notícia da morte do Steve Jobs... Logo em seguida assisto na
TV ao show de um novo astro da música pop Justin Bieber tenta nos consolar
substituindo Michael Jackson nos corações jovens dos nossos netos, corações
ainda plenos de esperança.
Mas quem
substituirá Steve Jobs e sua invenções fantásticas ? Como será o mundo
virtual sem a sua criatividade ?
Lembro-me de cada palavra dele naquela palestra
de quase 15 minutos em Stanford,
2005, quando acabava de achar que estava curado de um câncer
no pâncreas, quando
falava, otimista, em eternos recomeços; uma verdadeira aula
sobre a vida, digna de um
gênio.
A platéia universitária assistia
embevecida aos seus três conselhos.
Na verdade somos dependentes desses homens
que falam ao cérebro e ao coração,
agentes transformadores do mundo em que vivemos.
Ainda concordando com suas palavras, acho que somos mutantes,
" tolos e famintos",
superando as crises, que gostam de músicas e invenções,
sobretudo quando embaladas com poesia.
Mutantes que afortunadamente não têm consciência
disso, desse aspecto inevitável da vida, senão quando o processo já está em
seus estertores finais. Acho que é assim, não
só no plano material quanto no espiritual também.
Isso porque toda grande mudança acontece de forma
gradual e nunca nos incomoda de imediato, não nos despertanto para o fato em si
enquanto está embrionário , mas desenvolvendo-se aqui, em nossas mais
consistentes entranhas; exatamente como no famoso caso da rã de Olivier Clerc,
que se vê cozida viva numa água em fogo brando, e
que acaba morrendo lentamente, de forma confortável, sem
esboçar reação alguma.
O que tem acontecido a nossa sociedade em vários
aspectos nas últimas quatro
décadas é uma prova irrefutável disso.
Como dizia Steve Jobs, "só agora vemos os pontos
ligando tudo". E assim o mundo vai se transformando.
No tempo do ginásio industrial éramos cerca de
trezentos meninos, quase rapazes,
alguns com a barba despontando pelo rosto; e desse grupo
todo, que vestia macacão
nas oficinas, que jogava bola nos intervalos vagos, e que
também paquerava timidamente as professoras, existia um, apenas um que destoava
completamente dos demais.
Era o Alcides, e
constituía uma aberração pra nós o seu jeito efeminado, afetado, totalmente
diferente da maioria esmagadora. Incompreendido, e assim
perseguido por muitos,
absolvido por bem poucos, admirado por ninguém, ele seguia
só..
De lá pra cá as coisa foram mudando nesse sentido sem
que nos déssemos conta.
Pelo mundo todo, nas grandes cidades, milhares de
pessoas em passeatas gigantescas lutando pela causa, desfilam com bandeiras
multicoloridas..
Nas escolas, clubes, um bando de meninos com
preferência clara por outros meninos,
meigos, delicados, brigam obstinados, enfrentando pais
desnorteados, educadores despreparados sem saber direito como ajudar.
Meninas, de mãos dadas, olhos nos olhos, beijando-se
na boca nos bares e restaurantes, plenamente assumidas na sua orientação sexual
diante das incrédulas gerações passadas, sentadas boquiabertas nas mesas ao
lado.
Será essa transformação fruto da solidão em que viveram
esses meninos e meninas, c/ pais geralmente trabalhando fora, sem poder dar a
devida atenção, orientação e carinho necessários ? Será que isto os levou
a um mundo estritamente virtual, a um distanciamento real daquilo que
classificamos como comportamento normal e por fim
a esse novo jeito de se relacionar a dois ?
Não será este o fim da humanidade da forma que
conhecemos, como nascerão os
novos seres humanos amanhã ?
Isso me faz novamente pensar em Steve Jobs, um
ícone que investiu tanto do seu
precioso tempo para aprimorar, justo, os veículos de
comunicação. Será que estamos
nos comunicando corretamente através dessas ferramentas
fantásticas ?
Penso nisso e fico na dúvida.
Nessa transmutação toda o que é correto, o que é
errado, se o avanço por vezes não
resulta num retrocesso para alavancar um novo começo, mais
adequado...
Já não sei ao certo, nem mesmo se esse fogo brando
que está me consumindo nesse
momento é bom ou ruim, se é verdadeiramente o fim ou o
início de uma outra era, de um novo estágio.
Isto por certo Steve Jobs já sabe !
Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta,
lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário