Eu
sei que não é a questão mais premente do momento, mas para onde foram
as mulheres ancudas e de coxas grossas? O que há alguns anos era um
corpo bonito de mulher, hoje não é mais. Durante anos, o padrão de
mulher “boa” no Brasil foi a vedete tipo violão, com mais ancas do que
peito. Que fim
as levou?
O
ocaso do tipo começou, segundo alguns estudiosos, com a derrota da
Martha Rocha por excesso de quadris num concurso de Miss Universo, no
tempo em que todo o País acompanhava nossas concorrentes em concursos
mundiais de beleza como se elas fossem a seleção. E Martha Rocha era um
pouco como a seleção de 50: não podia perder e perdeu, por milímetros. A
partir daí, teve-se o cuidado de enquadrar nossas misses nas
convenções internacionais de beleza, embora persistisse a certeza de
que o padrão violão era melhor e os estrangeiros não sabiam o que
estavam perdendo.
Aos
poucos, o tipo longilíneo se impôs e hoje nem entre as coristas – ou
os travestis, esses nostálgicos de virtudes femininas em desuso – se
encontra o formato antigo. Mais uma vitória do colonialismo cultural.
Talvez
a evolução do maiô tenha alguma coisa a ver com o fenômeno. O advento
do biquíni e da tanga condenou a coxa larga a adaptar-se ou sair da
praia, numa amostra particularmente rude de darwinismo social. A
transformação da roupa de banho trouxe outros benefícios para a
humanidade e seus fundilhos. Você eu não sei, mas ainda peguei o tempo
dos calções infantis de pano que ficavam pesados e ásperos quando
molhados e cheios de areia, e nos assavam as pernas e as partes. Pomada,
muita pomada, e bichos-do-pé eram as consequências de um dia na praia.
E por falar nisso, que fim levaram os bichos-do-pé?
Até
uma determinada época, os “maillots” das moças eram feitos para
disfarçar o fato de que elas tinham sexo. Nós sabíamos que elas tinham,
se bem que não tivéssemos muita certeza de como funcionava. E ainda tem
gente que suspira e diz “Bons tempos...”.
REDES E VÉUS
Outra
coisa que desapareceu: rede de cabelo para homens. Jogador de futebol
usava muito. Para proteger o penteado durante o jogo, talvez para
melhorar o cabeceio. Quando eu me imaginava como jogador de futebol era
com rede no cabelo. E outra: véus rendados tapando o rosto das
mulheres. Um resquício de pudor oriental que seguiu o caminho das coxas
grossas, dos bichos-do-pé e das redes de cabelo masculinas para o
esquecimento.
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