Vamos falar do amor e da afeição profunda. Ela estava com 23
anos quando sofreu um acidente; o caso era gravíssimo e foi para Brasília,
capital federal, fazer um tratamento com ortopedista. Ficou por lá algum tempo
e os médicos ficaram impressionados com tanta determinação em alguém tão jovem.
E lá conheceu um jovem médico que fazia parte da equipe de médicos que estavam
tratando dela. Ficaram amigos e ele gostava de conversar com a jovem loirinha e
muito bonita. Ele era um medico iniciando carreira, casado e tinha 23 anos.
Quando ela teve alta, voltou para a cidade onde morava e lá se casou, mas teve
que voltar algumas vezes a Brasília para exames de rotina. E lá no hospital
eles se reencontraram e depois a vida levou cada um para o seu lado. Passados
alguns anos ela ficou viúva e tempos depois ele também ficou viúvo. Nesta época
ambos estavam com 50 anos e passaram a se comunicar por telefone. A facilidade
de Internet, nem pensar; não passava ainda pelas nossas cabeças. E de conversa
em conversa eles marcaram um encontro e ele se encantou. A loirinha se tornara
uma senhora muito atraente e bonita. E ela pensou o mesmo, ele se tornara um
homem e tanto. E logo estavam dividindo o edredon. E foram vivendo felizes
durante 23 anos. Este ano, no dia do aniversario de vida em comum, ele fez uma
surpresa para ela. Comprou as alianças e fez um pedido formal de casamento.
Sim, eles vão se casar. Depois de 23 anos juntos, os noivos estão com 73 anos e
uma felicidade que só quem tem a noção do verdadeiro amor pode aquilatar. O
amor maior. Como é lindo esse amor de madureza! Duas pessoas idosas se amando.
Não é paixão, que é o sentimento intenso que se sobrepõe à razão. A paixão é
fugaz. O amor verdadeiro, esse só bem poucas pessoas conhecem. É só para os privilegiados.
E eles estão nos revelando que o coração não envelhece jamais. O amor
retribuído sempre rejuvenesce, dizia T.S.Eliot. O amor tem o poder mágico de
fazer correr o tempo ao contrário. Fiquei a pensar, será que os velhos se
apaixonarão de novo? Belo exemplo a ser seguido em uma época em que vemos
senhores de idade avançada casando com miss de 18 anos. E mulheres, já entrada
em anos, casando com jovens que poderiam ser seus filhos. Não tenho nada contra
quem está a procura de um filho ou uma neta. Certa vez li uma biografia de
famoso play-boy brasileiro que dizia o seguinte: quando ele conhecia uma jovem
bonita, entre 18 e 20 anos, ele costumava perguntar: você quer me vender 5 anos
de sua juventude? Assim ele comprou algumas das esposas dele. Segundo
ele, uma dela gostou tanto que ficou 10 anos com ele e quando queria renovar o
guarda-roupa iam a Paris onde passavam uma parte do ano, pois tinham residência
lá e aproveitavam, também, para fazer encomendas aos famosos joalheiros
parisienses. Segundo ele, esgotado o tempo de validade, ele as recompensava com
o belo imóvel aonde moravam, uma mala cheia de jóias, dez malas de roupas
assinadas e exclusivas. E ainda ficavam amigos. Interessante, não? Esse
comprava as mulheres como mercadorias e elas se vendiam com o maior prazer. Mas
isso não era amor, era patologia. O amor verdadeiro é o que o senhor médico e a
sua loirinha estão vivendo. Esse não tem preço e não há dinheiro que pague.
Felicidade ao casal de noivos e obrigado pelo belo exemplo de vida que vocês
estão nos dando. O amor verdadeiro ainda existe.
Restaurandora
de bens culturais, pintora, escultora, ourives, Em 2010 foi
classificada em concurso internacional em contos e cronicas, Três livros
publicados e uma coletânea do concurso Edições AG. Mora em Florianópolis, na ilha, casada, três filhos, gosta de animais
domésticos, de cultivar plantas, reunir os amigos, viajar, leitura,
cinema, e a paixão de escrever.
Nenhum comentário:
Postar um comentário