Comprei dois objetos relativamente caros através do MercadoLivre, site de vendas que corresponde, no Brasil, ao norte-americano eBay. Bastou comentar o fato com amigos para ganhar status de criatura destemida, que gosta de viver perigosamente. O interessante é que eu não estava entre novatos na rede, mas sim gente bem familiarizada com a internet, com anos de estrada e muitas compras via amazon.com nas costas.
Não devia ter me surpreendido. Se ainda
há quem não confie inteiramente em fazer compras online em empresas como
o submarino.com.br, não é de estranhar a desconfiança num site de
comércio eletrônico como o MercadoLivre, onde a negociação é feita
indivíduo a indivíduo.
Todo mundo conhece alguma história de
horror tendo o MercadoLivre como cenário, e o que não falta na rede são
foruns e blogs de usuários lesados.
Contribuem para aumentar a ansiedade dos
usuários a interface bisonha e a navegação horrenda do site, a falta de
clareza dos seus textos e a ausência de um suporte no qual se sinta um
mínimo de firmeza.
Mas tudo é relativo. Quantas histórias de
horror todos nós não conhecemos envolvendo o comércio convencional?
Nesse exato momento, a minha filha – para não ir mais longe – está às
turras com uma loja de colchões safada que lhe vendeu um produto
defeituoso e recusa-se a trocá-lo ou a recebê-lo de volta. Não ocorre a
ninguém culpar o shopping em que a loja está localizada, porque há
tempos assimilamos o fato de que um shopping é uma reunião de lojas, e
não a loja em si mesma.
O MercadoLivre é essencialmente um
shopping virtual, um ponto de encontro entre compradores e vendedores –
mas, ao contrário dos shoppings da vida real, é, ao mesmo tempo, a grife
sob a qual reúne-se toda essa gente.
“Toda essa gente”, de acordo com dados do
próprio MercadoLivre, são mais de 55 milhões de pessoas, espalhadas por
13 países, que, em doze anos, foram responsáveis por meio bilhão de
anúncios. São números impressionantes.
Nunca tive problemas com compras feitas
por lá. No ano passado passei relativamente perto disso, mas a questão
resolveu-se sem traumas: comprei um Nokia N95 de um vendedor de Salvador
que, duas semanas depois, ainda não me tinha enviado o aparelho.
Cancelei a operação, e ele restituiu o que eu havia pago. Final feliz,
ainda que um pouco demorado. As recentes compras, feitas com dois
diferentes vendedores, transcorreram sem sobressaltos.
É claro que é preciso um mínimo de
cuidado na hora de gastar online. Recomendo a quem quer se aventurar em
campo um mínimo de precauções. Desconfiar de preços muito maravilhosos é
a principal delas: milagres não existem. Ler com cuidado a descrição do
produto e as credenciais do vendedor é outro passo fundamental para
quem quer evitar chateações. Cheque quantos produtos semelhantes ao que
você quer ovendedor já vendeu, e leia as qualificações que recebeu de
outros usuários. Não tenha medo de passar por chato, e faça, antes da
compra, todas as perguntas que quiser a respeito do produto e do frete.
Pague da forma que lhe for mais
conveniente em caso de produtos baratinhos, mas prefira usar o Mercado
Pago quando o valor pesar no bolso. Como ele pertence ao MercadoLivre,
sofre dos mesmos defeitos de nascença, da navegabilidade à clareza: acho
que os dois estão entre as páginas menos amigáveis da rede. O sistema,
porém, que utiliza o mesmo princípio do PayPal, é bastante seguro. O
dinheiro é entregue ao Mercado Pago, que o repassa ao vendedor apenas
quando o comprador confirma o recebimento da mercadoria.
Cora Ronái
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