Estudei muito além da
psicologia. Fiz curso de psicanálise, psicopatologia,
neuropsicologia, dentre outros e os criminosos sexuais não passavam dos
livros, TVs, jornais e afins.
Mas, dentre um ou outro
caso na clinica particular, onde se trabalha apenas a vítima, acabei
indo trabalhar dentro de um presidio.
Eu tinha muita bagagem teórica
e pouca prática com delinquentes. Apenas havia trabalhado
numa fazenda de recuperação de dependentes químicos, com um ou
outro perverso.
Logo no inicio, uma
agente penitenciária foi me mostrando o local e falando de alguns
casos... Alguns, conforme ela ia descrevendo a cena, era como se
aquele “toim-toim” do Law and Order Special Victims Unit
tocasse dentro da minha cabeça como um martelo.
O coração quase saía pela boca!
O psicopata não
procura tratamento espontaneamente, e dificilmente um parafílico. E
existe uma diferença entre os dois. Uma pessoa com desvio sexual
pode vivê-lo sem cometer um crime, enquanto que um psicopata, pode
não estuprar ninguém, mas pode ser sádico uma vida inteira,
seduzindo e abandonando, humilhando, fazendo sofrer apenas
psicologicamente o outro.
São dois extremos que
as pessoas geralmente confundem e misturam.
Um parafílico, por
exemplo, é todo aquele que sente prazer de forma não convencional e
isso pode incluir objetos inanimados, sendo que uma pessoa pode ter
sua vida sexual sem interferir na sua vida comunitária. O parafílico
pode ter sentimentos de culpa, enquanto que o psicopata, não.
O psicopata tem
transtorno de caráter e não sente em nenhum momento um pingo de
arrependimento. Isso inclui uma gama muito grande de circunstâncias
que não, necessariamente, sexuais. Haja visto o cenário político,
as mentiras deslavadas, a roubalheira, etc.
Todo e qualquer ato
praticado sem sentimento de culpa e que prejudique alguém é, em si,
um ato de perversão. No caso de alguém que viola uma criança e não
sente a menor culpa, manipulando tudo e todos ao seu redor, mentindo,
fazendo-se de coitadinho, este sim, é um perverso portador de uma
parafilia, que, dificilmente deixa de praticar esse tipo de crime se
for solto novamente e exposto à tentação. Coisa que a gente sabe
que acontece e muito breve. As penas não são duras e é tanta
redução de pena que fica fácil sair de um presídio dentro de
alguns poucos anos.
Um mito é achar que
todo psicopata é inteligente. A inteligência é hereditária,
portanto tal afirmação é tão sem fundamento quanto dizer que
todos os esquizofrênicos tem cabelo liso.
Mas aconteceu um fato
curioso. Lá eu encontrei um detento, que não era criminoso sexual,
mas era perverso, inteligente e bonito. Dependendo da psicóloga, ele
passava nos exames criminológicos, sendo que uma delas chegou ao
cúmulo de afirmar que 'um homem tão bonito não podia ter cometido
aquele crime'. Mas o MP não se enganava com ele não! O que me
deixava mais tranquila.
O crime, bárbaro. A
lábia dele era tão boa e o comportatmento de pouca exposição, que
ele enganava até o agentes, o que é raro. Eu custei um pouco, mas
me dei conta de como ele era. Completamente perverso e manipulador,
com cara de anjo. Culto e envolvente. Esse comparecia ao tratamento
imposto pelo MP apenas para exercitar suas capacidades de
convencimento.
Eu comecei a dar
'corda' pra ele se enforcar com algumas interpretações subliminares
das atitudes dele, e aos poucos, ele não voltou mais. Assim que ele
se deu conta que eu não tinha me deixado levar por ele. Só vinha se
fosse obrigado e não deixava de tentar novamente, testar a minha
paciência com aquela ladainha.
Enfim, lá tratei
pessoas que queriam ser tratadas, ou seja, que estavam lá sofrendo
com aquilo e apenas estive junto de alguns seres humanos, sendo
alguns perversos e uns tantos 'abusadores' sexuais. Sei que toda
regra tem exceção e eu não consegui fazer nenhum milagre, ou seja,
só pude ajudar quem queria ajuda. Algumas poucas pessoas estavam lá
injustamente (isso acontece) e outras estavam lá por diversas
circunstâncias, que as faziam sofrer.
Doris Ritter de Abreu
Valença
Psicóloga CRP
07/10.353
Esp. Em Neuropsicologia
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