Então é isso. Estou em uma sala de cinema, prestes a assistir a um
filme com Daniel Craig, um de meus atores favoritos, desta vez
protagonizando uma adaptação para o cinema de um romance de suspense
escrito por Stieg Larsson.
Acontece que ainda estou sozinha na
sala gigante. Não é para menos, pois hoje é uma segunda-feira, são quase
treze horas e a maioria das pessoas ‘normais’ está almoçando ou
trabalhando. Quanto a mim, gosto de me dar esses presentes – o que tem
sido cada vez mais comum desde que me ‘aposentei’.
De novo,
escrevo. É o mesmo dia. Sim, ainda é a segunda-feira, 30, estou em outra
sala de cinema para uma segunda sessão. Agora, vou assistir a J.Edgar
[Hoover].
O primeiro filme foi ótimo e, quando ele terminou,
ainda fiquei ouvindo um pouco da boa música [a trilha sonora é
excelente]. Depois disso, fui ao banheiro, voltei para o café, garanti o
meu, simples, com leite, sem creme, meio a meio, um salgado de queijo e
entrei em outra sala, desta vez a 7.
É isso. Um presente e
tanto. Registrei o momento [ou ‘os’] porque fiquei pensando nas coisas
que podemos dar a nós mesmos; no que podemos fazer mesmo a sós e
garantir com isso uma sensação de bem-estar e satisfação.
Assim
como há pessoas que pensam que jamais poderão fazer qualquer coisa boa
se não estiverem trabalhando mais de dez horas por dia e que não se
sentirão satisfeitas com nada além disso, há aquelas pessoas que
acreditam que precisam de muito, muito e muitas outras pessoas ao redor
delas para que se sintam bem.
Pois bem. Nem uma coisa, nem
outra. Sei bem que cada um é cada um e respeitar a individualidade para
mim é sagrado. Entretanto, há muitas [sim! muitas!] coisas que podemos
fazer e, principalmente, ter para nos sentirmos melhor. Podemos nos dar
bons momentos. Podemos enriquecer nosso interior. Podemos buscar
conhecimento. Principalmente quando, finalmente, temos um parceiro
adorável, um [finalmente!] aliado: o tempo.
Sobra-nos um tanto a mais de horas por dia. Elas podem ser produtivas para um patrão maravilhoso que merece que seja feito o melhor dos trabalhos: nosso bem-estar.
Isso tudo não significa estar parados, feito uns inúteis e
imprestáveis, aquelas pessoas largadas e amargas que ninguém gosta de
ter por perto. Não. Podemos ser sorridentes, podemos ser atuantes,
fazermos valer a experiência que foi pescada em mares que navegamos,
conquistada nesses oceanos de lutas e trabalho e doação. E fazer valer,
primeiro para nós mesmos, cada momento roubado das horas em que, de
repente percebemos, não precisamos estar em nenhum outro lugar que não
seja aquele. Como o meu momento, nas salas de cinema, quando resolvo
passar a tarde mergulhada em algo que amo; como as tardes em que me
demoro na Livraria, bebendo café com leite e vendo o que há de novo e
batendo um papo com os livreiros; como sair com a câmera para fotografar
as ruas da cidade, as pedras do caminho, os passarinhos urbanos.
Como fazer natação e hidroginástica e deliciar-se com o bem que a água faz.
Permitir-se
continuar crescendo, desta vez aproveitando cada momento que parece
roubado como se fora aula cabulada, mas que na verdade não é. E garantir
que a nossa melhor companhia, esta pessoinha que habita em nós, esteja
muito feliz.
É isso.
______________
Referências a dois filmes ótimos,por sinal:
“Os
homens que amavam as mulheres”, direção de David Fincher, baseado no
primeiro volume da triologia Millennium, de Stieg Larsson. Um thriller
que, como o livro, prende a atenção do princípio ao fim. O destaque é
para a atuação de Rooney Mara, no papel da ‘garota com tatuagem de
dragão’. E, claro, as imagens suecas.
O outro filme, “J.Edgar”,
direção de Clint Eastwood, com Leonardo DiCaprio no papel do
idealizador e primeiro diretor do FBI, John Edgar Hoover. É uma
biografia muito bem trabalhada, com uma excelente atuação do elenco e
uma direção primorosa.
Vale a pena assistir aos dois. Façam isso e depois, me digam!
Aglaé Gil, 52 anos, de Curitiba – com formação em revisão e produção de
textos; pesquisadora de História e Literatura; aprendiz de viver;
poeta;mãe; cidadã. [não necessariamente nessa ordem]
Nenhum comentário:
Postar um comentário