Como expressão de afeto e intimidade, os apelidos dizem mais das
pessoas do que seus próprios nomes. Como maledicência, às vezes geram
obras-primas de humor e critica social. O ex-deputado alagoano Cleto
Falcão, que as más línguas diziam ser meio agatunado, foi apelidado de
Clepto Falcão. E o ex-governador mineiro Hélio Garcia, que seria muito
chegado aos copos, de Ébrio Garcia.
Brasília gargalhou quando o baixinho Celso Amorim, por sua mania de
grandeza, foi alcunhado de Megalomaníaca. No Paraná todos sabem que o
ex-governador Requião é chamado de Maria Louca, mas há controvérsias
sobre a sua origem. Garotinho surrupiou o apelido de um famoso locutor
esportivo carioca. ACM alcunhou, com sucesso, Michel Temer de "mordomo
de filme de terror". Grande mestre do uso político de apelidos, Brizola
provocou gargalhadas e estragos eleitorais chamando Lula de "sapo
barbudo", Moreira Franco de "gato angorá" e Collor de "filhote da
ditadura".
Madre superiora. Em diálogos entre corruptos gravados pela Polícia
Federal, Sarney é chamado de "madre superiora". Faz sentido. Como "Rei",
só existem dois, Roberto Carlos e Pelé, e como "Bruxo" também: Machado
de Assis e Golbery do Couto e Silva.
Como siglas, só três sobrevivem: JK, ACM e FHC. Grandes craques têm
sempre apelidos, Pelé, Zico, Tostão, Didi, Fenômeno, ninguém pode bater
um bolão como Castro, Góis ou Motta.
Dunga teve que superar o apelido ridículo para ser um campeão, assim
como Pato e Ganso. Popó nocauteou Acelino. Fofão não seria uma estrela
do vôlei como Hélia Pinto.
Tim teria o mesmo sucesso como Sebastião Maia? Cartola seria famoso
como Angenor de Oliveira? Lulu Santos seria um popstar como Luiz
Mauricio?
Ninguém imagina Lobão cantando, falando e fazendo o que faz se fosse
só João Luiz. Gay e transgressivo, Cazuza não poderia ser um ídolo do
rock como Agenor Araújo. Paulinho Boca de Cantor, Gato Félix,
Bolacha e Baby Consuelo, batizada como Bernardete, só poderiam ser dos Novos Baianos.
Um dos apelidos recentes mais criativos é o aparentemente inofensivo
Estebán, que é como a oposição venezuelana chama Hugo Chávez.
É a abreviação de "este ban-dido".
Nelson Motta, O Globo
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