Se fossem julgados por
essa Câmara que absolveu Jaqueline Roriz, nem José Dirceu e nem Roberto
Jefferson teriam sido cassados. Hoje seriam aplaudidos pelos colegas. Se
nem um vídeo autêntico em que embolsa uma pacoteira de dinheiro sujo é
evidência suficiente para condenar uma deputada, o que poderia ser? As
cenas de corrupção explícita estão gravadas na memória popular assim
como a votação secreta em que a maioria da Câmara se comportou como uma
quadrilha: são parte do mesmo filme pornopolítico que estamos vendo e
vivendo.
É difícil saber se já houve mais ou menos corrupção no
Brasil, mas nunca se falou tanto dela como agora, nem tantos corruptos
foram encurralados pela imprensa, por delatores, pela CGU, pelo
Ministério Público e pela Polícia Federal como nos últimos tempos.
Apesar do atraso, a faxininha foi um avanço, mas sobre o óbvio: as
falcatruas estavam onde sempre estiveram, no Dnit, na Valec, em Furnas,
nas emendas do Ministério do Turismo, antigos e notórios ninhos de
ratos.
A nova onda são os parlamentares corruptos que se dizem e
se elegem como católicos ou evangélicos fervorosos e afrontam ao mesmo
tempo a lei dos homens e a de Deus, seguros do perdão divino e da
impunidade terrena. É a bancada do sétimo mandamento, imortalizada em
vídeo na "Oração dos Corruptos" recitada com unção pela quadrilha do
mensalão de Brasília.
Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a
motivação política é considerada agravante de um crime, por suas
consequências na sociedade, no Brasil é vista como um atenuante, como se
ainda vivêssemos no tempo da ditadura. Quando flagrados, os ladrões
militantes se dizem inocentes: "Era para o partido."
Quem rouba
dinheiro público para um partido rouba duas vezes. Primeiro, dos
contribuintes, de todos nós; depois, quando usa o dinheiro para
interferir no processo eleitoral, fraudando leis e regras, corrompendo
as instituições democráticas. O ladrão que gasta o produto do roubo em
causa própria só dá prejuízo ao erário, o partidário assalta também os
direitos dos cidadãos a um processo eleitoral limpo e republicano. Rouba
a vontade popular.
Fonte: Jornal O Globo
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