Mercedes
mulher simples e batalhadora aos quarenta anos comandava com mãos de ferro uma
conceituada administradora de condomínios. Sua carteira de clientes era formada
só por endereços estrelados. Era dona de uma casa muito bonita e um cachorro; na
sua garagem uma moto poderosa e um carro de passeio que ela só usava em
ocasiões especiais. No dia a dia usava o carro com motorista e logotipo de sua
administradora. Era caprichosa no vestir, gostava de usar terninhos, lencinhos
no pescoço e scarpin. Sua vasta cabeleira era usada presa em coque alto e laço Chanel. Ela achava
discreto e chic. Porém ela não estava feliz. Este período durou até ela bater
seus olhos em um bonitão. O lance foi rápido. Ela foi visitar um condomínio novo e o príncipe era o segurança.
Ela viu nele o reprodutor ideal, e contrariando seus princípios e ética,tratou
de laçar o segurança e casou. No início do casório ele descia a ladeira a pé
para pegar o ônibus na avenida a pé, de mochila nas costas, e ela, de sua
sacada, jogava beijos de sopro. Logo em seguida ela dava inicio ao cerimonial
de se arrumar que levava duas horas, contadas no relógio. Ás nove horas o seu
motorista estava a postos. No final da tarde por volta das dezessete horas, o
seu marido chegava em casa, e saía para passear com o cachorro, varria o
jardim, molhava as plantas e colocava o lixo na rua. Pareciam o típico casal
apaixonado. Mercedes costumava chegas as dezenove e trinta trazendo o
tradicional vinho chileno e a deliciosa massa do magazine, Estavam felizes e
Mercedes resolveu que o doce marido deveria usar a sua moto; ele não se fez de
rogado e passou o verão pilotando a moto. Seus dias de andar de ônibus
acabaram. No inicio do inverno se queixou do frio e recebeu de presente roupas
de couro; não gostou e disse que se Mercedes confiasse nele ele poderia usar o
carro dela. Ela concordou, pois estava ocupada fazendo tratamento para
engravidar. De posse do carro, ele passou a chegar mais tarde porque o trânsito
estava caótico. Já não levava o cachorro para passear, não varria o jardim,
estava sem tempo. Na chegada da primavera ele avisou a mulher que queria fazer
um curso para ser corretor de imóveis, estava cansado do seu trabalho de
segurança e confiava em seu talento para se comunicar. Ela concordou. Ele fez o
curso. Ela quis anexar a imobiliária na sua administradora, coisa que o marido
não concordou. Hoje Mercedes está perdendo cliente por má administração, já não
usa terninhos porque não dá para passear com o cachorro de scarpin; anda jeans,
tênis e camiseta. Seus cabelos estão ao vento, tipo juba de leão e passa o dia
inteiro controlando o marido pelo telefone.
Restaurandora
de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi
classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros
publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais
domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura,
cinema, e a paixão de escrever.
Nenhum comentário:
Postar um comentário