Siga o Blog do Oracy

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O Psicólogo e o Tratamento de Apenados, por Doris Ritter

Estudei muito além da psicologia. Fiz curso de psicanálise, psicopatologia, neuropsicologia, dentre outros e os criminosos sexuais não passavam dos livros, TVs, jornais e afins.
Mas, dentre um ou outro caso na clinica particular, onde se trabalha apenas a vítima, acabei indo trabalhar dentro de um presidio.
Eu tinha muita bagagem teórica e pouca prática com delinquentes. Apenas havia trabalhado numa fazenda de recuperação de dependentes químicos, com um ou outro perverso.

Logo no inicio, uma agente penitenciária foi me mostrando o local e falando de alguns casos... Alguns, conforme ela ia descrevendo a cena, era como se aquele “toim-toim” do Law and Order Special Victims Unit  tocasse dentro da minha cabeça como um martelo.
O coração quase saía pela boca!
O psicopata não procura tratamento espontaneamente, e dificilmente um parafílico. E existe uma diferença entre os dois. Uma pessoa com desvio sexual pode vivê-lo sem cometer um crime, enquanto que um psicopata, pode não estuprar ninguém, mas pode ser sádico uma vida inteira, seduzindo e abandonando, humilhando, fazendo sofrer apenas psicologicamente o outro.

São dois extremos que as pessoas geralmente confundem e misturam.

Um parafílico, por exemplo, é todo aquele que sente prazer de forma não convencional e isso pode incluir objetos inanimados, sendo que uma pessoa pode ter sua vida sexual sem interferir na sua vida comunitária. O parafílico pode ter sentimentos de culpa, enquanto que o psicopata, não.

O psicopata tem transtorno de caráter e não sente em nenhum momento um pingo de arrependimento. Isso inclui uma gama muito grande de circunstâncias que não, necessariamente, sexuais. Haja visto o cenário político, as mentiras deslavadas, a roubalheira, etc.

Todo e qualquer ato praticado sem sentimento de culpa e que prejudique alguém é, em si, um ato de perversão. No caso de alguém que viola uma criança e não sente a menor culpa, manipulando tudo e todos ao seu redor, mentindo, fazendo-se de coitadinho, este sim, é um perverso portador de uma parafilia, que, dificilmente deixa de praticar esse tipo de crime se for solto novamente e exposto à tentação. Coisa que a gente sabe que acontece e muito breve. As penas não são duras e é tanta redução de pena que fica fácil sair de um presídio dentro de alguns poucos anos.

Um mito é achar que todo psicopata é inteligente. A inteligência é hereditária, portanto tal afirmação é tão sem fundamento quanto dizer que todos os esquizofrênicos tem cabelo liso.

Mas aconteceu um fato curioso. Lá eu encontrei um detento, que não era criminoso sexual, mas era perverso, inteligente e bonito. Dependendo da psicóloga, ele passava nos exames criminológicos, sendo que uma delas chegou ao cúmulo de afirmar que 'um homem tão bonito não podia ter cometido aquele crime'. Mas o MP não se enganava com ele não! O que me deixava mais tranquila.

O crime, bárbaro. A lábia dele era tão boa e o comportatmento de pouca exposição, que ele enganava até o agentes, o que é raro. Eu custei um pouco, mas me dei conta de como ele era. Completamente perverso e manipulador, com cara de anjo. Culto e envolvente. Esse comparecia ao tratamento imposto pelo MP apenas para exercitar suas capacidades de convencimento.

Eu comecei a dar 'corda' pra ele se enforcar com algumas interpretações subliminares das atitudes dele, e aos poucos, ele não voltou mais. Assim que ele se deu conta que eu não tinha me deixado levar por ele. Só vinha se fosse obrigado e não deixava de tentar novamente, testar a minha paciência com aquela ladainha.

Enfim, lá tratei pessoas que queriam ser tratadas, ou seja, que estavam lá sofrendo com aquilo e apenas estive junto de alguns seres humanos, sendo alguns perversos e uns tantos 'abusadores' sexuais. Sei que toda regra tem exceção e eu não consegui fazer nenhum milagre, ou seja, só pude ajudar quem queria ajuda. Algumas poucas pessoas estavam lá injustamente (isso acontece) e outras estavam lá por diversas circunstâncias, que as faziam sofrer.



Doris Ritter de Abreu Valença

Psicóloga CRP 07/10.353

Esp. Em Neuropsicologia

Nenhum comentário: