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domingo, 23 de outubro de 2011

O valor das mulheres - Gardênia


O caso é sério. Um grupo de amigas do tempo de faculdade resolveu se encontrar no Rio de Janeiro para passar um final de semana juntas para conversarem, confraternizarem, relembrar os velhos tempos. Como uma delas mora no norte, duas delas no sul e uma no nordeste, ficou estabelecido que o Rio de Janeiro seria o lugar ideal, mais prático para todas. Todas concordaram e só uma, a que mora em Porto Alegre, confirmou a presença e na última hora deu para trás. Disse que o marido não gostou da idéia e que não via motivo para viajar só para conversar com as amigas. Ela se desculpou e sumiu. Essa história tem, porem, um agravante, ela não trabalha fora, ou seja, depende dele para tudo, inclusive rever as amigas. Lendo isso pensei, então não é só comigo que essas coisas acontecem. Depender de marido realmente é o fim do mundo. Nos tornamos pedintes. Como nunca tive mesada e sou casada com um homem machista, sei o quanto é difícil pedir porque o homem não entende as necessidades de uma mulher. Não sabe, sequer, quanto custa o banheiro de uma mulher. É creme contra celulite, é creme hidratante, para corpo, para os pés, joelhos e cotovelos, colônia desodorante, dois tipos de sabonete, quatro de xampu, creme para amaciar, fora os cremes para o rosto, pescoço e mãos. Imagine ter de pedir dois itens de cada vez. Dá um cansaço... Aí lembrei do tempo em que trabalhava. Foram 14 anos e quando o negocio cresceu tive uma estafa, mas dava conta de tudo. Assumi responsabilidades que não eram minhas, pagava empregado da casa, os fornecedores, representantes, e ainda as peças piloto eram todas feitas por mim, na madrugada, para entrar em linha de produção cedo. Dormia, às vezes, quatro horas por dia e outras, vinte. Era trabalho, trabalho, trabalho. Pagava os cursos dos filhos, colégio, aluguel, folha de pagamento dos funcionários, era uma vida muito louca. Trabalhava inverno no verão, pois em janeiro os representantes já estavam com as coleções da próxima estação nos seus show-rooms. Era preciso ter muita inspiração. Vivia no piloto automático. E os filhos em três etapas de idade diferentes, inclusive um bebê.que me acompanhava às visitas de fornecedores, compras de aviamentos. Certa ocasião coloquei o cestinho dela em uma bancada e ouvi quando alguém chegou e gritou: Meu Deus, esqueceram um bebê aqui! É minha, respondi. Era confuso, mas era  bom. O dinheiro entrava, dava conta de tudo direitinho. Só errei numa coisa, não pensei na minha aposentadoria, não fiz poupança e quando parei de trabalhar não deixei dívidas. Nunca me preocupei com dinheiro porque o meu investimento maior eram os filhos. E até o marido, se precisasse de um apoio financeira, sabia onde procurar. Era só abrir o arquivo. Minhas filhas estavam tão acostumadas a me pedir tudo que no dia que falei que de agora em diante é com o pai de vocês, pois não trabalho mais e não ganho mais, a mais velha ficou tristinha. Não estava acostumada a pedir nada para o pai. E a menor, então, nem se fala. E logo começaram os desentendimentos por causa de dinheiro, mas agora, algo de novo aconteceu. Um anjo me deu asas e estou voltando a voar. Sem depender do marido, e como não sou muito dispendiosa, tenho dinheiro para tratar dos meus bichos de estimação, para os seus florais, para os meus cremes, meus veneninhos para emagrecer, que toda mulher gosta, vestuário e já está de bom tamanho.  Não tem mais brigas, saímos juntos e hoje ele até gosta de ir ao shoping. Essa sensação de liberdade não tem preço. Tudo graças ao meu anjo que me entende como ninguém. E cheguei a seguinte conclusão: não dá pra misturar dinheiro e marido. Os homens pensam assim: o que é meu é meu e o que é dela também é meu. E não tem conversa, eles não gostam de ser responsáveis pelas mulheres. Não digo isso generalizando porque conheço muitos homens que são até bem generosos com suas mulheres e para esses eu tiro o chapéu. Mas pelo sim pelo não, as minhas meninas são muito diferentes. Elas conhecem o valor que têm. Outro dia eu estava parada a cismar e o marido perguntou: o que você está pensando? Respondi: qual será  o meu valor?

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