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domingo, 25 de setembro de 2011

Rock in Rio 1985 - Martha Medeiros

Em janeiro de 85 eu tinha um namorado que não era chegado a rock, preferia jazz, mas topou fazer uma viagem de carro para assistir ao Rock in Rio. Seria nossa primeira aventura on the road. Mas onde dormir? Ele sugeriu alugarmos um trailer. E assim foi. Botamos o Maverick vermelho na estrada puxando um trailer caindo aos pedaços. Chinelagem total, mas foi uma das passagens mais originais da minha história. Credo, eu já tenho uma história.

Saímos de Porto Alegre, passamos uns dias em Bombinhas, Maresias e Paraty, até que chegamos ao Rio, onde estacionamos o trailer num camping em Jacarepaguá. O festival já havia iniciado. No dia do nosso primeiro show, lembro que meu namorado foi tomar uma cerveja enquanto fiquei no trailer me arrumando. Quando ele retornou, não acreditou no que viu. Parecia que eu ia ao shopping: calça branca, top, acho até que coloquei salto alto.

— Tu tens ideia pra onde estamos indo? Pro meio da lama!

Teimosa, disse que iria daquele jeito mesmo, estava me sentindo um doce de coco. Resultado: virei a mulher de barro. Choveu demais e aquele descampado virou Woodstock. Da tal sandália nunca mais tive notícia e a calça branca virou pano de chão.


Nos dias seguintes, camiseta, jeans, tênis e rabo de cavalo. Pô, óbvio.


Foram muitos shows, mas lembro que o mais espetacular foi o do Queen. Freddie Mercury cantando “Love of my life” a capela enquanto regia a multidão foi de arrepiar. E eu estava lá.


Vimos Yes, Rod Stewart, B-52, Nina Hagen, Ozzy Osbourne. E Barão Vermelho, Rita Lee, Blitz, Lulu Santos, Kid Abelha, Paralamas.

Inesquecível, tudo.

Fim de festa. De volta a Porto Alegre, devolvemos o trailer e seguimos nossas vidas. O namorado? Casei com ele, tivemos duas filhas e vivemos juntos por 17 anos. Hoje é um querido amigo, está casado de novo e segue preferindo o jazz.


Em 1985, não havia telões nem camarotes vips, e lembro de apenas uma lanchonete nos fundos do terreno, assim como meia dúzia de banheiros, tudo muito precário. Nem sombra da megaestrutura de que se dispõe hoje. Passavase trabalho, mas, por outro lado, era uma experiência genuína. Só encarava essa indiada quem gostava realmente de música e aventura.

Ter 23 anos colaborava também.

Poucas coisas são tão vibrantes quanto um show. Eu começo a transcender antes mesmo de atravessar os portões. Curto a aproximação coletiva, aquele povo se dirigindo para o mesmo lugar e com o mesmo propósito, como se estivesse peregrinando até uma igreja em busca de comunhão.


Apagam-se as luzes. Expectativa, ansiedade.

Então surgem no palco os donos da noite. Ao soar o primeiro acorde, viramos todos evangélicos, budistas, espiritualistas do rock.

Show é consagração. Os aplausos são mesuras e o assovio é o código sonoro da reverência. O público faz parte de um só corpo e de um só sangue. Desta vez não irei, mas deixo aqui minha bênção para todos os devotos da guitarra. Rock in Rio 2011, amém.

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