firmamento
?
Com minha mãe também foi assim, nas tres etapas da vida.
Fui seu filho, o primeiro, imagino tudo porque passou até o meu
nascimento, hoje sei que não foi fácil, mas que me acariciou desde o
começo, dentro e fora do seu ventre bendito;
me ensinou com murmúrios a falar na sua própria linguagem,
desenvolveu com tato e carinho os meus sentidos, todos, e assim me
ensinou música a partir das suas cantigas de ninar, despertou em mim a
poesia, a alegria de brincar na chuva, de correr contra o vento, de
sentir o cheiro de orvalho nas plantas, de gostar do calor no verão, e
de também saber apreciar o frio no inverno, acordar pra assistir ao
nascer do Sol sobre a montanha e de vê-lo esconder-se de tardinha no
mar; e sobretudo me ensinou a rezar, e agradecer por tudo isso no mágico
pulsar da hora do ângelus.
Assim foi minha mãe, uma mulher e tanto !
E assim, foi sem querer, também o meu primeiro amor.
Mulher, adorável mulher, que na sua santa sabedoria tanto me ensinou, e parece até que
nesse afã se esquivou de me dizer que um dia iria me deixar, ou melhor, nada falou apenas para me poupar dessa dor.
Mas felizmente a vida continua e outras mulheres ao meu lado agora estão.
Namorei, me apaixonei, me casei, e tenho também uma filha igualmente maravilhosa,
tudo muito lindo como narrei desde o começo.
E tenho ainda voce, que me lê, voce, minha amiga, minha irmã, você
que me compreende mais que tudo, sensível e forte, inscrita no jogo da
vida para o que der e vier, você, mulher, adorável mulher !
Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta,
lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.
Um comentário:
lindo demais
Ana Boson
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