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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Steve Jobs



    Há uma semana tenho visto estampada nas manchetes do mundo inteiro a triste   
notícia da morte do Steve Jobs... Logo em seguida assisto na TV ao show de um novo astro da música pop Justin Bieber tenta nos consolar substituindo Michael Jackson nos corações jovens dos nossos netos, corações ainda plenos de esperança.
   Mas quem substituirá Steve Jobs e sua invenções fantásticas ? Como será o mundo
virtual sem a sua criatividade ?
  Lembro-me de cada palavra dele naquela palestra de quase 15 minutos em Stanford,
2005, quando acabava de achar que estava curado de um câncer no pâncreas, quando
falava, otimista, em eternos recomeços; uma verdadeira aula sobre a vida, digna de um
gênio.
    A platéia universitária assistia embevecida aos seus três conselhos.
    Na verdade somos dependentes desses homens que falam ao cérebro e ao coração,
agentes transformadores do mundo em que vivemos.
  Ainda concordando com suas palavras, acho que somos mutantes, " tolos e famintos",
superando as crises, que gostam de músicas e invenções, sobretudo quando embaladas com poesia.
  Mutantes que afortunadamente não têm consciência disso, desse aspecto inevitável da vida, senão quando o processo já está em seus estertores finais. Acho que é assim, não
só no plano material quanto no espiritual também.
  Isso porque toda grande mudança acontece de forma gradual e nunca nos incomoda de imediato, não nos despertanto para o fato em si enquanto está embrionário , mas desenvolvendo-se aqui, em nossas mais consistentes entranhas; exatamente como no famoso caso da rã de Olivier Clerc, que se vê cozida viva numa água em fogo brando, e
que acaba morrendo lentamente, de forma confortável, sem esboçar reação alguma.
  O que tem acontecido a nossa sociedade em vários aspectos nas últimas quatro
décadas é uma prova irrefutável disso.
  Como dizia Steve Jobs, "só agora vemos os pontos ligando tudo". E assim o mundo vai se transformando.
  No tempo do ginásio industrial éramos cerca de trezentos meninos, quase rapazes,
alguns com a barba despontando pelo rosto; e desse grupo todo, que vestia macacão
nas oficinas, que jogava bola nos intervalos vagos, e que também paquerava timidamente as professoras, existia um, apenas um que destoava completamente dos demais.
Era o  Alcides, e constituía uma aberração pra nós o seu jeito efeminado, afetado, totalmente
diferente da maioria esmagadora. Incompreendido, e assim perseguido por muitos,
absolvido por bem poucos, admirado por ninguém, ele seguia só..
  De lá pra cá as coisa foram mudando nesse sentido sem que nos déssemos conta.
Pelo mundo todo, nas grandes cidades, milhares de pessoas em passeatas gigantescas lutando pela causa, desfilam com bandeiras multicoloridas..
  Nas escolas, clubes, um bando de meninos com preferência clara por outros meninos,
meigos, delicados, brigam obstinados, enfrentando pais desnorteados, educadores despreparados sem saber direito como ajudar.
  Meninas, de mãos dadas, olhos nos olhos, beijando-se na boca nos bares e restaurantes, plenamente assumidas na sua orientação sexual diante das incrédulas gerações passadas, sentadas boquiabertas nas mesas ao lado.
  Será essa transformação fruto da solidão em que viveram esses meninos e meninas, c/ pais geralmente trabalhando fora, sem poder dar a devida atenção, orientação e carinho necessários ?  Será que isto os levou a um mundo estritamente virtual, a um distanciamento real daquilo que classificamos como comportamento normal e por fim
a esse novo jeito de se relacionar a dois ?
   Não será este o fim da humanidade da forma que conhecemos, como nascerão os
novos seres humanos amanhã ?
   Isso me faz novamente pensar em Steve Jobs, um ícone que investiu tanto do seu
precioso tempo para aprimorar, justo, os veículos de comunicação. Será que estamos
nos comunicando corretamente através dessas ferramentas fantásticas ?
  Penso nisso e fico na dúvida.
  Nessa transmutação toda o que é correto, o que é errado, se o avanço por vezes não
resulta num retrocesso para alavancar um novo começo, mais adequado...
  Já não sei ao certo, nem mesmo se esse fogo brando que está me consumindo nesse
momento é bom ou ruim, se é verdadeiramente o fim ou o início de uma outra era, de um novo estágio.
  Isto por certo Steve Jobs já sabe !
Nilson Ribeiro, poeta ao acaso desde menino, fluminense de 57 anos, dos quais 42 de labuta, lidando com gente de todo quilate, fiz disso inspiração diária pra aguentar os trancos da vida.

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