O caso é sério. Um grupo de amigas do
tempo de faculdade resolveu se encontrar no Rio de Janeiro para passar um final
de semana juntas para conversarem, confraternizarem, relembrar os velhos
tempos. Como uma delas mora no norte, duas delas no sul e uma no nordeste,
ficou estabelecido que o Rio de Janeiro seria o lugar ideal, mais prático para
todas. Todas concordaram e só uma, a que mora em Porto Alegre, confirmou a
presença e na última hora deu para trás. Disse que o marido não gostou da idéia
e que não via motivo para viajar só para conversar com as amigas. Ela se
desculpou e sumiu. Essa história tem, porem, um agravante, ela não trabalha
fora, ou seja, depende dele para tudo, inclusive rever as amigas. Lendo isso
pensei, então não é só comigo que essas coisas acontecem. Depender de marido
realmente é o fim do mundo. Nos tornamos pedintes. Como nunca tive mesada e sou
casada com um homem machista, sei o quanto é difícil pedir porque o homem não
entende as necessidades de uma mulher. Não sabe, sequer, quanto custa o
banheiro de uma mulher. É creme contra celulite, é creme hidratante, para
corpo, para os pés, joelhos e cotovelos, colônia desodorante, dois tipos de
sabonete, quatro de xampu, creme para amaciar, fora os cremes para o rosto,
pescoço e mãos. Imagine ter de pedir dois itens de cada vez. Dá um cansaço...
Aí lembrei do tempo em que trabalhava. Foram 14 anos e quando o negocio cresceu
tive uma estafa, mas dava conta de tudo. Assumi responsabilidades que não eram
minhas, pagava empregado da casa, os fornecedores, representantes, e ainda as
peças piloto eram todas feitas por mim, na madrugada, para entrar em linha de
produção cedo. Dormia, às vezes, quatro horas por dia e outras, vinte. Era
trabalho, trabalho, trabalho. Pagava os cursos dos filhos, colégio, aluguel,
folha de pagamento dos funcionários, era uma vida muito louca. Trabalhava
inverno no verão, pois em janeiro os representantes já estavam com as coleções
da próxima estação nos seus show-rooms. Era preciso ter muita inspiração. Vivia
no piloto automático. E os filhos em três etapas de idade diferentes, inclusive
um bebê.que me acompanhava às visitas de fornecedores, compras de aviamentos.
Certa ocasião coloquei o cestinho dela em uma bancada e ouvi quando alguém
chegou e gritou: Meu Deus, esqueceram um bebê aqui! É minha, respondi. Era
confuso, mas era bom. O dinheiro entrava,
dava conta de tudo direitinho. Só errei numa coisa, não pensei na minha
aposentadoria, não fiz poupança e quando parei de trabalhar não deixei dívidas.
Nunca me preocupei com dinheiro porque o meu investimento maior eram os filhos.
E até o marido, se precisasse de um apoio financeira, sabia onde procurar. Era
só abrir o arquivo. Minhas filhas estavam tão acostumadas a me pedir tudo que no
dia que falei que de agora em diante é com o pai de vocês, pois não trabalho
mais e não ganho mais, a mais velha ficou tristinha. Não estava acostumada a
pedir nada para o pai. E a menor, então, nem se fala. E logo começaram os
desentendimentos por causa de dinheiro, mas agora, algo de novo aconteceu. Um
anjo me deu asas e estou voltando a voar. Sem depender do marido, e como não
sou muito dispendiosa, tenho dinheiro para tratar dos meus bichos de estimação,
para os seus florais, para os meus cremes, meus veneninhos para emagrecer, que
toda mulher gosta, vestuário e já está de bom tamanho. Não tem mais brigas, saímos juntos e hoje ele
até gosta de ir ao shoping. Essa sensação de liberdade não tem preço. Tudo
graças ao meu anjo que me entende como ninguém. E cheguei a seguinte conclusão:
não dá pra misturar dinheiro e marido. Os homens pensam assim: o que é meu é
meu e o que é dela também é meu. E não tem conversa, eles não gostam de ser
responsáveis pelas mulheres. Não digo isso generalizando porque conheço muitos
homens que são até bem generosos com suas mulheres e para esses eu tiro o
chapéu. Mas pelo sim pelo não, as minhas meninas são muito diferentes. Elas
conhecem o valor que têm. Outro dia eu estava parada a cismar e o marido
perguntou: o que você está pensando? Respondi: qual será o meu valor?
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